Capítulo 15 Chegamos?

Emanuelle

Eu realmente não esperava por esta viagem. A máfia nunca fez isto, se alguém viajava era por conta própria. Isso tinha a cara dos meus pais, estavam empurrando uma viagem romântica para ver se nos apaixonamos. Teresa, uma das empregadas me chamou e disse que já havia arrumado minha mala.

— Que dia vamos sair? — Perguntei.

— Como assim "que dia"? — minha mãe estranhou — O carro que vai levá-los para Palermo, sai em duas horas. O voo está previsto para as 14h.

Assim como eu, Rafael também ficou em choque. Duas horas para me arrumar para uma viagem de uma semana?

Pedi licença e saí da mesa, escutei Rafael fazer o mesmo. Subi até o quarto que dormia, mas a mala não estava lá. Olhei minhas coisas por cima e peguei algumas peças de roupa. Fui até o quarto de núpcias e encontrei Rafael olhando sua mala pronta sobre a cama. Olhei ao redor procurando a minha.

— Está ali. — Ele apontou.

— Algum problema com suas roupas? — perguntei colocando minha mala na cama e abrindo.

— Não... É que sempre sou eu que arrumo minhas coisas.

— Teresa é personal organizer, muito boa.

— Se está dizendo... — Ele retirou umas peças de roupas só para dobrar de novo e colocar do jeito dele.

Meneei a cabeça em negação. Perfeccionista.

— Também não esperava por esta viagem, não é? — Ele perguntou em tom de afirmação.

— Não mesmo. O que vamos fazer em Roma?

— Aproveitar as férias forçadas. Para falar a verdade; estou precisando.

— Eu não. Se pudesse ficaria por aqui. — falei contrariada.

— Não precisa me lembrar que não suporta minha companhia. Vamos ficar cada um no seu canto e desfrutar da viagem como desejar.

— Claro.

Eu não quis dizer que não queria a companhia dele, mas não ia me explicar, se ele pensa assim, não vou contrariar. Arrumei o restante das minhas coisas e desci. Meu querido irmão veio de encontro e me abraçou.

— Vou sentir saudades! Mal te vi depois que cheguei.

— Pode ir me visitar no Brasil. É um país incrível, vai gostar.

— Eu vou. Ouvi dizer que as brasileiras têm uma beleza exótica. — ele sorriu malicioso.

— Quando vai pensar além das mulheres, Lorenzo? — Revirei os olhos.

— Está mal humorada para quem já deve saber como o sexø é bom.

— Mulher é diferente... Não sou tão carnal. — retruquei.

Ele me olhou desconfiado.

— Espero que seu marido tenha sido compreensivo...

— Eu sou um homem compreensivo, Lorenzo. Jamais trataria mal a sua irmã. — Rafael surgiu do nada, deixando Lorenzo surpreso.

— Assim espero.

— Vamos? O carro está nos esperando. — Rafael falou tocando minhas costas suavemente.

— Já estou indo, só me espere um minuto.

Ele assentiu, cumprimentou Lorenzo e saiu.

— Um dia vai chegar sua vez, Lorenzo. Se não trouxer uma noiva que o agrade, ele vai escolher uma por você. Sabe disso, não é?

— Só de pensar fico arrepiado. Acho que tenho a tolerância de uns dez anos ainda. Até lá vou curtindo a vida.

— Sorte sua ser homem... — suspirei desanimada.

— Não pense assim, irmãzinha. Vai realizar seu sonho de crescer em outro país. Nosso pai deu um jeito de te levar de volta ao Brasil. Não conheço o Rafael direito, mas se papà aprovou, ele é um bom homem. Temos que nos apegar a isso. Se apaixonar e viver com o nosso primeiro amor, é missão impossível.

— Eu sei. Vou me divertir da maneira que posso, e você se cuida.

Dei um beijo no seu rosto, ele sorriu e assentiu. Segurei minha bolsa, procurei pelos meus pais, mas eles já estavam próximos do carro. Abracei os dois, não saberia explicar a emoção que me envolveu. A realidade caiu em mim, pois desta vez, eu realmente estava deixando meus pais, rumo a algo desconhecido com um homem que eu não amava e também não conhecia o suficiente para querer conviver. Foi difícil engolir as lágrimas, mas me mostrar vulnerável; jamais!

— Manu, tenta ser mais aberta. Não vale a pena se fechar tanto para os sentimentos que podem nos trazer felicidades. — Minha mãe aconselhou.

— A paixão pode trazer muita dor, mamà. Eu a conheço e prefiro me manter na segurança do meu coração frio. Assim, ninguém se machuca.

— Mas às vezes o amor é libertador e é o único sentimento que nos deixa felizes.

— Mamà, não se preocupe comigo. O Rafael é bem compreensivo e acho que vamos ter uma boa parceria. Isso é o que importa. Nos vemos em uma semana.

Dei outro abraço, beijei meu pai e entrei no carro. Engoli em seco reprimindo os sentimentos que me afloraram, cheguei num ponto onde não sabia como lidar com este casamento, ou com a vida que viria.

— Vai ficar tudo bem. — Rafael segurou a minha mão, que só agora notei que estavam trêmulas.

Assenti e fechei os olhos, não dava conta de responder ou entender o que se passava comigo. Adormeci e acordei com Rafael me chamando.

— Chegamos? — acordei atordoada. — Eu estava dormindo no seu ombro?

— Em Palermo. — ele deu risada.

Me afastei assustada e ele sorriu.

— Acabou se reclinando no banco e deixei que se apoiasse no meu braço. — ele abriu a porta e saímos.

O voo foi rápido, apenas uma hora, desta vez me policiei para não dormir e cair nos braços do meu marido. Os homens de Roma nos esperavam com um carro, saímos do aeroporto e fomos ao centro de Roma, onde ficaríamos hospedados no Hotel Hassler Roma. Estar na capital italiana é sempre nostálgico para mim, meu pai sempre foi um católico devoto, fomos criados apreciando as igrejas e catedrais magníficas deste lugar.

Olhar as ruas movimentadas e todas as pessoas, me faz associar aos breves momentos familiares que tive com meus pais e irmão. Estar com Rafael aqui é tão estranho e até parece ser errado. A verdade é que eu não consigo associar o Rafael como minha família, é difícil explicar, no mesmo nível que eu não entendo. Como agir naturalmente com alguém que é seu marido por um contrato?!

Nunca imaginei que o sentimento do amor fosse fazer tanta falta neste momento. A gente simplesmente não tem intimidade ou vida pessoal em comum. Já vi que essa vai ser a semana mais longa da minha vida.

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