Capítulo 10. Correria

Marconi entendeu que ela deveria  estar confusa e envergonhada e por isso, perguntou com suavidade:

— Como você está?

Donna foi afetada pela mansidão do homem, que estava sempre presente nas suas situações mais vergonhosas e não teve coragem de brigar com ele, mas também não queria falar mais nada.

— " Me deixa, tá legal, tenho coisas a resolver. " — desligou sem se despedir.

Marconi ficou olhando para o aparelho, que emitia aquele som chato de ligação interrompida e desligou, resolvendo ir até a casa dela e ver como ela estava, pessoalmente.

*

Klari saiu de seu atelier para fazer uma ligação. Precisava resolver a situação com Clive, que era seu amigo, mas também, seu advogado. Depois do que ele fez, não podia mais confiar nele, então ligou para Antônia:

— " Oi, querida, foi um sucesso sua exposição, amei o quadro que comprei, pena que não pude ficar mais tempo. Parabéns! "

— Obrigada, Antônia, mas aconteceu algo muito constrangedor e preciso da sua ajuda.

Antonia ficou preocupada com aquela menina/mulher, que parecia atrair os problemas.

— " Diga, menina, o que aconteceu e o que posso fazer pra te ajudar. "

— Clive colocou uma droga na minha água, ontem. Preciso de outro advogado, um que seja muito bom, pois minha data limite é sexta-feira.

— " Ele conseguiu fazer alguma coisa com você? " — perguntou Antonia, preocupada.

— Não, mas não dá pra confiar mais nele.

— " Tudo bem, mas depois você vai me contar essa história nos mínimos detalhes. Daqui a pouco eu te retorno."

Antonia tinha um cliente muito especial, que ela sempre atendia pessoalmente. Ele só atendia causas importantes, era um homem experiente e foi para ele que ela ligou. Depois de meia hora, Antonia retornou a ligação.

— Então, conseguiu? — atendeu Klari.

— " Sim, ele está te esperando,mas precisará de todos os dados do processo. "

— Obrigada, Antonia, vou passar no escritório de Clive e pegar, antes de me encontrar com o novo advogado.

— " Tome cuidado, te passarei o nome e o endereço dele por mensagem. Boa sorte."

Desligaram e Klari se preparou para sair, quando a campainha tocou. Não atendeu, ligou para Norma e desceu pela escada da loja. Olhou disfarçadamente, pela vitrine e viu que era Marconi.

— Não quer falar com ele? Ele parece preocupado com você…

— Mas eu preciso sair, não tenho tempo e nem posso falar com ele. Vá lá e distraia ele, para eu chegar ao meu carro, por favor.

— Tá, tá bom, mas acho que você devia falar com ele.

Norma saiu e cumprimentou Marconi:

— Bom dia, ela não está em casa.

— Mas acabei de falar com ela no telefone.

Norma passou por ele, fazendo ele ficar de costas para a loja e Klari saiu pisando na ponta dos pés e correu até o carro, entrou e saiu com ele em direção a cidade. Marconi ouviu o som do carro saindo e se virou para ver a traseira do carro, partindo.

— Mas… — virou-se, olhando irritado para Norma — você me enganou!

— Eu só disse a verdade.

Ele bufou e foi para seu BMW preto e saiu, veloz, para alcançar o carrinho. 

Klari viu, pelo retrovisor, o carro chamativo do outro lhe seguindo e ficou com raiva do stalker. Não deu mais atenção para ele, estava indo para o escritório de Clive e ele perceberia. Talvez fosse até bom ele chegar, imporia mais respeito e Clive a atenderia com mais facilidade.

Estacionou e seguiu para o prédio, pegou o elevador e chegou ao escritório.  A secretária tentou impedi-la, mas ela foi mais rápida e entrou no escritório dele sem bater.

— O quê é isso…? — começou a perguntar Clive, mas parou ao ver que era Klari — Pode deixar senhorita Vânia, eu recebo a senhorita Jonathan.

— Oi, Clive, desculpe entrar assim, mas é urgente. Você pode pegar todos os documentos sobre o meu caso, por favor, quero examinar novamente.

— Você está bem, Klari? Percebi que estava meio estranha quando foi embora da exposição, ontem à noite.

— Ah, sim, estou bem, sim. Pode me dar o que pedi.

Clive achou estranho ela pedir os documentos e por um instante ficou observando-a. Tinha preparado uma noite especial para os dois e por isso colocou a droga em seu copo de champanhe. A bebida, com certeza ampliaria os efeitos da droga e ele conseguiria ter o que sempre quis, mas ela nunca lhe deu.

— Que bom que você está bem. — falou enquanto pegava algumas pastas dentro do arquivo e uma caixa de documentos na estante. — Aqui está. Tudo que pesquisei e a documentação de todo o processo da herança e da empresa.

— Era isso mesmo que eu queria.

— Você realmente ficou bem ontem? Fiquei preocupado, quando vi Marc te levar para casa. Ele te levou para casa, não foi?

A porta se abriu novamente e outra pessoa entrou sem bater.

— Sim, eu a levei para casa e cuidei dela, depois que você a drogou.

A cara de Clive foi ao chão, com a surpresa e se perguntou : como ele sabia? 

— Também quero a procuração que dei a você.

— Por quê, está me dispensando?

— Sim. Cale a boca e me dê a procuração.

Clive entendeu, já que ele sabia que ela não tinha se apresentado para Marconi, era uma das coisas principais do processo, não deixar que ele soubesse quem era ela. Não quis complicar mais as coisas e comportou-se como ela queria. Pegou a procuração que estava em um envelope, na última gaveta trancada de sua escrivaninha e entregou a ela.

— Aqui está, Klari, mas seja lá o que aconteceu não tenho culpa.

— Não adianta negar, Clive. Eu tenho uma gravação com você colocando a droga em minha água, se você fizer alguma coisa mais contra mim, usarei o vídeo para te denunciar. O pior para mim, é que eu confiava em você como um verdadeiro amigo e você me traiu da forma mais vil possível.

Não se despediu, colocou as pastas dentro da caixa, tampou e saiu da sala segurando-a. Não olhou para Marconi, queria que ele sumisse. Não podia dar oportunidade dele descobrir quem ela era, realmente.

Seguiu para seu carro, estranhando não vê-lo atrás dela e aproveitou para pegar um táxi e despistar ele. 

— Ótimo, ele vai ver com quantos paus se faz uma canoa.

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