Capítulo 17

Freya...

Apaguei após os episódios da madrugada e não tive outros pesadelos, embora a minha mente estivesse repleta de fleches de tatuagens, asas e músculos que eu sabia a quem pertenciam. Acordei cedo na manhã seguinte. O relógio marcava seis da manhã e a casa estava silenciosa. Eu já esperava a ausência de empregados como a casa de Apollo, mas não achei que também teria a ausência da família de Aaron. Edda é a única a aparecer aqui com frequência, geralmente ela fala muito sobre coisas que eu não presto muito a atenção. Mas eu gosto da companhia dela, embora rara e por pouco tempo, é a única coisa que me faz esquecer dos eventos que me trouxeram até este lugar antes do esperado.

Eu estava evitando pensar em Apollo, no que ele fez ou em como deve estar louco a minha procura. Pensar nele me causava dor e não apenas mental, mas também física. As marcas já não existiam em meu corpo, me certifiquei disso quando tomei banho essa manhã, mas as lembranças estão vivas e frescas na minha memória e na minha pele. As vezes me pego com falta de ar quando essas lembranças dominam minha mente. Percebi que sou indefesa. Apollo me segurou com tanta facilidade que a força que adquiri com meu novo corpo não foi nada em comparação a sua e embora eu saiba que ele é um Rei, muito mais forte e poderoso do que outros tipos de Salandrianos, eu esperava poder ao menos conseguir lutar contra seu aperto e nem isso eu consegui. Ele tinha razão, embora eu tivesse força, velocidade, sentidos e poderes, eu ainda era indefesa e eu odiava me sentir assim.

Caminhei até a cozinha afim de conseguir algo pro café da manhã. Eu não me importava em preparar minha própria refeição, embora na casa de Apollo eu nem mesmo tomasse meu banho sem a companhia de uma empregada ao meu lado. Eu até gostava dessa liberdade, poder fazer minhas coisas sem alguém na minha cola a todo instante. Era um dia frio, muito mais do que já experimentei aqui e nem mesmo a magia de proteção ao redor da casa conseguia amenizar completamente o ar gelado que percorria alguns pontos da casa, principalmente próximo as grandes varandas do primeiro e segundo andar. Os ventos fortes balançavam os pinheiros do lado de fora e embora não chegassem até a casa, eu sabia que eram capazes de arrastar qualquer um que se aventurasse lá fora. Eu havia me acostumado com a primavera constante de casa, mas não sabia se podia me acostumar com o inverno constante. Embora a paisagem seja de tirar o fôlego e traga uma sensação de conforto e aconchego, eu sentia falta do calor, dó sol e do verde das árvores.

Estava a caminho da biblioteca com um corpo de achocolatado quente nas mãos quando o som de metal caindo chamou minha atenção. Desviei meu caminho em direção ao som que vinha do lado de fora, mas especificamente, do ringue de treinamento a céu aberto que eu encontrei no meu terceiro dia aqui, quando Aaron me trouxe pela primeira vez. Sons de metal batendo um contra o outro e murmúrios se tornaram mais altos a medida que me aproximei do local. A claridade cegou meus olhos por breves segundos antes que eles se adaptassem. Não passei muito tempo aqui na primeira vez, estava tão alheia a tudo que via que não me concentrei em dar uma boa olhada no lugar. Era um espaço amplo, e embora fosse a céu aberto, a neve, a chuva e os ventos não chegavam ao lugar graças a magia que revestia toda a casa. Havia um enorme rinque de luta no centro, grande o bastante para caber duas cabanas na qualquer minha irmãs, meu pai e eu vivíamos. A parede do lado esquerdo estava repletas dos mais variados tipos de armas, algumas que eu nunca nem mesmo vi na vida, algumas grandes o bastante para me parecer pesadas demais e outras que me davam medo, além das grandes espadas, adagas, balestras, arcos e aljavas com flechas e mais uma infinidade de armas que mais se parecia com um arsenal de guerra. Havia alguns alvos com espirais pintados em preto e branco próximo parede ao lado da porta onde eu estava, algumas estátuas e sacos de pancadas pendurados em uma madeira grossa que se estendia de um lado a outro presa na parede. Um bebedouro e um espelho enorme que refletia o rinque.

Passei meus olhos pelo local e encontrei a fonte dos sons que me atraíram até aqui. Meus olhos se fixaram na imagem a minha frente não consegui desviar. No ringue a poucos metros de mim estavam Aaron e Eirik, ambos sem camisa, suados enquanto lutavam em um compate corpo a corpo. As espadas no chão me revelavam que o som de metal vinha de um possível treino com elas antes que em chegasse até aqui. Mas não era isso que prendia minha atenção. As lembranças de seu corpo nu ainda estavam frescas em minha memória e embora eu tentasse não pensar, era impossível que elas não voltassem a mim neste momento. Bebi um pouco do meu achocolatado sem desviar o olhar da cena a minha frente. Ambos possuíam tatuagens em seu corpo, mas diferente de Aaron, as de Eirik eram símbolos espalhados por seu peitoral, braços, abdômen, costas e até o pescoço, pareciam runas que provavelmente possuíam algum significado para eles. Eu havia analisado as de Aaron ontem a noite, mas agora, olhando na claridade do dia, elas pareciam muito mais escuras e rústicas. Os músculos se contraíam e retesavam a medida que os dois machos de cabelos pretos trocavam socos e chutes violentos um contra o outro. Eles não pareceram notar minha presença e nem eu fiz qualquer som ou movimento que chamasse a atenção, não queria atrapalhar o treino deles.

Eles eram habilidosos, e eu não duvidava disso, mas vendo cara a cara era muito diferente. Eu nunca vi Apollo ou Andreas lutar, mas pelas histórias que me contaram da época da grande guerra, eu sabia que eram grandes guerreiros e o fato de terem sobrevivido esses mil anos só comprovava isso, e ainda assim, ambos se opuseram a ideia de iniciar uma guerra contra esses machos por medo de perder, não consigo imaginar o que são capazes de fazer em um campo de batalha que possa causar receio em dois guerreiros habilidosos como eles. Era disso que eu precisava. Treinamento. Eu era fraca e os últimos eventos provaram isso de forma categórica e embora Apollo se recusasse a me ensinar a lutar por medo de que isso passasse uma imagem errada para os súditos eu sabia que não teria esse problema aqui. Eu não era a fêmea do Rei, não tinha uma imagem a zelar, não tinha tradições e expectativas a cumprir, aqui, ninguém se importaria se eu aprendesse a lutar e era isso que eu faria. Faço menção de dar um passo na direção deles, mas um braço envolve meu pescoço e antes que eu virasse para ver, já sabia de quem se tratava apenas pelo cheiro doce de frutas vermelhas.

— São de tirar o fôlego não são? — Ela olha para os irmãos enquanto fala e embora eu concordasse com isso, não o diria em voz alta.

— São dois exibidos, isso sim — A voz de Athena nos alcança antes que eu a responta e ela para ao nosso lado emburrada.

— Concordo com Athena — Sorrio e Athena ergue uma sombrancelha para mim.

— Bom dia menina, vejo que está melhor agora — Ela faz uma leve reverência e eu retribuo da mesma forma. Edda ainda observava os irmãos com admiração, mas virou sua atenção para mim, mas especificamente para o meu pescoço.

— A cicatrização Salandriana é uma benção, aquelas manchas terríveis nem parece que um dia existiram — Ela estala a língua e me solta dando um passo a frente — O que acha melhor, ir lá acabar com o treino de forma pacífica ou ensinar os dois idiotas como bater de verdade? — Ela sorri virando para nós duas, prendo uma risada e Athena ergue dois dedos para ela.

Observo Edda enquanto ela vai até o ringue onde os machos ainda treinavam alheios a nossa presença. Eu ainda ficava surpresa com as roupas dela, como consegui usar coisas tão abertas em um frio tão intenso como o que provavelmente está fazendo lá fora? Analisei suas roupas e as de Athena. Edda usava uma calça de couro preta, tão justa que poderia ser uma segunda cama da sua pele, a blusa, igualmente justa tinha alças tão finas que mais pareciam linhas pretas sobre seus ombros. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e ela usava um sapato com saltos extremamente altos. Suspirei notando sua elegância enquanto subia no ringue e se enfiava entre os dois machos os provocando para uma briga. Ao meu lado, Athena era a única das duas que parecia reconhecer o frio. O vestido cinza, longe de camurça tinha mangas longas que cobriam duas mãos, e embora possuísse uma enorme fenda que ia até sua virilha, era o que mais parecia aquecer para os ventos de fora. Seus cabelos ruivos estavam soltos em ondas pelos seus ombros, o único ponto de cor em sua pele pálida. Voltei minha atenção para o ringue e me surpreendi quando Edda colocou os dois machos ao chão com golpes certeiros. Eles gemeram com as mãos em seus abdômens e ela saiu do ringue arrumando as mechas de cabelo que se soltaram do seu rabo de cavalo. Uma risada alta ecoou pelo lugar pouco antes de Ivar pousar com um estrondo a poucos metros de distância do ringue. Eu não sabia como ele havia conseguido voar até ali com os ventos fortes do lado de fora, mas ele havia conseguido e nem mesmo parecia ter voado até ali. Seus cabelos loiros estavam devidamente arrumados e suas roupas pareciam secas e limpas. Ele recolheu as asas ainda rindo dos irmãos que agora vinham até nós. Evitei olhar para Aaron quando se aproximaram.

— Não acredito que apanharam pra Edda — Ivar se aproxima balançando a cabeça com uma expressão desapontada — Acho que estão precisando passar um tempinho no acampamento de Valíria comigo — Ele ri outra vez e vai até Athena passando o braço pelo seu pescoço — Estamos aqui Aaron, o que de tão importante tem para nos contar? — Ivar questiona e finalmente olho para ele que mantinha seus olhos em mim. Ele suspirou tomando fôlego antes de falar.

— Recebi informações sobre os movimentos de Dievo, irmão de Cassandra. Estamos com problemas — Ele estava sério e isso faz meu coração saltitar. O clima de divertimento da lugar a uma tensão que se acumula em todos.

— É pessoal, acho que está na hora de uma reunião em família — Eirik fala dando um tapinha no ombro de Aaron e passa por nós entrando em casa. Olho para Aaron que abaixa a cabeça com a respiração ofengante.

— É tão ruim assim? — Ele me olha e passa a mão pelo rosto puxando todo o ar que consegui antes de soltar tudo outra vez.

— Muito

Ele passa por mim e fecho os olhos tentando afastar as imagens de Cassandra que invadem minha mente, assim como fleches dos sonhos, minhas irmãs e Apollo. Respiro fundo e entra logo atrás deles os seguindo para a sala de reunião. Meu coração acelera cada vez mais e eu sabia que isso era apenas um aviso do que poderia ser tão ruim que deixava Aaron tão preocupado.

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