GIORGIA
Na metade do meu segundo drink, não que eu tenha demorado para tomar o primeiro, Matteo voltou, com uma expressão de preocupação estampada no rosto.
- Está tudo bem?
- Está sim, vamos lá pra cima, já pedi para liberarem as entradas. - o encarei com uma sobrancelha erguida - Não é nada, só não gosto muito de ficar aqui embaixo quando o pessoal está entrando.
- Então, vamos, mas primeiro - me viro para o balcão novamente, e falo com um biquinho, para meu novo galã de dorama preferido - Loui, prepara mais um desse pra mim, por favor? - Ele sorri e me dá uma piscadela.
- Seu pedido é uma ordem, senhorita Ginevra.
- Loui, pede para levarem lá na cobertura. – Senti que Matteo foi um pouco autoritário mas não disse nada e o acompanhei, ele pôs sua mão na parte inferior das minhas costas e me guiou até o elevador de serviços.
Subimos até o último andar, havia pensado que as salas privadas eram a última coisa que ele tinha para me mostrar, mas ali era completamente diferente. Era como uma casa de piscina. Algumas mesas de jogos numa sala ampla, e com vista para uma piscina imensa, que até parecia que estávamos em outro lugar, e não em cima de um prédio. As cores neutras nas paredes, o piso de cimento batido em um de cinza claro, alguns vasos de plantas artificiais, quadros de figuras abstratas, sofás, banquetas e um bar faziam com que o ambiente tivesse uma atmosfera mais leve e descontraída quando comparado aos demais andares.
- Do que se trata esse andar?
- Aqui é de uso particular. Gosto de vir aqui esquecer todo o alvoroço lá debaixo. - Saí do seu toque e caminhei até o lado de fora. A lua parecia brigar por um lugar em meio às nuvens carregadas. Ele se aproximou de mim e colocou o braço envolta de meu pescoço. - Às vezes, de madrugada, quando não consigo dormir mesmo depois de ter enchido a cara, gosto de vir aqui em cima. Ouvir as vozes da vida noturna da cidade. - Ele se afastou e foi até a parede de vidro interligada através várias barras de ferro, como uma imensa janela, e fiquei observando suas costas enquanto caminhava, tão elegante e firme ao mesmo tempo. - Daqui de cima, as pessoas parecem ser tão insignificantes. - Fiquei imaginando como isso poderia ser, já que não estávamos a mais de cinco andares pelo que contei. - Já me imaginei saltando daqui tantas vezes que precisei ficar um tempo sem sair aqui fora.
- Você se machucaria e iria precisar ficar hospitalizado com pessoas lhe dando comida e te levando ao banheiro.
- O que?
- Precisamos de uma certa altura para morrer, se não, no máximo, apenas alguns membros são quebrados.
- Você acha que essa altura não é o suficiente? - Ele caminhou lentamente até mim, apreciei cada segundo dos seus movimentos, a cada passo em minha direção, sua corrente, que cintilava na fenda de sua camisa, balançava como um objeto hipnótico prendendo minha atenção. Quase me esqueci de respirar. - Venha ver. - Ele apoiou uma mão em meu ombro e a outra segurou meu cotovelo. O acompanhei e realmente não havia percebido o quanto seu toque mexia comigo. Nos aproximamos da parede de vidro e fiquei abismada ao ver a que altura estávamos, geralmente sou muito boa com senso de direção e etc, mas não percebi o quanto subimos.
- Dessa altura, você quebraria muito mais que alguns membros, Matteo. O que te fez pensar nisso? - No mesmo momento que falei, me arrependi. Claro que a morte de seu irmão mais velho, e o fato dele pensar que o matou, mexeram com ele. Ficamos em silêncio por alguns minutos. - Acho que no seu lugar, eu pensaria o mesmo. Mudando de assunto, como estamos tão alto assim? Pensei ter contado cinco andares.
- Cada ambiente são dois andares, reforcei bastante a estrutura para conseguir um pé direito bem alto, de forma que o som de um ambiente não invadisse o do outro. Claro que poderia ter simplesmente adicionado gesso e isopor, mas não conseguiria o mesmo conceito. Tem dois andares de serviço, onde seria o terceiro, fica a cozinha, a câmara fria e a despensa, se é que podemos chamar disso. O estoque de bebidas e a adega climatizada ficam onde seria o sexto andar. O nono andar é a casa de máquinas, digamos assim. Com isso, dez andares e alguns milhares de dólares investidos. - Assoviei em resposta e ele sorriu. - Não me canso das suas reações inesperadas para uma moça da sua classe social.
- Como assim? Está dizendo que não estou à altura das moças da minha classe?
- Claro, que não. Você sabe que não foi isso o que eu quis dizer. Você é a exceção à regra.
- Isso não melhorou em nada o que você disse antes. - Puxei meu braço das mãos dele e me afastei bruscamente.
- Giorgia, eu quis dizer que isso faz você parecer uma pessoa normal, diferente de todos aqueles clones de plástico que nosso meio exibe. - Com meus movimentos exagerados, meu salto escorregou e se não fosse por Matteo, me segurar, rodopiar e nos apoiar na parede, eu teria me espatifado no chão. Estava com minha pulsação acelerada demais devido ao quase tombo, e só percebi que estávamos perto demais, quando senti sua respiração no meu rosto. Seu hálito mentolado e pintinhas verdes em seus olhos cor de avelã. Por um instante, pensei que me beijaria.
- O que isso quer dizer? - Perguntei baixinho e ofegante, sentindo cada sensação de meu corpo em reação ao dele colado ao meu.
- Que você parece uma pessoa real e acessível, de carne e osso, e não um ser artificial e sem personalidade.
- Acessível em qual sentido? - Cada vez mais ofegante, passei a língua pelos lábios ressecados e ouvi um grunhido reprimido em seu peito, seus olhos se fecharam com força e balançou um pouco a cabeça, como se afastasse seus demônios. Então me abraçou e beijou na testa.
- Acessível como uma amizade verdadeira. - Ele apoiou o queixo em minha cabeça e apertou um pouco mais. - Não quero estragar isso Não posso estragar isso. - Cochichou, como se falasse para si mesmo.
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Atualizado até capítulo 33
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