Estou na cozinha ajudando Antonieta a picar as coisas para o almoço. De repente Ítalo aparece e ele não está usando um terno hoje, mas está arrumado pra sair. Olho pra ele por um segundo e depois me concentro outra vez na minha tarefa.
- Vai almoçar em casa, Lio?
Ele anda até a geladeira e pega uma garrafinha de suco de laranja.
- Não vou, não. Estou indo cuidar de uns assuntos, não sei quando volto.
Quando Ítalo se vai ela para do meu lado.
- Aconteceu alguma coisa?
Dou de membros enquanto continuo picando o pimentão amarelo e não olho pra ela.
- Eu o agradeci por ter ajudado as meninas ontem. Georgiana me mandou uma mensagem falando que a presença dele lá deu um up nas vendas. Por que a pergunta?
Antonieta anda até o fogão e coloca um pouco mais de água no frango que está fazendo.
- Ele te olhou como se estivesse esperando alguma coisa.
Inspiro e expiro de um jeito profundo.
- Eu fiquei sem jeito de fazer isso. A gente é acostumado a alfinetar um ao outro, não a se agradecer.
Certamente Ítalo me achou estranha como achei ele quando me pediu desculpas por ter ouvido a minha conversa.
*********
Depois do almoço eu decido ler mais um pouco.
💭Acho que eu preciso arrumar alguma coisa pra fazer. Eu bem que podia chamar Pietra pra viajar, não é? 💭
Ando até meu quarto e assim que abro a porta eu dou de cara com um envelope branco em cima da minha cama.
Abro e vejo um papel de uma empresa especializada em restauração em fotografias. Olho pra dentro do envelope e meus olhos enchem de água vendo que existem duas fotografias dentro. São as fotos dos meus pais.
Levo a mão direita na boca enquanto franzo a testa surpresa por isso. Foram restauradas, estão perfeitas, como se tivessem sido tiradas há pouco.
Meu pai não era a tão alto assim, mas era maior que minha mãe. Ele tinha um sorriso bonito que está aberto nas duas.
Já minha mãe na foto em que eu apareço está sorrindo sem mostrar os dentes, mas com uma expressão bem feliz. Eu me pareço muito com ela, muito mesmo. A outra foto é dos dois dançando no casamento e ela sorri de volta pra meu pai. Eles pareciam tão felizes juntos.
Coloco as duas no meu peito e abro um sorriso. Nem acredito numa coisa dessa.
Mas espera aí... se essas fotos estão aqui significa A que não foram destruídas por completo como eu achei que tinham sido. Viro as duas e vejo que são mesmo as originais. O logo antigo da Kodak impresso no verso.
A emoção dá lugar à raiva.
Bruno mentiu pra mim.
Inspiro fundo e enxugo as lágrimas do rosto. Eu vou tirar essa história a limpo. Ah, se vou.
Me arrumo no capricho. Vestido vermelho justo e decotado nas costas. um batom vinho e o cabelo arrumado alto. Meu melhor par de sapatos e uma bolsa que combine. Coloco os acessórios que Rizzo me deu e ando decidida pra pegar um carro na caragem.
Não quero depender nem de Daciolo hoje.
Bruno me paga!
Saio no SUV que costumo usar mesmo, e dirijo decidida até a casa dele. As sextas ele não costuma trabalhar.
Estaciono na frente de pedra e saio a todo vapor.
Não me dou ao trabalho de bater a campainha e entro de uma vez.
- BRUNO!
Eu berro por ele no hall de entrada e não demora Fausta aparece descendo as escadas.
- O que foi, sua louca?!
Aaah, anos aguentando ela achar que mandava em mim. Que se f*da!
- Cala a sua boca que eu nao chamei por você. Chamei por aquele porco que você chama de marido!
Fausta está usando uma roupa preta. Calça e blusa. Ela sempre foi bem séria e usa os cabelos em um coque baixo bem penteado e impecável. É a marca registrada dela.
- Como você pode se referir assim ao homem que se sacrificou e te criou?
Faço uma cara ruim pra ela.
- Com a minha boca, minha língua. Mas não me faz perder tempo, Fausta, onde ele está?
Ela até abre a boca pra falar alguma coisa, mas Bruno aparece logo atrás. Está enrolando em um robe de seda. Debia estar domindo depois do almoço.
- O que você está fazendo aqui, Ambra?
Pendura minha bolsa no ombro e bato palmas bem alto pra ele.
- Vim aqui olhar na sua cara e te chamar de safado, pilantra e qualquer que seja mais o adjetivo podre que você possa merecer receber.
Bruno tem os cabelos grisalhos e usa eles na altura da base do pescoço. Passa as mãos os alisando pra trás e me encara.
- Posso saber o motivo dessa demonstração gritante de ingratidão?
Não seguro a risada.
- Vamos cortar esse papo. Eu sei desde que tinha treze anos de idade que você só me criou porque estava de olho na minha herança que vai ser desbloqueada no banco quando eu fizer vinte e um. Mas a sua incompetência gigante de fez falir antes, e por isso você me vendeu...
A cara de espanto dos dois me pega de surpresa.
Bruno não sabia da mi há consciência disso.
- Ouvi vocês dois conversando naquela biblioteca. Dizendo que assim que possível dariam um jeito de me pôr de lado com o mínimo possível do meu dinheiro...
Olho pra cima segurando o choro.
- Sabe o que é pior, Bruno? É que eu tinha a opção de não me casar, eu tinha a opção de fugir e tudo o mais, mas mesmo sabendo que você me enxergava como um fardo, eu fiz o que tinha que ser feito porque odeio ingratidão. Só que existem coisas que não dá pra deixar passar. Você ter sumido com as fotos dos meus pais foi algo mais além do seu humor ruim, foi crueldade. Eu era só uma criança.
Bruno não me olha. Ele abaixa o rosto, claramente com vergonha por ter sido desmascarado.
Mas eu sou surpreendida.
- Não foi Bruno quem escondeu as fotos, fui eu. E eu devia ter era queimado as duas.
O QUÊ QUE ESSA VELHA MOCORONGA ESTÁ ME DIZENDO?!
Minha visão fica turva na hora, jogo a bolsa no chão e avanço pra cima dela, mas sou impedida por um braço me envolvendo por trás.
É Ítalo.
- Me solta, eu vou dar uma surra nessa maldita.
Estou esperneando feito uma louca, mas não consigo me soltar. Ítalo é muito mais forte que eu.
- Fica calma, Ambra. Não vale a pena isso.
Não quero ouvir ele agora.
- O que você sabe sobre isso? Não cresceu com esses dois fazendo você se sentir sempre como um estorvo. Eu preciso fazer isso.
Ele me segura com os dois braços agora, mas não me responde. Fala com os dois.
- Eu quero vocês dois fora dessa casa até o final do dia, se não vou pôr fogo nela com tudo dentro. Inclusive vocês.
Eu paro de me mexer.
Fausta está chocada.
- Quem você pensa que é pra me tirar da minha casa?
Ítalo me solta quando me percebe estática.
- Pergunte ao seu marido quem eu sou, ele vai te contar os detalhes. Apenas vou dizer a você o mesmo que disse a ele: quando ele me vendeu Ambra me vendeu a própria alma. Desocupem a casa no prazo que eu dei, não me façam tomar medidas drásticas.
Ele se abaixa pra pegar a minha bolsa e quando me entrega me olha me recriminando. Consigo perceber isso.
- Vamos embora agora.
O acompanho até chegar no carro e consigo perceber que o motorista dele está no volante do carro que ele usa, mas pra minha raiva aumentar agora Ítalo decide dirigir o carro que eu vim.
Me sento no banco do carona e olho pra frente.
Ele dá partida e começa a falar.
- Qual o seu problema, Ambra? Não consegue dominar as próprias ações? Por que veio aqui dar esse show?
Não consigo segurar as lágrimas no meu rosto.
- Olha Ítalo, eu sei que você é um cara super refinado. É culto. Tem duas vidas completamente paralelas e consegue lidar com as duas de maneira magistral, mas eu não sou assim. O que você viu ali foi o resultado de dezoito anos de uma vida bosta, tá? Aquele miserável que se diz meu tio escondeu a única coisa que era referencial de amor pra mim. Você pode não entender, porque foi criado cercado de amor, tem figuras paternas mesmo, mas nem todo mundo tem essa alegria e oportunidade. Então me dá um tempo! Já te disse que eu só tenho dezoito, quem sabe um dia eu consiga agir feito as mulheres todas que você sempre foi acostumado a sair, mas por enquanto não. Por enquanto eu sou só essa desequilibrada aqui.
Surpreendentemente ele não me responde. Continua olhando pra frente e dirigindo.
Menos mal assim, me dá tempo pra acalmar o meu ódio.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Rosangela Prati
e o irmão dela, escritora que fim vc deu nele
2024-11-26
0
Fatima Gonçalves
coitada da garota
2024-10-03
0
Renascida das cinzas
tadinha... 🥺🥺🥺🥺🥺🥺
2024-09-07
1