Rafael
Olhei para as crianças com saudade, nos últimos anos, me afastei demais deles. De crianças não tinham mais nada, Ariele e Miguel estão com 17 anos, cursando o último ano do Ensino Médio e se preparando para ingressar na universidade. Priscila acabou de entrar no ensino médio e faz um curso técnico de veterinária, são lindos adolescentes. Suspirando pesadamente, voltei a foto no lugar, aqui estão os motivos de ser quem eu sou. Presenciar tantas maldades no mundo só fez o meu lado sombrio despertar, e agora ele não quer parar.
Passava da meia noite, quando senti que o bairro e a rua estavam seguros, olhando os quatro cantos, coloquei um gorro na cabeça e fui até o poste da casa de Roberto e comecei a instalar uma câmera de alta tecnologia, que somente quem conhece ou procura, poderia detectar. Esse feito me daria alguns dias de tranquilidade, poderia estudar os horários de saída e chegada sem precisar passar horas vigiando, essa rotina eu poderia observar no conforto do meu apartamento. Já estava perto de descer do muro, quando a peste do poodle começou a latir de dentro da casa. Tive que descer rápido, o que causou uns ruídos despertando outros cachorros, e consequentemente fazendo algumas luzes se acender.
— Porrä! Filhote do demônio!— xinguei baixinho.
Voltei ao seu ponto de espera, aguardei os cachorros se acalmarem e as luzes voltarem a ser apagadas. Meia hora, para garantir, e saí caminhando ligeiramente até a minha moto. Poderia colocar meus homens para esse serviço, mas isso não fazia parte do trabalho da máfia. Vigiar pessoas aleatórias que foram suspeitos no tribunal e nunca condenados, é uma coisa minha, então assumo os riscos, e se chamo alguém, pago particularmente pelo serviço. No geral, fazia tudo sozinho, às vezes me sentindo um serialkiller, mas prefiro acreditar que estou sendo um justiceiro das sombras.
Montei na minha moto, o motor rugiu pela noite escura e silenciosa. Saí disparado até chegar no condomínio do meu apartamento de luxo. Estacionei na vaga e subi pelas escadas. Enquanto abri a porta, minha vizinha apareceu.
— Muito trabalho, Rafa? Parece cansado...— a ruiva falou manhosa.
— Não totalmente cansado, sempre tenho energia reservada.— sorri malicioso.
Gabriela sorriu sedutoramente e deu as costas rebolando os quadris. Sabia bem o que ela queria, entrei no meu apartamento, guardei as armas, retirei a jaqueta e fui até o apartamento vizinho. Ia bater na porta, mas já estava aberta, entrei, fechei a porta atrás de mim, segui um rastro de roupas femininas pelo chão. Sorri pretencioso, ao ver uma calcinha minúscula de frente ao quarto. A porta estava entreaberta, empurrei com força, fazendo ela bater na parede.
— Uuuuh! — ela sorriu sedutoramente.
Sem cerimônias, me livrei das roupas e despejei minhas energias sexuais na mulher. Depois de uma hora de prazer, levantei da cama, peguei minhas roupas e os preservativos usados (para minha segurança eu mesmo descarto tudo no vaso sanitário).
— Dorme comigo, gostosão?— ela pediu com voz embargada.
— Só durmo na minha cama. E você já sabe, esse lance só vai durar enquanto for apenas sexö, não me envolvo emocionalmente com ninguém. Boa noite!— saí friamente do quarto, ouvindo o suspiro de insatisfação da ruiva, mas sempre fui claro sobre envolvimento emocional.
No meu apartamento fui direto para o chuveiro e tomei banho, quando me deitei, já passava das duas da madrugada. Outra noite com apenas três a quatro horas de sono, mas meu corpo já havia acostumado.
Às seis horas em ponto, levantava e seguia na minha rotina, uma hora de treino na academia, banho, me vestia como um advogado empresarial que me tornei, e antes de ir para empresa passava na padaria preferida para um reforçado desjejum. Dificilmente quebrava essa rotina da manhã. Quem olha para mim durante o dia, jamais imaginaria a vida noturna e fora da lei que levo. Terno sob medida, sapatos importados e brilhantes, cabelos cuidadosamente penteados, um relógio de alguns milhares, e o perfume francês que anuncia minha chegada de longe.

Entrei pela porta particular e assim que adentrei o meu andar; secretária, assistente e alguns advogados juniores já vieram me receber com as novidades do dia: como reuniões, negócios e um copo de café. Desde a morte e "sumiço" do meu pai, assumi o controle da empresa, me tornando o sócio majoritário juntamente com Bianca. Ela continua crescendo na promotoria, e na empresa apenas ajuda na administração, não advogava por causa de conflitos de interesse. A parte da manhã é minha, durante a tarde, ela comanda. Continuar com a empresa de advocacia foi o que alavancou minha carreira, e sucessivamente ajudou com o crescimento da máfia, a empresa foi totalmente transformada. Eu e Bianca encerramos contratos com muitos clientes, outros saíram por vontade própria, alguns continuaram normalmente, mas o que realmente nos fez crescer, foram contratos novos com empresas estrangeiras; benefícios da ligação com a máfia italiana e nova-iorquina. Um império de dar inveja está sendo construído no Brasil com os recursos de minha empresa, e também a rede de Nova York e Sicília. Já temos o domínio de todo estado de São Paulo, além de ter pontos estratégicos em outras capitais brasileiras.
Ouvia minha secretária, a assistente, os advogados sem perder nenhum detalhe.
Já ia entrar na minha sala, quando me surpreendi com a Bianca. Essa mulher não envelhece, nunca. Simplesmente linda!
— Olá! Quem é vivo sempre aparece, não é? Está fugindo de mim? Nunca mais eu te vi por aqui.— Bianca veio até a mim e me abraçou.
— Oi, Bia! Saudade... — sorri abraçando de volta.— Muito trabalho, sabe que tenho dois empregos que me exigem muito.
Bianca se afastou o suficiente para encarar-me.
— Rafa, você quer dizer três empregos, não é? — ela arqueou a sobrancelha —Somos família, as crianças sentem falta de você. Praticamente nos abandonou...
— Eu sinto muito... Vou procurar ir à sua casa antes de viajar. Não é por mal, ando muito ocupado mesmo.— tentei amenizar a tristeza dela.
— Sim, eu entendo, o que faz te exige muito, mas precisa cuidar do seu coração, estar com as pessoas que te amam. Eu vou te esperar. Agora preciso ir, passei aqui rapidamente, estava por perto, queria ver se estava bem, porque nas mensagens sempre é muito vago. Te quero em casa, nem que pra isso eu tenha que te buscar!— Bianca falou fransindo a testa.
— Eu vou, prometo. Estou devendo.— respondi com um sorriso.
— Ótimo! Me espera chegar para ir embora, vamos conversar mais.
— Tá, eu espero. Bom trabalho!
— Obrigada!— ela piscou e saiu.
Sentei na minha poltrona e suspirei. Bianca é uma mulher incrível, muito forte, tem liderado duas ONGs no Brasil com os recursos da máfia. Tem brilhado para o público, e tem sido outra arma poderosa nas mãos do Vincenzo, ela e o Wilson, são um casal excepcional, fico feliz que ela tenha superado a morte do meu irmão.
Mal a manhã iniciou, recebi uma ligação da recepção, dizendo que eu tinha uma visita que não estava agendada. Me surpreendi com a rapidez dos homens de Moretti, eles já anunciaram minha viagem para amanhã bem cedo. Ia ficar devendo para Bianca e meus sobrinhos outra vez. Droga!
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 79
Comments
Jucileide Gonçalves
O Rafa ficou amargurado depois da morte do irmão.
2024-07-14
5
Jeneci Nunes
Rafael não se cobre tanto,não seja amargurado 😔
2024-04-14
4
Renascida das cinzas
gosto assim... sincerão! curto e grosso!!!!
2024-02-03
7