MATTEO
Eu não sou do tipo que conhece os pais de uma garota, mal me lembro de seus nomes no dia seguinte. Não sou um cafajeste, a maioria delas também não se lembram do meu, algumas me conhecem sim, mas se aproximam com a mesma intenção que eu. Queremos prazer depois de uma noite badalada regada à álcool. Apenas prazer, selvagem, intenso e passageiro. Como algo pode ser intenso se é passageiro, você se pergunta? Talvez devesse passar uma noite comigo para conhecer a resposta de sua questão. Mas não me leve a mal, não estou falando de amor e nem de dormirmos agarradinhos depois de queimarmos muitas calorias, até mesmo porque o que menos faríamos seria dormir. Estou dizendo que o dia posterior nunca foi um problema para mim, pois nunca aconteceu, é sempre uma bela transa e tchau. Posso estar prestes a completar dezoito anos, não vejo essas coisas de amor no meu futuro. Nunca me interessei por romances, e mesmo que essa situação não seja exatamente essa, estou nervoso, parado em frente a enorme porta branca, da entrada da casa enorme de Giorgia, minha melhor amiga.
Ok, ok, estou criando casos em minha cabeça à toa, criando chifre em cabeça de cavalo, fazendo uma tempestade num copo dágua, eu sei disso. Mas me sinto estranho e isso não faz parte de mim.
- Ei? - Giorgia envolve seus braços no meu - Fica tranquilo, eles não são bichos de sete cabeças. - Ela abre a porta e entramos. Enfim, estou dentro da casa de Giorgia.
O hall é bem organizado, mesinha com flores, armário para casacos, cesto com guarda-chuvas, móveis brancos, flores roxas. Até aqui tudo normal. Seguimos para sala.
Sofás cinza claro, tapete escuro, almofadas brancas, cinzas e douradas para todo lado, uma mesinha no meio com um vaso de flores, uma no canto com outro vaso de flores, e uma mesa retangular, atrás do sofá maior, com um vaso de flores. Seguimos para a cozinha. Passamos por um espaço aberto com uma mesa de madeira com uns dez lugares, imagino eu, pois é enorme, com vários pequenos vasos com flores brancas no centro dela e as cadeiras acolchoadas em um cinza escuro. No centro da cozinha, uma ilha com um mármore impecavelmente branco e adivinhem só, um vaso de flores enorme. Alguns bancos altos em um lado da ilha, contei três, mas a nonna Filomena, imagino eu, saiu de uma porta próxima ao fogão, que imagino ser a despensa. Giorgia estava perto do cantinho do café, com duas xícaras grandes e ligando a cafeteira, então não viu quando a senhora saiu da porta. Fico sem jeito e digo a primeira coisa que pensei.
- Ah, olá. - Ela se assustou e derrubou alguns tomates no chão e me prontifiquei a pegá-los. Me desculpo e os entrego e Giorgia se aproxima de nós.
- Nonna, está tudo bem, este é Matteo Caccini, Matteo, nonna Filomena Marino. - Ela colocou o cesto no balcão e estendo a mão para cumprimentá-la mas sou puxado para um abraço. O que essa família tem contra um aperto de mão?
- Tenho muito a lhe agradecer, Matteo, por ter salvo nossa menina.
- Imagina, qualquer um faria a mesma coisa.
- Não faria não. - Um senhor se aproxima e estende a mão - Prazer, Walter Marino. - Aperto sua mão, finalmente grato por alguém não abraçar.
- Muito prazer senhor Marino, Matteo Caccini. Giorgia tem uma verdadeira adoração ao senhor e sua esposa. - Ela sorri de canto arqueando uma sobrancelha e retribuo o gesto. Talvez eu seja mesmo uma má influência de personalidade para essa garota.
- Eles vão a uma festa hoje, Walter - diz Filomena com as mãos abanando o rosto - Acredita que finalmente nossa menina resolveu agraciar o mundo com sua presença ?
- Nonna Filó, isso não é coisa que se diga. Aliás, eu nem sei ainda o que vestir. Matteo, me ajuda com isso? Você tem uma boate, deve saber o que as pessoas usam em festas.
- Giorgia, eu já disse que não sou seu melhor amigo gay, só melhor amigo. Não me pergunte esse tipo de coisa. - Empurro seu ombro com o meu em um gesto descontraído.
- Você tem quantos anos, Matteo? - Walter me questiona com um ar sério.
- Tenho dezessete, senhor. Faço dezoito em dois meses.
- E já tem uma boate?
- Walter! - repreende nonna - Não começa com seu interrogatório, deixe o garoto. E você mocinha, que tal usar aquele vestido de seda preto e aquele par de botas que a senhorita DeLucca lhe deu no seu aniversário? - Giorgia me encara como se perguntasse minha opinião. Não posso dizer na frente dos avós dela, que sou muito bom em tirar essas peças que estão citando. Por isso concordo que é o visual perfeito para boates.
- Dona Filomena convenceu Gigi a ir no salão de beleza para fazer o cabelo e as unhas, me ofereci para levá-la pois também cortaria o cabelo e depois passaria em casa para me arrumar.
Já no caminho para o salão resolvo perguntar para Giorgia o porquê de não ter dito que iria à boate comigo.
- Eles são do tipo conservadores, sabe? E eu não queria desapontá-los, mesmo que eu tenha liberdade para fazer o que bem entender. Boate é tipo uma expressão para drogas, sexo irresponsável e álcool para eles. Por isso disse que iria em uma festa, que pra mim é o que significa uma boate.
- Pra mim é tudo isso aí, menos a parte do sexo ser irresponsável, comigo é sempre com proteção.
- Matteo! - ela belisca meu braço, não foi nada demais, mas eu gosto de fazer um draminha com ela.
- O que foi? Me beliscou de verdade. - Levo a mão direita ao local beliscado.
- Claro, assim você aprende a não falar sobre suas orgias comigo.
- Você que entrou no assunto. E eu nem disse nada demais. A sua sorte é que eu não misturo amizade e prazer. - Suas bochechas ficam coradas e me deliciei ao ver sua reação. - Calma, não precisa ficar tensa.
- Eu não estou, me sinto desconfortável em falar essas coisas com você.
- Ué? Mas se somos melhores amigos, podemos conversar sobre qualquer assunto do mundo todo. É quase que uma regra básica.
- Mas é estranho, acabamos de nos tornar melhores amigos. Precisamos de alguns ritos de passagem antes.
- Ok, eu entendi. Vamos ao salão juntos, certo? - Ela concorda com um aceno - Então vou fazer tudo que você fizer no salão, exceto pintar as unhas. Um dia de spa.
- Uma tarde só, pois não temos muito tempo. Cinco horas para fazer cabelo, unhas, sobrancelhas, depilação, maquiagem e jantar.
- Ow, então nada de maquiagem, unhas e depilação para mim. Sei bem como vocês, mulheres, se torturam com aquela cera quente.
- Como assim? Eu concordo com a maquiagem e as unhas, depilação não, eu preciso ver você se contorcendo de dor, nem que seja apenas uma folhinha.
- Então está querendo me ver pelado, senhorita Ginevra? - Ela fica extremamente vermelha.
- Não, claro que não. Não foi isso que eu quis dizer. - Ela fala apressada e desesperada, o que me faz cair em gargalhada.
***
No salão, enquanto cortam meu cabelo, consigo ver Giorgia no outro lado conversando com a moça que está mostrando alguns penteados para ela em seu tablet. Ela realmente não parece muito à vontade fazendo o que minha mãe e minha irmã amam mais que quase tudo nesse mundo. Depois enquanto ela estava fazendo as unhas, precisei ver o que tanto meu celular tocava. Olhei e era meu pai. Saí em direção ao estacionamento, andando enquanto atendia.
- Pai.
- Matteo, aonde você está? Estamos tentando falar com você a tarde inteira.
- Estou com uma amiga.
- Que amiga? Enfim, não interessa. Caroline Ludwig e os pais estão na cidade. Vamos dar um jantar a eles de boas vindas. Hoje. Às nove e trinta.
- Eu não posso, tenho um compromisso marcado.
- Tenho certeza de que não é nada tão importante quanto um jantar com a família da sua futura noiva.
- Eu já disse que Ela não será minha noiva, nem hoje e nem nunca. Passar bem, papai. - Desliguei e voltei para dentro do salão. Dois minutos depois minha mãe me liga. - Eu não vou desmarcar meu compromisso por causa dela. - Nem deixei espaço para que ela respondesse e desliguei. Mas minha mãe não é uma pessoa que desiste fácil. - O que é dessa vez? - Meu tom de voz deixava claro a minha irritação.
- Você tem alguma coisa marcada para amanhã no mesmo horário?
- Não.
- Então vou marcar o jantar com eles para amanhã.
- Sem problemas. - Ouvi claramente o suspiro do outro lado da linha. - Giorgia vai comigo. - ouvi quando ela começou a falar alguma coisa histericamente, mas desliguei antes e coloquei o celular em modo avião e fui até Giorgia.
- Oi, tudo bem? Você parece irritado. - Ela colocou a mão livre em minha coxa, senti uma energia estranha atravessar meu corpo.
- Está sim, minha mãe te convidou para jantar em casa amanhã. Pensei que se eu vou jantar na sua casa hoje, não teria problema em você jantar na minha amanhã.
- Mas até onde eu me lembro, você disse que não morava com seus pais. - Ri e ela estreitou os olhos, mas depois sorriu. - Mas eu aceito o convite. O que acha? - Ela estendeu a mão me mostrando as unhas já feitas.
- Não parece a sua cara, mas são bonitas. – Ela sorriu.
Mais ou menos uma hora e quarenta minutos depois, saímos do salão. Ela me fez fazer skincare, colocar máscaras de cores estranhas no rosto, ajeitaram minhas sobrancelhas com um instrumento de tortura prateado e depilação Sim, elas depilaram meu peito, que mal tinha cabelo e minha axila. Sinceramente eu não sei para quê se torturarem dessa forma, somente uma palavra me vem à mente com essa prática; masoquismo.
Voltamos para casa de Giorgia, e enquanto ela subiu para tomar um banho rápido, eu fiquei na sala com o avô dela. Até parecia que eu queria devorar a garota, só pelo olhar que ele dirigia a mim. Eu não sou de me intimidar fácil, a vida que eu levo e o negócio da família não me permitem isso. Fiquei na minha, sentado no sofá, olhando o jogo de beisebol na televisão. Não sou fã do esporte.
- E então garoto? Como você, tão jovem, tem uma boate?
Contei-lhe como conquistei meu lugar no mundo do entretenimento, deixando claro que sou contra drogas e menores de idade consumindo álcool dentro do meu estabelecimento. Com certeza, ganhei alguns pontos com ele, pois sua postura pareceu mais tranquila.
Giorgia desceu usando um roupão felpudo e pantufas, ambos branco. Pensei que aquilo combinava perfeitamente com ela e com seu cabelo escuro descendo como uma cascata contrastando com o tecido claro.
Jantamos na mesa da cozinha mesmo. Me senti na época do jardim, meninas de um lado e meninos do outro. Giorgia a minha frente e senhora Marino a seu lado, de frente com seu marido, que estava ao meu lado. Apesar dessa postura estranhamente formal, o jantar ocorreu de forma descontraída. Rimos enquanto contavam do passado arteiro de Gigi, e contei um pouco sobre minha boate novamente.
Quando olhei para o relógio e percebi que já eram nove meia, olhei para Giorgia que pareceu entender perfeitamente e ela subiu para se trocar. Expliquei que eu precisava passar na boate para ver como as coisas estavam antes de abrir e depois iria para casa tomar um banho. Ocultei a parte de eu morar na boate, pois pensei que assim evitaria problemas. Vinte minutos depois, Giorgia desceu. Precisei de alguns longos segundos para admirar sua beleza, antes de perceber que estava deixando-a sem graça. Em minha defesa, não tinha como não devorá-la com os olhos. O vestido preto de seda, só acentuava suas curva. Nada muito curto e nem muito longo, mostrava suas pernas de forma sedutora sem ser vulgar, mesmo com o par de botas longas, preta e brilhante. Sexy na dose certa. Claro que já vi mulheres vestidas com um estilo parecido, mas nenhuma ficou da forma que Giorgia estava. Linda. Como uma inocência vestida para matar.
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Atualizado até capítulo 33
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