Capítulo 16

Freya...

Eu estava naquele quarto vermelho outra vez, diante daquele espelho dourado que parecia refletir toda a escuridão do lugar. A lareira estava acesa e a madeira junto das chamas eram os únicos sons naquele lugar. Na cama, Cassandra dormia tranquilamente, completamente nua. Os cabelos loiros bagunçados ao redor de seu rosto que apesar de tudo, era incrivelmente lindo. Os lençóis estavam bagunçados ao seu redor e havia peças de roupas para todos os lados. Respirei fundo olhando a cena que começou a se desfazer diante dos meus olhos com uma névoa negra dando lugar a uma outra imagem. Não estava mais naquele quarto, era o meu quarto na mansão de Apollo, eu estava dormindo ao lado dele, eu podia me ver deitada naquela cama, como se eu fosse uma telespectadora do meu próprio sonho. Meu sono era agitado e eu sabia o porquê, tentei chegar até mim e me acordar, mas não conseguia me mover. A expressão de dor retorcida em meu rosto era a prova dos pesadelos que me acometia todas as noites desde que voltamos para casa. Apollo ainda dormia, alheio ao meu tormento ao seu lado, um sono pesado e tranquilo, diferente de mim que ainda me debatia e murmurava ao seu lado. Tentei novamente me alcançar e dessa vez consegui chegar até meu corpo. Balancei meus braços na esperança de conseguir acordar, mas não funcionou. Subi sobre meu próprio corpo e segurei meus ombros balançando, nada. A expressão de dor e agonia deram lugar a desespero quando o meu corpo deitado sob mim abriu os olhos. Eles estavam fixos em mim e eu me debatia sob o meu outro eu, só notei o porque quando tentei sair de cima de mim mesma e não consegui. Minhas mãos estavam sobre meu pescoço e mesmo tentando parar de apertar, eu não conseguia. Meu outro eu gritava e se debatia, mas nem isso era capaz de acordar Apollo ao nosso lado. Gritei e tentei sair de cima, mas não conseguia parar de forçar minha mãos no pescoço do meu outro eu. Era desesperador, era agonizante. Eu queria parar, mas não conseguia, eu queria me afastar, mas meu corpo não obedecia. Vi meu reflexo no espelho que ficava na parede do lado direito do quarto e não era eu sobre o meu corpo, era Apollo e embora eu ainda o visse deitado ao lado, era ele quem apertava o meu pescoço e eu conseguia ver a cena dos seus olhos.

— FREYA! — Tentei gritar, mas não conseguia ouvir minha próprio voz — ACORDA, FREYA!

Era em vão, eu não me ouvia, eu não parava de apertar, o reflexo ainda era de Apollo, mas seu corpo ainda dormia ao meu lado na cama, estava tudo tão confuso e o ar começa a fugir dos meus pulmões, como se eu estivesse sentindo exatamente o que meu outro eu, ao qual eu estava sufocando, sentia.

Frio percorreu meu corpo e uma neblina negra como a noite me atingiu como uma onda forte. Tudo estava escuro ao meu redor. Era como se eu estivesse flutuando na noite. Eu sentia tudo, mas também não sentia nada, meu corpo se tornou inerte e eu sabia que estava ali, mas não podia sentir. Havia uma presença ao meu redor, eu podia senti-la vibrar em meus ossos, por dentro da minha carne, mas eu não via nada. Era íntimo. Era como se a presença fizesse parte de mim, ao mesmo tempo que não fazia. Busquei por ar, mas não havia nada. Minha garganta travou e a falta de ar fez minha cabeça esquentar a medida que a consciência começava a me deixar.

— ACORDA!

...★...

Acordei com um susto enquanto gritava, tentei buscar ar para os meus pulmões e a primeira lufada de ar fez meu peito e cabeça doerem. Mãos tentaram me segurar, mas eu lutei contra elas, estava escuro, eu não podia ver nada, mas eu sentia um peso sobre meu corpo enquanto lutava com as mãos que me agarraram os pulsos e os prenderam ao lado da minha cabeça. Pânico e terror tomaram conta do meu corpo enquanto eu gritava por ajuda. Velas iluminaram o quarto e uma lufada de vento gelado invadiu pela janela me fazendo por fim entender onde estava e quem segurava meus braços. Meus olhos se focaram no rosto de Aaron. Os olhos arregalados dançavam por todo o meu rosto, a boca era uma linha fina em seu rosto e a expressão assustada e preocupada fazia suas sombrancelhas se juntarem. Seus olhos brilhavam com a luminosidade da vela, e percorriam todo o meu rosto. Ele segurava meus dois braços para cima com força, me mantendo parada. Desci meus olhos por seu corpo. Ele estava sem camisa, as veias saltavam em seus braços, a tatuagem do nosso acordo estava ali, negra e mais rústica do que as minhas. Seus ombros e peitos largos também eram cobertos por tatuagens que eu não conseguia distinguir e se misturavam com as dos dois braços, e se encerravam em sua barriga definida. Meus olhos desceram para suas pernas ao meu redor e o choque reverberou por meu corpo quando notei que ele estava completamente nu. Olhei novamente para o seu rosto e tentei me soltar, mas ele apertou com mais força.

— Respira, Freya — Ele ordenou e só então percebi que eu não estava de fato respirando. Tomei uma grande lufada de ar e olhei para o teto sobre nós — Eu vou te soltar agora — Sua respiração estava desregular e sua voz era quase um sussurro. Concordei devagar e ele soltou minhas mãos e saiu de cima de mim permanecendo ajoelhado na cama. Deslizei para fora dela e levei a mão ao peito sentindo uma forte dor ali.

— O que pensa que está fazendo? — Questionei, ainda tentando entender porque estava sobre mim, completamente nu.

— O que eu penso que estou fazendo? Você estava gritando Freya — Ele me olhou, mas não se moveu de onde estava — Você gritou meu nome e quando cheguei aqui, tinha um redemoinho de vento ao seu redor — Arregalei os olhos notando que tudo estava revirado no quarto, como se de fato um redemoinho de vento tivesse passado e derrubado tudo. Abracei meus braços afastando o olhar dele.

— E porque está pelado?

— Eu estava dormindo, não pensei em vestir nada quando sai correndo pra te salvar — Seu tom era irônico e ele por fim se levantou saindo da cama. Dei um passo para trás olhando para a parede ao meu lado — Da próxima vez eu visto algo — Seu sarcasmo transborda pela frase e reviro os olhos.

— Não haverá uma próxima.

— Eu duvido disso. O que estava sonhando? Não se parece com nada que eu tenha sentido nos últimos cinco meses e seja o que for, despertou o poder que existe em você — Olhei para ele, focando minha atenção em seu rosto e não ao seu corpo completamente nu e imponente a minha frente.

— Como assim, nada que tenha sentido? — Questionei e ele respirou fundo cruzando os braços, flexionando os músculos dos ombros e os bíceps, afastei o olhar e foquei na parede atrás dele.

— Digamos que nos últimos cinco meses eu tenho dormido mal porque acordo todas as noites com vontade de vomitar e eu sei que não vem de mim — Seu tom era mais calmo, embora ainda transbordadasse ironia e sarcasmo. Meu rosto esquentou e eu tinha certeza que estava vermelho.

— Você via meus pesadelos? — Praticamente sussurrei a pergunta e ele negou passando a mão pelo cabelo.

— Não exatamente. As vezes, quando era muito ruim eu conseguia ver fleches. Mas eu sentia tudo que você sentia — Ele apontou para o meu braço e então para o seu. Para as tatuagens gêmeas do nosso acordo — Cortesia da magia impregnada no nosso acordo. Seus pesadelos atormentaram a nós dois — Me encolhi apertando mais os meus braços.

— Desculpe...

— Tanto faz — Ele caminhou até a porta e foi inevitável não olhar suas costas largas. Havia uma enorme tatuagem nelas, duas grande asas como as dele em sua dorsal que desciam pelas lateraia das costas até próximo a bunda. No meio uma meia lua e uma estrela bem no centro. Desviei o olhar quando ele se virou. — Aliás, de nada por isso — Ele abriu a porta, mas antes que passasse por ela, eu o chamei.

— Aaron — Ele se virou. Engoli seco tendo uma visão completa do seu corpo devido a distância. Mantive meus olhos longe do que havia em seu quadril, mas analisei rapidamente a tatuagem em seu peito. Eram semelhantes as tatuagens em nossos braços, mas estavam ao redor do que parecia ser uma meia lua, como a que tinha em suas costas. Balancei a cabeça focando em seu rosto e respirei fundo mais uma vez — Obrigada... por tudo.

Ele não respondeu, apenas fez uma pequena reverência e saiu do quarto. Joguei a cabeça para trás e caminhei até a cama me afundando nos lençóis. Olhei para o teto tentando afastar a imagem dele daquela forma da minha mente. Meu pesadelo ainda circula a minha cabeça, bem no fundo dela, assim como o incomodo na garganta pelos gritos e a quentura febril em meus pulsos, por onde ele me segurou. Fechei os olhos passando os dedos pelas têmporas tentando me concentrar para voltar a dormir, mas eu sabia que não conseguiria. Nas últimas duas noites desde que cheguei aqui, não tive pesadelos. Acho que estava tão exausta, tão sobrecarregada que não tive forças para isso. Mas o dessa noite foi de longe o pior que eu já tive nos últimos cinco meses e eu tenho certeza de que ele ainda vai atormentar minha mente por um longo tempo. Levei minha mão até meu pescoço — onde as manchas já quase não existiam, assim como os braços e o quadril — e alisei a fina pele ali tentando amenizar a sensação ruim que se instalou no local. Me envolvi nos lençóis e fechei os olhos tentando mais uma vez pegar no sono e desça vez eu consegui, mas a última coisa que eu vi, foi o rosto dele e aqueles olhos azuis me encarando.

Mais populares

Comments

corrinha

corrinha

tá complicado em autora o livro não desenvolve é sempre a mesma coisa

2023-11-21

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!