Capítulo 15

Freya...

Abri os olhos lentamente enquanto me acostumava com a escuridão de onde eu estava. Passei as mãos pelos lençóis macios e uma brisa morna soprou pela minha pele. Me sentei na cama sentindo minha cabeça doer e fiz uma careta quando tentei engolir e minha garganta doeu. Olhei ao redor reconhecendo o quarto que eu estava, embora não soubesse como vim parar aqui. Forcei minha mente a lembrar o que aconteceu e tudo o que eu conseguia me recordar eram de fleches dos eventos que antecederam minha vinda até aqui. O encômodo na minha garganta era uma lembrança constante do que aconteceu pela manhã, disso eu me lembrava, o terror e o pânico quando Apollo me sufocou. Um outro fleche do que aconteceu, Apollo e Andreas naquela sala, o acordo e a dor que eu senti ao saber daquilo. Apertei meus ombros na tentativa de afastar aquele sentimento que voltava a mim e apertava meu peito assim como as imagens do que aconteceu no castelo de Cassandra. Outro fleche, o rugido de Apollo, Andreas de joelhos, eu naquele chão e todos aqueles sentimentos que me impediam de sequer respirar ou me mover.

Abracei minhas pernas e fechei os olhos afastando os fleches da minha mente, tentando me concentrar em como cheguei até aqui. Mas tudo que eu conseguia me lembrar era de um redemoinho frio e silencioso ao meu redor, enquanto o pânico e o terror absoluto e selvagem tomava conta de cada parte de mim.

Murmúrios chamaram minha atenção do outro lado da porta, eu reconhecia as vozes que cochichavam baixo. Me arrastei para fora da cama sentindo meu corpo protestar quando me forcei a ficar em pé. Meus braços e quadril doíam, mas a minha cabeça doía ainda mais. Caminhei devagar até a porta e parei quando a voz de Eirik chegou até meus ouvidos. Observei pela fresta entre a porta e a parede. O pouco que conseguia ver era Eirik mais a frente e Edda de costas para a porta, ao lado, encostado numa  parede com uma expressão vazia e cansada estava Aaron que apenas escutava os irmãos. Voltei minha atenção a Eirik.

— Devíamos ir lá e matar o desgraçado — Ele falou baixo. A raiva em sua voz fez meu corpo se arrepiar. Eu sabia de quem ele estava falando e sabia que todos ali a essa altura já estavam ciente do que me aconteceu.

— Isso só começaria uma guerra. Já basta a loucura que Aaron fez — Ela lançou ao irmão um olhar furioso que ele nem sequer retribuiu, sua atenção estava focada na parede do outro lado do corredor. Isso me fez lembrar de algo que Andreas me falou sobre um Rei não poder invadir o Reino de outro sem um convite formal. Se Aaron foi me buscar, o que pode acontecer? Minha mente se enche de possibilidades e todas elas me assustam.

— Você viu as marcas no pescoço e nos braços dela? Aquele maldito merece morrer por isso — Ele retrucou entre dentes e olhei meus braços em busca das marcas as quais ele estava se referindo. Havia marcas de mãos em um tom de roxo escuro e me lembrei do momento que ele me segurou pelos braços com força. Toquei as manchas me encolhendo quando um arrepio passou pelo meu corpo.

— Não vamos fazer nada. Está decisão não é nossa. Espere ela acordar e decidir o que quer — Aaron falou por fim olhando para o irmão que apertou a alça da aljava de flechas que carregava nas costas.

— E se ela quiser voltar? Sabe como isso funciona melhor do que qualquer um de nós...

— Está decidido. Vamos esperar... — Abri a porta antes que ele terminasse sua frase. Os três me encararam ao mesmo tempo. Aaron me examinou de cima a baixo e seus olhos de demoraram em meus braços e pescoço.

— Bem vinda de volta — Olhei para Edda quando me cumprimentou com uma voz suave e um sorriso acolhedor que não consegui retribuir. Eirik se mexeu desconfortável, mas não desviou o olhar de mim. Respirei fundo olhando para Aaron.

— Não quero que machuque eles — Olhei para Eirik quando ele estalou a língua — Também não quero voltar — Aaron se aproximou e levantou a mão para tocar meu ombro, me preparei para o toque, mas ele a abaixou.

— Pode ficar o quanto quiser

...★...

Era dia, embora a neblina do lado de fora impossibilitasse de ver qualquer raio de sol, o dia estava claro e tudo parecia ainda mais branco. As árvores e as montanhas ao redor cobertas de neve pareciam brilhar com a claridade do sol escondido sob a névoa. Edda e Eirik partiram pouco tempo depois, enquanto eu tomava banho, Aaron disse que eles tinham coisas para resolver, mas eu sabia que ele os havia despensado. A casa estava escura e silenciosa e eu agradeci por isso, a minha cabeça ainda estava latejando e a última coisa que preciso é de barulho ao meu redor. Estava sentada no sofá, olhando a lareira crepitante e pensando em como Apollo foi capaz de fazer o que fez. Os passos de Aaron me chamaram a atenção. Ele entrou na sala em silêncio, estava usando uma calça e uma camisa cinza, era a primeira vez que eu o via usar algo além do terno preto habitual. Ele caminhou até a cozinha e voltou com uma xícara que exalava um delicioso cheiro de achocolatado e me entregou se sentando ao meu lado. Tomei um pouco do chocolate quente e coloquei a xícara sobre a mesinha de centro. Ele me encarou, ainda em silêncio e novamente seus olhos desceram para as marcas roxas em meu pescoço. Olhei meu reflexo no espelho quando fui tomar banho. Meu pescoço tinha largas manchas roxas que começavam a ficar esverdeadas e amareladas nas extremidades. Nos meus braços haviam as marcas dos seus dedos e meu quadril também tinha uma marca roxa, provavelmente resultado da minha queda. Não demorei muito tempo me olhando, cada mancha daquela me causava náuseas. Respirei fundo colocando a mão sobre as manchas e ele desviou o olhar para o meu rosto.

— Como isso foi feito? — Ele questionou, baixo e calmo, os olhos fixos nos meus. Mordi os lábios desviando os olhos para as minhas mãos.

— Ele estava sonhando ou alucinando, eu não sei. Acordei com ele sobre mim me sufocando — Vi suas mãos se fechando em punhos em sua perna e sua respiração ficou mais lenta quando ele desviou o olhar do meu.

— E os braços?

— Ele tentou me impedir de... — Engasguei com as palavras quando o choro subiu pela minha garganta — Ele mentiu para mim e me trancou naquela casa — Deixei que as lágrimas descessem pelo meu rosto. Aaron segurou minha mão e afastou o cabelo do meu rosto olhando em meus olhos.

— Eu sei, eu senti... — Olho para a sua mão que segurava a minha e ele segura meu queixo levantando meu rosto. Seus olhos brilham tão intensos como luzes azuis na escuridão da casa— Eu senti a sua dor e o seu medo — Ele engole seco e aperta minha mão. Deixo o choro tomar conta de mim colocando para fora tudo aquilo que eu estava prendendo desde que cheguei aqui.

— Como?

— Isso não importa agora — Ele se aproxima mais e deixo que seus braços me envolvam em um abraço — Você está segura agora...

Desabo em seus braços e ele me aperta contra seu peito. Seu cheiro invade meu nariz me trazendo outra lembrança. Era ele lá, foi ele quem me tirou daquela casa e me resgatou.

Deixei que toda a tristeza, dor, decepção, medo e angústia transbordar por mim. Você está segura.

  Apesar de todos esse sentimentos ruins, era assim que eu me sentia. Eu me senti assim no momento que ele me trouxe aqui pela primeira vez. Eu não quis admitir para mim mesma que me sentia sufocada em casa. Não queria admitir para mim mesma que tinha medo de entrar na maioria dos cômodos daquela mansão, pois eles me faziam lembrar a cela onde fiquei. Não queria admitir que me sentia sem ar, presa e oprimida andando por aqueles corredores ou até mesmo no meu quarto. Não queria admitir que usava o sexo com Apollo para me fazer esquecer desses sentimentos. E também não queria admitir que no momento em que coloquei meus pés aqui, eu senti um tipo diferente de... liberdade. Embora tenha ficado sozinha e presa no alto dessa montanha, eu não me senti de fato sufocada. Eu sabia que estava segura aqui, e sabia que Apollo a essa hora estaria enlouquecendo para saber onde eu estava, mas eu não me importava com isso também. Era o mínimo depois do que ele tentou fazer as minhas irmãs... comigo. Eu nunca vou perdoa-lo por isso.

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Comments

corrinha

corrinha

para com isso autora 😔 o Apollo não é vilão a Cassandra sim tudo isso é porque não par sentam e conversam

2023-11-21

1

Orlanilda Vasconcelos

Orlanilda Vasconcelos

o que aconteceu antes para que Freya sofresse tudo Isso?

2023-11-07

2

Anny b21

Anny b21

Haa mDs autora apaixonei pelo Apolo por favor não faz me iludir com ele. 🥲 Mais Freya também não merece estar sofrendo em uma relação assim. Por favor atualizaaa preciso saber do desfecho da história pra dormir kkkk

2023-10-19

3

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