Uma semana havia se passado desde o dia em que vi Liebert. Imagino que ele tenha ido embora, pois não o vi mais em lugar algum. Durante os dias em que esteve por aqui, evitei ao máximo cruzar o caminho dele. Fiz de tudo para manter Vinicius dentro de casa, longe da presença do pai que ele nem sabe que tem. Era como se eu estivesse jogando uma partida perigosa contra o destino, tentando a todo custo impedir que eles se encontrassem.
O que mais me assustou foi quando Helena me alertou que um homem, com características muito parecidas com as de Liebert, havia se aproximado de Vinicius na chácara. Só de ouvir isso, meu coração entrou em alerta. Passei dias preocupada, atenta, revendo cada passo, cada brecha. E se ele tivesse descoberto? E se aquele simples contato fosse o início de algo que eu não conseguiria mais controlar?
A tarde chegou e, por aqui, o calor parecia sufocar até os pensamentos. Nessa região, o verão bate com força. Vinicius, por ser sensível, às vezes ficava enjoado. Lembrei então da cachoeira que havíamos descoberto dias atrás. Aquela água azul e cristalina parecia um pedaço de paraíso escondido. Resolvi levá-lo lá para se refrescar, brincar um pouco e quem sabe, aliviar o calor.
Peguei uma mochila com toalha, lanches e protetor solar, e seguimos até o lugar. Vinicius soltava gritinhos de felicidade ao sentir a água bater no seu corpinho pequeno. Gargalhava como se o mundo não tivesse preocupações, como se tudo ao redor fosse só alegria e liberdade. A felicidade dele é a minha. Sempre foi.
Depois de muito brincar, saímos da água. Envolvi ele numa toalha macia e me sentei com ele em uma pedra à beira da margem.
— E agora? Está contente, não está, meu amor? — perguntei, olhando aquele rostinho que exalava alegria.
— Sim, mamãe! — respondeu com um sorriso que sempre me desarma.
— Então vamos pra casa, tá? — falei, soltando-o para que corresse livre.
Ele saiu correndo pelo caminho, rindo, como se fosse dono do mundo. Eu caminhava logo atrás, sorrindo feito boba... até congelar. O sorriso sumiu. Meus olhos travaram na imagem que eu mais temia ver: Vinicius parado, conversando com Liebert. Ele ainda estava aqui. Não havia ido embora como eu pensava.
— Olha, mamãe! O tio Liebert é meu amigo. Foi ele quem me devolveu a bola! — gritou Vinicius, cheio de entusiasmo.
— Mamãe? — Liebert repetiu, surpreso, encarando-me.
Todo o meu corpo congelou. O sangue pareceu parar de circular. Caminhei apressada, peguei Vinicius no colo, como se quisesse protegê-lo de um predador. Ele estranhou, claro. Não estava acostumado a esse tipo de atitude. Sempre deixei que explorasse o mundo com liberdade, sempre confiei no seu instinto de se conectar com pessoas boas. Mas agora... agora ele estava diante de um homem que podia virar nossa vida do avesso.
Nos braços, Vinicius se contorcia, querendo se soltar. Enquanto isso, Liebert me olhava. Um olhar que misturava surpresa, confusão e algo mais — como se começasse a encaixar as peças.
Liebert não é bobo. Jamais foi. Eu sabia que, naquele instante, ele já estava ligando os pontos. E como um animal que finalmente encontra o que procurava, ele veio até mim, com passos lentos, mas firmes. Os olhos semicerrados, examinando cada detalhe, lendo a verdade escrita no meu rosto.
— Vem cá, campeão — disse ele, estendendo os braços.
Para meu desespero, Vinicius correspondeu. Estendeu os bracinhos para o colo dele, sorrindo, como se o conhecesse desde sempre. Aquilo partiu meu coração em mil pedaços.
Liebert o segurou com delicadeza. Sorriu para ele, com carinho verdadeiro. O tipo de sorriso que ele só usava comigo. Ou que usava... antes de tudo desmoronar.
— E aí, campeão? Se divertiu bastante? Foi legal o banho na água fria? — perguntou ele, passando a mão nas costas do menino.
Eu permaneci ali, parada, observando os dois juntos. Era surreal. Como podiam se conectar assim? Como se a ausência de dois anos não tivesse existido? Como se sangue reconhecesse sangue, instintivamente.
Então ele me olhou, direto, firme.
— Ele é meu?
Quis responder, mas minha garganta fechou. O nó era enorme. Não consegui emitir uma única palavra. Mas meu silêncio falou por mim.
— Seu silêncio confirma o que eu já suspeitava — disse ele, num tom seco. — Você teve coragem de me esconder isso? Como pôde, Brenda? — rosnou entre dentes.
Tentei controlar o choro, mas a raiva crescia dentro de mim como um vulcão prestes a explodir. Peguei meu filho de volta, com cuidado, ignorando o olhar de mágoa de Liebert.
— É óbvio, não? — falei com sarcasmo, desafiando.
Ele riu. Um riso cínico, típico dele quando quer me provocar.
— Eu poderia ter ficado com a secretária naquela noite. Assim, pelo menos, teria dado a você um motivo real para acreditar na tal traição — disparou.
Fiz força para não lhe dar um tapa. Virei e comecei a andar. Vinicius chorava em meus braços, nervoso. Seu choro me partia por dentro. Não queria que ele presenciasse isso.
— Ele é meu filho, Brenda. Você me tirou a chance de vê-lo crescer. Se eu não tivesse vindo até aqui, jamais saberia da existência dele. É por isso que você se escondeu nesse lugar no meio do nada? — perguntou, vindo atrás e me puxando pelo braço.
— Me diz então, Liebert, por que eu te contaria sobre a gravidez, se você estava se divertindo com sua amante naquela noite? — gritei, e o tom da minha voz assustou Vinicius ainda mais.
Tentei acalmá-lo, balançando devagar, murmurando palavras baixas. Liebert se aproximou, tocado pelo choro. Pegou Vinicius nos braços. O menino encostou a cabeça em seu ombro e, para minha surpresa, adormeceu.
— O que você viu naquela noite pode ter parecido uma traição, mas não foi. E mesmo que tivesse sido, você não tinha o direito de esconder ele de mim — disse ele, num tom mais calmo, mas ainda firme.
A dor me esmagava. Sim, eu escondi. Mas fiz o que achei necessário. Fiz o que qualquer mãe faria se se sentisse traída, sozinha e quebrada.
Peguei Vinicius dos braços dele com cuidado e virei as costas.
— Vou fazer o teste de DNA. Se for confirmado, vou buscar meus direitos como pai — ele disse, e isso me fez parar. A raiva cresceu no meu peito.
— Então vá. Volte pra sua cidade. Procure seus advogados. Faça o que quiser. Mas enquanto estiver aqui, nos deixe em paz!
Ele avançou, dessa vez não segurando meu braço, mas minha cintura. Um gesto que fez meu corpo inteiro reagir com um arrepio. Nossos olhares se cruzaram por um segundo longo demais. Parecia que o tempo havia parado.
Ele me soltou, como se também tivesse sentido a descarga elétrica que nos atingiu.
— Eu sei que Vinicius é meu filho, e vou participar da vida dele. Não importa o que aconteça — declarou. — A questão do DNA é para me assegurar de a qualquer momento você me dizer, que não é meu filho.
— No momento, você não tem direito nenhum. Vinicius é meu. Eu fui mãe e pai esse tempo todo. Ele é só meu. E ponto final!
Me soltei dele, virei as costas e fui embora, com meu filho nos braços. Atrás de mim, Liebert ficou parado, imóvel. Mas eu sabia: aquilo era só o começo. Claro, ele não iria desistir.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
leyde
amiga vc se deixou levar pela raiva, deveria ter conversado com ele na época e esclarecido a suposta traição.
pois,nem tudo que reluz é ouro.
E, outra com ou sem traição,você não poderia ter escondido a gravidez né vdd, ele deixou de ser teu marido, mas continua sendo pai. vc foi e, continua sendo infantil e egoísta
2025-03-15
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Sandra Maria de Oliveira Costa
muito infantil ela
mesmo que teve traição não poderia ter escondido o filho
2025-01-20
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Elizabeth Fernandes
Ela não podia ter escondido o filho dele
2025-02-27
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