Capítulo 05

Já faz praticamente um mês que estou na casa dos meus pais. Minha mãe me convenceu a ficar por aqui. Então, como não estou em um lugar desconhecido, e nem no meio de estranhos, resolvi permanecer com eles por um bom tempo. Liguei para meu patrão da floricultura e pedi demissão. Ele pediu para que eu não deixasse o trabalho, disse que eu era uma ótima funcionária. Até prometeu me dar um aumento e vir me buscar aqui, mas não tinha como. A casa dos meus pais é muito distante da cidade, seria inviável manter esse vínculo agora.

Levantei com calma, fui até o berço do Vini. Ele ainda estava dormindo, em um soninho profundo e gostoso. Fiquei ali, observando o meu pequeno. Ele é tão lindo e carinhoso. Vinícius não se parece comigo, mas sim com o pai. Dos cabelos lisos até os dedinhos dos pés, ele é a cópia exata de Liebert. Daqui a dois dias, ele vai completar três aninhos, e parece que foi ontem que descobri estar grávida.

Minha mãe sempre tem conversado comigo, tentando me aconselhar a contar para Liebert sobre a existência do filho. Mas, quando me lembro de tudo que ele me causou, penso que o melhor é esconder isso dele, que ele jamais deve saber sobre Vinícius. É um capítulo da minha vida que prefiro manter fechado.

Quando nos divorciamos, descobri que estava grávida dois dias depois. Já estava sentindo alguns sintomas diferentes, mas não dei muita importância no começo. Comprei alguns testes de farmácia após pesquisar na internet sobre os sinais de gravidez. E quando confirmei, percebi que estava mesmo esperando um filho de um casamento conturbado. Não sabia o que fazer, mas a primeira decisão que tomei foi clara: Liebert não saberia da existência do bebê. E assim tem sido até hoje.

— Bom dia, minha filha — disse minha mãe, entrando no quarto com passos calmos, caminhando até o berço. Ela olhou para Vinícius com um sorriso tranquilo.

— Bom dia, mamãe — respondi, pedindo sua bênção, como de costume.

— Meu amor, só passei para te avisar que tem café passado no bule. Seu pai e eu vamos descer até o estábulo. Hoje estamos organizando tudo para o rodeio, que vai acontecer essa noite — disse ela, animada. — E fique de olho, porque novos convidados vão chegar. Está uma correria aqui. Um diretor de uma agência ligou mais cedo e pediu para usar o campo para um ensaio de fotos. Eles devem aparecer a qualquer momento.

— Tudo bem, mãe, pode deixar — falei, notando como ela estava feliz. A vida no campo realmente fez bem a ela.

Mamãe saiu, me deixando sozinha com Vinícius. Logo ele acordou, choramingando no berço. Sentou-se e coçou os olhos inchadinhos de sono.

— Mamãe — disse ele, manhoso.

— Mamãe está aqui, meu amor — respondi, pegando ele no colo e levando para minha cama.

Conversei com ele até que o choro passasse. Logo seu sorriso voltou, aquele que ilumina meu mundo. Vinícius é assim: acorda impaciente, igual ao pai. Nessas horas, a herança genética pesa.

Preparei o café da manhã dele, dei banho, escovei seus dentinhos e o vesti. O dia passou voando. Brincamos bastante, conversamos, e ainda ajudei minha mãe com a chegada dos visitantes, organizando as acomodações nas chácaras disponíveis. A movimentação foi intensa.

Por incrível que pareça, passei o tempo todo com Liebert na cabeça. Faz tempo que não penso nele de forma constante. E agora, de repente, ele voltou à minha mente com frequência. Sinto como se fosse um tipo de pressentimento, algo prestes a acontecer.

A noite chegou. Dei o jantar de Vinícius e o coloquei para dormir. Minha mãe me chamou para assistir ao rodeio, mas eu não estava me sentindo bem. Além disso, com Vinícius dormindo, não podia deixá-lo sozinho. Papai estava competindo, e eu queria muito vê-lo montado, correndo atrás de um touro bravo. Mas virão outras oportunidades.

Fui até a adega, peguei um vinho, uma taça e fui até a lareira. Sentei e comecei a tomar a bebida devagar. Já tinha tomado metade da garrafa quando ouvi alguém bater na porta. Me levantei, ainda com a taça em mãos, e fui atender. Lembrei das pessoas da agência que viriam e imaginei que talvez tivessem se atrasado.

Caminhei até a porta, abri, e vi um homem de costas, olhando a paisagem da varanda. Fechei a porta com cuidado para não acordar Vinícius e me aproximei.

— Olá, boa noite, senhor. Em que posso ajudar? — perguntei. Quando ele se virou, congelei. A taça caiu da minha mão, quebrando-se em pedaços no chão. — Caramba — murmurei, abaixando para juntar os cacos, mas ele se adiantou. Me afastei imediatamente ao sentir sua aproximação.

— Brenda... — disse ele. Aquela voz que eu não ouvia há dois anos me provocou calafrios. — Você está linda. Sempre foi. Mas agora está ainda mais. O campo te fez bem — completou, com aquele tom cínico.

— O que você está fazendo aqui, Liebert? Fale logo e vá embora — disparei, sentindo a raiva se misturar ao álcool no meu sangue.

— É assim que você trata os novos inquilinos? — ele respondeu, irônico. — Meu diretor ligou para sua mãe. Ela cedeu o campo para um ensaio da agência. Estou aqui trabalhando.

Droga! Eu já deveria imaginar. Era claro que tinha o dedo da agência dele nessa história.

— Me desculpe... me deixei levar — respondi, constrangida. Os problemas entre nós dois não tinham nada a ver com os negócios da minha mãe.

— Não se preocupe — respondeu ele, com um sorriso calmo, irritante.

A vontade que me dava era de gritar. Como ele teve coragem de aparecer aqui? Eu preciso esconder o meu filho. De forma alguma ele pode descobrir que Vinícius existe. Se isso acontecer, ele pode querer me forçar a voltar ou, pior ainda, tirar meu filho de mim. Só de imaginar, meu estômago revirava. A bebida e os pensamentos me deixaram tonta.

— Brenda... — ele disse, percebendo meu desequilíbrio. Me segurou e me levou até o sofá que fica na varanda.

— Não se aproxime de mim de novo. Na próxima vez, não respondo por mim — reclamei, firme.

Detesto que meu corpo me traia. Ele deve ter notado o quanto fiquei abalada. Liebert estava ainda mais bonito do que nas últimas lembranças que eu guardava. Mais forte, mais maduro. Mais homem — se é que algum dia ele foi. Na verdade, continua o mesmo canalha de sempre.

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Comments

Anonymous

Anonymous

Ela tá errada, a criança e o pai tem o direito de se conhecerem, apesar de ele não ter sido um marido exemplar

2023-10-16

48

Mônica

Mônica

Essa conta da separação e da idade do filho não bate, como q o menino vai fazer 3 anos , é tem dois de separados.
Se ela só descobriu a gravidez depois, pela lógica o Vinícius só tem no máximo 1 ano e 4 meses

2025-03-11

0

Elizabeth Fernandes

Elizabeth Fernandes

Tem tem o direito de saber sobre o filho

2025-02-27

0

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