Capítulo 12

Freya...

Passei a mão pela cama e senti os lençóis bagunçados ao meu lado, mas nenhum sinal de Apollo. Seu lado da cama já estava frio e o vento gelado da noite deixava o quarto frio. Me sentei na cama afastando o cabelo do rosto e olhei ao redor percebendo que as roupas dele não estavam mais espalhados pelo chão. Suspirei passando a mão no rosto e tentando afastar a sonolência que ainda pairava sobre meu corpo. Era a primeira vez em meses que eu dormia mais de duas horas seguidas sem pesadelos ou nada do tipo.

Levei um tempo para levantar e vesti o primeiro vestido que achei dentro do armário. Saindo quarto descendo as escadas tentando ouvir qualquer som que me levasse até onde ele estava mas a casa estava silenciosa demais. A sala de jantar estava vazia e até minhas sentinelas não estavam me seguindo como sombras em meu encalço. Caminhei até o escritório e antes que eu chegasse a porta, ouvi murmúrios vindo lá de dentro. Parei ao ouvir o nome de Cassandra ser mencionado. Eu sabia que ouvir a conversa deles era errado, que eu mal deveria invadir a privacidade deles dessa forma. Mas eu também sabia que seja lá sobre o que estão conversando, ele nunca me contaria e eu só tinha maneira de descobrir. Me escondi atrás de uma das enormes plantas que ficavam ao lado do corrimão de aço da escada de mármore e me concentrei na conversa deles naquele escritório.

— Eu fiz o que era necessário para salva-la e no fim deu errado, não vou cometer o mesmo erro duas vezes — Apollo falou entre dentes, como se estivesse se controlando ou evitando a vontade de falar algo diferente.

— O que foi necessário Apollo? O que fez de tão terrível que não pode contar nem mesmo para mim? — Andreas questionou, a voz era uma súplica silenciosa.

Não fui o único a fazer acordos dos quais não concorda. As palavras foram sussurrada em meu ouvido como se Aaron estivesse ao meu lado. Apollo se demorou a responder, o de tão terrível ele fez que não pode contar a mim ou ao irmão? O que é tão terrível que ele precisa pensar sobre contar ou não ao irmão? Minha curiosidade se aguça e junto com ela, uma pequena pontada em meu peito e o medo do que ele estava prestes a falar ronda minha cabeça e faz meu estômago protestar.

— Não importa mais, o que foi feito está feito. Temos que arrumar uma forma de livra-la do acordo. Em duas semanas Loki voltará para reivindicar o acordo e eu juro pelos deuses que vou mata-lo...

— E então o quê? Vai iniciar uma guerra que não podemos vencer? Loki tem uma boa relação com o Reino de Outono e com os Lordes dos vales dos ossos e pesadelos. Tem um exército maior que o nosso isso pra não falar do fato de Loki ser o Rei mais poderoso da história — Andreas estava irritado, sua voz aumenta a medida que ele fala — Seu temperamento ainda vai nos matar — Ele praticamente cuspiu as palavras e o grunhido de Apollo em resposta fez os pelos dos meus braços se arrepiarem.

— Olha como fala comigo, Andreas — A ameaça velada em sua voz era tão ameaçadora quanto a expressão que eu sabia que estaria em seu rosto nesse momento. Reprimi o desejo de entrar e salvar Andreas dessa irá enjaulada, mas o príncipe respondeu antes que eu movesse um músculo.

— Ela tem o direito de saber sobre os próprios possíveis poderes e os perigos que isso pode atrair para ela — Eu sabia que ele estava falando de mim. Me inclinei mais para a frente — E você precisa parar de tratá-la como uma boneca de porcelana, ela já provou ser mais forte do que muitos soldados nossos — Engoli suas palavras a seco e embora uma parte de mim estivesse contente com o elogio, a outra se ressentia por saber como fui obrigada a me tornar tão resistente.

— Não tente me ensinar como cuidar da minha fêmea — A voz gutural, selvagem e ameaçadora era a personificação do macho que se escondia atrás daqueles olhos gentis e sorriso acolhedor. Meu corpo estremeceu com a imagem que minha mente formou — Nós dois sabemos que você não é bom nisso.

Um silêncio se seguiu e logo em seguida o som de um osso se rompendo ecoou pela casa silenciosa, o que me fez pular do meu esconderijo e aparecer na porta tão rápido que mal me dei conta que usei a minha velocidade sobrenatural para isso. Andreas me encarou no momento que apareci na porta com olhos arregalados, o punho ainda fechado e ainda pairando no espaço entre ele e Apollo, o sangue nas dobras esbranquiçadas dos seus dedos, a expressão de puro ódio selvagem e implacável. Do outro lado Apollo erguia o rosto e afastava o cabelo, a boca e o nariz formando uma cachoeira de sangue, a expressão era um misto de dor, ódio e arrependimento. Ambos me olharam, mas eu não consegui me mover. Nunca vi Andreas nem sequer levantar a voz para Apollo, quem muito dirá socar seu rosto com tanta violência. Nunca havia visto tanto ódio em seu rosto e estava surpresa por Apollo tão ter explodido a besta selvagem que existe dentro dele. Abri a boca para falar algo, mas minha voz falhou quando tentei emitir qualquer som. Andreas olhou para o irmão novamente que agora o encarava com uma surpresa contida.

— Considere isso uma briga de irmãos. Fale dela outra vez e eu não me responsabilizo — Apollo não respondeu, nem sequer olhou para Andreas quando ele passou por mim sem me olhar.

— Que droga aconteceu aqui? — Questiono indo até Apollo que agora se encostava na mesa de mogno escuro. Ele suspirou tocando o sangue que parava de jorrar das feridas que já se cicatrizavam por completo.

— Fui longe demais — Sua voz estava baixa e uma onda de arrependimento transbordava do seu tom. Olhei nos armários até achar algo que pudesse usar para limpar o sangue, mas Apollo balançou a mão e uma bacia com uma toalha surgiu ao seu lado.

— De quem estava falando? — Peguei a toalha e a umideci tirando o excesso de água e começando a limpar o sangue que escorria por seu queixo, pescoço e peito, manchando a camisa branca que usava.

— Durante a grande guerra, Andreas se apaixonou por uma fêmea do Reino de Inverno. Mas estávamos lutando de lados opostos e eles não podiam ficar juntos. Todas as noites, ele fugia do acampamento e encontrava com ela no bosque. Até que nosso pai descobriu e encontrou a fêmea — Ele engoliu seco — Andreas só soube quando nosso pai já havia terminado com ela e tudo o que encontrou foram as cinzas da fêmea. Ele nunca mais se apaixonou por ninguém — Ele suspirou enquanto eu limpava as manchas em seu pescoço — Ele teve algumas fêmeas, muitas fêmeas nos últimos mil anos, mas nunca se apaixonou outra vez — Ele abaixou a cabeça e afaguei seus cabelos tentando lhe transmiti algum conforto.

— Seu pai era um homem terrível — Comentei tentando afastar da minha mente as imagens de Andreas encontrando o corpo da fêmea que amava queimado.

— Eu não devia ter falado sobre isso, não consigo imaginar o que ele sente — Ele levou as mãos aos meus quadris e me puxou até nossos corpo estarem juntos — Quando achei que a tivesse perdido... senti como se fosse enlouquecer. Não devia ter usado essa dor contra ele — Fechei os olhos afastando as lembranças que aquilo me causava e o abracei sem me importar com o sangue entre nós.

— Ele vai te perdoar...

Ele me apertou mais contra seu corpo e escondeu o rosto em meu pescoço deixando um beijo ali. Apertei ele contra meu corpo dando a ele o máximo de conforto que eu poderia dar. Minha mente vagoou para a conversa deles, para aquilo que ficou em aberto. O que ele havia feito? Qual era o acordo tão terrível que ele havia firmado com Cassandra? O que de tão ruim ele não poderia contar ao irmão? Era perguntas que eu sabia que não teria respostas, pelo menos tão hoje e com certeza não agora. Eu tinha mais duas semanas antes de Aaron aparecer novamente de forma dramática para me levar ao seu Reino, eu podia deixar essa conversa para uma outra hora. Fechei os olhos afastando todos os pensamentos e me concentrei em seu cheiro, em seu calor e em seu abraço.

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