Capítulo 20

Andei depressa sem olhar ao menos se Kaydan estava atrás de mim. Quando vejo minha mãe chorando do outro lado da pequena cerca em volta de nossa casa não penso em nada.

— Ashley! Filha. —Ela me abraça desesperada— Por Deus! Onde esteve? —Ela olha para alguém atrás de mim e parece que viu um fantasma. Kaydan, ele está parado e ambos se encaram. Surpresos.

—O que houve? Porque toda essa gente? —Um misto se ternura e tristeza transpassam seu olhar. —Mãe...

—Desculpe querida —Ela cai em prantos mais uma vez —O Farby, ele...

—O que tem o Farby mãe? —Minha visão embaça, um aviso de que lágrimas estão para cair. —O que tem o Farby mãe? — Não é uma pergunta, é uma suplica. — Onde está o meu cachorro?!

Ela segura o meu braço e aponta com o queixo para um invólucro no chão, há um pequeno relevo. Eu me aproximo e levanto a ponta do saco torcendo pra que não seja ele ali deitado daquele jeito.

Caio de joelhos ao lado do corpo, puxo o ar mais é inútil, o meu coração se aperta tanto que posso jurar que uma veia irá se romper. Farby está estiraçado no chão, as patinhas quebradas e ensanguentadas. No centro da barriga há um círculo. Não há pele dentro do círculo, está em carne viva. Um desenho foi feito ali, uma espiral.

Minhas mãos tremem. Minha mãe chama pelo meu nome, mas não ouço e não vejo absolutamente nada. O ser que conviveu junto a mim por cinco anos foi morto da pior forma possível, eu não estava aqui para protegê-lo, assim como ele sempre esteve perto quando me encontrava chorando pela casa. Imagino seu uivo de socorro, um pedido feito para mim, mas não estava perto para ajudá-lo.

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— Farby nunca faria mal a uma mosca, não entendo como ousaram fazer algo assim.

Minha mãe conversava com o cherife dentro de nossa casa. Kaydan não havia ido embora, estava ao lado do seu tio sentado à mesa junto com minha mãe. Enquanto eu estava no último degrau da escada sentada, apoiada no corrimão, com uma coberta envoltenvolta, pois chovia lá fora.

Faz duas horas desde o ocorrido, o cherife passou várias informações sobre os ataques, não havia tido um que fosse direcionado a animais, ainda mais com tamanha brutalidade. Disse também, que provavelmente a espiral que foi feita da pele de Farby, foi usada em algum tipo de ritual.

Assassinatos vêm acontecendo com bastante frequência em Monowi, as autoridades tentam a todo custo exterminar quem comete esse tipo de ato, mas sem sucesso. A torre também foi um ato violento.

Mesmo fitando o chão, em meu campo de visão consigo ver Kaydan virando a cabeça várias vezes em minha direção. Até que ele caminha até mim e estende sua mão, contendo uma xícara de chá.

— Obrigada. — Digo. Ele se apoia em pé no corrimão e ficamos em silêncio, apenas escutando a conversa entre a minha e seu tio.

— Talvez o assassino estivesse naquele beco —Falo apenas para ele escutar.

—É, talvez. — Diz calmamente. — Mesmo que estivesse você não poderia fazer nada para evitar.

Depois que ficamos apenas eu e minha mãe, não consegui suportar a dor e a coloquei para fora igual a uma criança. Ficamos apenas eu e ela dividindo a culpa e o pesar. Farby não era apenas um animal qualquer, ele fazia parte da nossa família.

No dia seguinte não consegui ir á escola, nem ao menos sair do quarto para comer. Durante todo o dia me tornei uma completa inútil deitada em minha cama. Em meu celular havia mensagens de Anne, Layla e minha mãe, é incrível a forma como o meu círculo íntimo de pessoas diminui num tempo tão rápido.

Piter apagou as mensagens que havia mandando e me bloqueou, fiz o mesmo não só com ele, mas com várias outras amizades de Hudson, só permaneceu quem se fez presente.

David também havia mandado algumas mensagens, mas assim como os outros não respondi.

A vida ficou cinza de ontem pra hoje, a cidade que já era sem cor, ficou opaca, pois o único pontinho colorido está a não sei quantos metros em baixo da terra.

Ouço a companhia tocar e faço questão de demorar a atender, no entanto o som ressoa novamente pela casa. Levanto-me preguiçosamente e desço as escadas com dificuldade. Através do olho mágico não consigo ver ao certo quem é, mas abro a porta mesmo assim.

—Anne? —A voz rouca de quem não ingeriu nada sólido o dia inteiro sai em direção a ela, mas Anne não parece se importar. Pelo contrário, a garota está frenética como se houvesse um grande acontecimento. Um acontecimento muito ruim.

—Eu descobri de qual erva o cháfoi feito.

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