Rafael
Seguimos para uma pequena capela. Muitos estavam na propriedade, tanto mulheres quanto crianças, mas somente os homens e algumas senhoras entraram, nem mesmo Bianca ou Wilson permitiram ali. Achei muito estranho, mas se Vincenzo estava junto, tinha que me tranquilizar, confiava no meu futuro sogro. O padre se posicionou, fiquei em pé de frente ao altar com o corpo virado para a porta principal. Vincenzo se aproximou e falou próximo ao meu ouvido:
— O casamento será fechado, porque vai ser seguido por um juramento na máfia. — Ele falou e saiu da igreja.
Assenti e respirei pesadamente. Mesmo sabendo do que se tratava a cerimônia, estar diante destas pessoas, senti que o momento que definiria a minha vida para sempre estava prestes a chegar.
O som do órgão church soou numa música um tanto incomum, não fui capaz de reconhecer. O som era imponente e perturbador, descrevia exatamente como me sentia. A porta se abriu, lá estava minha futura esposa de braços dados com seus pais. Ela foi levada até a metade do caminho, beijou seus pais e prosseguiu sozinha. Emanuelle estava um tanto diferente do que imaginei, o vestido era um tanto sensual, o modelo sereia a deixou com as curvas perfeitas, seu caminhar esbanjava elegância e sedução. Meus olhos se desviaram dela por alguns instantes, e notei que não era o único surpreso e admirado com a beleza exótica na minha frente.
Caminhei ao seu encontro com passos lentos e firmes, diante dela a fragrância se tornou doce e apimentada, um perfume novo que me marcou. Delicadamente suspendi o véu que cobria seu rosto e fui impactado com aqueles olhos azuis me encarando. Beijei sua testa, foi inevitável aprofundar aquele cheiro no meu olfato, ofereci o braço e continuamos andando até o altar. A missa foi em latim, não entendi 10% das palavras e na verdade nem me importava com isso. Foi o casamento mais engessado que poderia ser, tudo feito de maneira mecânica, sem nenhuma emoção, votos repetidos sem amor com promessas obrigatórias, troca de alianças selando um compromisso que era puramente conveniência para ambas as partes. Quando recebemos a bênção final do padre, me senti o homem mais horrível e hipócrita, como se estivesse desafiando as ordens naturais de Deus. Que Deus me perdoe por aceitar tal acordo!
Enquanto conflitava com meus próprios princípios, o padre anunciou o "marido e mulher" e permitiu o beijo que eu nem mesmo lembrava deste detalhe. Todos esperavam o momento, era surreal a expectativa das pessoas, a maioria sabia muito bem o motivo do casamento, não havia amor, nem paixão nesta relação, ainda assim, quando beijei Emanuelle ligeiramente, fomos aplaudidos como um casal que se ama. Patético!
O padre se foi, Vincenzo tomou a frente, a capela se transformou em uma sala de reuniões secreta. Fui submetido a inúmeros contratos, nunca assinei tantos documentos na minha vida, Emanuelle também assinava. Após os papéis intermináveis, Vincenzo me entregou um espinho de laranjeira amarga. Furei o dedo indicador da mão direita, tem que ser na mão que atira, o sangue escorreu num vermelho vivo, logo me entregaram uma imagem sagrada que flamejava pelo fogo e queimava minhas mãos.
— "Se eu trair meus amigos e a nossa família, minha alma e eu, vamos queimar no inferno como este santinho". — Jurei após fazer o ritual "Punciutta".
Joguei o santo no fogo da lareira, me entregaram uma faixa para a mão e todos aplaudiram com solenidade. Estava feito. Se já me sentia totalmente dentro desta comunidade, agora também já faço parte da família, algo muito mais profundo e cheio de responsabilidades. Minha atenção e expectativas na nova vida era tanta, que a ardência na minha mão era praticamente imperceptível. A ansiedade, a tensão psicológica, sempre "ardem" mais do que qualquer queimadura física. Estava tão decepcionado comigo mesmo, que sentia que meu corpo merecia um flagelo pior.
Saímos do clima tenso, cerimonioso e ritual hierático, para ser os protagonistas da festa que iniciou numa atmosfera bem diferente da igreja. Aqui era só festa, comilança, bebedeiras, conversas altas, música, danças e muitas risadas. Onde tem italianos, pode ter certeza que a diversão só é garantida se tem muita comida, e olha que considero os brasileiros exagerados, mas comer igual os italianos ainda estava para ver, muito da cultura deles está presente na nossa alimentação, especialmente as massas. Tentei relaxar, perdi a conta da quantia de taças de vinho e champanhe, fiquei bem mais distraído e consegui me divertir com as músicas e danças. Neste momento, eu tive a oportunidade de conversar e dançar com meus sobrinhos, eles estavam achando o máximo. Bianca e Wilson tinham um outro aspecto e compartilharam comigo das alegrias daquele breve momento.
A festa estava longe de acabar para este povo, eu tentava acompanhar, até que Vincenzo declarou que seria a dança do casal. Emanuelle estava bem alterada pelas bebidas, mas não estávamos totalmente bêbados, apenas naquela euforia relaxante. Um solo romântico soou, encarei os olhos de um azul tão intenso que me fazia perder na vista de um oceano de beleza e magnitude. Estendi a mão e fiz um gesto reverente, pela primeira vez consegui retirar um sorriso sincero de seus lábios. A música me envolveu, sem falar no álcool percorrendo minhas veias, e ficar diante desta beleza arrebatadora, me deixou fora de mim. Enlacei sua cintura suavemente, trazendo seu corpo para junto do meu. Minha respiração falhou, ela ofegou no meu pescoço, nunca estive tão próximo. Ousei olhar em seus olhos, e enredado no momento, desejei beijá-la de verdade. Eu não pensei, fui atraído pelos lábios cheios e sedutores e a beijei, deixei que nossos lábios se movessem num ritmo de nosso desejo. Perdido naquele beijo, me dei conta que isso podia ser a minha ruína. Me afastei abruptamente. Nada de comprometimento emocional!
Ela se afastou tão surpresa quanto eu, respirei fundo e endireitei a postura. Era hora de se despedir da festa, embora minha vontade fosse varar a noite naquele lugar, tentar fugir da realidade pelo menos uma última vez, mas os olhos maliciosos estavam em nós, todos esperando que o casamento fosse consumado. Peguei na mão dela para não ser grosseiro e enquanto ela jogava beijos para os convidados, eu acenava com um sorriso forçado. Tudo na máfia é previamente planejado e cronometrado e os costumes são seguidos à risca. O quarto é preparado por eles, tudo muito bonito e perfumado, muito romântico. Emanuelle entrou primeiro, observei de perto o vestido aderente e a coxa sobressaindo na fenda enquanto andava até a cama. Ela retirou os sapatos e esticou as pernas mexendo os dedos do pé, suspirou profundamente e me olhou com um sorrisinho malicioso. Tinha que mudar o meu foco, porque algo me dizia que estava próximo de perder a sanidade que me mantia afastado das ciladas do amor.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Vilma Teixeira Roquete
E só começar e logo esse medo vai passar, aí vai ser só alegria e muito amor e hots deliciosos 😋 😋 😋 😋 😋
2024-06-13
7
Jacque gil
oh homem medroso,com um mulherão desses para de pensar 😜
2024-05-06
3
Dilma Melachos
porque o homem é tá medroso, vc já está caidinho de amor a muito tempo querido.
2024-04-29
1