Capítulo 10 Quer mesmo se casar?

Rafael

A semana inteira não tive nenhuma conexão com Emanuelle, nos falamos apenas mais uma vez porque eu a chamei para saber se ela tinha preferência de aliança, e se gostaria de escolher, mas a resposta dela foi tão fria quanto sua expressão: "Compre o que quiser, é só um anel ridículo."

Só nessa aproximação eu pude notar a sua hostilidade com os detalhes do casamento, então me dei conta que estava pensando demais e querendo transformar esse acordo, em algo que claramente não seria um casamento real. Então, eu simplesmente não a procurei mais, comprei as alianças apenas por status, uma das mais caras e populares entre a alta sociedade, tinha que seguir o padrão luxuoso da família e dinheiro não era um problema para mim, mesmo sabendo que a família Moretti poderia me colocar no bolso.

A chegada do Lorenzo foi a novidade que tirou um pouco da atenção do casamento (o que eu amei, não aguentava mais ficar fingindo). Neste dia o jantar foi com a família, e Emanuelle participou em silêncio, como se estivesse insatisfeita com o irmão.

Talvez fosse o fato do casamento forçado, mas ela não foi a única vítima, será que ela acha que estou feliz com isso? Pelo contrário, fiquei a semana toda me martirizando, podia sentir de longe o quanto Emanuelle me evitava e parecia ter aversão da minha pessoa, o que me levava a perguntar a mim mesmo: "Como casar com alguém que parece te odiar e até esnobar?"

A semana só serviu para confirmar que este casamento iria ser o desafio da minha vida, me colocando longe das duas versões que tinha de mim. Se deixasse o Rafael antigo emergir, jamais aceitaria esse acordo, pelo menos ia tentar conquistar esta garota. A versão nova, queria apenas ficar livre das amarras emocionais, mas como se manter neutro convivendo com uma mulher bonita e atraente todos os dias? Seria capaz de se manter distante emocionalmente?

Se Emanuelle continuar com estas atitudes frias e mecânicas, não vai ser difícil. Mas mulher é mulher, são fáceis de se apaixonar e tornar tudo difícil e complicado. Teria que ser frio com ela, para não dar motivos para se apaixonar.

— É só continuar a ser você mesmo nos últimos anos. — sussurrei me olhando no espelho e ajeitando a gravata borboleta do smoking.

— Nossa! Como ele está lindo! — ouvir estas palavras na minha língua nativa me deixou perplexo.

Me virei para encarar a voz por trás e quase tive um infarto.

— Ariele?! — foi tudo o que saiu da minha boca.

— Achou mesmo que se casaria sem a sua família? — Bianca apareceu com Wilson e o restante dos filhos.

— Não acredito que estão aqui! — exclamei abraçando meus sobrinhos.

Eu realmente fiquei muito feliz por eles terem vindo, estavam todos arrumados para cerimônia. Os três estavam tão grandes, Miguel estava quase na minha altura e estava a cópia do Gabriel, o que me deixou emocionado, não contive algumas lágrimas. Nunca tive um pai verdadeiro, meu irmão era essa figura paterna para mim, ele sempre me apoiou e fez de tudo para eu ser um sócio na empresa. Mesmo sendo um casamento por conveniência, é um momento sensível e determinante na vida, como gostaria de ter meu irmão aqui.

Bianca me abraçou e senti que ela sabia o motivo da minha emoção, mas o que fazer? Só podia lamentar e seguir em frente.

Ela se afastou um tanto chorosa, sorriu e limpou minhas lágrimas.

— É o seu dia, Rafael. Engula sua tristeza, temos motivos para celebrar. — Bianca falou com um sorriso.

Assenti olhando meus sobrinhos. Não ia contrariar as palavras da Bianca, mas eu não via motivos para celebrar, sentia como se estivesse decretando minha ruína, estava preso por achar que não poderia viver de outra forma. Eu realmente não me vejo liberto, a morte trágica do Gabriel, não entra na minha cabeça, eu simplesmente não posso deixar que outras pessoas sofram pelos maus, tenho que continuar onde estou, engolir este casamento e ser quem eu nasci para ser.

— Desculpem o vexame. Senti muita falta de vocês, e olhar o rosto de cada um me deixou nostálgico. Sabe que eu amo vocês, né? — voltei a abraçá-los.

— Está com o mesmo cheiro que eu lembrava...— Priscila comentou.

Quando os adolescentes saíram, Wilson se aproximou.

— Quer mesmo fazer isto, Rafa?

— Sim. Não vejo problemas. — Respondi tentando mostrar naturalidade.

— Mas foi tudo tão rápido... sei que já foi apaixonado pela Manu, mas nos últimos anos discutiram tanto e foi tão frio com ela... vai ser feliz assim? — Bianca perguntou com compaixão.

— É um casamento por contrato, é só negócios, Bia. Não tem nada a ver com felicidade.

— Mas eu sei que este contrato exige que mude seu sobrenome, que dê descendentes ao Sr. Moretti...

— Não pensei duas vezes em mudar o sobrenome. Sabe que meu pai nunca foi pai de verdade, para mim é uma honra ser achado digno de ter o sobrenome Moretti.

— Mas não é você... suas raízes...

— Não estou te entendendo, Bianca. Veio aqui para participar do casamento ou me convencer do contrário? Sempre falou para eu buscar alguém na minha vida e agora vai ficar colocando empecilhos? Acredita mesmo que vou mudar de ideia só porque acha que deveria continuar com um sobrenome que só causa repugnância no meu país?

— Não é isso, Rafa... eu só quero que seja feliz com alguém que você ame. Mas esquece o que falei, vejo que está decidido e sabe o que está fazendo. Vou te incluir nas minhas preces e pedir a Deus que um dia ame sua esposa.

— Independente dos seus motivos, espero que seja feliz, meu amigo. — Wilson sorriu e bateu no meu ombro.

Apenas assenti, embora a presença deles me deixasse feliz, fiquei intrigado com os "conselhos" da Bianca, senti que eles não gostaram da minha decisão, e algo me dizia que não era apenas por minha felicidade, tinha mais coisa por trás. Mas não era o momento de pensar sobre isso. Minha decisão já estava tomada, não existe a menor chance de desistir. Voltei a me encarar no espelho, ajeitei meu smoking, o cabelo e vi que estava na hora de descer.

O casamento é na propriedade, hoje em especial, fui terminantemente proibido de ver a noiva, mas isso não foi um problema, a gente mal se viu durante a semana. Quando saí da casa, o converseiro alto (típico de italianos, sempre parecem que estão brigando) invadiu meus ouvidos, muita gente, muito mais do que nas reuniões que havia participado. Todos me olhavam com curiosidade e cumprimentavam. Fui gentil, mas estava sendo difícil me manter assim, só queria que este casamento acontecesse logo e pudesse me isolar de toda essa aglomeração. Odeio ser ator, viver de aparências, e este casamento era exatamente isto, tudo o que eu odiava. Fiquei no local conversando com Vincenzo e os membros mais importantes da máfia. Suspirei pesadamente, senti falta da minha mãe, o que ela pensaria de mim se descobrisse a verdade por trás do filho "perfeito" dela?

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