Após retornar novamente para a cidade, caminhei apressado pelo centro. Entrei em um dos comércios e comprei uma carteira de cigarros. Eu costumava fumar antes, principalmente quando o estresse dominava minha cabeça. Brenda me ajudou a vencer isso. Com paciência e amor, ela me mostrou que eu não precisava fugir pelos vícios. Deixei o cigarro por ela. Mas hoje, o desejo voltou com força. Talvez pela saudade. Talvez pela solidão. Comprei também um isqueiro, mas ainda não acendi.
Continuei andando, e ao seguir por algumas quadras, parei. Sentei-me em um banco de praça e fiquei observando a fachada de uma floricultura do outro lado da rua. Na hora, lembrei dela. Brenda sempre amou flores. Rosas, lírios, margaridas... todas. Amava tanto que eu construí uma estufa só pra ela, cheia de cores e perfumes. Ela se perdia naquele jardim, e eu me encontrava só de vê-la feliz. Fazer aquilo por ela foi uma das melhores coisas que já fiz na vida.
Meus pensamentos me dominaram, e eu nem percebi que estava cercado de gente. Algumas pessoas se aproximaram, pediram fotos, outras autógrafos. Às vezes eu me esqueço que não posso andar livre por aí como qualquer um. Que ser famoso cobra esse tipo de preço. Eu só queria caminhar em paz, fumar aquele maldito cigarro que não acendi, e me perder nas lembranças. Mas ali estavam eles, como sempre. Me olhando, me esperando, me cobrando. E pior, hoje eu estava sem segurança. Resolvi dispensar. Às vezes me sinto sufocado por ter alguém me seguindo o tempo todo. Mas a liberdade, pra alguém como eu, é quase sempre ilusória.
Depois que consegui me livrar da pequena multidão que se formou, voltei para o carro e fui pra casa. Olhei para a biblioteca, onde Brenda costumava passar seu tempo. Passei quase o dia inteiro lá, lendo livros aleatórios só pra ocupar a mente. Peguei um livro de romance, sem perceber. Era um dos favoritos de Brenda. Em uma página em branco, vi algo escrito. Seu nome. E o meu. Uma mistura de nostalgia e dor me atingiu como um soco. Sorri, sem querer, ao lembrar do dia em que ela leu esse livro comigo sentada no meu colo, na frente da lareira. O nome do livro era “O Amor Tudo Cura”. E naquela época, eu acreditava nisso. Mas agora... Agora, não sei. Guardei o livro de volta na estante e saí dali. Já estava tarde, e meu corpo pedia descanso.
No dia seguinte, retomei minha rotina. Acordei cedo, como sempre. Preparei um café leve, só o suficiente pra quebrar o jejum. E fui direto para a minha academia particular, o lugar onde eu descontava tudo. Dor, raiva, saudade. Tudo saía no soco.
Treinei como um condenado. Soquei o saco de pancadas com toda a força que tinha. Desejei, por um momento, que fosse eu mesmo ali, apanhando. Me odiei por ter estragado tudo. Por ter deixado o orgulho me guiar. O casamento acabou. Eu sei disso. Não tem mais volta. E talvez eu precise aceitar. Curar esse amor com outro. Seguir minha vida. Apagar Brenda da memória, mesmo que ela ainda viva em cada canto da minha casa. Mesmo que ainda habite cada pensamento meu. Mas eu estava decidido. Não dava mais pra viver assim.
Talvez ela também tenha seguido em frente. Talvez esteja com outro, talvez até tenha um filho. E eu aqui, remoendo o passado feito um idiota. Isso só aumentava minha raiva. Soquei mais forte. Cada vez mais.
Depois de quase uma hora, saí da academia, respirei fundo, descansei e subi para tomar banho. Precisava me arrumar. Tinha uma sessão de fotos marcada. Ensaio importante, capa de revista. Tomei banho, me vesti e segui para a agência.
Assim que estacionei, fui cercado por paparazzi. Era sempre assim. Um passo fora da linha e no outro dia já era manchete. Felizmente, meus seguranças apareceram e abriram caminho até a entrada da agência. Respirei fundo e entrei.
Cumprimentei a equipe, todos em ritmo acelerado preparando o estúdio. Logo fui apresentado à minha parceira de sessão.
— Liebert, essa é Elisa Connor, sua parceira de hoje — disse Edson, meu assessor.
Meus olhos analisaram a mulher à minha frente. Bonita, sem dúvida. Pele clara, cabelos cacheados e ruivos, vestia algo provocativo, chamativo. Peguei sua mão e a beijei como um cavalheiro. Por que não? Talvez essa fosse minha chance de recomeçar.
— É um prazer, senhorita Connor. Você é ainda mais linda pessoalmente do que nas fotos.
— O prazer é todo meu, querido — ela respondeu, com um olhar direto, cheio de segundas intenções.
— Vamos começar o ensaio — Edson interrompeu, quebrando o momento.
As fotos começaram. Pose, clique, troca de olhares. Elisa era profissional, sabia jogar com a câmera. E eu entrei no ritmo. Depois de muitas fotos, nos sentamos para revisar os resultados. Tudo aprovado. No fim, quando já me preparava pra ir embora, ela me surpreendeu.
— Que tal um café? Só nós dois. Pra nos conhecermos melhor?
Aceitei. Fomos até uma cafeteria próxima dali. Sentamos em uma mesa discreta, fomos atendidos, e a conversa rolou. Fluída, leve. Falamos de tudo. Rimos. Ela tinha uma energia boa, vibrante. Trocamos números de telefone, e depois que a deixei no hotel, fui pra casa.
Cheguei cansado, mas com a cabeça cheia. Sentei na beira da cama e fiquei pensando. A presença de Elisa trouxe algo novo à minha rotina. Uma distração, talvez. Um sopro de vida diferente. Pequeno, mas suficiente pra mexer comigo.
Olhei pela janela e vi as luzes da cidade lá fora. Pensei em como a vida pública é cruel. Cada passo vigiado. Cada sorriso julgado. Cada aproximação virando manchete. Às vezes eu só queria ser comum. Um cara qualquer. Mas não sou. E não posso mais fugir disso.
No outro dia, acordei novamente cedo. Trabalho me esperava. Mais fotos, mais compromissos. Mas algo em mim estava mudando. Elisa aparecia nos meus pensamentos com mais frequência. Não como substituta de Brenda, ninguém seria, mas como uma presença que suavizava a dor.
À noite, de volta em casa, peguei o mesmo livro de antes. “O Amor Tudo Cura”. Abri devagar, folheando página por página. Como se fosse sagrado. Como se as palavras ainda tivessem o poder de reconstruir o que foi quebrado. Lembrei de nós dois, deitados na frente da lareira, lendo juntos, acreditando em finais felizes.
Na manhã seguinte, tomei uma decisão diferente. Chamei meus seguranças, pedi que me acompanhassem. Não porque eu tinha medo da mídia, mas porque entendi que não precisava mais lutar contra o mundo. Só precisava aceitar que mesmo com os holofotes, eu ainda posso escolher o que fazer com minha vida.
O caminho à frente é incerto. Sei disso. Mas sigo em frente. Passo a passo. A memória de Brenda ainda mora em mim. Vai morar sempre. Mas agora, talvez, seja hora de escrever uma nova história. E se o destino permitir, talvez um dia eu consiga dizer a ela com todas as palavras, que nunca deixei de amá-la.
E se ainda houver espaço, eu vou lutar. Até o fim.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Regiane Custodio Santos
um desafio e tanto pra ele vai ter que ralar muito e provar com atitudes que a ama e ganha o perdão dela
2023-12-12
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Carmen Borges de Oliveira
vai lutar por ela ou vai se envolver com a modelo?
2024-12-30
0
Rosangela Amorim
Que paixão 🤩
2024-11-21
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