Carmem olhou para ele, olhos arregalados e sem ter o que dizer. Não sabia se ele falava sério ou não tinha noção de quanto custava todo aquele acervo. Klarice era uma pintora consagrada, seus quadros muito apreciados, eram procurados com frequência e por isso as vernissages eram tão concorridas.
Os quadros em exposição neste dia, talvez até já estivessem desfalcados, pois alguns foram comprados logo que a galeria abriu as portas. Ela abriu o tablet que trazia consigo e verificou as vendas.
— O acervo tem 25 obras e destas, 12 já foram vendidas, tem também o painel é claro.
— Quero todos que estiverem à venda, imediatamente, antes que outro compre. O custo não será problema, tenho conhecimento do valor dessas obras.
— Ok, então — digitou em seu tablet —, está feito, vou pedir ao meu assistente para calcular o valor e já lhe passo. Venha, vou lhe mostrar as obras.
Iniciaram pelo lado esquerdo do salão, que tinha uma divisória central, onde estava exposto o mural.
— A artista não está presente?
— Sim, está, ela cumprimenta um por um, quando terminam de ver a exposição.
— Entendi, me parece muito interessante, abstrato, porém com uma clara intenção.
— Exatamente, a artista usa cenários abstratos, mas remetendo a lugares reais, representando suas emoções. No caso, ela é o lenço.
Marconi olhou o primeiro quatro e tinha um lenço flutuante, em um local cheio de cores e assim seguiu, o lenço em lugares diferente, mais claros ou coloridos, expandido ou encolhido e quando chegaram ao final daquele lado, na parede de fundo, estava o quadro com pinceladas fortes, dividindo a tela em tons claros e escuros e o lenço no meio, também divido, pousado, como se estivesse no chão.
Dali em diante, ele percebeu a mudança, como se algo ruim tivesse acontecido e perturbasse a vida da artista.
— O que aconteceu?
— Não tenho autorização para falar, mas você verá que foi uma grande transformação e apesar do peso das cores, ela passa uma gama de emoções conflitantes e sua arte fica ainda melhor.
— Estou vendo, espero ter conseguido ficar com alguns desses.
— Deixe-me ver — consultou o tablet —, você ficou com o lua de sangue, o Lágrimas, que é esse de chuva na janela e com esse, Perdão.
Ele sorriu ao ver o quadro, eram círculos vermelhos por toda a tela e no meio um branco. Parecia o buquê de rosas que ele lhe deu.
— Amei, obrigado.
— Veja o painel.
— Uau, é lindo! Ficará ótimo no lob do grande hotel.
Tinha um fundo colorido e o lenço flutuava em uma sequência, em que se abria e movimentava, como se fosse soprado por uma brisa.
— Terminamos, vou lhe apresentar a artista.
— Já nos conhecemos. Sabe se o meu convite já chegou?
— Sim, logo estarão aqui. Quer ir até eles?
— Não, deixe que cheguem, quero ver a artista.
Seguiram até um espaço, onde algumas pessoas se aglomeram e Carmem pediu licença.
— Com licença, pessoal, tem outros convidados querendo cumprimentar a artista. Estou vendo que gostaram muito. Obrigada, tem uma mesa com buffet servido na sala ao lado, sirvam-se à vontade.
Alguns se afastaram, segurando suas taças de champanhe e Marconi contemplou a mulher feminina e linda, como a viu nos três dias em que foi sua acompanhante.
— Klari, o senhor Gregorius comprou vários quadros.
— Como vai, Gregorius? Obrigada. Pelo visto, gostou das pinturas. — perguntou, sendo educada.
— Estou bem, gostei muito da maneira como expressou suas emoções. Queria ter comprado todos, mas cheguei tarde.
— Todos? Mas para que todos?
— Tenho muitas paredes para colocá-los e também é um excelente investimento.
— Obrigada, então. Gostou de algum em especial?
— Sim, do Perdão.
Ela corou e baixou os olhos. Não deu tempo de falar nada, pois Carmem anunciou:
— Seus amigos estão se aproximando, vou cumprimentá-los.
Ela deu três passos para trás e cumprimentou-os:
— Olá, sejam bem vindos, eu sou Carmem, a curadora. Gostaram da vernissage?
— Oh, sim adoramos e gostaríamos de adquirir um dos quadros.
Marconi olhou para seu diretor financeiro e sua secretária e, pedindo licença a Klari, se aproximou deles com um sorriso que não lhe chegava aos olhos.
— Infelizmente para você, comprei os últimos.
O olhar dos dois, para ele, foi impagável. A primeira a sair da paralisia, foi a secretária:
— Olá, senhor Gregorius, não sabia que viria.
— E por quê eu não viria?
— Pensei que não gostasse desse tipo de eventos, Marconi. — disse, Dener, o diretor.
— Como não, se sou eu que compro todos os quadros de nossa empresa e dos hotéis?
— Desculpe, eu não sabia. — respondeu o homem, profundamente envergonhado.
— Não se sinta envergonhado. — provocou-o — Você não tinha como saber, pois compro tudo com meu "cash" pessoal. Mas acho que Melissa sabia, não é mesmo?
— Parece que você os conhece bem, Marconi. — disse Carmem.
— Sim, é minha secretária e meu diretor financeiro.
— Já conhecem a artista que pintou os quadros?
— Ah, não, adoraria conhecê-la! — exclamou Melissa, doida para usar a fama da artista para se promover.
— Venham comigo.
Voltaram a se aproximar de Klari, que bebia o líquido cheio de bolhas de uma taça. Marconi se preocupou e perguntou em seu ouvido:
— Não tem medo de exagerar na bebida?
— É água com gás. — cochichou ela.
Ele sorriu, percebendo seu engano, mas ficou de olho nela o restante da noite e não gostou de ver um certo conhecido, se aproximando dela.
— Olá, Klari! Como sempre, você atrasou, pena que não consegui comprar nenhum.
— Mas, Clive, você já tem várias de minhas outras coleções. Conhece Marconi Gregorius?
— Como não? Como vai Marconi? Deve ter sido você que não deixou nenhum quadro para mim.
— Pois é, principalmente os que foram pintados especialmente para mim. — alfinetou-o com palavras.
Clive franziu a testa, sem entender e perguntou a Klari:
— Eu sou teu amigo há tantos anos e você nunca pintou um quadro para mim.
— Pintei sim, você que nunca notou!
— Mesmo?
Marconi se encheu de ciúmes e passou a prestar atenção a todos os movimentos dele. Também conhecia Clive muito bem e o que costumava fazer com as mulheres. Não se arrependeu, pois no final do evento, viu o que não queria ver.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Elis Alves
julgando o outro igual a ele?? 🙄
2024-12-17
2
Maria Helena Macedo e Silva
nem todo ciumento significa que ama, mas todos que amam tem ciúmes do que ama⏳
2024-09-19
0
Celia Chagas
Eita que esse amigo não me parece confortável 😕
2024-04-30
9