Falou, fazendo Guilhermo inclinar a cabeça para o lado, sem entender e sem saber o que pensar, mesmo assim perguntou:
— Por que a senhora diz isso? Como pode ser sua culpa?
— É sim, senhor Guilhermo. O senhor estava certo, o Thomas precisava ser parado a muito, muito tempo, e eu nada fiz. O meu amor de mãe me cegou e me deixou completamente irracional.
Guilhermo franziu a testa e pôs a mão na dela e falou:
— Bom, as mães as vezes amam demais. Não é mesmo? Mas eu acredito que as escolhas do Thomas, o que ele se tornou; não pode ser fruto do seu amor desmedido. Ele chegou ao ponto de dizer que não se importava se a Sophie seria usada, abusada um prostibulo ou qualquer outro lugar. Isso não é coisa de ser humano que recebeu muito amor...
Ava o olhou desconcertada, ao se dar conta de que existia calor e sentimento, cada vez que ele falava sobre a Sophie; então falou:
— Que ironia... Sabe senhor Guilhermo, essa é a maior ironia que eu já vi em toda a minha vida.
— Por que?
— Porque quando o Matt ainda era vivo e fazia parte do serviço de inteligência da Calábria…
— Então ele trabalhava na área técnica?
— Sim e ele era muito bom no que fazia, era muito solicitado...
Falou com um sorriso ao lembrar do marido, mas o sorriso diminuiu e ela continuou a falar:
— Como ia dizendo, ele tinha uma vida dupla. E...
— Desculpe interromper, mas é que tudo isso é incrível. A Sophie não sabe eu suponho?
— Eu tenho certeza que o senhor já está com mil perguntas se formando…
Guilhermo fez que sim e disse:
— É verdade, mas por favor, me chame de Guilhermo.
— Guilhermo. Melhor assim.
Ele apenas afirmou, então Ava respirou fundo e continuou:
— Éramos muito felizes. Matt era um homem incrível, um marido maravilhoso, eu não podia reclamar de nada; era uma mulher imensamente feliz. Quanto a Sophie, ela era a nossa princesinha, nasceu para completar a nossa felicidade e encher a nossa casa de alegria. Bom eu não disse, mas o Matt não se importou por eu já ter um filho, ele me acolheu e me encheu de amor; estava disposto a ser um pai para o Thomas, que já era um adolescente problemático.
Porém o Thomas nunca o aceitou e quando a Sophie nasceu ficou pior. Ele a odiava por ser menina e ter tanta atenção e todo o amor do Matt. Thomas não perdia a oportunidade de magoa-la e maltrata-la. Claro que quando o Matt percebeu, passou a defender a filha. As coisas ficaram tão ruins que ele afastou a Sophie do Thomas e me prometeu que o mataria, caso ele fizesse a Sophie chorar mais uma vez. Bom ele teve muitas oportunidades, mas eu implorei de joelhos todas as vezes.
Chorou, então Guilhermo ofereceu-lhe um lenço; Ava o aceitou e agradeceu, ele deu também uma água e após beber, Ava continuou:
— Sabe Guilhermo, com o tempo, Thomas foi viver a própria vida e se afastou, o que foi bom por um tempo, mas quando ele descobriu que Matt era da Máfia, ficou revoltado outra vez, como a Sophie ainda era muito novinha para entender, ele me manipulou para não dizer a ela. Ele a invejava por ter um pai tão lindo e incrível, quando o dele era um inútil e não ensinou nada que prestasse realmente. Quando o Matt morreu, Sophie estava com 12 anos.
— Como foi?
— Foi triste, ele estava numa cabine, passando informações precisas em uma operação, mas a retaguarda dele foi atingida e ele ficou desprotegido, quando ele percebeu que tinham homens atrás dele...
— Foi tarde demais...Uma lástima!
Completou Guilhermo, Ava fez que sim então disse mais:
— Ele não morreu na hora, seu pai e outros homens chegaram, mataram os inimigos e o socorreram. Eu consegui chegar no hospital a tempo, ele foi operado, mas não resistiu, morreu depois de me fazer prometer, que protegeria a nossa filha da crueldade do Thomas, disse que a amava mais que tudo, e que me amava loucamente; e então se foi.
— Sinto muito Ava.
— Obrigada.
Guilhermo levantou e deu uma volta no quarto, parou na janela protegida por uma persiana azul, como os olhos profundos dele, depois se virou novamente para Ava e constatou:
— A Sophie é nascida, uma herdeira Calábria?!
— Sim. Mas foi criada alheia a tudo isso, ela vive num mundo, oposto a esse que conhecemos. Após a morte do Matt, eu recebi todo o suporte do conselho e da sua família, então eu decidi viver definitivamente na fazenda que o Matt havia comprado. Só íamos as vezes, mas decidi me isolar por lá com Sophie.
No entanto, o Thomas apareceu novamente e me fez prometer, que não diria nada a Sophie.
— Entendo que quis protegê-la se afastando. A vida na Máfia para as viúvas e filhas, pode ser muito incerta. O Thomas se aproveitou disso.
— É verdade sobre ser incerta, mas a sua família me ofereceu ajuda, abrigo; mas naquela época, era muito difícil e doloroso pra mim, eu só queria esquecer…
— Lamento.
— Obrigada. Então, lembra a ironia?
Guilhermo afirmou, Ava secou as lágrimas e falou:
— O seu pai se dispôs a me oferecer segurança e proteção, mas vivendo na fazenda, eu considerei desnecessário. O conselho ainda me entregou uma mala cheia de dinheiro, e disse que ninguém poderia nos machucar, caso contrário perderia a vida.
Bom, Thomas desconhecia essa promessa, e voltou a nos incomodar...
— Mas a senhora o protegeu.
— Sim, e com isso a Sophie sofreu. Thomas fez uma coisa horrível com ela e as amigas, o meu sobrinho Christian chegou a tempo de evitar o pior com a Sophie, mas ela viu todo aquele horror com a promessa de que seria a última, e entrou em pânico. Quando o Chris soube que Thomas foi o responsável, quis denunciá-lo, mas novamente eu fui inconsequente e implorei para ele não fazer, então ele deu uma surra tão grande no Thomas, que ele ficou em coma por um mês. Eu disse que foi um acidente e quando ele acordou, não se lembrava do que fez. Ele sumiu das nossas vidas, mas Sophie ficou traumatizada.
O resto de Guilhermo se contraiu em uma expressão de raiva, ao lembrar do que Christian havia falado e agora Ava; ele queria detalhes, mas sentia que ia explodir de raiva por não ter estrutura para ouvir, sobre algo ruim tenha acontecido a Sophie. Também não foi difícil deduzir o que aconteceu. Então ele respirou fundo, para se acalmar, depois disse:
— Não cabe a mim julgar a senhora, mas não posso evitar sentir raiva do Thomas novamente. Desculpe!
"Então foi por isso que você o matou? Foi pela Sophie?"
Quis perguntar, mas não teve coragem, ela apenas concluiu:
— É claro, você está certo e é por isso que, por mais que me doa, não posso te odiar. A ironia da qual falei: foi que o Matt quis o matar, mas eu não deixei, eu o protegi de ser denunciado porque isso atrairia a Calábria, eu tentei manter a Sophie longe de tudo isso, mas olha só, sem saber você nos achou, você a protegeu quando eu não o fiz, e por fim você matou o Thomas...Não é uma grande ironia?!
— É sim. E eu não sei o que dizer. É inacreditável.
— Eu sei, mas é a mais pura verdade. Eu tenho parte em tudo o que está acontecendo, reconheço minha responsabilidade. Lamento por meu filho, pelo que ele se tornou; eu não fui capaz de ajudá-lo. Eu nem posso me despedir dele.
Chorou novamente sem consolo, então Guilhermo a acalmou:
— Se acalma Ava, a senhora poderá sepultar o seu filho sim. Eu não sou tão desumano assim…
Ava levantou o olhar emocionada e agradecida, então, sem que Guilhermo pudesse esperar, ela o abraçou, agradecendo em meio as lágrimas. Ele apenas de um beijo na testa dela e a tranquilizou. Após um tempo, chamou a Greta e Harold para se despedirem, porém antes que entrassem no quarto, Ava pediu:
— Guilhermo, por favor; não conta a minha filha. Não diga nada a Sophie...
Ele estreitou o olhar e soltou o ar, nada satisfeito com tal pedido...
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Atualizado até capítulo 216
Comments
Maria Joelma
A verdade acima de tudo.
2025-02-08
0
Ana Celia Pereira
A verdade é sempre o melhor
2025-01-29
0
Cristiane Pinheiro
É parece que vcs já estavam destinados se encontrar/Chuckle/
2025-02-22
1