Capítulo 14

Ponto de vista de Ambra

Já é noite quando nós dois chegamos em casa.

Antonieta surge pelo hall de entrada e parece preocupada comigo.

- Você quase me matou do coração.

Ela me abraça apertado.

- Me desculpa, amorzinho. Eu tinha que tirar uma história a limpo.

Antonieta olha bem pra mim e estreita os olhos, provavelmente percebendo que eu chorei um bocado.

- Vocês vão querer jantar?

Olho pra trás e vejo Ítalo já subindo as escadas.

- Eu não. Veja com Ambra se ela vai querer.

Quando ela olha pra mim de novo eu me limito a dizer que quero um chá. Sigo com ela pra cozinha.

- Vocês dois não brigaram, não é?

Nego com a cabeça enquanto me sento esperando pelo chá.

- Não. Ítalo me ajudou hoje a tarde.

Nós duas vamos conversando sobre algumas coisas enquanto tomamos o chá juntas e ela tenta me animar. Depois que eu subo e tomo um banho, me deito olhando as fotos que ganhei hoje. Queria muito ter os dois aqui. Muito mesmo.

*********

Café da manhã e silêncio. O habitual de todos os dias.

Antes de descer eu olhei pela janela e o sábado está lindo.

💭Vou procurar alguma coisa pra fazer💭

- Vamos sair hoje.

Adeus planos pra mim.

- Posso saber pra onde?

Ítalo limpa a boca com um guardanapo quando me responde.

- Preciso terminar de resolver umas pendências de ontem e recepcionar alguns amigos com as mulheres deles. Você vai comigo, já que não consegue ficar sozinha sem se enfiar em algum problema.

Pelo visto o Ítalo mais ou menos legal de ontem foi um surto.

- Tudo bem...

Ele me surpreende.

- Coloque aquele jeans, o tênis e uma jaqueta. Saímos às dez em ponto.

Hum, que interessante.

*********

Na hora certa eu estou pronta e desço as escadas. Coloquei uma camiseta preta por baixo de uma jaqueta de couro aproveitando que estamos em um clima mais frio. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo bem penteado e baixo e coloquei brincos pequenos.

Ítalo surge da direção do escritório e está inteiramente vestido de preto e com uma jaqueta bem parecida com a minha. Ele tem dois capacetes nas mãos e eles são vermelhos.

Inevitavelmente eu abro um sorriso de orelha a orelha.

- Nós vamos andar de moto?

Ítalo me entrega um com a mão direita.

- Parece que sim, não é?

Decido ignorar a falta de educação dele e não respondo nada.

Tem tanto tempo que não ando de moto. Bruno tirou a minha quando ameacei fugir com ela depois que ele veio me contar sobre o casamento.

Ando atrás de Ítalo até a garagem e me deparo com uma Triumph Bonneville Bobber. É a clássica em um tom lindo de Borgonha e adaptada pra duas pessoas.

Ítalo monta na moto.

- Sobe aí se não a gente chega atrasado.

Estou igualzinha a uma criança no melhor brinquedo do parque de diversões. Adoro a sensação de liberdade que andar de moto dá.

Ele pilota por cerca de uns vinte minutos em uma velocidade considerável até que estejamos em um ponto de floresta. Não é tão longe assim da cidade, mas mais uma vez ele me traz em um lugar que não faço idéia de onde seja. E olha que eu jurava que já conhecia bastante coisa por aí.

Ítalo anda por uma trilha no meio das árvores e não demora um lago surge. Tem um utilitário branco e uma caminhonete com duas motos também de modelo clássico na caçamba, mais uma estacionada do lado do utilitário.

Avisto uma fogueira e três mulheres jovens sentadas em bancos em volta dessa fogueira. Mais três homens mexendo com uma espécie de fogão acoplado em uma churrasqueira.

Ítalo buzina e eles olham na nossa direção.

Um cara alto pra caramba enfiado em um casaco de lã assobia com os dedos da mão direita. Ele tem um gorro na cabeça e uma barba que não chega a ser estilo lenhador, mas até que grossa. Mostra uma lata de cerveja e faz um gesto chamando.

Nós descemos da moto e Ítalo me surpreende.

- Aqui nós não precisamos fingir nada. São meus homens de confiança, vão morar aqui agora e sabem bem das coisas.

Ótimo! Pelo menos um lugar que não tenho que ser um personagem.

Andamos até chegar perto do pessoal e eu reparo no restante deles.

Tem um mais baixo e forte que está tentando fazer a churrasqueira pegar. Está usando um cardigã azul e botas pesadas. Tem ajuda de um outro que provavelmente curte musculação pesada, o cara é grande de um jeito assustador e tem uma barba cerrada e acobreada e várias sardinhas pelo rosto. O último cara está picando algumas batatas e ele destoa demais dos outros. Usa um óculos quadrado e pequeno e não tem nem um traço de ser um cara violento e nem nada parecido. Está usando um sobretudo preto e tem o cabelo bem penteado e fixado por gel.

O cara de barba chama nossa atenção.

- Finalmente vamos conhecer a senhora Rizzo.

Ele fala com um tom meio debochado, mas não está zombando comigo, está zombando com Ítalo.

- Jurava que ela era feia, mas você até que teve bom gosto.

Como é que é?!

Os amigos dele são sem filtro exatamente como ele.

- Aurelio, por Madonna, fecha a boca!

Quem repreende ele é uma moça bem bonita de cabelos loiros. Ela é jovem, mas não tanto quanto eu e tem olhos castanhos claros bem expressivos. Está usando um vestido de tricô e mangas longas preto. Estende a mão pra mim com um sorriso.

- Eu sou Anna, prazer em te conhecer, Ambra.

Bom que eles já sabem meu nome.

Estendo a mão de volta e repito o cumprimento. Logo eu fico sabendo os nomes deles todos.

Aurelio e Anna obviamente são casados. O cara mais baixo da churrasqueira se chama Matteo e é casado com uma moça também muito bonita que se chama Lavínia. Ela tem olhos bem pretos e um cabelo cacheado que vai até a metade das costas. O fortão se chama Nicolo e é casado com uma moça que usa um chanel bem cortado e bem preto. Ela se chama Camilla.

Já o cara nerd é Filippo e ele é casado com uma ruiva bem baixinha e magra que se chama Beatrice. Ela também tem várias sardinhas pelo rosto e eu fico me perguntando se tem algum parentesco com o grandão e acabo por descobrir que eles são irmãos.

Depois de me apresentar a todo mundo, eu sento no banco que estava vago com as mulheres enquanto Ítalo conversa com os homens.

- Você parece ser muito nova, quantos anos tem?

Quem me pergunta é Anna, enquanto me dá uma xícara com café.

- Dezoito.

Lavínia abre um sorriso e olha pra Beatrice.

- Você não é mais o bebê do grupo.

Camilla me conta que Beatrice tem dezenove anos e se casou aos dezessete com Filippo.

- Estamos agora começando a pensar no bebê.

Elas parecem animadas com isso e eu me sinto um pouco deslocada. Quer dizer, elas têm casamentos de verdade e é óbvio que planejam uma vida do lado dos maridos, não me encaixo nessa conversa. Só consigo pensar em quando vou assinar o divórcio.

Mas enfim...

Decido levar a conversa pra outro rumo, se não vou passar o dia inteiro muda.

- Já se adaptaram em Roma?

Beatrice concorda com a cabeça.

- Chegamos tem três dias, mas é um lugar encantador.

Estendo minha xícara pra ganhar mais café.

- Se quiserem eu posso levá-las pra conhecer tudo por aqui. Vão gostar. É uma cidade encantadora.

São mulheres agradáveis e acho que pelo fato de serem mais próximas da minha idade, eu me sinto mais confortavel com elas.

Também deve ser pelo fato de que eu sei que elas não vão fazer nem um comentário que vai me deixar embaraçada a respeito do meu casamento e eu não vou precisar mentir e parecer extremamente apaixonada.

Quando o fim do dia chega, nós já comemos muito graças à habilidade dos homens nas panelas, e já fofocamos sobre tudo e mais um pouco enquanto eles andavam de moto por aí. Me despeço delas depois de trocar telefones e de prometer que vamos fazer algo durante a semana.

Coloco o capacete e espero por Ítalo montando na moto.

- Você vai pilotar de volta.

QUÊ?!

- Sério?

Ele confirma com a cabeça antes de colocar o próprio capacete.

- Eu bebi umas latinhas a mais, não estou bom pra pilotar. Pode guiar, só não mata a gente no meio do percurso.

Essa foi a melhor coisa que ele me disse desde que nos conhecemos.

Monto na moto e espero por ele se ajeitando atrás de mim. Quando dou partida eu sinto meu coração acelerando.

Com toda a certeza eu vou passar uma moto naquele cartão!

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