Capítulo 4. Papo de Amiga

— Aqui estão as flores, mas quero saber tudo sobre aquele pecado de homem.

Ela colocou os vasos, quatro grandes e um com uma única rosa branca, no chão, e Klarice pegou-os e distribuiu pela sala.

— Se gostou tanto, fica pra você!

— Mas se eu fosse você, não me desfazia dele assim, não. Nossa, você está pura terebentina…— tampou o nariz com dois dedos. 

— Desculpe, só parei agora, obrigada por trazer as flores, elas vão ajudar.

— Você reparou que no meio das rosas vermelhas, tinha essa rosa branca?

— Não, na verdade, nem olhei muito para elas.

— Ele veio te pedir perdão e mostrar que está apaixonado por você. Não sei o que aconteceu com vocês, mas a atitude dele foi muito romântica.

— Minhas emoções estão uma bagunça…

— Você está cozinhando?

— Sim, acredita que esqueci de almoçar?

— Então, deixa que eu termine e vá tomar um banho ou esse cheiro vai matar as rosas e elas não merecem.

Klarice sorriu, agradeceu e correu para o banheiro, para se lavar com um sabonete especial e tirar aquele cheiro. Colocou a roupa em uma pequena lavadoura, que tinha no banheiro, para esse fim e saiu do banheiro, limpa e cheirosa.

A comida estava pronta  quando chegou à cozinha e Norma serviu a mesa.

— Vai comer comigo? Liga para o seu marido e avisa, para ele não reclamar depois.

— Já avisei, boba. Você acha que eu ia conseguir dormir, sem saber da fofoca?

— Ah, não tem muito mais do que você já sabe. Ele é o empresário que acompanhei, só que no último dia, tomei um pilequinho de champanhe e acordei na cama dele.

O /Ô\ que Norma fez, foi digno de ser fotografado, pena que não deu tempo ou daria um ótimo meme.

— E você conta assim, com essa naturalidade?

— Não vou ficar chorando sobre o leite derramado…

Norma deu uma gargalhada, depois tampou a boca com a mão  e se desculpou.

— Desculpe, mas esse ditado não pegou muito bem. Pelo menos ele usou camisinha?

— Não sei, mas tomei a pílula do dia seguinte.

— Você sabe que essa pílula não tem cem por cento de eficácia, principalmente se você ovulou naquele dia e o bichinho dele for potente — deu ênfase no potente — aí pode vir um bebezinho por aí.

— Para de me assustar, Norma! Que amiga é você?

— Só tô constatando um fato.

— Então esquece o fato que é melhor.

Norma se inclinou para ela e perguntou baixo:

— Pelo menos ele é bom de cama?

Klarice quase a expulsou de casa.

— Isso é pergunta que se faça? Eu estava bêbada e além disso, não tenho como comparar, esqueceu?

Norma deu risada de novo.

— Morde aqui — estendeu o indicador dobrado, para ela — , é ruim que você não se lembra, você tá é com vergonha de ter gostado.

— E eu achando que tinha uma amiga. — resmungou Klari, virando os olhos.

— Come, querida, come, não se sabe se você está comendo por dois.

— Arrrrrhhhg

Norma colocou um pedaço de carne na boca de Klari, para ela parar de reclamar e as duas começaram a comer.

*

No escritório de Marconi, seu assistente estava abismado com o comportamento do patrão, que sempre foi sisudo e mandão, administrando tudo com mãos de ferro e agora está desligado, totalmente desatento dos negócios.

— Está na hora da reunião, senhor!

— Que reunião?

— Com os funcionários representantes da empresa do falecido Jonathan.

— Ah, essa reunião. O que eles querem?

— Conhecer suas intenções, por causa dos funcionários.

Romão estava ficando desesperado, pois já tinha passado e repassado, os planos para aquela empresa encampada e o patrão parecia ter esquecido tudo.

— Tá, vamos lá, vou dispensá-los, estou sem cabeça para resolver isso agora, quero esperar pela filha do sujeito.

— Tem certeza? O senhor planejou isso por tanto tempo, esqueceu de sua vingança?

— Acontece que, o desgraçado, deu um tiro nos miolos. Agora só resta a filha e ela vem quitar a dívida em duas semanas. Quero olhar em seus olhos e humilhá-la, da mesma forma que seu pai fez comigo.

— Vamos, então, senhor?

— Sim, de repente, demito todos eles, vai depender da herdeira de Jonathan. 

Marconi Gregorius cresceu de baixo, era órfão e fugiu várias vezes dos orfanatos, até que um homem bom o ajudou e lhe deu um emprego. Infelizmente o sócio desse homem, vivia o escorraçando e humilhando diante dos outros, chamando-o de imprestável filho de ninguém.

Quando o homem morreu, o sócio mau, o demitiu por justa causa, forjando um roubo e sujando sua carteira de trabalho.

Mas aquele que o havia ajudado, lhe deixou metade de suas ações, a casa onde morava e todos os seus bens, pois também era órfão e nunca formou família. Então, Marconi projetou sua vingança, iniciou seus investimentos, pois com a carteira suja, não conseguia emprego em lugar algum.

Precisou aprender rápido, as artimanhas do negócio e agora, com 31 anos, conseguiu seu intento de acabar com os negócios do seu algoz do passado, mas infelizmente, o covarde se matou.

Mas não tinha problema, sua filha devia ser igual a ele, se vingaria nela.

Os dois entraram na sala de reuniões e haviam quatro homens à sua espera, dois eram diretores de sua empresa e os outros dois, eram diretores da empresa de Jonathan.

— Olá, senhores. Concordei em recebê-los, mas não vejo razão para isso, enquanto o prazo que dei para a senhorita Jonathan quitar sua dívida, não expirar.

— Desculpe a ansiedade, senhor, mas é que os funcionários estão preocupados e isto está atrapalhando a produção e funcionamento da empresa.

— Pois diga para eles, que independente de quem fique com a JonArm distribuidora, se eles não trabalharem, não vão receber e se houver demissões, os rebeldes serão os primeiros a sair. É isso, com licença.

Marconi saiu da sala, dando o assunto por encerrado e sem olhar para trás, chegou a sua sala e a primeira coisa que fez foi ligar para a galeria de arte e perguntar quando seria a próxima exposição de Klari e avisou ao assistente:

— Exposição de arte…

— Está anotado, senhor.

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