Capítulo 2

Freya...

Apollo não estava na cama quando levantei, também não havia sinal na sala de jantar ou no escritório. Analice disse que ele e o Andreas haviam saído cedo a cavalo que não os vira desde então. Tomei o café da manhã sozinha, ou melhor, na companhia dos dois sentinelas que se tornaram minha sombra. Eu fui contra a ideia absurda de Apollo em colocar sentinelas atrás de mim o tempo todo, mas ele estava decido e ganhou o apoio do irmão — o que me deixou completamente furiosa. Eu odiava ter esses dois atrás de mim, não por eles já que nunca falavam comigo, mas sim pelo fato de me sentir vigiada constantemente. Era angustiante saber que para onde eu fosse, haveriam dois pares de olhos atentos a cada movimento que eu desse. Mas Apollo estava paranoico com a minha segurança. Na primeira semana, quando voltamos ele não dormia, passava a madrugada inteira sentado na poltrona com suas adagadas e espada observando a porta e a janela atentamente. Eu não questionei seus motivos, assim como ele não questionou o porquê de eu acordava gritando por socorro naqueles primeiros dias ou do porquê eu continuei acordando toda a madrugada desde então. Não falávamos sobre os problemas um do outro, apenas sabíamos estar lá e que estávamos lidando da nossa maneira, mas não falávamos sobre ele.

Eu não falava sobre isso; em partes, porque tinha medo de trazer de volta todas aquelas lembranças, todas as coisas que senti durante aqueles dois meses presa no castelo de Cassandra ou sobre o que vi e senti durante minha morte; e em partes porque eu não queria fazer ele reviver quaisquer que sejam os terrores que ele sofreu enquanto eu estava nas terras humanas, ou presa naquela cela. Não queria o fazer lembrar daquela noite com Loki que para mim não era mais que um borrão de imagens, mas que para ele era tão vivida que só de lembrar o fez socar as paredes até suas mãos sangrarem. Por enquanto, o melhor a se fazer, era deixar esse assunto para depois, quando nós dois estivéssemos pronto para enfrentar o que quer quê estamos evitando — mesmo eu acreditando que nunca vou poder superar ou falar sobre isso.

Depois de um café da manhã silencioso, andei pela casa buscando algo para entreter minha mente. Pensei em pintar, mas só de imaginar as tintas em minhas mãos eu já sentia meu corpo estremecer e as lembranças de meu próprio sangue invadem minha mente como um tornado. Fui até a biblioteca, pensei que pelo menos poderia me distrair com um bom livro, mas não consegui passar um segundo sequer naquele lugar — que apesar de enorme — me pareceu tão pequeno e amontoado quanto minha cela no castelo de Cassandra. Sem muitas opções, decidi ir para os estábulos. Fiquei surpresa quando voltei para casa e Moon estava no estábulo a salvo, não achei que fosse vê-la novamente. Mas ela era uma sobrevivente, assim como eu.

Parei na porta dos estábulos quando vi Andreas e Apollo preparando se preparando para partir antes mesmo de entrar em casa. Andreas me avaliou de cima a baixo antes de montar em seu alazão preto e passou a mão pelo pescoço do animal o acalmando. Caminhei na direção dos dois machos muito bem trajados com suas adagas presas a cintura e suas espadas nas costas.

— Não estava na cama — Falei assim que me aproximei de Apollo. Ele beijou minha testa rapidamente e voltou sua atenção ao cavalo marrom — Onde estão indo?

— Temos algumas coisas para resolver na cidade. Talvez voltemos antes do jantar. — Foi Andreas quem respondeu. Olhei para Apollo que parecia concentrado em prender as amarras da cela.

— Posso ir com vocês?

— Não é seguro — Apollo respondeu sem olhar para mim, deu a volta no alazão e voltou sua atenção para as amarras da cela do outro lado.

— Como pode não ser seguro com vocês dois comigo? — Isso não fazia sentido e ele sabia disso, por isso nem sequer me olhou quando perguntei — Apollo...

— Não vamos arriscar. Você fica. — Ele me olhou, sério. Uma expressão que eu nunca vi sendo direcionada a mim. Um comando de um Rei, eu percebi.

— Isso é uma ordem? Devo me curvar como todos os outros? — Andreas me olhou surpreso, mas não mais surpreso que Apollo. Ele balançou a cabeça, como se desistisse de falar algo e se virou para o que fazia na cela.

— Não vamos ter essa discussão outra vez.

— Apollo pelos deuses. Eu não sou mais uma humana frágil e você não pode me manter nessa casa para sempre...

— VOCÊ NÃO VAI — Parei de falar quando ele gritou, as garras pulando para fora das articulações, o que me fez dar um passo para trás e Andreas pular do cavalo indo até o irmão.

— Meu irmão, o que custa deixar que ela venha? Vamos ficar de olho nela o tempo inteiro — Ele falou com a voz suave enquanto tocava o ombro de Apollo. Meus olhos estavam fixos nas garras que brilhavam em suas mãos. Ele respirou fundo se concentrando e as retraindo. Engoli seco com o alívio em meu corpo.

— É arriscado demais e eu não vou dar sorte ao azar — Ele não me olhou quando deu a volta e montou no cavalo saindo antes que qualquer um de nós falasse algo.

Andreas se aproximou e tocou meu ombro, instintivamente me afastei do toque, só agora percebendo que eu estava tremendo. Olhei para o macho a minha frente que apenas me encarou de volta com um olhar triste enquanto sua mão desvia novamente para a lateral do seu corpo. Ele sussurrou um "sinto muito" antes de montar seu cavalo e sair. Eu não respondi a isso, minha mente ainda estava vagando no momento em que aquelas garras se projetaram para fora, como fizeram no dia que estávamos no bosque, como fizeram com antes dele contar Cassandra em pedaços. Encolhi o corpo com aquelas lembranças e controlei a minha tremedeira antes de conseguir dar o primeiro passo em direção a casa.

— Me deixem sozinha — Falei quando as sentinelas me seguiram.

— Temos ordens do Rei para ficar com a senhorita a todo momento — Um deles falou fazendo uma pequena reverência. Suspirei controlando a raiva e voltei a caminhar em direção a casa.

Eles mantiveram uma distância respeitosa, mas continuaram me seguindo até a porta do meu quarto, onde montaram guarda quando entrei e tranquei a porta. Passei o resto do dia jogada na cama repassando cada segundo do que aconteceu essa manhã, tentando entender o que causou aquela reação nele. As empregadas bateram na porta me oferecendo comida, mas me recusei a nem sequer responder. Eu não queria comer, não queria companhia, eu só queria deitar ali e sumir desse mundo por alguns segundos.

Já era noite quando a porta destrancou sozinha, não me virei para saber quem era. Senti seu cheiro quando passou pelos portões da propriedade e imaginei que viria até aqui. Continuei olhando para a parede quando ele sentou a beira da cama e tocou meu braço, meu corpo se encolheu e ele afastou a mão respirando fundo.

— Sinto muito pelo que aconteceu hoje, eu... — Ele pareceu buscar as palavras e eu finalmente olhei para ele. Seu rosto retorcido em um misto de culpa, dor, medo e preocupação. Seus olhos procuraram os meus e se fixaram ali — Eu não queria te assustar. Eu só não consigo controlar... Eu sinto muito — Respirei fundo e me sentei na cama olhando minhas mãos.

— Nunca mais... nunca mais faça aquilo outra vez — Ele concordou imediatamente. Seus olhos transbordando sinceridade acima de todos os outros sentimentos. Devagar eu peguei sua mão.

— Eu te amo demais para te perder — Havia uma dor em sua voz, uma que eu nunca ouvi. Instintivamente eu me aproximei e o abracei. Ele retribuiu exitante, então se aconchegou a mim, afagando meus cabelos.

— Você não vai me perder... — Um ar frio percorreu minha espinha e ele me abraçou mais forte.

— Eu sei...

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