Yin-Yang

MATTEO

- Bom dia, Boss! A noite foi boa, né?

Chego e como de costume, Jean Carlo, já está em frente ao bar da boate, lustrando uma taça.

- Bom dia Jean Carlo. O fim dela até que foi bom, mas nada memorável.

- Então, não me diga que esse sorrisinho malicioso é por minha causa?

- Carlo, Carlo, você não tem jeito. - Ele é gay, mas quando a boate abre, ele vira o centro das atenções de muitas mulheres e age como um paquerador nato. Ganha inúmeras gorjetas, a maioria com o número de telefone que quase nunca liga. Quase. Ás vezes, recebe galanteios masculinos também. Ele é o responsável pelos garçons e pelos bartenders. Além de ser meu braço direito com o pessoal da mão de obra, é meu melhor amigo.

- O que eu fiz? - Ele se fez de ofendido. - Vai, diz aí? Você é sempre tão emburrado de manhã. Viu um passarinho verde?

Coloquei a mão em seu ombro e disse:

- Nada que te interesse, meu caro. - Ele riu e segui para minha sala. - Você não deveria estar na sua casa? Você não dorme não?

- Eu dormi aqui. Estava ocupado.

- Dormiu? - Parei no caminho, reparando que ele estava com a mesma roupa de ontem.

- Eu fiz de tudo, menos dormir. - Riu descaradamente. Na sala dele tinha um sofá, estranhamente grande e confortável.

- Não tem nem vergonha na cara. Eu não te pago o suficiente para pelo menos conseguir pagar um motel? - Rimos e entrei na minha sala. Peguei meu celular vendo que ainda era cedo e conseguiria pegar o segundo turno das aulas. Realmente eu detestava ir para aquela droga de colégio, mas ou iria, ou meus bens seriam congelados por meu pai. Eu já tocava um negócio lucrativo, já tinha responsabilidades administrativas como um executivo, mas tinha que ir para o colégio. Vou completar dezoito anos daqui três meses e estou no terceiro ano do colegial outra vez...

Uniformizado, entrei no colégio e me recordei que Giorgia também estudava aqui. Procurei por ela mas nada de encontra-la. Não queria recorrer a minha irmã, então fui a secretaria para perguntar de qual turma ela era. Joguei meu charme para a coroa e ela me passou os horários de Giorgia mas não poderia me passar mais que isso. Não me preocupei, já tenho o número e o endereço dela, só queria encontrar ela agora.

Fui na aula em que ela teria, mas nada. Pelo visto, ela não virá hoje. Olhei para a tela de meu celular e nada de mensagem dela. Nada me adianta ter o número dela, se ela está sem celular para me responder ou me atender.

Assisti minhas aulas com total desanimo. Fiquei tentado em ligar para o número que ela ligou mais cedo, ficou gravado na lista de chamadas realizadas. Mas o que eu diria para o avô dela? Vou dar um jeito de resolver o problema de comunicação de Giorgia. Se ela não vier amanhã, eu irei até a casa dela.

Saí decidido sobre o que farei.

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GIORGIA

Acordei algumas vezes de madrugada e isso me fez ter olheiras de manhã. Então decidi que passaria uma maquiagem leve para disfarça-las.

Desci as escadas e nona já estava colocando a mesa para o café. Estranhei, raramente eu tomava café antes de ir para o colégio.

- O que é isso tudo?

- Teremos visita hoje, seu avô chamou a senhorita De Luca para conversaram sobre a segurança da casa e ela vai trazer alguns técnicos da empresa.

- Nono está decidido mesmo, não é?

- Está sim. Sobre a padaria, já liguei para Ivone, ela ficou preocupada e pediu para você passar o intervalo na padaria. E ela quer conhecer seu amigo.

- Nona, ele não é meu amigo. Mas vou ligar para ele assim que comprarmos o celular.

- Tudo bem, não se esqueça de convida-lo para o almoço. Agora tome um pouquinho de leite e coma um pãozinho antes de sair.

Não recuso os pãezinhos da nona, pego três e coloco num guardanapo saindo e ela me repreende com o olhar.

- Estou atrasada, nona. Beijo, te amo. - Saio correndo para a entrada onde nono já está me esperando encostado no carro. - Bom dia nono.

- Bom dia minha pequena. - Ele abre a porta de trás para que eu entre. - Dormiu bem?

- Dormi sim, feito uma pedra. - Menti e ele sorriu entrando no carro e saímos. O trajeto foi em silêncio pois eu estava terminando de comer. Chegamos rápido na porta do colégio. - Tchau nono, te amo.

- Tchau pequena, te amo também. Tenha um bom dia.

Encostado em um conversível preto, braços cruzados e me encarando. Lá estava Matteo, de uniforme do colégio e com uma mochila preta em um ombro. Assim que me aproximo ele pega uma caixa branca com uma fita vermelha de dentro do carro.

- Bom dia senhorita mata aula. Pensei que não viria hoje também.

- Bom dia. O que faz aqui?

- Eu estudo aqui. Toma, isso é para você.

Ele me entrega a caixa.

- O que é isso?

- Abre que verá.

- Mas nem é meu aniversário. Qual a ocasião? - Digo tirando a fita e abrindo a caixa. Um iphone e um airpods, ambos brancos. - Meu Deus Matteo, o que é isso?

- Um celular e um fone de ouvidos via bluetooth de última geração.

- O que é, eu sei. Mas por quê?

- Porque você estava sem e eu não consegui falar com você ontem. Fiquei preocupado por não ter vindo para o colégio.

- Eu fico muito agradecida, mas não posso aceitar. Vou comprar um depois que acabar as aulas.

- Não gostou?

- Não é isso. Não posso aceitar uma coisa cara dessas. Nem nos conhecemos, nem somos amigos.

- Nossa, eu pensei que seriamos depois de tudo que aconteceu. Nos demos tão bem ontem. Pelo menos, eu, pensei que tinha nos dado bem.

- Nos demos, mas não posso aceitar. Isso é caro demais para um presente de começo de amizade.

- Eu comprei o meu e esse saiu pela metade do preço. O fone, eu tinha pontos de milha e troquei. Cara, eu tenho uma boate, isso não vai me fazer falta, juro. Olha, combina com os meus. - Ele tira o celular do bolso. - Meu fone está em casa, mas também é preto. Yin-Yang.

- Ok, então aceito se aceitar almoçar na minha casa num domingo que não tiver compromisso. Meus nonos me fizeram prometer que te convidaria para um almoço de agradecimento, você pode escolher o prato principal se quiser.

- Nesse domingo não dá, mas no próximo eu posso.

- Combinado. Vamos para a aula. - Caminhamos lado a lado. - Eu não me lembro de já ter te visto aqui no colégio.

- Nossas aulas não coincidem. Mas eu já te vi na biblioteca.

- Gigiiii. - Lá vem Allegra, alegre como sempre. - Não te vi ontem no colégio, fui na padaria e você não estava também. Fiquei preocupada. - Ela ignorou Matteo.

- Eu não estava me sentindo bem ontem. Allegra, Matteo. Matteo essa é Allegra.

- A líder de torcida? Sua amiga?

- Não sou amiga dela, sou A melhor amiga. Prazer. - Ela se virou para mim de novo. - Você está melhor ? O que você tinha? Te liguei várias vezes e só deu caixa postal direto.

Fiquei sem saber o que responder, não queria falar para ela que eu tinha sido assaltada. Não queria falar sobre aquilo por um bom tempo.

- Na verdade a culpa foi minha, e estava me desculpando quando você interrompeu. Poderia nos dar licença?

Ela deu uma encarada com a cara fechada para ele que nem percebeu.

- Você vai ficar bem sozinha com esse daí? - Balancei a cabeça positivamente. - Ok, qualquer coisa me liga, grita e usa o golpe que te ensinei. - Sorri e ela me abraçou e saiu.

- Cara, nunca te imaginaria com uma líder de torcida.

- Por quê? Eu não sou tão bonita para ser uma? - Fiquei irritada e comecei a andar apressada.

- Ei, eu não disse isso. - Ele começou a andar rápido também. - Eu pensei... Sei lá, você não faz a linha fútil... Giorgia, espera. - Segurou meu braço me parando - Você parece ser legal demais, e ... - Ele se posicionou na minha frente, mas eu decidi olhar para os nossos pés. - E .... cara você é linda. - Ele ergueu meu rosto com o indicador e seu polegar roçou no meu lábio inferior. O sinal tocou e balancei a cabeça me libertando do feitiço de seus olhos.

- Vamos para nossas salas. - Falei e ele deu uma leve movimentada com a cabeça ficando corado, quase imperceptível.

- Almoça comigo? - Começamos a caminhar lado a lado novamente.

- Você não parece ser do tipo que fica sozinho e isolado na hora do intervalo.

- Você parece. - Uma afronta a minha pessoa.

- Quem te disse isso? Eu sou muito popular tá. - Rimos.

- Eu já te vi almoçar na biblioteca.

- Huum. Eu tenho muitas matérias avançadas. Quase moro na biblioteca.

- Isso é verdade, e para quê tantas matérias extra curriculares?

- Quero que minhas notas sejam impecáveis para a faculdade.

- Vai tentar uma bolsa? Você não tem dinheiro para pagar uma?

- Não, nada haver isso. Mesmo que eu possa pagar, quero um histórico impecável. Ano que vem eu vou começar a aprender os negócios de meus pais, assumir a empresa e preciso ser muito boa em seja lá o que for que eles faziam.

- Huuum, entendi. Mas vai almoçar comigo?

- Vou pensar. Minha aula é no prédio um, e a sua?

- A minha é no terceiro. Pensa direitinho, hein. Podemos configurar seu aparelho novo para você sair dessa sua era feudal e receber chamadas novamente. Tchau Gigi.

Acenei correndo para minha sala, já estava atrasada, nem percebi do que me chamou.

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