Emanuelle
Passei o dia inteiro pensando no meu futuro, em como seria voltar ao Brasil depois de um ano, me perdi nos pensamentos e tarde da noite desci para comer algo e notei que meus pais haviam chegado e estavam na sala, como se estivesse esperando alguém. Passei em silêncio, enquanto pegava uma fatia de cuca, minha mãe se aproximou.
— Está muito pensativa. Arrisco dizer que no seu lugar casaria com Rafael. Vai poder voltar ao Brasil, liderar os negócios do seu pai e... — ela hesitou por uns instantes.
A olhei com uma interrogação e coloquei o último pedaço de cuca na boca.
— O Rafael não é feio, na verdade é um homem acima da média, tanto em beleza, quanto em inteligência. Quem sabe não se apaixone no final?!
Quase engasguei com a cuca, um riso nervoso acabou saindo.
— Mamà, a senhora nunca viu a minha interação com o Rafael. Ele é exatamente como o papà. Em tudo coloca defeito, tem um senso crítico que me irrita e quer tudo perfeito. Aff! Eu não tenho paciência. — revirei os olhos. — Eu vou aceitar esse casamento puramente para cumprir meu papel e fazer uma aliança com o Brasil, não vou dar espaço para sentimentos...
— E como pretende fazer isso? Vai ter que fazer tudo o que um casamento pede, inclusive perder sua preciosa virgindade. É difícil se envolver tão intimamente e não sentir nada. A menos que ele seja um grosso na cama, o que acredito não ser o caso...
— Mãe! — protestei. — Não quero pensar sobre isso...
— Sabe que é preciso, né? — ela deu risada. — Você pode colocar defeitos nele, mas se não fosse pelo Rafa, não estaria aqui hoje. Devemos muito a ele.
— Eu sei... não estou dizendo que o Rafael seja um monstro... só não é compatível comigo... O que fazem acordados uma hora dessa? — mudei de assunto.
— Agora falando sério — ela encostou no balcão da cozinha e me encarou com aqueles olhos azuis que herdei — Acredito que a decisão que vai tomar até amanhã, é mais importante do que a que tomou há cinco anos. No nosso mundo, não existe casamento por amor. Primeiro você se casa e depois ama. Foi assim comigo, com seus avós, bisavós... enfim, vem de uma geração especial. Contudo seu pai te deu uma escolha, mesmo indo contra as regras, se você não quiser este casamento, ele vai te deixar livre, nas condições dele, é claro.
— Eu sei das minhas obrigações, mamà. Não vou fugir, sei encarar meu destino, vou aceitar me casar, não nasci para viver à sombra do meu irmão, quero fazer algo importante para a família, e sei que os negócios no Brasil são promissores, quero consertar o que quebrei. Eu sabia da resposta assim que meu pai falou, não vou mudar de ideia. — encolhi os ombros e tomei um gole de chá.
— Eu sei que não vai. Sabia da sua decisão antes do seu pai falar com você. És destemida e corajosa. Não quero me vangloriar, mas me vejo em você. Às vezes, seu pai pode nos achar impulsivas, ele preza por cautela, mas sabemos o que queremos, não temos necessidade de pensar muito. — ela sorriu.
— Que bom que me entende! — coloquei a xícara na mesa e a abracei. — Mas não respondeu: porque estão acordados?
Ela hesitou por alguns segundos.
— Seu pai não te falou? — apenas meneei a cabeça em negação. —Estamos esperando o Rafael, ele chega a qualquer momento.
Sei que não deveria, mas fiquei louca da vida.
— Então, o papà chamou o Rafael, mesmo sem saber minha resposta? E se eu aceitar, o casamento pode ser a qualquer momento?! — esbravejei.
— Se aceitar ou não, seu pai precisava falar com ele. Existem regras a serem seguidas, sabe disso, independente do que responder, Rafael sempre será o braço direito do seu pai no Brasil. Ele só precisa passar nos testes finais e fazer a cerimônia de fidelidade.
— Numa dessas, fico sendo apenas um bibelô do papai e do Rafael, não é mesmo? Papai não confia em mim o bastante. Nunca acreditou em mim. — descarreguei.
— Sabe que não é verdade... — Minha mãe retrucou.
Saí da cozinha a passos fundos e largos, e me deparei com meu pai na frente da escada, com os braços cruzados, me olhando fixamente.
— É isso que pensa sobre mim? — ele me Indagou com aquela voz grave e calma, que atinge minha alma.
— Às vezes... — respondi desviando o olhar.
Ele tocou o meu queixo e me obrigou a encará-lo.
— Deixei que cuidasse dos negócios no Brasil, e não confio em você? Estou fazendo de tudo para que retorne ao Brasil e não acredito em você? — Falou essas frases, que me transpassou como uma faca afiada.
Apenas mordi o lábio inferior e encolhi os ombros.
— Eu poderia muito bem deixar como está no Brasil, o Rafael sozinho. Mas acredito que no fundo do meu coração, que as chances de expandir os negócios no Brasil, vão ter bem mais sucesso se estiverem lá. Então, não fique achando que não confio em você, ou não acredito que é capaz. O casamento... bom, é necessário para isso, e, eu me espelho no Rafael, precisa de um companheiro oposto a você, para equilibrar as coisas. Assim como eu e sua mãe somos, parceiros implacáveis. Onde sou fraco, sua mãe é forte, e onde sua mãe é fraca, eu sou forte. Uma aliança assim, se torna inabalável se souberem trabalhar juntos. Contudo, até amanhã cedo, tem a chance de declinar do casamento e viver da maneira que quiser, se julgar que é melhor.
Assenti e suspirei pesadamente.
— Eu sei, papà, mas não sou do tipo que muda de ideia tão fácil. De qualquer forma, amanhã te dou a resposta. Boa noite! Bença papà. — ele estendeu a mão e eu beijei.
— Deus te abençoe, querida. Sabe que eu te amo, né? — ele acariciou meu rosto.
— Eu também te amo. — sorri.
Ele sorriu de volta e ficou me observando subir as escadas. Entrei no quarto um tanto frustrada, embora meu pai tentasse me provar que confia em mim, eu não me sentia assim. Talvez seja por ser mulher, uma injustiça! Se eu fosse homem, jamais teriam me desrespeitado no Brasil. Se fosse homem, estaria igual ao meu irmão, cuidando dos negócios em Nova York, pegando todo tipo de mulher, sem nem mesmo se preocupar em virgindade. Os mafiosos são um bando de machistas! Sei que meu pai não é assim, mas segue as regras para não causar escândalos aos aliados antigos. Me joguei na cama com raiva. Fiquei olhando o teto por uns minutos, virei a cabeça em direção a janela e notei que uma neve fina caía. Me levantei e sentei na janela, buscando entender os sentimentos confusos que me afligiam.
Me surpreendi ao ver o Rafael andando na neve, parecia tão pensativo quanto eu. Será que ela já sabe que vai ter que casar comigo?
Levantou os olhos e me pegou olhando para ele, fechei a cortina sentindo meu coração acelerar inexplicavelmente. O que foi isso?
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Jucileide Gonçalves
Quer que eu te responda o que é?
Deixa eu pensar 🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔🤔
2024-07-14
5
Vanedrigues
"...Quando o amor toca o coração, traz um sentimento maior que a paixão..."
2024-02-24
9
Renascida das cinzas
"o que foi isso?" amor, ué!!!🤷🏽♀️ Amor reprimido. Yng e Yang. Você sabe que o ódio/implicância e o amor andam juntos, né?!
2024-02-03
2