Capítulo 18

Freya...

Quando eu era pequena, minha mãe costuma sentar-se comigo e minhas irmãs diante da fogueira e contar histórias de princesas e seus príncipes heróis. Para ser sincera, naquela época, eu amava ouvir essas histórias, embora não acreditasse que um dia um príncipe pudesse me amar. Ao contrário das minhas irmãs, eu não tinha a pretensão de me casar com um homem rico, um príncipe. Talvez tenha sido por influência de meu pai que costumava me contar histórias sobre suas aventuras no continente quando atravessava o mar para fazer negócios, ou quando me levava para caçar e me ensinava coisas do tipo: como tirar a pele de uma caça ou como montar uma armadilha. Minhas irmãs diziam que agindo como eu agia — como um moleque, como costumavam dizer — eu jamais chamaria a atenção de um homem e embora isso me magoasse, uma parte de mim ficava feliz em saber que se um dia alguém me amasse, não seria pela minha aparência, e sim por quem eu realmente sou.

Quando eu soube que Apollo me amava, essas lembranças tomaram conta da minha mente e uma parte de mim teve medo de que ele amasse apenas aquilo que ele via. Apesar de acreditar em seus sentimentos com todas as minhas forças, eu sabia que a Freya que ele amava, não era a verdadeira Freya e tinha medo que se eu a mostrasse, ele não fosse capaz de continuar a amando. Não era o momento para pensar nisso. Não enquanto todos estão reunidos diante da mesa redonda esperando para que Aaron atravesse pelas enormes portas de madeira preta e conte quais são as notícias que ele recebeu. Mas aqui, diante da lareira, observando as chamas e ouvindo a madeira crepitante, não conseguia evitar as memórias. Aaron atravessou as portas de madeira usando um dos seus típicos ternos pretos elegantes e impecavelmente ajustado ao seu corpo. Ele passou por nós e parou em uma das extremidades da mesa. O silêncio recaiu sobre todos enquanto esperávamos que ele desse início a seja lá o que tinha para contar. Cruzei os braços focando minha atenção nele.

— Nossas suspeitas se confirmaram. Alguns informantes de Athena, que como sabem, estavam procurando pelo irmão de Cassandra, confirmaram que ele está do outro lado da muralha, em uma cidade humana chamada Hampstead. Eles também confirmaram que o desgraçado está em posse do espelho e que possivelmente está em posse da cabeça também — Um suspiro pesado se fez audível e a atenção se voltou para Athena que estava com as pernas cruzadas e os braços soltos na lateral da cadeira, semblante relaxado e olhos atentos — Tem algo a nos dizer?  — Ela suspirou mais uma vez e se arrumou na cadeira olhando para mim e desviando sua atenção para ele.

— A Cidade dos Pesadelos ficou sabendo sobre sua aventura no Reino de Primavera e Lord Kayst está com receio de que isso acabe em guerra — Arqueei uma sobrancelha. Andreas falou algo sobre essa tal Cidade dos Pesadelos, mas eu não fazia idéia de onde ficava ou como era. Ela continuou — Eles já estavam nervosos com a sua displicência com relação a eles, agora, temem que você iniciei uma guerra e use os soldados dele quando nem mesmo deu as caras lá desde que voltou para casa — Edda da um sorriso amargo ao meu lado.

— Se Edgard está carente, que compre um bichinho de estimação...

— Iremos até lá amanhã. Informe ao Lord Kayst que faça uma festa de boas vindas ao seu Rei — Ele olhava para Eirik que não tinha uma expressão feliz em seu rosto — A família inteira ira e levaremos uma convidada especial — Olho para ele no momento que os olhares na sala recaem sobre mim.

— Porque eu preciso ir? — A tensão na sala já me era o suficiente para entender que essa cidade dos pesadelos era um local que eu não queria estar.

— Porque ele acha que eu te sequestrei e estou te mantendo em cárcere, o que não é verdade e o jeito de provar isso, é se ele acreditar que não resgatei você e sim que veio por conta própria — Ele explica dando a volta e parando na estante, pegando um papel e o abrindo sobre a mesa, o mapa que estivera sobre essa mesa na última vez que estive aqui — Temos que começar a pensar no que fazer contra o irmão de Cassandra — Ele fala pensativo e olha para Athena — Você sabe mais sobre o espelho do que qualquer um, o que mais ele precisa para fazer o feitiço?

— O que eu sei sobre o espelho é aquilo que ouvi por aí nos últimos vinte milênios de vida, nada que seja de fato uma verdade — Ela avisou e novamente eu me peguei impressionada com a sua idade — Pelo que sabemos, para um feitiço de ressurreição, a magia do espelho não é a única coisa da qual ele vai precisar. Se as histórias forem verdadeiras, ele precisará de algumas coisas para fazer o espelho funcionar já que ele não possui a magia necessária para tal — Ela respire fundo e vai até o lado de Aaron apontando para um ponto no mapa — A lenda diz que ele precisa de um objeto forjado pelo espelho, algo que tenha sido diretamente criado pelo espelho para despertar seu poder e assim, conseguir fazer um pedido...

— Se é necessário algo forjado, como Aaron conseguiu barganhar com o espelho para me trazer de volta? — A interrompo olhando o mapa, o ponto onde ela apontava.

— Porque existiam dois objetos forjados pelo espelho. A coroa e o cedro. Cassandra estava em posse do cedro e o usou para ativar o espelho e o manteve ativo por um século depois que o ligou a sua própria vida. Quando ela morreu, o espelho desligou e precisa ser ativo outra vez — Concordei sem olhar para Aaron. Não havíamos conversado sobre o que ele havia feito e nem era hora para isso — Nas Terras Sagradas, as sacerdotisas são guardiãs da coroa. Se ele quiser ativar a magia do espelho, terá que ir atrás da coroa. — Aaron coça a cabeça e solta um palavrão baixo.

— Qual o problema? É só ir lá e pedir as sacerdotisas — Edda da uma risada baixa e olho para todos ao meu redor sem entender o porquê isso tem que ser tão complicado.

— As sacerdotisas são criaturas difíceis de convencer e uma vez que são guardiãs de algo, irão defender isso com sua própria vida. Os apoiadores de Cassandra nunca mais foram vistos, provavelmente estão com o irmão dela. Se eles forem lá, matarão todo e qualquer um que se colocar em seu caminho — Ivar explica e só então entendo o palavrão frustrado de Aaron.

— Então vamos lá e pegamos antes dele, sem a permissão das sacerdotisas — Falo e a risada de Edda se torna mais alta e dessa vez todos os outros riem também.

— Só podemos entrar nas terras sagradas se formos convidados, é o preço de ser o Reino mais odiado de Salandria — Edda fala e aponta para o mapa, para o Reino de Outono — A única forma de conseguirmos um convite, é convencendo o Rei de Outono que é um tremendo pé no saco, mas é ele o guardião das Terras Sagradas e é ele quem tem a confiança cega das sacerdotisas — Ela se joga na cadeira bufando e olho o mapa entendendo o quão complicado vai ser.

— Eirik, mande uma carta ao Rei de Outono, peça permissão para uma visita da minha corte pessoal até sua casa, diga que temos assuntos de seu interesse para tratar — Aaron ordena e o irmão apenas concorda cruzando os braços — Athena, peça aos seus olhos do outro lado do muro que reforcem a vigilância em Dievo e seus movimentos — A ruiva concorda se afastando alguns passos — Ivar, eu preciso que se certifique de que não tem nenhum movimento sendo feito em nossa direção do Reino de primavera — Engulo seco olhando minhas mãos enquanto o loiro concorda — Amanhã quero todos aqui para irmos a Cidade dos Pesadelos.

Permaneço sentada, mesmo depois que Edda se despedi e segui seus irmãos porta afora. Aaron guarda o mapa em silêncio, pensativo e eu não o atrapalho quanto a isso. Pelo visto o perigo era de fato real, em breve poderemos estar enfrentando não só Dievo, como também Cassandra e seu pequeno exército de apoiadores. Se eles conseguirem o que quer e ativarem o espelho outra vez, ela terá magia o suficiente para aprisionar a todos outra vez e não podíamos deixar isso acontecer. Respiro fundo passando as mãos pelos cabelos. Se não tudo ocorrer como os planos da irmã de Cassandra, em breve uma guerra estará batendo a nossa porta e eu não posso continuar fraca e indefesa. Eu preciso aprender qual é a minha magia e como usá-la, preciso aprender a lutar e me defender e preciso disso logo, antes que seja tarde. Aaron enfim me olha analisando minha expressão.

— Se está pensando na cidade dos Pesadelos, não se...

— Quero que me ensine a lutar e a usar minha magia — O interrompo e ele me olha surpreso — Não quero mais me sentir fraca e indefesa, quero que me ensine a me defender — Espalmo as mãos na mesa me levantando e ele me segui com um olhar curioso.

— Sabe que vamos de proteger e que está segura aqui não é?

— Eu sei. Mas se uma guerra estiver vindo na nossa direção... quero ser mais do que outro corpo para defender, quero aprender a me defender sozinha — Engulo seco sabendo que esse não é o único motivo e acho que ele também percebi, já que apenas concorda pensativo.

— Seu treinamento começa amanhã.

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