capítulo 13

— Olhe bem e siga a luz.

A enfermeira fala apontando uma mine lanterninha em minha direção. Faço o que ela pede, o ponto iluminada se mexe da direita para a esquerda e assim sucessivamente.

— Muito bem! Vou passar um comprimido para você e logo estará melhor.

— Só isso? E o que eu tenho? —Ela me encara trazendo em sua mão uma pílula, vejo meu rosto refletir em seu óculos.

— Anne, pegue um copo de água por favor. — a garota corre em direção a porta —É Ashley, certo? — concordo com a cabeça — Ao que me parece, as noites mal dormidas e falta de hidratação podem ter causado as dores de cabeça, quanto as náuseas e todo resto que você disse sentir, não tenho ferramentas o suficiente para lhe afirmar nada. Aconselho ir a um hospital.

—Tudo bem. — Desço da maca e pego meu sueter —Então, eu já posso ir?

— Espere até Anne voltar, melhor eu ter certeza que tomou o remédio —A médica sorri sutilmente para mim e volta a arrumar seu local de trabalho.

Encaro a vista da janela que dá direto para um campo com arquibancadas e um pouco mais a frente tem a vasta vegetação.

—Não é perigoso uma floresta de tão fácil acesso?—Questiono

— Temos regras e caso sejam quebradas a escola aplica uma multa. — explica ainda organizando a sua bancada.

Não demorou muito até que Anne voltasse com um copo de água e uma mochila nas costas com os livros que usamos de desculpa para fugir do professor de biologia. Quando nos despedimos da enfermeira que nem ao menos sei o nome, pergunto a Anne quem eram os três que entraram por último na sala.

— Alguns os apelidaram de o trio de ouro. — assim que ela termina de falar não consigo me conter e solto uma risada genuína. —Qual a graça? Não entendi.

— Você tá brincando comigo? — Ela faz um não com a cabeça — Nunca leu Harry Potter? — novamente nega com a cabeça —Você nunca viu Harry Potter?!

— Isso é um problema?— questiona receiosa

— E dos grandes, mas depois resolvemos isso, continue contando sobre o "trio de ouro" — faço aspas com os dedos

—Oh, certo. Eles são os queridinhos de toda escola, a maioria só falta beijar o chão que os três pisam — Anne faz uma cara de desgosto— Yhumi e Yuri são irmãos, os nomes são bem parecidos, antigamente quando menores eles eram irmãos gêmeos.

—Sim, dá pra ver ainda a semelhança. — comento

—A garota, Yhumi é a líder de torcida, ela não faz o tipo "filhinha de papai" mas é bem esnobe. Os pais dela e do Yuri trabalham com algo parecido a relações internacionais, não moram aqui, no entanto são bem ricos.

Yhumi é a única aluna que tem a melhor validação acadêmica de toda a escola. —Anne faz uma pausa e olha de relance para mim— Quer dizer, ela era, até você chegar.

— Espera, como sabe das minhas notas?

—O diretor Worns me mostrou, ele me deu praticamente uma aula sobre o quão bem eu deveria tratar você. A sua vinda até aqui significa muito para os moradores de Monowi, a sua mãe ter aceitado o projeto va…

— Quem mais sabe sobre o projeto?— A interrompo

— Quase ninguém, mas dou dois dias até que toda a cidade comece a fofocar sobre isso. Sem contar que são mais uma família rica vindo para cá, eles iriam comentar de qualquer forma.

— Você tem um ponto. — admito para ela — E quanto aos outros dois garotos?

—O Yuri é perfeito, é sutil e habilidoso quando se trata de ter estratégias para o time, é como se tivesse um dom para distração, parece que tudo o que ele faz é calculado, —o seu tom soa com admiração — em relação a notas acadêmicas é um aluno mediano, mas muito bom nos extracurriculares, como por exemplo o de Karatê, todo ano ganha o primeiro lugar.

— Bem diferente da irmã ao que parece...Mas então,—bato de leve a mão em seu ombro —você e ele…

— Ah! Não, o quê? Tipo, não mil vezes!—Anna ri de forma descompassada— Do que você tá falando…

— O jeito que você falou dele é bem suspeito, mas relaxa não precisa ficar assim —Ergo as mãos em redenção.

—Eu sei, mas é que, —ela faz um pausa antes de continuar — o Yuri é algo fora da minha realidade, ele pode ser calmo e equilibrado, mas fruta podre não cai longe da árvore —Anne suspira — ele e Kaydan podem não ser irmãos mas agem como se fossem. Os dois fazem o tipo "mulherengo".

—Kaydan?

—Sim, o "líder" — ela faz aspas com os dedos — se é que você me entende. Kaydan é tudo e mais um pouco. Rico, inteligente, boa aparência e talentoso quando o assunto é encantar as pessoas e fazer delas o que bem entende. Traduzindo, ele tem tudo o que quer, na hora que quer e como quer. — vejo ela revirar os olhos— Ele faz o tipo badboy, costuma ser territorialista e bem agressivo quando o assunto é Lacross e provocações. Ocorreram situações em que ele brigou no meio da partida.

— E nunca o expulsaram?

— E nem vão, ele é o melhor no jogo, a força e seu corpo atlético é o que levou a nossa escola á nove vitórias consecutivas. Não é atoa que ele é o líder e um grande babaca que age como se fosse um deus, e tratam ele como um. Talvez hoje alguma garota tenha o azar de ser humilhada na frente de todos.

— Como assim humilhada?

— A cidade tem uma boate muito famosa que pertence à família do Kaydan, abre todas as quintas, sextas e aos finais de semana também, ou quando o idiota quer. Nem todos tem acesso livre lá, principalmente acesso VIP. Toda a noite Kaydan convida alguma garota diferente e algumas têm a sorte de serem convidadas duas vezes seguidas, ou ficam muito frustradas.

—Anne, me fala que isso é algum tipo de brincadeira. —peço a ela.

—Não é, eu também não entendo, juro. É como se ele fizesse lavagem cerebral nelas.

Um ótimo lembrete para passar bem longe dos três, caso contrário a falta de paciência que coexiste em mim (graças a essa maldita cidade) ainda vai me arrumar problemas.

Paramos em frente a um amontoado de armários pelo corredor, Anne pega uma chave em seu bolso e ajudo ela a guardar os livros.

— Toma —Pego a pequena chave de sua mão e fecho o armário — é seu a partir de agora, fica bem ao lado do meu! — Diz contente.

Sorrio em resposta e voltamos a caminhar, dessa vez, rumo ao refeitório.

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