Cap. 10 - Um grande Mafioso, mas também um grande homem...

Guilhermo inclinou a cabeça para o lado surpreso. Era da Sophie que ele estava falando?

Ele balançou a cabeça levemente em negativo, depois perguntou:

— Como sabe da Sophie?

— Não estava falando da Sophie!

Genaro respondeu sério, porém, Guilhermo franziu a testa e perguntou confuso:

— Tá falando de quem então?

— Peguei você!

Genaro sorriu, fazendo Guilhermo sorrir também e dizer:

— Muito astuto senhor Genaro! Mas eu não sei muito sobre ela.

— No entanto, está preocupado. Posso ver no seu olhar. Está diferente; tem emoção e um brilho especial...É evidente que tem a ver com a chegada desta moça! Me arrisco a dizer que está apaixonado.

Guilhermo mudou a expressão e pôs a mão na testa do pai antes de perguntar:

— Bateu forte a cabeça?

— Não que eu me lembre. Mas eu te conheço e sei que estou certo.

— Hahaha...Ainda faz piadas! Não viaja pai!

— Eu não estou. Mas você está.

Guilhermo balançou a cabeça em negação, enquanto tinha um sorriso perplexo no rosto, aquilo parecia tão absurdo; ele se levantou e deu uma volta no quarto, indo até a janela.

Genaro apenas acompanhou com o olhar, vendo a mudança do filho, quando pôs a mão no bolso e encostou na parede e ficou pensativo parecia estar perdido no tempo... Depois virou-se novamente e caminhou de volta para perto do pai, coçou uma sobrancelha e então perguntou:

— Como eu poderia estar apaixonado por alguém que só vi uma vez?

— Bom, é assim que acontece quando você encontra, aquela que será o seu amor pra vida toda; é natural e espontâneo, só leva alguns segundos pra acontecer e menor contato físico ou toque, já é o bastante para te marcar pro resto da vida. Tô errado?

Guilhermo tentou negar, mas imediatamente, uma pequena lembrança que o acompanhou nos últimos dias, lhe veio a mente. Ele pode se lembrar e se fechasse os olhos, até podia ver o olhar dela, que mesmo assustado, era encantador, também era capaz até de sentir o perfume floral dela, ou mesmo a pele macia; e ainda o coração, que batia acelerado, enquanto ele a mantinha presa em seus braços. Ele até desejou aquele contato outra vez. E esboçou um sorriso incapaz de negar... Genaro ergueu uma sobrancelha o analisando e falou:

— Então, fale dela!

— Falar o que pai?

— Como você se sente em relação a ela...

— Bom, ela muito delicada e suave, é diferente e todas as mulheres que eu já conheci e…

— Deve ser, porque ela tem uma pureza que vai além do corpo, uma pureza de alma...

— Como o senhor sabe?

— Posso ver através dos seus olhos; além disso, tenho uma informante das boas!

Guilhermo ergueu uma sobrancelha dizendo:

— Dulce!

Genaro afirmou e pediu que ele falasse mais...então ele falou:

— Ela tem uma coisa nela, que eu não sei explicar, mas que me acalma e me faz sentir paz toda vez que penso nela. Ela me lembra a mamãe.

— Parece perfeita pra mim, mas isso não importa, porque ela tem que ser pra você. O que mais?

Falou com um leve sorriso, então Guilhermo respirou fundo e respondeu:

— Olha pai, antes de continuar a falar sobre a Sophie, tenho que falar da Deyse.

— O que a Deyse tem a ver com essa moça?

— Nada, se não fosse o irmão dela. Lembra da investigação que mandei fazer sobre a Deyse?

Genaro afirmou com o olhar atento e então Guilhermo continuou:

— Então, foi nessa investigação que descobri o amante real da Deyse, com quem inclusive, ela tinha uma conta conjunta. Esse mesmo cara estava envolvido com o Armany..

— Armany? Miguel Armany da Apolus?

— Esse infeliz mesmo.

— Que rapaz estúpido! O caso da Deyse com esse sujeito, envolvido com o Armany, ia resvalar em você, se vocês se casassem.

— Bom, me afetou mesmo assim.

— Por quê?

— Porque eu descobri que o Thomas tinha uma família, mãe e irmã vivendo sozinhas, e Thomas recebeu ameaças: caso não pagasse a dívida, Armany mataria a mãe e levaria a irmã.…

— Deixa eu adivinhar: ele nada fez!

Guilhermo fez que sim com a cabeça, deixando Genaro pensativo, juntando as peças, até que perguntou:

— Você foi a Boston, foi o que me disseram. Os encontrou? Como resolveu isso?

Guilhermo juntou os lábios numa linha reta e falou.

— Pai eu, fiz o que tinha que fazer, o que fui fazer.

— Você os matou.

— Sim.

Genaro pôs a mão no peito e baixou a cabeça, ao se lembrar que a Deyse um dia foi a sua sobrinha querida, apesar do que ela fez ele lamentou. Então Guilhermo pôs a mão na dele e falou:

— Eu lamento pai, sei que gostava dela apesar de tudo, mas o senhor precisa saber, que foi ela com a ajuda do motorista, quem armou aquela cilada para nos matar. E bom, ela atirou primeiro..

— Entendo. Ela sofreu?

— Não, foi rápido.

— Você trouxe-a para casa?

— Sim senhor. E o Thomas também.

— Você matou o Thomas porque ele nos roubou e tomou a sua noiva?

— Não pai. Eu cometi um erro...

Genaro inclinou a cabeça para o lado e perguntou:

— Como assim?

— Ele ia morrer de qualquer jeito, mas naquele momento, ele falou coisas que me fizeram ferver de ódio. Nem sei de onde saiu tanto. Tudo o que ele já tinha feito, se tornou insignificante..

— O que ele disse filho?

Guilhermo olhou para o lado, e mordeu o lábio inferior, ao lembrar as palavras do Thomas, respirou fundo, olhou para o pai e respondeu:

— Ele disse que a irmã era inútil e que não se importava, disse que ela já devia estar nas mãos do Armany, num cassino ou bordel com uma fila de homens brigando entre si para...

Bufou antes de completar:

— Enfim... eu me deixei levar pelas emoções e descarreguei a Glock nele.

Genaro ouviu tudo e encontrou o motivo da tensão do filho, mas tinha certeza que dentro dele havia uma completa bagunça, que nem mesmo ele Guilhermo, era capaz de distinguir o que se passava, ele também sabia que o filho precisava de conselhos e orientação, pois nesse momento, ele não dava conta dos próprios sentimentos. Genaro soltou o ar e falou:

— Então, como eu disse você está apaixonado.

— Apaixonado eu?! Pai!! Eu nem sei o que é isso!

— Agora você sabe filho. Você matou por proteção, não por vingança; isso me parece bem mais nobre.. E essa ruga na sua testa é porque agora você não sabe como contar, está preocupado em como ela vai reagir...E você não quer magoa-la.

Guilhermo revirou os olhos, não queria admitir, mas era o que ele estava sentindo. Ele nem sabia o que dizer; então mais uma vez, Genaro pode ler o que estava no olhar dele e falou:

— Filho, nosso modo de vida, o que fazemos, as nossas escolhas, diz muito sobre o que somos, mas não define o nosso caráter. É verdade que temos que viver com as consequências do que fazemos, sejam boas ou ruins...Mas antes de tudo, vem quem você é, o que tem dentro de você, e é que nos diferencia. Você é um grande Mafioso sim, mas também se tornou um grande homem; vibrante, forte, de ética, valores e muito honrado.

Não tem como se arrepender do que já está feito, mas eu sei que você foi justo e vai m, encontrar uma forma de contornar essa situação que "parece" embaraçosa.

— Eu sei. É só que por um lado, tem duas pessoas que quero e preciso proteger, e do outro lado, está um membro desta família que eu matei. Eu não sei te dizer como me sinto. Eu não estou arrependido, sei que faria de novo, só que não queria...

— Não queria ser o causador das lágrimas delas. Filho...

Pôs a mão no ombro dele e falou:

— Não se preocupe com nada, apenas fale, fala logo com a mãe, ela tem o direito de chorar e até ficar com raiva, porque vai doer, mas acredite, ela vai entender e não vai te odiar.

— Como sabe?

— Eu sei. E você vai se surpreender. Só confia em mim.

Guilhermo respirou aliviado se sentindo melhor, sabia que ia ser difícil, mas conversar com o pai o ajudou e encorajou bastante...

Ele se recompôs e pôs a mão no ombro do pai, depois falou:

— Obrigado pai. É sempre muito bom conversar com o senhor.

— Digo o mesmo. E filho...

Guilhermo ergueu as sobrancelhas e então Genaro completou:

— Que bom que está em casa.

Guilhermo acenou com a cabeça, deu um beijo na testa do pai e saiu do quarto do pai, seguindo para do quarto dele.

Abriu a porta, segurou o puxador da mala que havia deixado na porta, e então entrou. Ele queria dormir, mas ao invés disso, foi direto para o banho...Durante alguns segundos, ele apenas deixou a águamolhar o seu belo corpo e lavar as feridas, e também levar as preocupações…

As palavras de Genaro ainda ecoavam em sua cabeça, especialmente sobre estar apaixonado; aquilo parecia tão improvável, mas não era impossível...

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