Capítulo 16 De Mãos Dadas

Rafael

Localizado no coração do centro de Roma, no topo da Escadaria Espanhola, a monumental escadaria de 135 degraus, está o luxuoso Hotel Hassler. Ao pé da Escadaria Espanhola está localizada a Piazza di Spagna, uma das praças mais pitorescas de Roma, de onde começa a famosa via dei Condotti, repleta de boutiques de luxo.

Entramos pela porta de vidro com faixas douradas, certamente a beleza externa não se comparava ao interior. Minha primeira vez em Roma, sinceramente; estava apreciando cada detalhe. Faz muito tempo que não alivio minha mente e me permito apreciar as belezas do mundo de uma forma relaxante. Estou sempre focado nos assuntos da minha empresa e da máfia, e o tempo que sobra, ainda me dedico a investigar suspeitos criminosos. Não planejava descanso, pensei que seria designado para uma missão, mas já que a vida me trouxe estas pequenas férias, decidi me desligar do mundo tenso e complicado que vivo, para desfrutar de um pouco de paz.

Localizada no 7º andar, está a luxuosa suíte Penthouse Villa Medici, onde ficamos hospedados, a decoração é contemporânea com alguns toques clássicos. A vista deslumbrante do terraço e seus 150 m² privativos, é um espaço mágico, nos oferecendo um local único onde podia relaxar e apreciar a vista da cidade com um cocktail ao final da tarde, e se fôssemos um casal real e apaixonado, um jantar romântico e privado. Ao entrar na suíte, observei que tem um elegante piso de mármore Botticino bege, uma espaçosa sala que dispõe de uma requintada área de estar com grandes janelas com vista para a cidade. A área de jantar adjacente, separada por duas colunas clássicas, apresenta uma mesa grande e elegante. Os espelhos refletem a bela vista em todas as paredes. Uma porta de correr separa a área de jantar do quarto principal, decorado em tons elegantes e neutros de cinza, bege e branco com detalhes em verde proporcionados pela base da cama e pelo dossel suspenso, bem como pelas mesas de cabeceira e sofá. Um majestoso e completo closet, que me deixou boquiaberto. O banheiro principal é revestido em mármore Botticino com chuveiro de parede a parede, banheiro com jacuzzi e WC separado. O que mais me atraiu na decoração foram os tons azuis, um luxuoso espaço. Na minha concepção, nem precisaria sair daqui, o descanso estaria garantido.

Tivemos um mordomo como cortesia do hotel, que arrumou nossas coisas e nos inteirou dos pontos turísticos e de tudo que o hotel oferecia para os translados. Logo ia escurecer, eu ficaria de boa por aqui, mas não podia me dar ao luxo de decidir sozinho. Emanuelle estava mais tensa e séria, não tinha aquele ar provocador da manhã, eu sabia que o casamento não seria bem recebido por ela. Por mais imponente que ela se mostre, podia ver claramente o quanto ela estava assustada, sem saber como agir, muito perdida. Eu tive pena dela. Era difícil para mim, e para ela acho que é pior, mulher é mais sensível.

Indo contra minha consciência, decidi que não precisava tornar tudo tão difícil para nós dois, não custava eu ser gentil com ela, especialmente nesses dias de "lua de mel". Mesmo querendo ficar na tranquilidade deste hotel o restante da tarde, a melhor opção era sair e jantar fora, poder deixá-la distraída e mais à vontade.

— O que acha de sairmos para jantar?

— Claro. Estou com fome.

— Deve conhecer aqui melhor do que eu, tem algum lugar que queira ir?

— Se não se importar, gosto da pizza de um lugar. A fila é sempre grande, mas vale a pena. Roma é conhecida por suas pizzas, estou com desejo.

— Então vamos de pizza.

Ela sorriu sem graça e foi ao banheiro. Quando ela saiu, fiquei surpreso com as vestes casual, ela estava de calça jeans, botas, cacharrel e um casaco comum. Janeiro é um dos meses com o frio mais intenso na Itália, as temperaturas variam entre 12 e 13 graus. Suportável para os Europeus e americanos, mas para nós brasileiros é como se fosse abaixo de zero.

Me capotei e saímos, os seguranças sempre por perto, nos vigiando de longe e de perto. Como eu imaginei, estava congelando, mas o que eu estava fazendo? Me rendendo aos desejos da esposa, que ao contrário de mim, estava bem descontraída andando até o carro. Fomos até um restaurante por nome "La Montecarlo". A fila realmente estava grande e aparentemente não via nada que chamasse atenção no salão, bem simples, onde qualquer um poderia comer. Quando finalmente conseguimos fazer o pedido, Emanuelle optou em sentar na parte de fora, uma excelente escolha se não fosse pelo frio.

Por mais que quisesse naturalidade, não tínhamos esta conexão, enquanto esperamos a pizza, um clima tenso ficou entre nós, não tínhamos intimidade suficiente, nada o que conversar. Quando a pizza chegou, me admirei com a forma que ela se deliciava ao comer, e tenho que confessar que a massa fina e crocante, as bordas e o queijo... tudo era um conjunto da pizza mais perfeita que comi. Não sei como uma simples Margherita e Napoletana, poderia ser tão saborosa.

— Perfeitas! A melhor que já experimentei na minha vida! — Exclamei!

— É deliciosa!

Tomamos vinho, o que ajudou com o frio. Depois de devorar uma pizza e duas taças de vinho, Emanuelle ficou mais descontraída e falante. Falou sobre suas viagens em família para Roma e a primeira vez que comeu neste restaurante. Fiquei a observando encantado com seu sorriso espontâneo e com a leveza de seus gestos.

— Vai querer a última fatia? — Perguntei: — não, estou satisfeita. — Peguei a fatia sob seu olhar.

— Não me convenceu. Quer uma mordida? — ofereci.

Ela sorriu e assentiu. Estendi o pedaço e ela mordeu, sujando a boca com o molho. Ela passou a língua mas não limpou tudo, então limpei com meu polegar e chupei o dedo, a deixando tímida. Tentei mostrar naturalidade, porém por dentro comecei a desejá-la mais do que deveria. O gosto do seu beijo, a maciez dos lábios... Memórias que me faziam ansiar por repetir a dose dos beijos dela.

— O que foi? — Ela indagou constrangida.

— Nada... O quê?

— Ficou me encarando sem parar...

— Sério? Nem notei... Meus pensamentos estavam em outro lugar. — menti.

— Vamos fazer uma caminhada? Depois desta pizza preciso ajudar na digestão para conseguir dormir.

— Boa ideia!

Nos levantamos, paguei a conta e saímos do restaurante. Apesar do frio, o clima estava gostoso, uma noite bela e agradável. Emanuelle conduziu a caminhada pelas ruas de Roma, por instantes a vi como uma menina que se encanta com pouca coisa, mas a verdade é que ela estava nostálgica com o lugar, notei o quanto ela tinha lembranças da sua família neste lugar. Ela não deve ter tido muito contato com os pais, essa vida não permite que os pais sejam sempre presentes na vida dos filhos, com certeza, a capital italiana carregava boas memórias na vida dela.

Enquanto ela falava sobre o que fazia na sua infância pelas ruas de Roma, segurei a mão dela, não queria que as memórias ficassem apenas no seu passado, gostaria de criar novas memórias com ela. O casamento não precisava ser de tudo obrigações, contratos e regras a serem seguidas. Ela me olhou surpresa, hesitou, mas segurei firme, para não dar a opção dela soltar. Ela sorriu tímida e continuamos andando.

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