Capítulo 09

Após aquela discussão, passei as mãos pelos cabelos, bagunçando-os em um gesto automático de frustração. Caminhei diretamente até a chácara, fui até o quarto, arrumei minhas malas e as joguei no porta-malas do carro com raiva. Passei esta semana inteira aqui porque aquele garotinho me chamou a atenção de um jeito inexplicável. Estava tão envolvido com ele que, por vários dias, voltei até o campo onde o vi pela primeira vez. Mas ele não apareceu mais. Vinicius ficou dias sem ir até lá para jogar bola, e eu, nesse estranho estado de euforia e inquietação, acabei desmarcando uma gravação importante. Remarquei tudo para outra data. No fim, foi até melhor. Com a cabeça tão cheia, não daria conta de atuar com qualidade.

Entrei no carro e segui direto para a cidade. Quando cheguei ao meu apartamento, larguei as malas no canto da sala, joguei as chaves e a carteira sobre o criado-mudo, e tirei rapidamente o paletó e as roupas. Tomei um banho longo, tentando aliviar o peso daquela semana. De volta ao quarto, meus olhos bateram no livro preferido da minha ex-esposa. Aquele mesmo que ela lia tantas vezes e que, de algum modo, sempre trazia um significado escondido.

Peguei o livro e o abri. Ela havia rabiscado a capa com uma caneta. Já tinha lido aquela história várias vezes, mas nunca tinha reparado na frase que ela escrevera ali:

"Confiança: uma vida para conquistar, segundos para perder."

Aquilo me atingiu em cheio. Com fúria repentina, joguei o livro contra a parede. Levantei da cama tomado por uma ira que parecia me consumir por dentro. Justo ela falando de confiança? Ela, que escondeu meu filho de mim por três anos? Senti o sangue ferver. A raiva tomava conta a ponto de me fazer querer explodir tudo.

Sim, eu errei. Cometi muitos erros. Mas Brenda também errou — e feio. Ela me puniu da pior forma possível. Eu pedi para recomeçar, falei que não queria o divórcio, que poderíamos tentar reconstruir tudo. Disse com todas as letras que ainda a amava. Mas ela, teimosa como sempre, preferiu seguir em frente sozinha. Sabendo que estava grávida, ela simplesmente me apagou da vida dela.

— Hipócrita... é isso que ela é! — murmurei, antes de arremessar uma jarra de vidro contra a parede do quarto, que se estilhaçou com um barulho seco.

Se eu soubesse da gravidez na época, nunca teria deixado ela ir embora. Nunca teria assinado aquele maldito divórcio. Mas ela fez tudo às escondidas. Entrou com o pedido por conta própria e só me ligou quando já estava a caminho do cartório. Lembro perfeitamente daquela ligação. Estava com o diretor da produção discutindo o vazamento das fotos nos jornais. Quando atendi, ela simplesmente disse que eu precisava comparecer para assinar os papéis. Aquilo foi como um soco no estômago. Me pegou de surpresa. Não me deu tempo de explicar nada, nem o que havia acontecido, nem por que aquelas fotos existiam.

Depois de alguns minutos em silêncio, me acalmei. Caminhei até onde o livro havia caído e o peguei do chão. Li algumas páginas. Era uma história de amor intensa, e irônico como só a vida consegue ser, me fez lembrar de nós dois. Lembrei da confiança que tínhamos, da cumplicidade. Do casamento na igreja, das lágrimas emocionadas nos olhos dela, do sorriso que eu amava admirar. Hoje, tudo parece tão distante. Mas no fundo, sei que nunca superei Brenda. Esses dois anos não foram suficientes para apagar o que ela representa pra mim. O amor que sinto só estava adormecido. E agora está acordando, furioso.

Mesmo com minha rotina acelerada de ator e modelo, nunca ficávamos muito tempo longe um do outro. Sempre dávamos um jeito de nos ver, de manter aquele vínculo. Tínhamos nossos momentos — viagens rápidas, finais de semana em casa, jantares improvisados. A presença dela era parte essencial da minha vida.

Meus músculos se tensionaram à medida que as lembranças se tornavam mais vívidas. Os toques dela, as risadas, o jeito que me olhava, a entrega sem reservas. E eu, sempre louco por ela. Era uma conexão física e emocional que nunca consegui repetir com mais ninguém. Tive outras mulheres depois dela, claro. Mas nenhuma foi capaz de me despertar o que Brenda despertava. Nenhuma chegou perto.

Preciso dela. Preciso de volta tudo aquilo que me completava. Preciso criar uma situação para me aproximar novamente. Urgente. Antes que seja tarde demais.

Peguei o celular, hesitando por um segundo. Mas fui até o Instagram e procurei pelo nome dela. Depois de muito procurar, encontrei uma conta que parecia ser dela. As fotos eram antigas, não havia publicações recentes. Provavelmente, ela não usava mais. Continuei fuçando, até que encontrei algumas imagens de Vinicius. Uma delas era da festinha de um ano. Nela, Brenda aparecia sorrindo, ajudando nosso filho a cortar o bolo.

Meu peito apertou. Sorri, mesmo que com tristeza. A legenda mostrava que a foto havia sido postada exatamente hoje. Hoje era o aniversário de três anos do nosso filho. E ela não me disse nada. Nenhuma palavra. Mas, independentemente disso, eu decidi: estarei lá. Convite ou não, aquele também é meu filho.

Sentei à beira da cama, coração acelerado. Olhar perdido entre o celular e o vazio. As imagens dos dois juntos me emocionaram. Fiquei paralisado por alguns minutos. Alegria, mágoa, culpa e desejo de consertar tudo se misturaram dentro de mim como um redemoinho. Decidi agir.

Respirei fundo, peguei o celular novamente e disquei o número de Brenda. O telefone tocou algumas vezes até que ela atendeu.

— Alô? — A voz dela saiu hesitante, quase desconfiada.

— Brenda, sou eu. A gente precisa conversar. — Fui direto, sem rodeios. Não dava mais para adiar.

Houve uma pausa. Silêncio do outro lado. Era como se ela estivesse escolhendo as palavras com cuidado.

— Liebert... não sei se é uma boa ideia — respondeu por fim, num tom incerto.

— Por favor, Brenda. Não podemos seguir assim. Nosso filho está crescendo. Ele precisa de nós dois. Não quero roubar o seu espaço como mãe, mas quero ser pai. De verdade. — Tentei manter a calma, mas meu tom saiu firme.

Ouvia a respiração dela. Ela estava digerindo tudo o que eu disse. Talvez fosse um avanço. Ou talvez ela estivesse apenas exausta.

— Tudo bem. Podemos nos encontrar, mas será a última vez. — Sua voz soava resignada, como quem já não espera nada de mim.

— Combinado. Onde e quando? — perguntei, aliviado por ter uma chance.

— Depois te aviso... — respondeu, e desligou.

Fiquei olhando para o celular por alguns segundos. Mas dentro de mim, já sabia o que fazer. Hoje é aniversário do meu filho. E mesmo sem ser convidado, eu estarei lá.

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Comments

tuca

tuca

então tudo que.ele.quizer vai.conswguri com.beijos é isso.mesmo e ainda.fala dela que.jogou.baixo.hkmmnimwnro

2024-12-29

0

eliziene santos

eliziene santos

isso aí corra atrás do seu filho

2025-01-06

0

Vó Ném

Vó Ném

Ela está sendo muito radical...

2025-03-22

0

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