Capítulo 15

— ... E você acha que vir até essa droga de cidade vai resolver alguma merda Daiane?!

Levanto-me com dificuldade em mover as pernas, abro a porta do quarto, mas não os vejo, desço as escadas e também não os encontro no térreo.

Consigo sentir o mesmo cheiro de hoje mais cedo, no entanto sem náuseas. As vozes soam mais altas e consigo escutar o que minha mãe diz.

— E quem você pensa que é para falar dessa forma?! Era seu dever me ajudar, assim como prometeu, mas você sumiu jogando toda a responsabilidade em cima de mim!

Do que eles estão falando?

Olho para a janela e já está de noite e lembro-me do que houve. A dor de cabeça, o calafrio e tudo que coloquei para fora. Olho para o lugar onde vomitei e está com uma leve mancha vermelha.

A porta se abre, minha mãe e Richard entram e se assustam ao me verem. Ela vem em minha direção e dou um passo para trás.

—O que tá acontecendo? —vacilo na voz. Minha mãe demora para responder e por alguns segundos olja para Richard.

—Foi a viagem querida, me desculpe... Essa loucura toda em cima da hora fez mal a você.

Richard ri com escárnio. Eu relaxo meu corpo, pois ao menos não é nada mais sério.

— Quando eu realmente for útil, mande-me uma mensagem Daine. —antes de se virar ele para —Ah, e Aschy, muito obrigada por me ignorar no chat, sua ingrata.

Dito isso, ele simplesmente sai por onde entrou. Observo a minha mãe com os olhos atentos a ele, ela suspira alto como se estivesse deixando um peso de lado.

—Venha querida, vamos limpar você.

Não reparei que estava toda suja depois do ocorrido. Ela caminha até mim colocando seu braço em apoio para que eu suba a escada. Aceito sua ajuda e é como estar em casa novamente, me aconchego em seu abraço e subimos as escadas.

Após tomar um banho e sair do banheiro, vejo uma bandeja com chá e outras guloseimas, o cheiro do chá impregna por todo o cômodo e eu o desconheço. Se tem algo em que sou boa em reconhecer é um bom chá, já que é a única coisa que sei fazer na cozinha.

E o que está em cima da bandeja segurada por minha mãe, eu desconheço completamente, o cheiro é forte e azedo. Minha mãe não faria algo que não gosto, para tomar depois do que aconteceu.

— Que chá é esse? — Jogo as roupas sujas dentro de um cesto e caminho até a cama. Sinto o cheiro do suor escorrendo sua testa e ouço sua respiração descompassada, acompanhada de um sorriso fraco. Ela vai mentir?

— Ervas. — Diz com confiança— Você está acostumada apenas com plantas medicinais de Hudson. Mas aqui em Nebraska há uma grande variedade delas.

—Hum—Murmuro em resposta.

Caminho até ela e aconchego-me ao seu lado, pego uma rosquinha com cobertura de chocolate e dou uma mordida.

— Beba o chá, você vai gostar.— Ela oferece e no minuto seguinte o seu telefone toca. — Preciso atender, é o engenheiro responsável pela obra —Explica e se levanta —Beba o chá!

Aceno com a cabeça, espero a porta ser fechada e olho mais uma vez para o chá, há algo lá fundo do meu subconsciente que grita "há algo errado", mas a verdade é que está tudo errado.

Pego uma pequena garrafa de água, derramo todo o conteúdo no banheiro e coloco metade do chá nela e guardo em minha mochila. Deixo na xícara apenas o suficiente para mamãe não desconfiar que ousei a desobedecer.

Se são plantas medicinais de Nebraska, Anne se encarregará de me contar. Contínuo comendo o Donuts quando a porta é aberta.

—Problemas no trabalho? —Instigo

—O de sempre, preocupações, mas vou ter que ir até o local de construção, algum coisa ou alguém, estraçalhou os materiais de construção. —Suspira pesado—Bebeu o chá?

—Não ele todo. —Dogo firme, mesmo me sentindo culpada por desconfiar da minha própria mãe.

—Não tem problema, a erva faz efeito do mesmo jeito —Ela pega a bandeja — Tente dormir, amanhã você tem aula. — Minha deposita um beijo suave em minha testa e puxa a porta atrás de si, me deixando sozinha no quarto.

Me deito sobre a cama fitando o teto. Não demora muito até que aquela velha idiota comece a bater incessantemente em o que quer que seja.

— Mais que droga! —Vou até à janela e tento olhar para a casa ao lado, há uma luz ligada e um corpo masculino em pé. — Pare de bisbilhotar a vida dos outros Ashy — Me auto repreendo.

Paro de encarar a vida alheia e me volto para a vista que a minha janela me permite ter, a rua. Não há ninguém, completamente vazio. As casas escuras e fechadas, no entanto o relógio em meu pulso marcam sete horas e meia. Essa cidade é uma droga mesmo.

Ouço o latido de Farby me tirando da minha bisbilhotagem. Aqui de cima não tenho a visão completa do quintal e não tenho coragem de gritar aqui de cima. Droga Farby.

Desço as escadas apenas com um par de pantufas no pé e um celular na mão, chamo pela minha mãe, mas aparentemente ela já saiu, considerando as luzes do andar de baixo estão desligadas. Quando desço ligo apenas a da cozinha.

—Farby? — Chamo por ele do lado de dentro, apenas com a visão que a janela de vidro da porta me permite. O cachorro está sobre as quatro patas latindo para uma direção. Conheço ele o suficiente para saber que não é qualquer latido. Não consigo ver o que está chamando sua atenção.

Hesito antes de abrir a porta, pensando seriamente se vale a pena ter o meu rosto estampado em um daqueles documentários de Serial Killers. Mas pelo Farby eu daria minha vida. Abro a porta e caminho em direção a ele, preso na corrente que fui contra, mas minha mãe afirmou que seria apenas até ele se acostumar. O ar está gélido e venta forte, indício de uma tempestade.

—Vem aqui garoto. —Destravo sua corrente e ele baixa a guarda vindo para trás de mim. Farby está com medo e se Farby que é um cachorro está com medo, eu também estou. Espero que coloquem uma foto bonita ao menos.

Olho em direção para o que ele estava latindo, o quintal da Sra Olívia, caminho até onde a cerca me permite, com muita dificuldade consigo enxergar a senhora de cabelos grisalhos cavando com uma ferramenta de jardinagem em sua mão direita e o que se parece uma planta na mão esquerda.

—Não acredito que você me fez vir até aqui por isso Farby. —O cachorro continua atrás de mim em silêncio —Vamos para dentro.

—Ele é não é bom guarda garotinha.

— Aaah! — Grito com o susto —Senhora Olívia?! — Ela caminha em direção a cerca e instintivamente me afasto. A velha gargalha ao ver o susto que causou em mim.

— Te aconselho a procurar outro cão. — Dizz ríspida —Numa cidade como essa, bons cães de guarda são extremamente úteis.

Ela me dá aquele olhar arrogante de quem pensa que sabe os segredos mais obscuros do mundo. Seguro firme a corrente do Farby.

— A única que pode dizer se ele é ou não um bom cão, sou eu e minha mãe. — Respondo-lhe no mesmo tom. — Tenha uma boa noite Sra. Olívia.

Caminho em direção a minha casa e mesmo quando entro ela ainda está lá, parada, olhando fixamente para cá. Fecho a persiana, uma boa invenção para curiosos e subo para o meu quarto junto com Farby.

Arrumo uma caminha para ele perto da janela, no entanto assim que me deito o cachorro arrasta o emaranhado de pano para perto de mim.

—Boa noite Farby.

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