Acordo e nem sinal de Ítalo.
💭Ótimo!💭
Me levanto me esticando e nem sinto mais o resfriado no meu corpo. O chá foi ótimo.
Inevitavelmente eu penso que isso seria uma coisa que minha mãe faria por mim: me daria carinho e conforto. Minha vida teria sido muito diferente se tivesse tido meus pais de verdade por perto. Ou até mesmo se tivesse sido criada com um pouquinho que seja de afeto, apesar de que Ítalo foi criado assim é é intragável.
Mas sempre tem alguém fugindo a regra.
Faço o ritual da manhã e me arrumo pra tomar café.
- Bom dia!
- Bom dia. Está bem melhor, hein?
Concordo com a cabeça enquanto me sento e reparo que na mesa só tem mulheres. Que alivio!
Mas eu lembro que preciso fazer meu papel de mulher apaixonada.
- Onde estão meu marido e os outros?
Sirvo um pouco de café em uma xícara enquanto Andrea me serve uma fatia de bolo.
- Estão pescando. Ítalo não te falou que iria?
Nego com a cabeça.
- Mas também, eu apaguei depois do chá. Só senti o beijo de boa noite dele na minha cabeça.
Estou profissional já nessa história.
- Então minha querida, é uma tradição nossa todos os anos. Esse é o primeiro ano de Lio aqui porque está em seu primeiro ano de casado, mas durante esses dias nós nos divertimos bastante. E eles vão fazer algo pra eles hoje, enquanto ficamos aqui conversando e cozinhando. Pasta e fagiolo, capeletti in brodo, baguetti rústica embebida no azeite, gambo assado na perfeição e de sobremesa, cannoli e zeppola.
Já assistiram Chaves? Aquele seriado famoso mexicano, antigo pra caramba, que tem o Kiko. O bochechudo. Pois então, em alguns momentos o Kiko fica parado piscando meio atônito com as coisas e tal.
Minha reação é exatamente essa.
NÓS VAMOS PASSAR O DIA INTEIRO COZINHANDO PARA OS HOMENS QUE ESTÃO PESCANDO NA MAIOR PAZ.
Não, que elas queiram agradar aos maridos, tudo bem. Todos eles parecem ser muito bem casados. E são de varias idades, pra se ter uma noção de como o pessoal aqui é entrosado, mas acontece que eu não tenho a mínima vontade de cozinhar pra Ítalo.
Imagina o trabalho.
Macarrão fresco e feijão, que ser for seguido na tradição, tem que ser debulhado na hora.
Capeletti que dá um trabalho desgr*çado pra rechear e moldar. Ainda no brodo! Puta caldo chato pra fazer.
O pão, que com certeza elas vão ficar mais do que felizes de amassar com as próprias mãos.
Um pernil, que com certeza deve ser do tamanho da minha perna, levando em consideração que italiano não consegue fazer nada sem ser exagerado.
E pra fechar com chave de ouro, duas sobremesas chatas de se fazer. Uma com massa folhada ainda, porque desgr*ça pouca, é bobagem.
Não consigo segurar a minha língua.
- E quando é o nosso dia de lazer?
As mulheres riem.
- Amanhã, minha querida. Eles entregam um bolo de dinheiro na nossa mão e nos deixam livres pra bater perna e torrar tudo sem dó!
Hum... interessante.
Troco minha roupa por uma mais leve e ando até a cozinha. As mulheres já tiraram as jóias de casamento e deixaram na beirada da janela.
Parece que é uma tradição delas também.
- Vem cá, Ambra. Vamos debulhar o feijão.
Depois de deixar meu anel também eu me junto à elas na mesa da cozinha.
Elas começam cantando cantigas antigas, mas bem antigas mesmo, das que o nosso povo cantava quando iam pra outras terras como imigrantes vender a força de trabalho.
Não demora eu percebo que as mais velhas estão passando de geração em geração os costumes pra que não se percam.
- É muito bom ter você aqui agora. Seja bem vinda ao nosso clube da Luluzinha.
Andrea realmente parece feliz por me ter aqui.
Depois do feijão debulhado nós partimos para as massas do espaguete e do macarrão recheado. Elas trabalham com uma sincronia absoluta.
- Sabe, Ambra, é aqui que nós estreitamos os laços. Antigamente era assim que se fazia. A cozinha é o coração de uma casa e não dá pra se ter uma família feliz sem uma boa comida na panela. Quando você e Lio começarem a aumentar a família, e me derem netos, vai perceber que os momentos mais felizes são assim, na hora de preparar e consumir as refeições. Foi assim pra mim e pra Lupo quando aqueles dois chegaram em casa.
Longe de mim estragar a felicidade dela.
- Creio que sim. Faço questão de te contar quando isso começar a acontecer.
**********
Nós passamos o dia cozinhando.
- Ítalo é completamente apaixonado por Cannolli e Zeppola. Ele gosta de tudo em geral, mas doces são a perdição dele.
A madrinha de Ítalo está me dando uma dica.
- Bom saber.
Nunca vou fazer.
Assim que tudo está ajeitado nós todas subimos pra tomar banho e esperar pelos maridos.
Tentei pegar minha aliança na janela, mas quase apanhei. Eles têm que chegar e colocar na nossa mão.
Eu continuo aqui feito o Kiko: INCRÉDULA!
Me arrumo e me perfumo pra não destoar das demais. Elas vão caprichar no visual.
Solto meu cabelo e ajeito o vestido vinho de tricô que estou usando. Coloquei uma sandália rasteira nos pés e bastante rímel nos cílios.
Assim que eu desço as escadas reparo nelas todas esperando no hall de entrada. Me contam que os homens tomam banho no lago, bem a moda antiga, mesmo com a água gelada. Por isso a comida quente e reconfortante quando chegam em casa.
A noite está começando e ouvimos o barulho dos carros. Não demora e Lupo abre a porta.
Andrea o recebe com um sorriso e um selinho. Pega o casaco dele e pendura perto da porta. Ao que parece eles passaram pela janela da cozinha já. Ele coloca a aliança de volta no dedo dela.
Isso se repete com cada casal, até chegar em mim e em Ítalo.
Tiro o casaco dele e penduro.
- Cadê o beijo?
Sinto minhas bochechas queimando com a pergunta de Andrea.
- Já percebi que você e ele são reservados, mas tradição é tradição.
Engulo em seco.
No nosso casamento não teve isso. Ítalo enfiou o braço no meu e pronto.
Ele me surpreende.
Dá um sorriso de canto e me beija rápido e estalado.
- Ambra é meio tímida pra essas coisas, madrinha.
Esse infeliz acabou de me beijar?
Logo depois Ítalo tira a aliança do bolso e coloca de novo no meu dedo, ele ainda tem a cara de pau de beijar o anel enquanto me olha.
A audácia dele não conhece limites.
Quando todo mundo vai na frente ele me puxa de leve.
- Nada de esperanças, estou apenas cumprindo meu papel.
- Cala a boca, Ítalo, você me beijou sem o meu consentimento.
- Engraçado, que ganhar bombom de outros é normal pra você. Ganhar um beijo do marido é um absurdo.
Quê?!
- Está com ciúmes?
- Não Ambra, estou te situando que você deve ficar na sua porque fui bonzinho demais com você. Eu devia ter feito aquele idiota engolir aquele bombom com embalagem e tudo, além de te ter feito passar uma vergonha das grandes.
Mas eu não vou deitar pra ele. Não mesmo!
- Pois eu acho que você está morrendo de ciúmes. Está entalado com esse bombom até hoje, e olha que quem comeu foi eu.
Ítalo me mede de cima a baixo.
- Ciúmes de você? Você é de longe a menos atraente que eu já desfilei por aí. Depois joga meu nome no Google.
Nós dois andamos até a sala de jantar e o cheiro da comida faz meu estômago roncar. Passamos o dia inteiro cozinhando e nada de comer, estávamos esperando pelos homens.
E eu preciso dizer, que eles parecem um bando de animais se servindo. Uma montanha maior do que a outra.
Acho que nos anos vinte e trinta era assim também. As mulheres passavam o dia cuidando da casa e das crianças e os homens nas fábricas e lavouras, até que chegavam em casa a noite e se lavavam pra comer uma montanha de macarrão com feijão.
Carne era uma raridade, duas vezes por semana no máximo, ou em festas, e verdura sempre tinha. Hoje Andrea colheu espinafre na horta atrás da casa e fez com bastante alho.
Acho que vou entrar e coma induzido depois de bater um prato.
- E então, Lio, gostou da primeira pescaria?
Quem está perguntando e Lupo.
- Achei interessante, embora o senhor saiba que eu não tenho paciência pra isso.
- Deixa de bobagens. De vez em quando é bom passar um tempo desligado da tecnologia e de tudo mais.
A medida que a noite vai passando nós vamos conversando sobre outras coisas. Reparo em Ítalo na hora da sobremesa e ele parece uma criança.
Me olha de lado e pergunta de um jeito que só eu posso ouvir:
- Tá olhando por quê?
Dou de ombros de uma maneira discreta.
- Você está comendo esses doces com verdadeira paixão.
Ele colocou dos dois tipos no pratinho dele.
Ítalo olha pra mesa e depois pra mim. Acho que ele está meio melancólico agora, mas desconfio que algo tenha acontecido nessa pescaria que o fez ficar assim, não foi a minha pergunta.
Ele me responde de um jeito natural.
- Lembro da minha mãe fazendo esses. Meu pai gostava e sempre dividia comigo.
Penso em perguntar mais alguma coisa, mas ele logo não me dá mais abertura. Se enfia em uma conversa na mesa e pronto.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
lary
kkkkk eu não tô mim aguardando com esses dois
2025-02-26
0
lary
kkkkkki
2025-02-26
0
Fatima Gonçalves
ele está atrás do anel do pai
2024-10-03
1