Melhores Amigos?

GIORGIA

Minhas aulas passaram como um furacão por mim, mal as vi, mas senti seus estragos. Estava cansada e ainda teria o segundo Round. Ás vezes eu me pergunto: Por quê, meu Deus? Por quê eu tenho que dificultar tudo? Por quê eu simplesmente não disse que queria um tempo para pensar, ao invés de me encher de matérias? OU MELHOR AINDA; Por quê eu simplesmente não conversei com Allegra sobre tudo que eu estava sentindo? A resposta eu não faço ideia, mas que eu sou uma anta, isso eu sou.

- Ok, Giorgia, pense no futuro. Carreira promissora! Ótimas notas para a faculdade!

- Você fala sozinha sempre, sabia?

- AAAH. - Me viro e dou de cara com Matteo, que falou no meu ouvido. - Caralho, que susto, Matteo.

- SHHHHHHHIIIIIII. - A velha senhora Venâncio se pronuncia de sua mesinha.

- Ei, precisa fazer silêncio na biblioteca - Sussurra ironicamente em meu ouvido.

- Cínico. Não se chega assim perto das pessoas. - Sussurro de volta.

- A culpa é sua. Não íamos almoçar juntos?

Me esqueci de verdade.

- Ai, Matteo. Me desculpa, me esqueci. Fiquei tão presa as matérias que até me esqueci. Foi mal. - Falo rápido demais para quem está se desculpando.

- Ok, ok. Não precisa se desesperar. Te perdoo, por ter se esquecido de mim. - Diz se sentando ao meu lado.

- Também não é para tanto. - Bato em sua mão quando tenta pegar meu caderno de anotações.

- Ai. - Ri. -Sua letra até que é bonitinha. - Ignoro. - Você não vai fazer seu lanche?

- Lanche! Ai meu Deus! Nona Ivone. - Começo a juntar minhas coisas apressada. - Onde eu ando com a minha cabeça? - Coloco tudo de qualquer jeito na mochila e me levanto para sair.

- O que foi? Aonde você vai?

- Eu preciso passar na padaria para ver a nona Ivone, ela está preocupada por ontem. Me desculpe, Matteo. - Ele se levanta ao meu lado.

- Vamos, eu te levo. Aproveito e como lá, estou morto de fome.

- Ok, eu vou aceitar a carona. É perto, mas já me atrasei muito e daqui a pouco acaba o intervalo.

- Não tem ninguém te julgando por aceitar uma carona. Somos amigos, certo? - Começamos a sair da biblioteca com o olhar assassino da senhora Venâncio sobre nós.

- Certo. - Somos? - Nós nem sabemos nada um do outro, tipo, nos conhecemos a menos de quarenta e oito horas. Como pode dizer isso? - Passamos pela porta e ele me empurra para a parede, me encurralando com uma mão apoiada em meu ombro.

- Claro que somos, eu sinto que seremos melhores amigos, você não sente que nos demos bem?

Ok, não posso ter um crush no meu melhor amigo. Seria clichê demais. Não seria? Tiro a mão dele de meu ombro e envolvo meus braços em seu braço. Caminhamos de braços dados.

- Ok, você será meu melhor amigo então. Tipo o Amigo Gay, sabe?

- Cara, péssima ideia essa a sua. Eu estou muito longe de ser gay. Claro que eu sou um gato, mas minha genética é boa e não por que eu sou um Narcisista ou coisa do tipo...

Nos perdemos nessa discussão até chegarmos ao estacionamento.

- Ok, resumindo, você é um hetero top, meu amigo.

- Não sou assim não. Eu posso ter lá minha vaidade, mas não me acho a ultima bolacha do pacote. Posso dormir toda noite com uma mulher diferente, mas não saio contando para o mundo. Nem para meu melhor amigo. Agora, chega dessa conversa. - Ri da cara dele, de cachorrinho que caiu da mudança. - O que é tão engraçado? Estou com cara de palhaço?

- Huuum ficou nervosinho, foi? - Ele fez um bico e destravou o alarme do carro. Entrei e me sentei no banco do carona. Ele entrou, sentou, ligou o aparelho de som do carro e conectou o celular. Sem dizer absolutamente nada, saímos do estacionamento. - Tá bravo mesmo?

- Não... - Encarei ele e ele me olhou de volta. - É que a visão que tem de mim.... Ah, sei lá... Não é a mesma que eu tenho de você, sabe. Nessa sua descrição, é como se eu fosse um babaca garanhão.

- Ei, eu nem disse isso.

- Ah tá, e hetero top, no sentido da expressão, significa machista, vangloriador de sair comendo todo mundo, a ultima bolacha do pacote....

- Me desculpe se te magoei, não quis dizer isso. Quis dizer que você é bonitão, saradão e que pega geral na balada.

- Onde é essa padaria?

- Nós passamos por ela á três quadras atrás. Eu não quis interromper seu momento de ADP.

- Ataque de pelanca. - Rimos ao falarmos juntos. Ele manobrou o carro no meio da rua, com uma parada um tanto brusca.

- Poderia ter me falado onde era, que eu pararia e depois terminávamos nossa primeira discussão.

- Ali a direita. - Ele parou o carro na vaguinha de clientes que tinha perto da entrada e da janela consegui ver nona Ivone espiando o carro de trás de seu balcão. - Isso não foi uma discussão e muito menos uma briga. Quando tivermos a primeira, você saberá.

Desço do carro e Matteo, desce logo depois de mim. Nona, arregalou os olhos. Dá para perceber seus questionamentos chegando de longe. Ok, ter vindo com Matteo deve ter sido uma má ideia.

- Bom dia Nona Ivone. Onde está o nono Pepe?

- Bom dia, minha luz da lua. Ele está descansando, acordou se sentindo mal hoje. Quem é seu amigo? Não vai me apresentar?

- Desculpe. Matteo, essa é minha nona Ivone. Nona Ivone, esse é Matteo, quem me salvou de ser assaltada. Estudamos no mesmo colégio.

- Eu quase não acreditei quando Filomena me contou. Você está bem? - Ela sai e vem me abraçar.

- Tudo bem, nona. Não consigo respirar. - Ela me solta do abraço sufocante, mas continua segurando nos meus ombros.

- Mas o que deu na sua cabeça, mocinha? Sair andando sozinha naquele horário?

- Nona! Nem eram nove da noite ainda.

- Ainda bem que esse rapazote te salvou. - Ela Foi em direção a Matteo, que estava a uns quatro passos atrás de mim, e o abraçou. - Muito prazer Matteo, obrigada por salvar nosso tesouro sem juízo.

Já vi que apelidos embaraçosos serão meu novo nome, enquanto Matteo estiver por perto. Reviro os olhos.

- Imagina senhora Ivone. Foi um prazer, somos melhores amigos agora. - Ele se separa do abraço, visivelmente desconfortável.

- Que bom que se deram tão bem. Assim, essa menina para de ser tão solitária e começa a fazer coisas de jovens da idade dela, ao invés de ficar com velhos babões o tempo todo. Agora, venham comer, meus queridos. - Diz ela levantando a tampa do balcão para passarmos.

- Vem Matteo. - Chamo pois ele nem se mexeu.

- Não acho que seja adequado invadir a privacidade de vocês. - Disse ele, parecendo estar.... tímido? Não vou perder essa oportunidade.

- Não me diga que você está com vergonha? Matteo Caccini, dono de uma das boates mais badaladas da região, está tímido. Senhoras e senhores, venham ver esse momento histórico.

- Para com isso, Gigi. - Diz ele ficando corado. - Não é isso, é que, sei lá.... Fico sem jeito de ir entrando sabe, ah sei lá.

- Não precisa ficar assim, filho. Você é amigo da Gigi, então também é de casa. Entre e fique à vontade. Comam o que quiser.

Agarro ele pelo braço e o arrasto para dentro. Passamos por trás do balcão e saímos de frente para a cozinha da padaria. Colocamos toucas de proteção, para não cair cabelo no local, e escolhemos alguns bolinhos e croissants. Peguei duas latas de refrigerantes e pedi para ele me seguir. Saímos no quintal e voltamos para o estacionamento.

- Quer se sentar lá dentro ou comer aqui no carro?

- Espera, você disse para comermos no seu carro?

- Sim, não ouviu, não? - Ele diz puxando a minha orelha de leve.

- Achei que você seria do tipo; não rele no meu carro. Por isso fiquei espantada.

- Nada haver isso. Vamos. - Ele abre a porta para mim, apoiando tudo com uma mão, depois me entrega as comidas que estava segurando e dá a volta para entrar no carro.

Quando se sentou, apertou uns botões e a capota do carro abriu.

- Você é estranho, sabia?

- Olha quem fala. A garota que conversa sozinha consigo mesma, na terceira pessoa. - Abrimos os refrigerantes e ele mordeu seu bolinho de carne. - Uau, isso é uma delícia.

- Não fale de boca cheia!

- Virou minha mãe agora ? - Ele disse rindo.

- Não, mas tenha modos, mocinho! - Rimos.

Terminamos de comer e voltamos para nos despedir da nona.

- Muito obrigado, senhora Ivone. Estava realmente uma delícia. - Matteo agradeceu e foi puxado para mais um abraço.

- Volte sempre, querido. Fico feliz em saber que é amigo de nossa pequena. Venham mais vezes para lancharem aqui. - Nona disse olhando para mim e logo me abraçou também.

- Ok, nona, pode nos soltar agora. Voltaremos mais vezes sim. Eu venho todos os dias depois do colégio para cá. - Ela fingiu me bater.

- A senhorita me entendeu, Giorgia Ginevra... - Sorrio e me despeço com um beijo rápido na bochecha dela e puxo Matteo para sairmos rápido dali.

- Tchau Nona, até mais tarde.

- Até logo, senhora Ginevra.

Nona, sorriu e acenou para nós.

Entramos no carro mais rápido que o Bolt.

- Está vendo só? - Olho curiosa para Matteo. - Não sou só eu que fujo da minha família, de vez em quando. - Rimos bastante.

- Ai Matteo. Só você para me fazer rir tanto... - Ficamos em silêncio até chegarmos ao colégio. - Ah, Nona Ivone não é Ginevra. Na verdade, eu meio que, adotei eles como meus avós, e eles me adotaram como neta. Eu não tenho família de sangue, sabe. Meu nono Walter era o motorista dos meus pais, e a nona Filomena era minha babá. Eles são casados.... - Pausa e ambos continuamos sentados no carro. - Mas eu os amo como minha família. Eu, meio que não tenho tutores legais, sabe, tipo pai e mãe adotivos no papel. Mas eles são como meus avós. Tenho uma administradora de bens, que é uma megera, e ela meio que abafou o caso, para que eu não fosse para um orfanato e essas coisas burocráticas.

- Por que, ... você está me dizendo essas coisas?

- Para sabermos mais um do outro. Então te contei sobre minha família.

- Para sermos melhores amigos?

- Já somos.

- Ótimo, então vamos sair daqui, para comemorarmos. - Ele diz ligando o carro novamente e saindo do estacionamento.

- Vamos para onde?

- Vamos dar um passeio. Prometo que voltaremos a tempo de você ir para a casa no horário.

- Eu tenho aula de matemática aplicada agora.

- Você tem aula aplicada de todas as matérias, um aula a menos não te fará ter um histórico horrível. Relaxa.

- Não é bem assim, tenho matérias avançadas e algumas aplicadas, e outras normais.

- E algumas extra curriculares e outras em latim, e mandarim, e chinês, e computação, e informática. Quem tem aula de informática hoje em dia? Giorgia. Para quê tem aula de informática? Se aprende a mexer no computador? Bebês já nascem sabendo mexer em um.

- Não é só isso. Aprendo várias coisas..

- Você se esconde do mundo naquele colégio?

- Mais ou menos.

- Como assim?

- Outro dia eu explico, eu já contei coisas demais sobre mim, hoje. Agora é sua vez.

Matteo ficou em silêncio fitando horizonte da rodovia vazia a nossa frente. Suspirou fundo várias vezes, e eu apenas esperei que ele falasse no seu tempo...

- Talvez, seja melhor não sermos amigos mesmo. Eu não sou uma pessoa boa.

- Como assim? - Ele fitava o nada, e começou a acelerar mais e mais o carro. - Matteo.

- Eu matei meu irmão.

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Comments

Monica Emilia

Monica Emilia

Estou amando, será q ele matou mesmo o irmão!

2023-10-21

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