Capítulo 14

Freya...

Apollo fugiu para o meu quarto mesmo contra as ordens das sacerdotisas. Não me opus a isso. Não depois do que fizemos no escritório e não depois de que eu sabia que ele faria comigo naquela noite. Para ser sincera, eu não me importava se os deuses me veriam como impura ou não. Em todos esses anos, os deuses nunca foram ao meu auxílio em nenhum momento da minha vida, porque eu deveria tentar agrada-los agora? Porque eu deveria me privar dele, do seu toque, das coisas que me faz sentir para honrar deuses nos quais eu não acreditava? Não via sentido e Apollo parecia compartilhar deste mesmo pensamento. Fizemos amor a noite toda, ainda mais intenso, ainda mais selvagem do quê o que fizemos na biblioteca e eu senti ainda mais prazer por saber que era algo que não deveríamos estar fazendo.

Apollo caiu exausto ao meu lado depois terceiro ou quarto round. Eu também estava tão cansada que não me preocupei em vesti a camisola e apenas me aconcheguei em seus braços fechando os olhos e tentando dormir. As horas se passaram e Apollo já estava apagado ao meu lado, eu no entanto, continuei rolando na cama sem conseguir pegar no sono. Minha mente estava agitada com todos os pensamentos que eu estive evitando o dia inteiro, sobre o casamento, sobre meus poderes, a briga de Andreas e Apollo, o acordo com Loki que já é semana que vem, as sacerdotisas andando pela casa e cuspindo ordens para todos. Tudo era um turbilhão em minha mente e não me deixava sequer descansar. Por fim decidi desisti e me sentei apoiada no encosto da cama, peguei o livro que eu deixava sobre o criado mudo e comecei a ler, mesmo que minha mente migrasse para todos aqueles pensamentos que não me deixavam em paz.

Estava distraída em meus desvaneios outra vez quando Apollo começou a se agitar, suas costas musculosas se contraíram quando ele apertou os lençóis ao lado no nosso corpo e grunhiu meu nome em meio aos balbucios e sussurros. Toquei seu ombro para tentar acorda-lo, mas suas garras saltaram para fora em seus dedos e ele grunhiu o nome de Cassandra. Antes que eu pudesse ter qualquer reação ele saltou para cima de mim, os olhos vítreos enquanto suas mãos agarraram e começaram a apertar meu pescoço. Bati, arranhei, chutei e gritei na esperança de que ele pudesse acordar, mas ele parecia em transe sobre meu corpo apertando meu pescoço com força. Era impossível lutar contra aquela montanha de músculos para tirá-lo de cima de mim, era impossível lutar contra a sua força. Minha consciência estava começando a me deixar, mas eu ainda gritava por seu nome e tentava alcançar seu rosto com as mãos enquanto chutava e me debatia. O desespero começou a tomar conta do meu corpo e eu já estava cansada de me debater. Senti algo se acumular em meu peito, como se uma bolha de ar se formasse dentro de mim a medida que o desespero toma conta do meu corpo. Estava quase desistindo de lutar senti essa bolha de ar sair de dentro de mim força e Apollo foi lançado de cima de mim com tanta violência que meu coração pulou no peito. Me joguei para o outro lado da cama no momento que a porta se abriu e puxei o lençol da cama cobrindo meu corpo. Andreas entrou no quarto usando apenas uma calça de dormir, os cabelos presos em um coque, e uma espada em suas mãos. Ele olhou para Apollo que começava a se levantar e então para mim que estava encolhida próximo a parede. Ele largou a espada e veio na minha direção.

— Você está bem? — Ele estendeu a mão para me tocar, mas eu me encolhi ainda mais. Ele olhou para Apollo e então para mim que estava trêmula e chorando — O que aconteceu? — Apollo se levantou e veio na minha direção, mas eu me afastei.

— Freya eu...

— Fica longe de mim!

Tentei controlar minha respiração ou a tremedeira em meu corpo. Meu coração estava batendo descompensado e meu corpo inteiro estava gelado, embora minha pele estivesse quente. Minha mente era uma confusão de imagens. Apollo sobre meu corpo, suas mãos em meu pescoço, seus olhos neblinados e perdidos, seu corpo sendo lançado com violência para longe por algo que em senti sair de mim. Os dois machos deram um passo para trás quando me levantei e puxei o lençol tentando cobrir o máximo possível do meu corpo. O rosto de Apollo era uma mistura de surpresa e agonia, sua mão ainda pairava no ar, entre nós dois, como se ele estivesse paralisado ali, seu peito e rosto estavam cheios de arranhões da minha luta para tentar soltar de suas mãos. Andreas permanecia com seus olhos fixos em mim, em meu pescoço onde provavelmente estava marcado com as mãos dele. A parede atrás dos dois tinha um buraco que dava para ver o banheiro. Andreas seguiu meu olhar e então olhou para Apollo, ainda paralisado, a mão ainda no ar, seu olhar fixo em mim. Ele olhou para mim por fim e falou.

— Como fez isso? — Ele estava se referindo a parede, ao fato de eu ter lançado Apollo contra a parede com força o suficiente para destruí-la. Ele sabia que eu não teria força física para isso, nem mesmo ele tem. Ele sabia que foi um tipo diferente de força, uma que eu ainda estava tentando assimilar.

— Eu não sei... eu só... — Minha garganta se fechou e o choro não me deixou completar a frase. Apertei o lençol contra meu corpo — Eu quero ficar sozinha — Pedi, a voz quase em um sussurou enquanto olhava para a cama revirada.

— Freya...

— SAÍAM! — Andreas engoliu seco o que iria falar e puxou Apollo, que não protestou, para fora do quarto.

Desabei assim que a porta se fechou, levei as mãos ao rosto e deixei que a dor e o medo, que o desespero e a agonia tomasse conta de mim. Meu corpo ainda estava tremendo, meu coração ainda acelerado e a sensação de algo em meu peito ainda me sufocava, mas eu não tinha forças para tentar evitar nada disso. Eu apenas deixei que minhas pernas cedessem e deslizei para o chão chorando como uma criança.

Horas se passaram, meu corpo não tremia pelo medo, mas ainda está a tendo espasmos pelo choro intenso. Meu coração não estava mais acelerado e minha respiração já está mais controlada. Forcei meu corpo a se levantar e caminhei até o banheiro ligando a banheira. Enquanto a água caia, olhei para o buraco na parede tentando enteder como fiz isso, como consegui acessar esse poder e como poderia ter sido tão forte a ponto de fazer um estrago tão grande. Afastei esses pensamentos qiandoa banheira encheu e entrei nela esfregando todo o meu corpo, como se o ato de passar a esponja repetidas vezes sobre ele fosse tirar de mim a sensação das suas mãos em meu pescoço, como se isso fosse o bastante para afastar todo o pânico que tomava o meu corpo quando me lembrava dele sobre mim, me sufocando. Terminei de tomar o banho e coloquei um vestido, não me importei em pentear o cabelo ou arrumar a bagunça do quarto. Eu tinha que encontrar Apollo, seja lá o que aconteceu, não era ele, eu podia ver em seus olhos que estava sonhando ou alucinando. Tive a certeza disso quando vi a agonia em seu rosto ao ver o que havia feito a mim. Não consegui olhar meu reflexo no espelho quando passei por ele, não queria ver as marcas que ele havia deixado em meu corpo. Desci as escadas devagar quando ouvi a voz de Andreas vindo da sala de jantar. Parei no penúltimo lugar quando ouvi sua pergunta.

— Que sonho foi esse que te fez quase mata-la? — Sua voz estava baixa, mas carregada de ódio. Olhei para a sala e vim Apollo sentado na cadeira, os olhos distantes enquanto olhava pela janela o seu começando a clarear, Andreas estava de pé a sua frente, uma mão na mesa e a outra na espada na sua cintura. Ele agora usava uma camisa branca, assim como Apollo.

— O acordo que fiz com Cassandra. Isso tem me atormentado a meses, mas ontem foi pior — Sua voz estava distante e sombria, seus olhos não se desviaram da janela. Andreas passou as mãos pelos cabelos pretos.

— Que diabos de acordo foi esse Apollo?

— Cassandra queria sangue, queria uma alma humana para torturar e eu fiz um acordo para que essa alma não fosse Freya — Minha respiração falhou quando ele começou a explicar e precisei de toda a minha concentração para me manter de pé — Ela ficou feliz quando ofereci as irmãs de Freya por ela, concordou de imediato contando que pudesse fazer um pequeno show no salão do trono. Eu só não sabia que ela pegaria você, que forçaria Freya a escolher e que no final, tentaria mata-la do mesmo jeito...

Não sei como acabei parada na porta da sala de jantar, mas ali estava eu, parada diante dele enquanto ouvia ele confessar a Andreas o que fez. Ele se levantou no momento que me viu e deu um passo na minha direção. Dei um passo para trás, incapaz de conseguir olhar para ele. Minha mente era uma confusão de lembranças. Não fui o único a fazer acordos dos quais não concorda. As palavras de Aaron me atingem o estômago assim que as imagens das minhas irmãs ajoelhadas, amordaçadas e em pânico preencheram minha mente, seguidos da gargalhada de Cassandra e do desafio que ela me lançará. Lembrei de Apollo questionando o que ela estava fazendo, eu sempre achei que aquilo fosse uma tentativa de para-la, a primeira desde que eu havia sido levada para lá, mas não era, ele só estava surpreso por seu acordo não ter dado certo. Senti meu estômago se embrulhar e não consegui evitar de vomitar tudo que ainda tinha em minha barriga. Dei mais alguns passo para trás e me encostei na porta. Minhas pernas estavam fracas e eu mal conseguia me manter em pé.

— Freya...

— Vendeu minhas irmãs... — Minha voz falhou quando o choro travou minha garganta.

— Fiz para salvar você... — Ele veio na minha direção, mas parou quando olhei para ele, toda a dor e o ódio, o sentimento de traição, a irá, o medo, o desespero. Tudo que eu estava sentindo nesse momento refletidos em meu rosto. Ele engasgou — Eu sinto muito — Seu sussuro era quase inaudível.

— Sente... você sente muito? — Inclinei a cabeça para o lado enquanto suas palavras repetiam na minha cabeça. Engoli o choro e tranquei os dentes — Sente por ter vendido minhas irmãs para serem torturadas ou por ter sido enganado? — Ele se encolhi. Olho para Andreas que era um misto de sentimentos enquanto se apoiava na mesa, como se ainda estivesse digerindo o que havia escutado, assim como eu.

— Sinto muito ter ido tão longe para tentar te salvar — Ele abaixou a cabeça, como se procurasse uma forma de falar aquilo — Mas eu faria qualquer coisa para salvar você — Meu estômago se embrulhou novamente.

Olhei para ele. Aquele era o macho que eu amava, por quem eu voltei, por quem eu sofri numa cela por meses. O macho por quem eu morri e voltei como o que sou hoje. Era por ele que eu seria capaz de qualquer coisa, que eu fui ao meu limite, o macho com quem estava disposta a passar o resto da minha vida. Aquele era o macho que vendeu minhas irmãs para serem torturadas no meu lugar, que não tentou me ver uma única vez enquanto estive presa naquela cela, que deixou que eu apanhasse, fosse humilhada e morresse. O macho que escondeu as coisas de mim, que me trancou nessa casa como se eu fosse um animal de estimação, que se preocupou em obter informações quando voltei do Reino de Inverno. Minha ficha caiu diante dos meus olhos e o que eu via agora era diferente do que eu achei que era. Levei a mão até meu peito sentindo aquela mesma sensação que senti pela manhã. A sensação de que uma bolha de ar se formava dentro de mim começar a aumentar e respiro fundo balançando a cabeça.

— Eu não quero ouvir mais nada.

— Freya — Ele veio na minha direção, mas dei as costas e subi as escadas tão rápido que em segundos já estava diante do quarto. Ele apareceu logo atrás de mim, seguido por Andreas. Entrei no quarto e fui até o armário pegando roupas e jogando sobre a cama — O que está fazendo? Vamos conversar — Ele questiona assim que pego a bolsa sobre o guarda-roupa.

— Eu vou embora desse lugar — Falo enfiando as roupas na bolsa de couro — Eu não tenho nada para falar com você, eu não quero ouvir seus motivos ou explicações, eu não quero nem mesmo olhar para você — Falo enquanto coloco tudo na bolsa, ele toca meu braço e me afasto alguns passos.

— Não vou deixar ir embora assim, para onde vai? Voltar para casa do seu pai? É perigoso demais — Solto uma risada de escárnio. Não havia humor, apenas um ódio crescente a cada palavra dele.

— Não pode me prender aqui

— Não quer me ver, ótimo. Eu vou embora e volto quando estiver pronta para conversar, mas você não vai sair dessa casa — Ele me dá as costas e sai do quarto. Andreas o segui.

— Apollo, o que está fazendo? — Ele não respondi o irmão. Saiu do quarto com a bolsa.

— Não pode me impedir de ir embora — Passo por eles e Apollo me segura pelos braços. Tento lutar contra seu aperto e ele me solta me fazendo perder o equilíbrio.

— Você não vai sair dessa casa. E você fique fora disso — Ele fala para Andreas quando ele faz menção de vim até aqui. Sua voz se torna gutural, como a voz da besta que ele se torna, seus olhos brilham e suas garras saltam para fora.

— Não sou sua prisioneira — Grito me levantando e ele rugi para mim. O som faz o chão sob meus pés e as paredes do corredor tremer. Me afasto sentindo todo o meu grupo estremcer e até Andreas se afasta e se ajoelha imediatamente. Olho para ele sem conseguir falar nada e ele grita para mim.

— NÃO VOU TE DEIXAR IR EMBORA!

— Apollo... — Ele desci as escadas seguido por Andreas que nem mesmo me olha quando passa por mim.

Meu corpo estava trêmulo e meu coração batia tão forte que podia saltar do meu peito a qualquer momento, o cheiro de metal e lavando invadem minhas narinas no momento que ele se afasta e eu sabia que era sua magia. Seu rugido ainda ecoava pelo meu corpo e um zubido em meu ouvido me deixava surda. Tento me mover, mas minhas pernas falham e acabo tropeçando e caindo. Olho para os dois machos saindo da casa e a porta se fecha logo em seguida. Minha cabeça estava rodando. Tudo que eu ouvia era o zumbido em meu ouvido e meu coração saltando pelo peito. Fique com o rei. Não consegui me levantar, meu corpo não conseguia se mover. Eu estava deitada naquele chão, com frio, tremendo e apavorada. As paredes ao meu redor pareciam diminuir. Ele te manterá a salvo. Eu estava sufocando. Tentava respirar e era como se lâminas cortassem minha garganta. Apenas fique com o Rei. Minha cabeça estava leve, tão leve que eu podia jurar que não a sentia. Meus olhos estavam pesados e eu estava com frio. Eu estava com muito frio. Minha visão estava escurecendo e eu não conseguia ver ou ouvir nada ao meu redor. O chão estava duro sob meu corpo. Fique com o Rei. Eu estava apagando, eu podia sentir a consciência me deixar. Fique com o Rei. Senti mãos me envolverem e me puxarem para cima. Não protestei quando essas mãos me tiraram do chão. Não tinha forças para lutar, não queria lutar. Eu estava com frio, mas braços fortes me envolveram e me aconcheguei a parede firme porém macia e quente a qual meu corpo estava próximo. Fique com o Rei. O cheiro era familiar, mas eu estava exausta demais para lembrar, para sequer erguer o rosto e ver quem era. Fechei os olhos devagar deixando que a exaustão e a escuridão tomassem conta de mim. Fique com o Rei.

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Comments

corrinha

corrinha

esse rei que é mensionado sempre na cabeça dela eu pensei que fosse o Apollo mais dá a entender que se trata do luki é isso

2023-11-21

1

corrinha

corrinha

a Cassandra vence no final das contas mesmo estando morta

2023-11-21

1

corrinha

corrinha

autora você está transformando o Apollo num vilão é isso mesmo? não acredito 😞😞

2023-11-21

1

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