Capítulo 8 A Proposta

Rafael

Nada neste contexto passou na minha mente, nem mesmo por um segundo. Me casar? Esse conceito já havia sido descartado da minha vida. Fiquei claramente chocado com a proposta, sem saber como reagir a tal sugestão. Vincenzo me observava atentamente, o que me deixou constrangido, pois sabia que minha reação assustada estava estampada no rosto.

— Vou te dar um dia para pensar, mas já adianto que se não aceitar, vai me decepcionar. A minha filha tem um gênio meio forte, mas é uma mulher linda e de bom coração. Não estou oferecendo só poder, mas um dos meus bens mais preciosos. — Vincenzo me encarava fixamente.

— Senhor... Eu sei da seriedade do pedido... admiro sua filha, embora às vezes temos nossas controvérsias, Emanuelle é muito bonita e inteligente. No entanto, confesso que fui pego de surpresa, eu realmente não estava preparado para esta proposta. Eu já estava conformado em ficar solteiro e... bom, apesar da admiração que tenho por ela, a beleza estonteante... eu não amo a sua filha, não seria estranho? Do jeito que ela é obstinada, vai ficar contrariada... muito brava... — Ponderei pensando na Emanuelle.

— Rafael, minha filha sabe das suas obrigações com a máfia e comigo. Ela não vai decepcionar, já concordou com a minha proposta, agora preciso da sua resposta.

Mais uma vez eu fiquei chocado. Ela simplesmente aceitou por ser uma obrigação? Não me lembro da Emanuelle suspirando ou desejando alguém, ela sempre foi tão fria, mesmo com inúmeros homens aos seus pés. Mas casamento é algo tão íntimo e sério, não consigo ver como um simples negócio ou acordo.

— Como eu poderia recusar? — Falei encolhendo os ombros.

As minhas palavras não condiziam com o meu coração, não vejo problemas em fazer um acordo, um negócio. Porém, um matrimônio é tão sagrado e especial... como aceitar sendo um simples acordo de negócios? Parece tão errado...

Embora eu tenha abandonado meu lado romântico, não havia rebaixado o conceito de casamento a um simples negócio, no fundo os meus princípios estavam em mim, só não queria chegar nesse patamar onde tivesse que me casar.

— Posso escutar seus pensamentos, Rafael. — Vincenzo cruzou as pernas e fitou meus olhos. — Deixa eu te falar uma coisa: na vida que estamos, jamais nos casamos por amor. Todavia, isso não é um problema.

— Desculpe, senhor Moretti, mas tenho que discordar. O casamento verdadeiro, a base está no amor, porque se não, onde estaria o sentido?

Vincenzo sorriu e suspirou.

— O amor não precisa ser um sentimento que nos toca no primeiro olhar, ou cresce em conversas românticas, beijos e paqueras. O amor, pode simplesmente ser uma escolha, primeiro decida amar, então a paixão virá e quando se der conta, estará tão envolvido com o seu parceiro que não vai se ver longe ou separado. Quando menos esperar, estará tão apaixonado quanto qualquer um que se apaixona à primeira vista, sem compromisso algum. Tem tudo para isso, meu amigo.

— Foi assim com o senhor? Se não se importar em falar...

— Tudo bem. Eu e a Kitty foi algo que seria difícil explicar. Eu não sabia, mas antes mesmo de conhecê-la pessoalmente, eu já estava apaixonado. Atração sexual sempre existiu, ela é linda e sedutora. Sempre admirei a sua inteligência, a maneira que liderava, o pensamento que voa longe, o jeito obstinado de ser... Não foi difícil escolher amar aquela mulher, até parece que foi natural. — Ele sorriu apaixonado.

Muito bom que tenha dado certo para Vincenzo e Katherine, mas como isso se repetiria na minha vida? Atração física... bom, isso com certeza não é um problema, mas já convivi com Emanuelle tempo suficiente para saber que se uma paixão ocorrer, com certeza não vai ser de forma natural, acredito que não somos compatíveis. Talvez a diferença de idade, eu não sei... mas nunca pensei nela como uma esposa, pelo contrário, nunca ousei pensar nela, mesmo admitindo que ela é muito formosa.

— Espero que ter o meu sobrenome não seja um problema, Rafael. — Vincenzo interrompeu meus pensamentos, que voavam para uma morena de olhos azuis.

— Com certeza não é um problema. Na verdade é uma honra, retirar esse sobrenome que me causa nojo. Não estou aqui para bajular, mas o considero muito mais meu pai, do que aquele que doou o esperma.

— Fico feliz em ouvir isso, odiaria ver meus netos com um sobrenome degradante do seu pai; sem ofensas, Rafael. Você e seu irmão não se encaixam no padrão do seu pai. Que Deus o tenha! — Vincenzo fez o sinal da cruz.

Abaixei os olhos e pensei qual seria o conselho de Gabriel se estivesse aqui. Um suspiro longo e pesaroso saiu, ainda me encontro com a mesma raiva e desejo de retaliar a morte do meu irmão. Agarrei o braço da poltrona com tanta força que o sangue sumiu dos meus dedos.

— Rafael, sabe que o que tem feito, embora seja nobre, não vai trazer seu irmão de volta. Na verdade, vai te levar para um mundo solitário e frustrante. Pessoas ruins sempre vão existir, não vai conseguir extinguir o mal.

— Prefiro pensar que cada um que elimino, por menor que seja, é um a menos no mundo.

— Sim, mas essa teoria pode te levar a uma obsessão sem fim. Quando menos se der conta, um não será suficiente, sempre vai precisar de mais e mais, e isso vai se tornar um ciclo vicioso. Já pensou em como tudo isso está afetando sua vida pessoal? Por mais turrão que tenha se transformado, um homem precisa de amor, cuidado... estar com quem ama. Ser um justiceiro solitário, não vai te levar a ser um super herói. A justiça do mundo, pertence somente a "um", e acredito que saiba de "quem" estou falando.

Assenti, com certeza eu sei de quem estava falando. Saímos dali em silêncio, mas se os pensamentos soassem alto, certamente seriam um barulho constante, porque na minha mente eu rebobinei o filme dos últimos minutos, e tentava me encontrar e refazer tudo o que havia vivido voltar à minha memória.

— Espero não ter te assustado com a forma que és vigiado. Desde que Emanuelle voltou para Sicília, eu tenho pensado na possibilidade de casá-la contigo. Por isso vasculhei de perto tudo o que faz, sua rotina e atitudes. Não podia entregar minha filha para alguém que não merecesse. Amanhã cedo, o chamarei para o meu escritório, quero sua resposta oficial. Até lá, fique a vontade, minha casa, sua casa. — Vincenzo declarou.

— Obrigado, senhor. Vou pensar com cuidado.

Tentei organizar minha cabeça, mas tudo que vinha à mente era: "Vai se casar com Emanuelle!"

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