Freya...
Decidi seguir os conselhos de Andreas e dar Apollo mais tempo antes de questionar a ele sobre os poderes que seu irmão mencionou a duas semanas atrás. As coisas estavam iguais, Apollo preso naquele escritório com sua obsessão e seus rompantes de raiva, Andreas tenso pela casa ou fora patrulhando a fronteira a mando do irmão e eu presa dentro das quatro paredes dessa casa. Tentei me distrair na biblioteca, mas o lugar fechado me causava pânico. Tentei pintar, mas não conseguia nem mesmo tomar nos pincéis sem sentir um pavor tão grande que me fazia tremer dos pés a cabeça. A solução era passar horas e mais horas diante do lago, lutando contra os pensamentos ruins e tentando de alguma forma invocar os tais poderes que Andreas mencionou.
Eu não sabia nem mesmo por onde começar e não estava tendo sucesso em nenhuma das minhas tentativas. Conversei com Analice antes dela partir sobre isso, ela não achava provavelmente que eu tivesse poderes, mas não descartava a possibilidade de os deuses terem me agraciado não só com uma segunda chance de viver, mas também, com alguma magia que me ajudasse a enfrentar perigos futuramente. Me despedir dela foi difícil. Nos últimos cinco meses ela se tornou a única que conversava comigo mais de dois minutos, que me ajudava a me distrair quando eu já estava a ponto de surtar em casa. Sem ela, meus dias têm sido silenciosos e longos.
Apollo aparece em meu quarto todas as noites e fazemos amor como se fosse a última vez. Nos últimos meses ele desconta as frustrações por não encontrar nada em suas pesquisas no sexo. Eu não me importava, amava ter ele em mim, amava as sensações que me proporcionava e amava aquele pequeno momento quando o ápice do prazer me tomava por completo e o mundo desaparecia e levava consigo todos os problemas, traumas e dramas, amava o entorpecimento que vinha longo em seguida me deixando a deriva em um longo e infinito céu azul. Mas sabia que isso não era saudável para nós dois. Uma hora teríamos que falar sobre o que aconteceu, uma hora teríamos que ser sinceros um com o outro sobre o que estávamos sentindo. Tinha medo desse dia chegar e eu não saber explicar a ele o vazio em minha alma que eu não conseguia consertar, ou o buraco pulsante em meu peito que nunca cicatrizava. Tinha medo de não conseguir dizer a ele porque pulo da cama todas as noites ofegantes ou vomitando até a alma, tinha medo de não saber explicar a ele porquê fiz o acordo com Loki mesmo sabendo que ele estava me enganando.
Eu levei muito tempo para admitir isso para mim, mas quando finalmente o fiz, me odiei por ter me escondido atrás da mentira mais fácil de lidar. Loki foi cuidadoso com cada palavra que disse, assim como Cassandra fora. Ele deixou claro que reivindicaria algumas horas das minhas noites, mas não disse quantas, com que frequência e até quando. Eu sabia disso — uma parte bem íntima de mim, sabia o que isso queria dizer — mas eu aceitei ainda assim. Eu não sei dizer o porquê, assim como não sei dizer porque olho para a maldita tatuagem todas as noites esperando ouvir sua voz sussurrar meu nome em minha cabeça. Tenho medo que isso signifique alguma coisa. Tenho medo que Apollo perceba o que significa antes de mim.
A noite passada foi diferente. Apollo não dormiu em meu quarto, não me disse o motivo ou o que faria, apenas se despediu com um beijo lento na porta do meu quarto e cruzou o corredor em direção ao seu. Eu não o questionei, estava tão casada após passar o dia inteiro andando por toda a propriedade que meu corpo estava implorando por um banho quente e cama. Foi o que eu fiz, tomei um longo e relaxante banho quente — esperando que o vapor levasse para longe a tensão e os pensamentos ruins e quando terminei — coloquei uma das camisolas novas de renda que Analice disse serem presentes de Apollo quando as trouxe a mais de dois meses, e me aconcheguei aos lençóis macios e quentes da minha cama.
Não demorei para pegar no sono e também não demorei para começar a ter pesadelos, embora esse diferisse de todos os outros.
...★...
Eu estava deitada em uma cama grande o bastante para que cinco pessoas dormissem sem se tocarem. O quarto era semelhante ao de Loki naquele castelo, mas os lençóis da cama eram de um vermelho vivido, semelhante a sangue. Alguns metros a frente havia um enorme espelho oval dourado sobre o que parecia ser um altar enfeitado com velas e dálias negras, ao lado havia uma gaiola e dentro dela um corvo grande com olhos atentos em um vermelho brilhante. Meu coração estava acelerado e meu corpo suado, uma mistura de pânico e nojo que revirava meu estômago, mas eu ainda me mantinha ali — deitada — esperando. A porta então se abriu devagar e Cassandra entrou no quarto olhando na minha direção com um sorriso malicioso no rosto e embora meu corpo desejasse correr o mais rápido possível, algo como magia prendia minhas mãos ao encosto de ferro da cama. Ela parou a minha frente e retirou o longo batido vermelho que usava revelando completamente seu corpo nu. O pânico cresceu dentro de mim e a medida que ela subia na cama em minha direção, a medida que ela subia em mim. E foi quando ela sussurrou em meu ouvido. Freya.
...★...
Acordei com um sobressalto, ofegante e suada, meu estômago se revirou fortemente e não consegui chegar até o banheiro antes de vomitar tudo no chão do quarto. A porta se abriu e uma das sentinelas correu em minha direção, me afastando do chão sujo até a cama.
— A senhora está bem? — O que me levou até a cama perguntou olhando de mim para a sujeira no chão. Respirei fundo passando a mão pelos cabelos grudados em minha testa e o afastei de mim.
— Chame alguém para limpar isso e me deixem — Uma ordem. Eu não me importei com a educação nesse momento e ele não questionou o que eu disse quando saiu do quarto levando com ele a outra sentinela.
Mal havia me recuperado do coração acelerado e do estômago se revirando quando uma das empregadas apareceu e Apollo logo atrás dela. Ele não questionou o que havia acontecido, apenas se sentou e me abraçou tão forte que meus ossos protestaram. Me aninhei em seu colo me agarrando a ele e chorei como uma criança. E depois de alguns longos minutos ali daquele jeito, eu finalmente afastei dele garantindo estar bem. Ele preparou um banho para mim, me vesti com algo confortável e voltei para a cama. Ele não foi para o escritório, disse a um Andreas preocupado na porta do meu quarto que cuidasse das coisas e que só o chamasse se fosse realmente necessário.
Ele passou o resto do dia deitado comigo, falamos pouco sobre coisas aleatórias, ele não me perguntou o que causou meu surto pela manhã e eu não entrei no assunto, não estava pronta para contar a ele aquele sonho que foi tão diferente dos outros e tão real, ainda mais apavorante do que qualquer outro que eu tive nos últimos meses. Quando acordei já estava tudo escuro e Apollo não estava na cama. Fiquei um tempo deitada apenas olhando para o teto e então decidi levantar. Havia um vestido sobre a poltrona e um bilhete escrito — te vejo no jantar — com a linda letra do Apollo. Sorri pegando a peça e a vesti, arrumei meu cabelo e tentei melhorar a minha aparência antes de descer as escadas. A casa estava escura e silenciosa, apenas uma luz fraca vinha da sala de jantar. Caminhei até lá e vi primeiro Apollo, parado próximo à porta, a expressão tensa e as mãos para trás, e então a mesa repleta de velas e comidas que pareciam deliciosas. Ele tirou as mãos das costas revelando um buquê de rosas-vermelhas e se ajoelhou diante de mim com elas. Sorri para ele e peguei as rosas da sua mão levando elas até próximo ao rosto e as cheirando.
— São lindas meu amor — Olhei para ele que sorriu tenso e então tirou do bolso uma caixinha de veludo preta. Engoli seco quando me dei conta do que ele estava prestes a fazer — Apollo... — Não consegui completar a frase que sumiu da minha mente no momento que ele abriu aquela caixinha e revelou um par de alianças douradas com uma rosa entalhada e uma pedra vermelha em seu topo.
— Eu sei que os últimos meses têm sido difíceis e eu sei o quanto você tem suportado durante todo esse tempo. E eu sei que isso parece uma desculpa muito ruim por estar sendo um idiota nos últimos dias — Ele soltou uma risada ansiosa e eu sorri junto pelo seu nervosismo, então ele continuou — Mas não é. Eu amo você tanto que não consigo encontrar palavras que possam descrever esse sentimento. Eu amo você tanto que uma união Salandriana comum não seria o suficiente. Eu quero estar ligado a você de todas as formas possíveis e passar a eternidade ao seu lado... Freya Carnahan, aceita passar a eternidade ao meu lado?
Abri a boca para responder, mas o som não saiu. Olhei para ele e para aliança brilhando com a luz fraca das velas. Olhei para a sala enfeitada com rosas e a mesa posta e preparada especialmente para esse pedido. Olhei para o buquê em minhas mãos e um fleche turvou minha mente. Minhas mãos cheias de sangue, com o meu sangue. Pisquei algumas vezes e olhei para os olhos de Apollo, aqueles lindos olhos verdes que brilhavam como uma campina de primavera. Outro fleche de imagem me fez cambalear. Os olhos dele frios, opacos e sem vida. Minhas mãos suaram e eu me concentrei nas palavras que eu queria dizer, e não nas que ecoavam na minha mente, as palavras que praticamente gritei naquele primeiro dia na cela. Salve-me, salve-me, salve-me. Abri a boca novamente para responder.
— Apollo eu...
Uma neblina gelada e negra se formou no outro lado da sala e uma figura alada apareceu dela, com um sorriso de lado e olhos azuis brilhantes como a lua no céu. Apollo se levantou se colocando entre mim e a figura e grunhiu, as garras se projetando quando Loki colocou as mãos no bolso e olhou para eu falando.
— Olá querida, Freya...
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Atualizado até capítulo 45
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