Nipote e Nonna

GIORGIA

Voltamos para o colégio a tempo de pegarmos a última aula. Não posso dizer que prestei atenção, minha cabeça ainda estava explodindo com toda a informação que Matteo me deu sobre seu passado sofrido. Dei graças a Deus quando o sinal tocou, assim como a maioria da minha turma, mas os motivos deles são diferentes dos meus; Sexta-feira. Diferente deles, não vou sair pra curtição, vou aproveitar minha madrugada maratonando um anime novo da minha lista, até o amanhecer.

Junto meu material com todo tempo do mundo, hoje a professora de mandarim não iria vir, então tenho duas aulas extras a menos. Quando finalmente saio da sala, sou a última. Matteo estava encostado no mesmo lugar de mais cedo, me esperando.

- Que demora. - Diz ele me puxando para seu braço, entrelaçando no meu.

- Você não foi para sua última aula, não? - Andamos de braços dados.

- Eu fui sim, por quê?

- Porque você chegou tão rápido aqui, sendo que geralmente suas aulas são no prédio três.

- Hoje foi aqui no seu prédio, lá na piscina.

- Você troca de roupa rápido. - Ele riu.

- Saí para o vestiário, quinze minutos antes do sinal, porque depois que toca, é uma fila para o banho.

- Entendi.

- Quer uma carona para a padaria? Estou morto de fome.

- Segundas intenções?

- Na verdade, eu só tinha uma intenção mesmo, que era comer aqueles bolinhos que sua avó adotada faz. - Ri.

- Não chame ela assim, pode dizer nonna Ivone. Não dá para negar que são muito bons, mesmo. Isso porque você ainda nem comeu os doces que ela faz.

- Primeiro, que eu não posso chamar ela de nona, porque ela não é minha avó. E segundo, que não sou muito chegado em doces.

- Você precisa experimentar primeiro. E quando chegar lá, ela terá uma conversinha contigo.

- Então aceitou minha carona?

- Somos amigos, certo?

- Melhores amigos. - Rimos.

- Então, posso aceitar sua carona, a partir de hoje, sempre que me oferecer.

Chegamos ao estacionamento, e tinha mais gente do que pensei que teria. Matteo separou nossos braços e abriu a porta do carro para que eu entrasse. Não deixei de notar os olhares para nós ao me sentar no banco do carona. Ele pareceu não perceber, ou apenas não ligou. Quando ele entrou perguntei:

- Por quê será que estão todos nos encarando?

- Todos quem?

- Vai me dizer que não reparou na galera encarando a gente quando chegamos aqui no estacionamento?

- Sério? - balancei a cabeça concordando e ele deu partida - Deve ser o fato de eu estar acompanhado por alguém. Antes de - Ele fez uma pausa, mas entendi o que quis dizer e antes que dêsse partida no carro, apoiei minha mão direita em sua perna - Eu era muito popular na minha turma sabe, mas logo que aconteceu, eu meio que me fechei e comecei a me afastar de todo mundo. Não durou muito, acho que foram uns dois, três meses, antes de eu começar a beber o dia todo feito um louco. Depois tudo me lembrava ele, então resolvi sair do país. Quando voltei esse ano, parecia um fantasma, muitos me encaravam por onde eu passasse. E eu ficar excluído em algum canto da biblioteca, não ajudou muito a deixar de ser um morto vivo por aqui.

- Por isso disse que já tinha me visto lá.

- Sim - Ele riu - Sabia que você cochicha muito quando está sozinha? É até engraçadinho de se ver, para não dizer doida.

- Que feio, Matteo Caccini espiando as pessoas na biblioteca!

- Eu não espio pessoas na biblioteca, eu apenas reparei na senhorita cochichando sozinha na biblioteca, várias vezes. É diferente. - Fiquei vermelha, tenho certeza - E chegamos.

Trato de descer rapidinho do carro e ir logo cumprimentar Nonna Ivone que já está do lado de fora de seu balcão.

- Gigi, está tudo bem, querida?

- Está sim, nonna. Por quê? - A abracei e ela me deu um beijo no alto da cabeça.

- Vocês aqui a essa hora?

- Eu saio esse horário mesmo, a senhorita aqui que não teve aula extra hoje. Tudo bem, dona Ivone? - Matteo surgiu atrás de mim e cumprimentou a nonna com um aceno de cabeça apenas.

- Ora, venha aqui menino Matteo e me dê um abraço também. - Matteo corou enquanto eu ri baixinho, dando espaço para ele se aproximar.

- Sabe Nonna, Matteo disse que não pode chamar a senhora de nonna porque a senhora não é avó dele e ele ficaria sem jeito.

- Pois deixe disso, Matteo, você já é meu nipote e eu sua nonna, você pode me chamar do que tiver vontade, não fique acanhado. - Matteo já era um tomate, nos braços da nonna.

- Sabe Nonna, ele disse que não ia ficar comendo sem pagar também, porque ele tem dinheiro sabe, e não quer dar despesas aqui. - Ele me encarou com uma cara fechada.

- Claro que não é despesa nenhuma, até se vocês comerem dez bolos e quinze madeleines não vai ser despesa nenhuma, vocês precisam comer, estão magrinhos demais. Venham, vamos lá para dentro para vocês comerem alguma coisa.

Nonna Ivone soltou Matteo e levantou o balcão para passarmos, ele deu espaço para que eu passasse primeiro e veio logo atrás.

- Precisava dizer todas aquelas coisas? - Cochichou puxando a gola da minha camisa por trás, colando minha orelha em sua boca. Seu hálito quente e mentolado me fez arrepiar e deixei escapar um pequeno suspiro.

- Claro que sim, eu disse que falaria. - Falei um pouco mais alto que ele e nonna sorriu e olhou para nós de canto de olhos.

Nonna nos acompanhou até a copinha onde além da minha habitual cadeira, tinha mais uma. Trouxe duas cestinhas, uma com algumas madeleines e croissants de chocolates e a outra com alguns pedaços de torta de frango e os arancinis que Matteo amou.

- Nonna Ivone, esses seus arancinis são os melhores que já comi.

- Muito obrigada, Matteo. Gigi, você poderia pegar os refrescos?

- Claro, nonna. Matteo você vai querer de cola ou limão?

- Limão.

- Ok, dois de limão. - Assim que saio, vejo nonna se sentar na minha cadeira. Vou até os fundos onde fica os freezers e volto logo. Mas quando chego próximo deles escuto nonna agradecendo Matteo. - O que estão aprontando, dois?

- Não estamos aprontando nada, mocinha, Matteo estava elogiando meus croissants.

- De chocolate? Matteo nem gosta de doces.

- Eu não disse que não gosto, disse que não sou chegado e prefiro salgados, mas a nonna insistiu e eu experimentei e são ótimos mesmo.

- Sério?

- Pára de coisa, menina, claro que é sério, agora, dêem-me licença, preciso voltar lá para frente que já ficou muito tempo sozinha lá. Gigi, daqui a pouco seu nonno chega do banco aí você não precisa ficar hoje, está bem? Ele foi com o Seu Walter, eles saíram e vocês chegaram, quase se encontram aqui.

- Mas nonna Ivone, eu não me importo em ajudar, não tenho nenhum compromisso.

- Exatamente, vá se divertir, menina, fazer compromissos e coisa de jovens. Bye, vou para o caixa.

Matteo que estava em silêncio apenas abriu seu refresco e olhou para mim sorrindo.

- Está livre hoje à noite?

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Nipote \= Neto em italiano

Arancini \= bolinho de risoto (italiano)

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