Capítulo 17

Andamos até a fila, mas não tiramos os nossos olhos do que está acontecendo na mesa do centro. Yhumi e Kaydan sentados junto a algumas líderes de torcida e três jogadores de Lacross, gargalham enquanto uma garota alta, morena de cabelos trançados chora em sua frente.

—O que houve? — Pergunto a Anne quando pego minha bandeja.

— Ela deixou a bandeja cair próximo a ele —Isaque responde minha pergunta, não havia notado que ele estava por perto — Não sei quem é mais imbecil, ela ou o ele.

Ele sai da fila e se senta mesa com outros alunos. Quando olho novamente para a situação no centro percebo o coturno preto de Kaydan, com algumas manchas brancas, causadas pelo molho que acabei de colocar em minha bandeja.

Anne termina de pôr a sua refeição, escolhemos uma mesa um pouco mais no fundo, próximo a uma janela ampla, nos sentamos e eu optei por sentar de frente para o centro, olhando o movimento.

— Um desperdício de comida e tempo. —Diz Anne

— Limpe. — A autoridade na voz do garoto ecoa pelo refeitório, o silêncio se instala, apenas o choro abafado e a respiração pesada se é escutado. Olho para o círculo de pessoas sentadas à mesa, percebo que Yuri não está presente, saiu em algum momento passando por despercebido. —Com a língua — Ele diz fazendo o mesmo contato com olhos que fez comigo hoje mais cedo.

A garota se abaixa lentamente, com os olhos marejados e mãos trêmulas. Sinto algo em meu bolso vibrar e rapidamente pego antes que faça algum barulho. Mas é tarde, o som alegre do toque tira a atenção de todos da garota para minha direção, inclusive dos dois porquinhos no centro. Merda.

Levanto rapidamente pegando minha mochila, com o intuito de não voltar mais, saio apressada sentido olhos curiosos queimando em minhas costas. Passo pela porta do refeitório escutando vozes cantarolando "Limpa" em unisono, seguido de gargalhadas.

O celular toca novamente e dessa vez atendo.

—Mãe? —Ouço voz dela falhada do outro lado da linha. —Alô?

Levanto o celular ao alto a procura de sinal, mas a barra está mal preenchida. Ando pelo corredor a procura da porta onde contém uma escada, ela me levará ao terraço e lá sem dúvidas é o melhor lugar para área.

Depois de andar vinte metros, finalmente a encontro, me deparando com uma enorme escada em zigue-zague. Começo a subir e a cada degrau dois xingamentos diferentes, um para a escola e outro para cidade.

Quando chego no último lance, os meus pulmões resolvem me deixar na mão, abro a porta de metal e tenho uma vista inteira de Monowi.

A cidade, carros, pessoas por toda a pequena extensão. A floresta de pinheiros se estende ao longe e não consigo mensurar o seu fim. Apoio-me sobre a grade procurando por sinal e falho miserávelmente, sem área.

— Esse lugar ainda vai me matar!

—Tecnicamente, Monowi não mata ninguém Ashley.

Desequilibro e o celular quase vai queda abaixo, seguro firme o trazendo novamente para mim. Viro-me para procurar o dono da voz, pronta para praguejar até as suas futuras gerações. Mas vejo um poste com braço coberto de tatuagens e traços asiáticos.

Yuri?

— Como sabe o meu nome? — Ele solta uma risada nasalada e se apoia na grade de metal.

— E quem não sabe?

—Não deveriam, eu acho. Cheguei aqui a uns…

— Trêss dias. — Completaa, o encaro perplexa e ele ri. — Se está procurando sinal, não irá encontrar, a torre está em concerto.

— Só há uma torre de sinal aqui? — Ele acena em concordância. — E o que houve com ela?

— Vandalizaram.— Dessa vez eu solto uma gargalhada.

— Só pode ser brincadeira... Porque exatamente, um lugar como esse teria vândalos?

—Não sei, talvez em forma de protesto. — Diz incerto.

Apoio-me no parapeito ao seu lado e assim como o meu cabelo, o seu liso mediano voa ao vento.

— E você também está aqui em forma de protesto? —Pergunto lembrando-me de sua saída ao perceber o que iria ser feito a garota morena. Ele se mantém em silêncio por um tempo.

— Não aprovo esse tipo de comportamento. — Curto e sutil. Anne falou sobre isso.

— Yuri, o bom samaritano. Interessante.—Ele solta uma risada ao meu lado.

— Julga que sou bom, apenas porque não estou junto deles?

—Não, mas dá para o gasto.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas sentindo a brisa gélida. Nesse meio tempo uma névoa baixa e fechada se forma na rua, um indício de que a temperatura está abaixando.

Escutamos o sinal ressoando, dando início a um novo horário, viramos juntos até a saída, ainda sem dar uma palavra sequer. Num segundo ele abre a porta que levei minutos para abrir.

— Primeiro as ruivas. — Brinca gesticulando com a mão. Finjo que reviro os olhos e passo em sua frente.

— Você tem educação, bem diferente da... — Arregalo os olhos quando percebo o que ia dizer — Digo…

—Minha irmã? É o que dizem.

— Também dizem que ela quer fazer comigo o mesmo que fez com o giz do professor. — Confesso.

—Sim, ela quer. — Diz entre risos. —Você também é bem diferente do que falaram.

—E o que disseram?

—Nem queira saber.

Saímos pela porta e alguns alunos presentes nos olham intrigados. Anne tem razão, estou falhando miserávelmente em me manter invisível .

Nos despedimos com um aceno de cabeça, vou para um lado e ele para o outro. Saio a procura por Anne para saber sobre o club que participa e por sorte a encontro em seu armário.

— Por onde andou? Estava a sua procura. — Diz surpresa ao me ver.

— Foi mal, estava procurando área para com minha mãe. — Encosto no armário ao seu lado.

— Conseguiu?

—Não, parece que resolveram destruir a torre. — Um grupo de duas garotas e uma menino passa me encarando e cochichando baixo. Anne olha suspeita para mim.

—O que houve?

— Vem, conto no caminho para o club de fotografia. — Puxo ela é caminhamos em direção oposta.

— Você vai para o de fotografia?!— Ela dá um gritinho de alegria e eu sorrio ao me lembrar de Layla.

Conto-lhe sobre a quase morte do meu celular e o que aconteceu no terraço e a garota quase surta no meio do corredor, o que me preocupa. O trio acabou implantando uma visão totalmente distorcida deles em relação ao restante dos alunos, enquanto os três são colocados num pedestal, os estudantes são considerados meros mortais.

E com Anne não é muito diferente, ao que parece ela desenvolveu um complexo de inferioridade, apesar de fazer parte da primeira turma em metade das matérias. O que me leva a pensar o motivo pelo qual são tão influentes na cidade, mesmo não sendo os únicos com boa condição.

Quando o extracurricular é finalizado com uma breve palestra em agradecimento pelos novos participantes, somos liberados e podemos ir para casa. Pergunto a minha amiga o motivo de sair tão cedo, no entanto ela também não conhece o motivo. De qualquer forma tenho mais tempo para saber sobre o chá.

......................

— A minha casa não fica tão longe. — Explica ao sairmos da escola. — Alguns minutos e já estaremos lá.

— Sem problema, vai ser bom sair um pouco.

— Você não saiu desde que chegou? — Investiga

— Eu fui para escola, conta?

Anne abre um sorriso fraco e então inicia um pequeno tour até sua casa, ela explica todos os lugares que passamos e como é chamado. Ao decorrer do tempo percebemos que algumas lojas vão se fechando e número de pessoas na rua diminui.

— Chegamos. — Anuncia ao pararmos em frente a uma casa.

Consideravelmente pequena, mas não tanto. Há um caminho cimentado que leva até uma garagem, ao lado direto da garagem há uma pequena varanda feita de madeira, é a entrada. Cresce plantas em todos os locais, dando indício da grama não aparada há muito tempo. Uma grande árvore em frente a casa faz sombra. A madeira da qual a casa é construída tem tons terrosos, mas bem envelhecidos.

—Vamos? — Anne pergunta um pouco desconfortável e eu lhe um grande sorriso a seguindo até o interior da casa.

O espaço é pequeno, humilde, mas bem organizado, há livros no chão da sala, uma televisão antiga e uma mulher deitada no sofá lendo um livro.

Ela sorri ao nos ver e Anne nos apresenta, abaixo-me para cumprimentá-la, pois a mesma não consegue se levantar. Há muletas e uma cadeira de rodas ao lado do sofá.

A mãe de Anne é paraplégica.

A mulher continua sorrindo docemente e nos oferece algo para comer, mas agradeço e sigo Anne até o seu "laboratório particular" onde começamos a análise.

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