Bianca Vasquez

O que você tem na cabeça, Luiza? Pergunto olhando para ela, sentada na cama.

Quer ser expulsa do colégio! Como pode agredir sua colega e ainda desrespeitar seu professor? O que deu em você?

— Deu que cansei, Bianca. Cansei de ouvir piadinhas, de ser chamada de órfã, de ouvir que ninguém se importa comigo, que só estou aqui de favor. Foi isso que deu em mim.

Há dez anos vivo nesse internato, não saio para nada, passa ano após ano e eu aqui, sempre aqui.

Natal, final de ano, férias, Carnaval, feriados... todas as datas estou aqui presa neste lugar sozinha, vendo todos sorrindo, comemorando com seus familiares e eu aqui, sem ninguém, mais abandonada que cachorro quando é deixado para trás.

Eu cansei, Bia. Só quero poder sair, ver o mundo lá fora, poder ir ao shopping, ao cinema, praia, sorveteria, passear pelas ruas, ver o pôr do sol das montanhas, sentir a chuva molhar meu rosto enquanto corro pelo jardim da nossa casa.

— Escuto seu desabafo, choro abraçada à minha irmã, compartilhando de sua dor e desejo de ser livre.

Como queria poder tirá-la daqui, levá-la para uma casa, para que tenha uma vida normal, como qualquer adolescente da sua idade, mas infelizmente não posso. Choro, agarrada à minha pequena.

Sinto muito, Luiza, mas não pode... não agora. Um dia vai poder fazer tudo isso, mas não hoje, não agora. Falo, olhando secando o rosto dela.

— Eu sei que não é fácil, Luiza, mas esse é um dos melhores colégios do país. Aqui você terá uma boa educação e futuramente uma vaga na faculdade. Falo, tentando acalmá-la.

— E só isso que sabe dizer!

Saia daqui, Bianca, não volte mais, eu odeio você. Queria ter morrido com nossos pais, assim não precisaria fingir que se importa comigo. Ela fala chorando.

— Por favor, Luiza, me entenda, não posso tirar você daqui. Falo

— Claro que não.

Enquanto vivo trancada aqui, você curte a vida, pode fazer tudo, inclusive gastar o dinheiro da herança dos nossos pais. Escuto seus gritos.

Não fale isso nunca! Entendeu?

As coisas não são como você pensa. Minha única prioridade é preocupação e você, Luiza. Falo sem voz.

— Imagino que sim! Me deixa aqui trancada e vai viver sem responsabilidades, pode viajar, ir a festas, tudo sem se preocupar com o estorvo da irmã.

Luiza passa por mim como furacão, me deixa sozinha com suas palavras, que rasgam meu coração como facas afiadas.

— Calma, Bia!

É uma fase difícil, a adolescência é complicada.

Você sabe que está fazendo o melhor para ela. Não se martirize. Aconselha Mara.

Antes de sair do internato, tentei falar com a Luiza, mas ela não quis.

— As bonitas aí estão chamando vocês no escritório, Douglas quer falar com vocês. Avisa Lola.

Lavei o rosto, tomei um copo de água para me acalmar.

— Meninas, tenho um trabalho exclusivo para vocês hoje. A sereia e a ruiva e Afrodite foram selecionadas para uma festa fora do clube.

Clientes importantes, por isso sorriam e façam o seu melhor. Ouvimos Douglas falar.

A noite chegou, aqui estou! Arrumada para uma festa quando tudo que queria era deitar e dormir para nunca mais acordar.

As roupas foram selecionadas por Luli.

— Uau, que casa é essa! Fala Mara ao descer do carro.

E linda mesmo, parece aquela que vimos em filmes, grande, cheia de janelas de vidro, cores claras, um grande jardim na frente, uma mansão. O dono dela deve ser o responsável por nos contratar. Falo, andando para dentro da casa, há vários carros luxuosos.

Ao entrar, somos recebidas por um homem que nos leva para o meio do salão.

— Ora! O que temos aqui, minhas convidadas chegaram.

Falo o homem, muito bonito, cabelos pretos , pele branca, rosto quadrado, uma barbicha no queixo.

— Venham, meninas, quero que conheçam meus convidados.

Seguimos o homem para uma área reservada, nessa sala apenas dois homens, um deles está de costas, conversando com o moreno de olhos verdes.

— Senhor! Chama o homem que nos trouxe.

— Sorrio para os homens, mas logo meu sorriso morre. O homem que está de costas vira, sinto o ar fugir dos meus pulmões. Miguel está na minha frente, sorrindo com minha cara de surpresa.

— Senhoritas, sejam bem-vindas. Vamos conversar num lugar mais reservado. Ouso o moreno falar e sair puxando as meninas.

Saio do transe, viro para segui-lo, mas uma mão segura meu braço, fazendo-me parar!

— Você não. Fala Miguel. Você vem comigo. Miguel pega minha mao, sinto o lugar que segurar quente sobre seu toque.

— Então, para mim, você está doente, mas para festas com outros homens, não! Ele pergunta, entrando num quarto.

Eu... O que você quer! Pergunto, encarando, dando passos para trás. Miguel olha como um predador, pronto para devorar sua presa.

Não sei do que está falando. Estou fazendo meu trabalho. Falo, afastando-me dele.

— Sei, trabalho!

Você gosta disso, né?

Enche a boca para falar do meu trabalho. Gosta de ser usada, tratada como um nada! Gosta de abrir as pernas por dinheiro! Gosta do levar quem paga mais.

Caio na cama, meu coração acelera cada vez que ele se aproxima, seus olhos estão vermelhos, sua respiração pesada.

Miguel para, fala, me afastando dele.

Ele sobe em cima de mim, prende minhas mãos em cima da cabeça, me obrigando a encarar seus olhos.

— O que foi! Está com medo? Se gosta tanto do seu trabalho, vamos começar. Vou tratá-la como merece, uma prostituta sem valor.

Uso visto a roupa e saio.

É disso que gosta, de ser uma puta? Responde, sereia, ou devo chamar de Bianca Vasquez!

— Não... não, como sabe do meu nome! Pergunto tentando tirá-lo de sima de mim.

— Surpresa! Diga-me, como uma garota de família, com um histórico escolar perfeito, uma adolescente com um futuro brilhante, pais amorosos, uma vida financeira estável. Se transformou numa garota de programa?

 Responde? Grita Miguel.

Puxo ar para meus pulmões, meu coração bate descompensado. Não consigo falar, meu corpo inteiro treme, uma pressão forte no peito, sinto meus ouvidos apitar como um trem sem freio.

— Vamos, Bianca!

Encha a boca para falar do seu trabalho, fale que gosta de ser uma mercadoria!

Gosta dessa vida, que deixou sua família para virar prostituta?

Quando te vi naquele elevador tendo uma crise de pânico, meu único desejo foi cuidar de você.

 Vi o quanto era frágil, precisava de ajuda. Desde aquele dia, você se tornou minha obsessão, mas então aquela mulher frágil deu lugar a uma mulher sexy, segura de si, capaz de fazer até o mais santo dos homens pecar, usando seu corpo como armadilha para suas presas, tudo isso por dinheiro... Foi por dinheiro, Bianca, que você abandonou sua família?

Responde, porra!

 Foi pela merda do dinheiro que deixou uma vida digna para se prostituir?

— Não... não... não. Grito, desesperada .

Miguel para saia de cima de mim. Não consigo respirar, me debato em vão contra ele, mas nada acontece.

Continuo presa, por ele, suas palavras rasgam meu peito como adagas.

Ele olha para mim com um olhar penetrante, como se estivesse tentando ler minha alma. Sinto um misto de medo e repulsa diante da situação em que me encontro. Cada palavra que ele profere me atinge como um golpe, despedaçando minhas defesas e expondo minhas vulnerabilidades.

— Vamos, Bianca. Fale a verdade. Assuma o que você se tornou. Uma garota de programa, uma mulher vendida por dinheiro. Você trocou sua integridade e dignidade por uma vida de luxúria e perversão. Como pode encarar-se no espelho sabendo o que se tornou?

- Miguel continua seu discurso, cada palavra ecoando dentro de mim como um martelo.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto, misturando-se com a dor e a vergonha que sinto. A sensação de desespero e impotência me consome, enquanto luto para encontrar forças para resistir à pressão avassaladora que Miguel exerce sobre mim.

— Não... Eu não queria... Eu não escolhi isso... - balbucio em meio ao pranto, tentando me defender de suas acusações cruéis e injustas.

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