Meu nome é Giorgia Ginevra Paganno, mas para todos apenas Giorgia Ginevra e para amigos e parentes, Gigi. Brincadeira, não tenho muitos amigos, muito menos parentes. Minha única família é a senhora Filomena Marino, minha babá e nona de mentirinha, e claro, seu marido senhor Walter Marino, também meu nono de mentirinha e motorista. Além dos dois, tem minha administradora de bens, a chata Claudia de Luca.
Meus pais morreram em um acidente de carro na ponte Flaminio, um dia antes do meu aniversário de cinco anos. Desde então meus avós que me criaram. Meus pais não tinham amigos aqui nesse estado, tínhamos nos mudado a poucos meses. Só trabalhavam o dia todo e voltavam para casa ao anoitecer. Aos fins de semana, ficávamos juntos no jardim fazendo piquenique ou brincando na piscina ou então na brinquedoteca, mas de todo jeito, estavam disponíveis apenas para mim. Pelo menos é o que as fotos e a nona me contam, pois me lembro muito pouco deles. Ou talvez eu quem quis esquecer.
Estudo no colégio Isotta a minha vida toda e minha única amiga é Allegra, (não, não é o xarope para alergias). E assim como o significado de seu nome, ela é sempre alegre, vive animada com tudo e com seu ar de felicidade contagiante, não seria estranho se fosse uma das garotas mais populares do colégio e a líder das líderes de torcida. Às vezes me pergunto como ela ainda é minha amiga. Ao contrário dela, eu não sou extrovertida e de longe não sou popular, minha popularidade se dá por ser "A melhor amiga", e minha rotina é espantar os urubus ou ser usada de degrau para chegarem até ela.
No sétimo ano, um garoto muito gato de outra turma começou a se aproximar de mim, sempre simpático, educado e muito galanteador. E como uma pré-adolescente que vivia enfiada em contos de fantasias e romances de amores impossíveis, claro que me apaixonei por ele... Mas o que eu não imaginava era que ele era apaixonado pela minha melhor amiga. Péssima estratégia essa a dele, óbvio que minha amiga jamais iria ficar com o cara que partiu meu coração, por mais gato que ele fosse. Lesado!
Enfim, com toda essa história, fiquei muito mais fechada para aproximações do sexo oposto. O que não resolveu em nada o assunto do meu coração partido, pois comecei a pensar que outras meninas me atrairiam e com essa que me afundei outra vez. No final do verão do oitavo ano, me apaixonei novamente, por uma garota linda chamada Sammy, ela era norte-americana, tinha um sotaque engraçado e me fazia rir com suas piadas ruins. O que eu não esperava era que a veria atracada com Allegra em uma das barracas do acampamento. Nunca havia contado para ela sobre as suspeitas que tinha sobre minha orientação sexual ou sequer que estava vendo Sammy com outros olhos, não poderia culpa-la por isso. Então fingi que nada aconteceu, me afastei da norte-americana e de minha melhor amiga aos poucos. Claro que ela sempre me procurava, mas eu sempre fui muito estudiosa e ela não percebeu que me enchi de matérias extra curriculares de propósito para nos afastar um pouco. Me fechei ainda mais para o mundo e seus assuntos do coração.
No caminho para casa, eu costumava passar numa padaria à duas quadras do colégio. O senhorzinho chamado Pepe, já era acostumado com meu pedido diário de duas baguetes e um litro de leite. Sempre atencioso comigo, perguntava como havia sido meu dia no colégio e se meus avós estavam bem e eu sempre perguntava sobre sua saúde e as coisas na padaria. Em uma das minhas rotineiras visitas, Pepe não parecia muito bem e me ofereci para ajuda-lo até o horário de fechar a padaria. De início, claro que recusou, "onde já se viu uma moça de família rica sendo ajudante numa padaria?" foi seu argumento. Eu não era pobre, mas também não era tão rica assim, a ponto de que um trabalho em uma padaria seria ofensivo ou uma vergonha para meu sobrenome ou coisa do tipo... O convenci, e como pagamento aceitei apenas o meu costumeiro pedido e o lanche do colégio. Então, todas as manhãs, passava para pegar meu lanche antes de entrar em aula e quando finalizava, ia direto para a padaria Pepe. Aprendi muitas coisas com ele, e aos poucos já sabia realizar muitas tarefas sozinhas, inclusive já preparava alguns dos pãezinhos e aprendi a confeitar com a senhora Ivone, que era tão doce quanto seus próprios bolinhos. Eu costumava sair por volta das oito da noite, mesmo horário que baixávamos as portas da padaria. Com o tempo ganhei mais uma nona e um nono, até almoçávamos juntos todos os domingos, às vezes na casa dos Portella, às vezes em casa mesmo. Nono Walter ia busca-los e leva-los para casa.
Com o trabalho, estudos, provas e matérias extracurriculares, me distanciei ainda mais de Allegra. Mas sempre estávamos juntas nas matérias que compartilhávamos e no horário do lanche, infelizmente já não era a mesma coisa de antes. De vez em quando ela ia na padaria com as líderes de torcida, o que dava uma alavancada na venda dos cupcakes e das madeleines. Nona Ivone nasceu e cresceu no coração da França; Paris. Seu jeito de contar suas histórias de quando era menina, me encantava e me inspirava a conhecer Paris um dia, não por seu ar romântico, mas sim por toda a história de arte que se respirava as margens do rio Sena, conhecer o museu do Louvre... Aaah, enfim... Geralmente a cada quinze dias, às sextas, por volta das sete da noite, elas apareciam. Um enxame azul, rosa e branco de cabelo loiro, em sua maioria, amarrado em um rabo de cavalo e vozes estridentes; líderes de torcida.. Sim, a capitã era minha amiga, mas isso não me impede de ser taxada de ser "Carrie" para elas e suas tentativas de bulling. Já assisti filmes Teens demais para me incomodar com as opiniões delas. Sei que daqui dez anos, eu estarei bem sucedida e elas gordas, casadas e odiando a própria vida por não terem estudado, enquanto seus maridos as traem com alguma secretária da empresa onde trabalham. ( Provavelmente, o marido de várias delas, será alguém do time de rugby).
Numa noite em que eu estava parcialmente entusiasmada, resolvi não ligar para que o nono Walter viesse me buscar e fui embora à pé, afinal, aproximadamente, quinze minutos de caminhada não me fariam mal algum. Mas isso seria o correto se eu assistisse mais aos noticiários na tv, ao invés de focar sempre nas minhas séries, filmes e animes preferidos. Um carro freou bruscamente ao meu lado e dois caras desceram gritando alguma coisa que não entendi e minha única reação além de gritar, foi sair correndo no meio da rua um tanto calma para o horário. Os assaltantes começaram a me seguir, mas um carro preto quase atropelou um deles, e o outro continuou a correr e a trocar tiros com um segundo carro. Minha vida cautelosamente planejada não previu que um cara alto, de cabelos escuros e, a julgar pela roupa social bem alinhada a seu corpo, de porte atlético e com um perfume com cheiro de problemas me abraçou e me carregou para a calçada, com o corpo contra o meu, gritando para um outro cara, que por sinal me pareceu ser três vezes maior que ele, para que não ficasse parado. Não tinha como não escutar esse último grito, foi praticamente todo no meu ouvido. Mas foi a última coisa que ouvi, devido ao choque inicial, fiquei paralisada, mas ao ver o outro cara, que tentou me assaltar, cair a poucos metros de mim, todo ensanguentado e com os olhos abertos, vidrados, foi o suficiente para apenas uma tela preta passar diante dos meus olhos e meu corpo cair desfalecido nos braços que já me rodeavam.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 33
Comments