Rafael
Almocei no escritório, precisava deixar a empresa encaminhada, ficaria alguns dias fora, mas para isso eu já estava preparado, já tinha as pessoas de confiança que ficam no meu lugar. Bianca e Wilson sempre comandavam tudo muito bem. Nem precisei esperar Bianca, tinha muito o que fazer. Quando passava das 19h deixei o escritório e fui até a sala de Bianca, que falava ao telefone olhando para o notebook. Sentei-me na poltrona e a esperei encerrar a ligação. Logo desligou tudo e abaixou a tela do notebook.
— Vai mesmo viajar?— perguntou dando um suspiro.
— Sabe que uma ordem é uma ordem. — falei.
— Sim. Tem previsão de retorno? Tenho medo deles quererem ficar com você por lá...— ela murmurou.
— Ele disse que vai me oferecer uma proposta. Talvez eu tenha a opção de recusar, mas não me sinto inclinado a recusar, não importando o que seja.— afirmei divagando o olhar.
Realmente não me importava, meu coração está gélido, desde que eu esteja com a minha arma usando em vagabundos, estou bem.
— Ah, Rafa... Eu sinto falta do homem romântico e cheio de fé... Ele se foi, Rafa. Está melhor do que nós, acredite.— ela murmurou com os olhos brilhando.
— Eu sei, já superei. Mas aquele Rafael que você sente falta, foi enterrado com Gabriel. Meu coração se transformou numa grande pedra de gelo, me fechei para qualquer sentimento novo, não quero sofrer, Bianca. Sei que está bem, encontrou outro amor, seus filhos se deram bem, porém ainda lembro da sua dor, das crianças chorando próximos ao caixão... Eu tenho pavor disso, Bia! Não quero submeter uma mulher que me ame a essa situação, e muito menos colocar um filho neste mundo cruel. Quero ser livre das amarras do amor. Estou bem assim.— desabafei.
— Pode até estar bem, mas é feliz?— ela indagou.
— Da minha maneira, eu sou.— Respondi sem emoção na voz.
Enquanto estiver eliminando bandidos, estarei satisfeito, isso é o que importa.
Ela levantou da cadeira, deu a volta em torno da mesa, se encostou na mesma e cruzou os braços me encarando.
— Rafa, amar sempre vai ser um risco. Não acha injusto se fechar para um sentimento tão lindo e intenso só porque tem medo de sofrer por ele? Na maioria das vezes é até o fim, e termina bem.— ela sorriu.
— Não para nós, não para mim...— afirmei.— Meu irmão estava certo em preferir aquela música. Sinônimo de amar é sofrer!
— Sinceramente, espero que encontre alguém que quebre o gelo do seu coração, lá no fundo, eu sei que o Rafa romântico e cheio de fé está aí.
Me levantei e encolhi os ombros.
— Preciso arrumar minhas malas. Tenho que ir. Dá um abraço nas crianças por mim, diga que eu as amo.— Falei me aproximando dela.
Dei um beijo no seu rosto e saí da sala. Fui para casa no meu carro, era até estranho andar neste veículo essas horas, senti falta da minha moto, mas teria que me acostumar, nada de motos na Itália.
Entrei no apartamento e abri uma mala e comecei a colocar minhas coisas dentro. Como o voo era particular, peguei minhas armas preferidas e coloquei-as na mala. Quando coloquei a última peça de roupa, a campainha tocou. Fui até o olho mágico e lá estava a ruiva. Outra vez? Já estava virando rotina, não estou gostando disso. Abri a porta e a olhei com desinteresse.
— O que quer?— perguntei impaciente.
— O que você acha? A única coisa que me dá!— ela sorriu maliciosa e apalpou o meu membro.
A olhei de cima a baixo, não deveria; mas como ia viajar e ficar fora por uns dias, ou quem sabe meses ou anos... Aceitei o convite.
— Me espere no seu apartamento, quero que esteja de lingerie preta e uma máscara. Apareço em dez minutos.— fechei a porta sem esperar ela responder.
O voo saiu às 4h da madrugada, nem dormi. As treze horas de voo seriam mais que suficientes para recuperar meu sono das atividades noturnas. Assim que decolamos, fui até o quarto do jato e me joguei na cama, desliguei meus pensamentos e dormi feito um bebê, exceto pelos pesadelos terríveis.
Foi um voo direto, às 23 horas estávamos na Sicília, no aeroporto de Palermo. Um carro que já nos esperava nos levaria até a cidade de Menfi, onde a Sede do império Moretti se encontrava. Foi um choque de temperatura, saí do clima de verão tropical no Brasil para sentir o frio do inverno europeu. Quanto mais o carro andava rumo ao destino, mais se afastava da cidade, estava escuro, ainda assim consegui vislumbrar as montanhas e colinas ondulantes, em alguns picos se observava neve. Até chegar à propriedade, a paisagem era de muitos pastos e vinhedos. Um pouco mais de uma hora, e estava de frente à muralha quilométrica de pedras, muito fortificada. A mansão, embora bem conservada, era uma construção bem antiga, que tinha a elegância e aparência da época da grandeza de Roma. Vincenzo e Kath vieram me receber de braços abertos.
— Bentornato amico mio!(Bem vindo de volta, meu amigo!)
Sem reservas ele me abraçou e levou-me para dentro.
— Como está Bianca e os filhos?— Kath perguntou com um sorriso.
— Estão bem.
Vincenzo chamou o mordomo e me ofereceu uma dose de uísque acompanhado de um charuto. Bebi o líquido de uma vez arrancando um sorriso de Vincenzo, que pacientemente preparava o seu charuto. Não curtia esse negócio de fumar, mas era praticamente um dever fazer isso com o chefe, então acabei apreciando o hábito, embora fosse bem esporádico.

— Como está tarde, vou deixar para conversar amanhã, deve estar cansado da viagem, e também aprecio uma noite bem dormida.
— Não estou cansado, aproveitei o voo para dormir. Se não se importar, quero dar uma volta na propriedade, meu corpo pede por exercícios.— falei.
— Sentiti libero! La mia casa la tua casa.— ele falou tomando o último gole de sua bebida.
Assenti e continuei a apreciar o aroma daquele charuto. Trocamos algumas palavras, mas nada que indicasse qual a proposta que me seria oferecida. Meu quarto foi apresentado pelo mordomo, minhas malas já estavam lá. Vincenzo se recolheu, e eu coloquei um sobretudo para aguentar o frio lá fora. Andei pelos jardins iluminados por luzes fracas, o lugar tinha uma beleza exótica e imponente. Corri até o jardim da fonte, voltei correndo até a casa Sede, e no alto, notei que a luz de um dos quartos estava acesa. Andando por ali, tomando o fôlego, a vista do quarto ficou nítida e observei Emanuelle me olhando pela fresta da cortina. Estava séria e pensativa, quando os seus olhos encontraram os meus, fechou a cortina.
Pensar que há alguns anos ela foi a musa dos meus sonhos, me fez soltar um riso. Uma mulher intocável, além do mais, jamais daria certo com esse temperamento impulsivo e colérico que ela tem. As discussões que tivemos no Brasil foram suficientes por uma vida inteira.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Rosie Marie
Esse Rafael é TDB = TIDO DE BOM
2024-04-17
8
Jeneci Nunes
acho que vem casamento por aí😏
2024-04-14
0
Paula Mendes
Tô achando que é uma proposta de casamento entre ele e a filha do Vicenzo
2024-03-24
4