Capítulo 17

Benjamim (Bemben)

Esta noite eu quase não dormi. O Gael acordou mais de oito vezes e não parava de chorar. Nunca o vi chorar desse jeito antes. Pensei que fosse otite e dei remédio, mas não parecia ser isso. O choro era diferente, um choro de angústia. Já eram quatro da manhã quando notei que ele estava com febre. Não sabia a quem pedir ajuda, a vovó linda ainda não tinha chegado e não queria ligar para a Analu a essa hora. Então dei o remédio e não sabia como a Larissa estava dormindo com tanto choro, mas agradeço que ela está dormindo.

Escutei o meu celular tocando e fiquei surpreso ao ver que era a Analu. Atendi a ligação com o Gael no colo, balançando ele para ver se ajudava.

Ligação on:

- Desculpa ligar a esta hora, eu te acordei? - ela perguntou assim que eu entendi.

- Não me acordou não... - ela não deixou nem eu terminar de falar.

- O que foi com o Gael? Não consigo dormir, estou agoniada. Aconteceu alguma coisa? - ela perguntou muito rápido.

Eu não entendo está ligação que eles tem porque eu sei que está não é a primeira vez que ela sente algo assim só pelo histórico dela com o meu filho.

- Eu não sei o que aconteceu. Ele não dormiu, está chorando muito e está com febre. Não quero te atrapalhar, mas será que você poderia ficar com a Larissa para me levar ele ao hospital? Já dei remédio, já fiz de tudo e não resolveu. Estou me desesperando - supliquei a ela.

- Estou aí em 10 minutos. Deixo a Lala aqui em casa e vamos levá-lo. Eu não vou me sentir bem longe dele - ela falou, parecendo desesperada.

- Certo, certo.

Ligação off.

Ela desligou o celular e fui vestir uma roupa. Não podia ir de pijama, principalmente quando meu pijama é só uma cueca samba canção. Me vesti com a primeira calça jeans que achei e uma camisa cinza, pois foi a primeira que vi. Quando terminei de me vestir, escuto meu celular tocar e vejo que é a Analu. Atendo pegando ele novamente.

Ligação on:

- Eu já estou na porta - ela avisou, e sei que ela veio voando, afinal não fazem nem cinco minutos que ela ligou.

- Certo - falei, indo com o Gael todo agasalhado para abrir a porta.

Ligação off.

Assim que cheguei na frente, ela já estava fora do carro com um vestido soltinho, chinelos, o cabelo amarrado em rabo de cavalo e óculos. Nem sabia que ela usava óculos.

- Oi, meu amorzinho! O que aconteceu? - ela perguntou ao Gael, já pegando ele do meu colo. E parecia mágica, nunca o vi procurar pelo seio dela e assim que achou, parou de chorar.

- Eu juro que fiz de tudo para ele parar de chorar - falei para ela, porque não era possível.

- Eu sei, Benjamin. Vai pegar a Larissa, mesmo ele tendo parado, é bom ver o que é essa febre. Vai que a otite esteja atacando de novo - ela falou, balançando ele que estava com a mão enfiando no vestido.

Entrei em casa, peguei a bolsa do Gael e a Larissa, tranquei a porta e, quando voltei, o Gael estava olhando para a Analu e sugando o bico com força. Coloquei a Larissa, praticamente desmaiada, na cadeirinha e peguei a mamadeira dele.

- Vem com o papai, meu amorzinho - falei, mas ele segurou com mais força na Analu.

- Você sabe dirigir? - ela perguntou.

- Sei sim, tenho habilitação - falei, e ela me entregou a chave. Vou tentar dar de mamar para ele e você sabe o caminho até a Toytoy's? - ela perguntou, e não entendi nada.

- Sei sim, mas vamos fazer o que lá? - Perguntei, e ela sentou no banco do passageiro com o Gael no colo.

- Não vamos para lá, porém eu moro pertinho de lá- ela falou.

Ajeitei o banco e tudo para dirigir. Ela me ensinou o caminho, e realmente ela mora perto da minha casa, no condomínio da Toytoy's, o que só mostra o quanto a família dela não liga muito para padrões sociais.

Ela mostrou a casa, mas não achei estranho quando vi que era a maior casa do condomínio. Mas lembrando, o tamanho da família dela explicava muito o tamanho da casa. Estacionei o carro em frente à casa.

- Ele não quis a mamadeira. - Ela falou e realmente às vezes ele faz isso, e foi muito difícil acostumá-lo com a mamadeira.

- Às vezes ele faz isso, mas pelo menos no seu colo ele não está chorando...

- Amorzinho, assim você machuca a titia. Ela fez careta, mas logo saiu do carro e eu fiz o mesmo. Peguei a Larissa, ela abriu a porta que aparentemente já estava aberta. Assim que entramos, o pai e a mãe dela já estavam na sala com cara de sono e de robe. Eu odeio dar trabalho.

E sei que minha cara não nega que estou com vergonha.

- Pode me dar ela? - O pai da Analu falou, pegando a Larissa do meu colo.

- Muito obrigado, desculpa o incômodo...

- Não está incomodando, Benjamim. E como ele está? - A mãe dela perguntou, se aproximando do Gael no colo da Analu e fazendo carinho. — Ele está com febre — ela tocou na Analu — E você também filha.

— Eu estou bem mamãe, nós temos que levar o Gael no médico...

— Ele tem um caso de otite extrema de repetição, que começou com 20 dias de nascido. Ele começou o tratamento com amoxicilina, mas com três meses o remédio parou de fazer efeito, então começou o tratamento com um remédio mais forte, o abulim. Mas semana passada ele parou de fazer efeito, então começou o tratamento com o...

- Zinate, que é mais forte. - A Analu falou.

- Isso, mas acho que hoje não era o ouvido. Já dei o medicamento, mas o ouvido está seco. O choro era diferente, era um choro de angústia, mas depois que a Ana Laura pegou ele no colo, ele parou de chorar. - Falei e a mãe dela trocou olhares com o pai dela.

- O que foi, mamãe? - A Ana Laura perguntou.

- Eu vou colocar a Larissa na cama. - Ele falou, indo em direção à escada.

- Benjamim, já ouviu falar da crise dos 8 meses? - A mãe dela perguntou, e a Analu estava impaciente balançando o Gael.

- Mamãe, é melhor nós irmos levar o Gael no hospital, ele está com febre...

- Pais de primeira viagem, fiquem calmos. A febre é emocional, e isso acontece porque ele está na crise dos 8 meses, que é a crise da angústia da separação. - Ela começou a falar e pediu para nós nos sentarmos.

- E o que é isso? - Perguntei a ela e me sentei.

- A crise dos oito meses é a pior crise que um bebê pode ter. Eles dormem muito mal. Tem bebês que acordam 15 vezes à noite. Com a Alice foi assim, só que ela acordava mais de 10 vezes. É super normal acontecer entre 7, 8 e 9 meses, e é uma crise muito chatinha e longa. Ela dura em torno de um mês. Não é uma simples fase em que a criança acorda chorando um pouquinho, ela está desesperada, assustada fora do comum...

- Sim, ele estava chorando assim. Mas por que isso acontece? - Perguntei.

- Quando o bebê começa a criar laços afetivos, ele tem uma referência de mundo, normalmente são as mães. Antes dos oito meses, a criança acredita que os pais estão sempre presentes o tempo todo, eles não têm noção de que se afastam deles. Por volta dos oito meses, eles começam a entender mais o mundo ao seu redor, entendem que as pessoas que pedem não estão sempre presentes, e é por isso que acontece a crise. Na cabeça deles, se não está ali, sumiu e não volta mais. Por isso, eles acordam várias vezes e choram desesperadamente, pois estão com medo. Como acordaram várias vezes e não encontraram o que estavam procurando para o lado emocional deles, a pessoa realmente foi embora para sempre. Por isso, eles ficam tão desesperados, e a febre é apenas um pedido pela mãe. - Ela falou e se levantou, bateu no meu ombro, foi até a filha e deu um beijo na bochecha e um beijinho no Gael. - Eu já vou dormir. - Ela falou e vi ela subindo as escadas.

A Analu estava pensativa e olhando para o Gael, e ele parecia bem no colo dela. As palavras da Taylor ficaram dando voltas na minha cabeça. Afinal de contas, os dois mal se conhecem e o Gael já tem um vínculo tão forte com ela, e isso me deu muito medo, pois não sei o que esperar dessa relação entre os dois.

- Pode ir dormir, Benjamim. Eu fico com ele. - Ela falou enquanto balançava ele.

- Eu estou bem, e desculpa estar aqui te incomodando...

- Nem começa, não precisa pedir desculpas. Eu estava ficando louca aqui. É loucura, mas eu sabia que ele precisava de mim...

- Como? - Perguntei a ela.

- Não sei, são sensações. Senti isso na sexta-feira também, sabia que ele não estava bem. - Ela falou, olhando para o bebê adormecido no colo dela.

É tão estranho tudo isso. Mas eu acredito que a Bianca, de alguma forma, colocou a Analu na vida dos filhos dela.

©©©©©©©©©©

Continua...

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***