Capítulo 16

— Esse cheiro é... — Anne aproxima a garrafa mais uma vez em seu nariz. — Estranho. Nunca o senti antes —Alega — E mesmo que tivesse, seria bem difícil saber o que há aí dentro.

— Mas tem que ter um jeito de saber, não é? —Ela me encara pensativa. Guardo a garrafa novamente em minha mochila.

— Tem, no entanto não tenho certeza se realmente vai funcionar.

— Como?

— O laboratório. Podemos analisar a composição e assim descobrir do que é feito.

— Sério, você não sabe o quanto vai me ajudar com isso Anne!— Sorrio para ela novamente, satisfeita. Ela se vira para pegar o livro de álgebra do seu armário, nossa primeira aula.

Anne não fez nenhuma pergunta por qual motivo quero saber dos ingredientes de um chá, mas confessou que acha bem estranho, então contei sobre o quanto gosto de chás e com isso conseguir encubar a mentira, que nem chegou a ser contada.

— Pronto, terminei aqui, — Ela trava o cadeado. —Vamos.

Caminhamos até a sala onde a maioria das carteiras já estão preenchidas, procuramos uma que não esteja completamente no fundo e nem muito na frente, no meio é mais adequado.

Ao contrário de minha antiga escola, aqui em Monowi as aulas são divididas em três salas, o conhecimento do aluno para com a matéria é que decidirá em qual sala ele ficará. Na terceira e última sala, estão os que tem péssimo rendimento, na segunda os medianos e na primeira os que se destacam.

Segundo Anne, são poucos os alunos que conseguem ficar sempre na primeira sala. Referentes ao terceiro ano, são três no total. Isaque o garoto magrelo sentado na primeira cadeira da fila do meio, duas cadeiras à minha frente. Yhumi a garota asiática pertencente ao trio de ouro. E eu, a novata que chegou a pouco e já quer ir embora.

— Se o seu plano era ficar invisível, —Começa Anne, cutucando o meu braço esquerdo — sinto muito, mas você falhou.

Olho para ela, buscando entender do que se trata e a garota sinaliza com a cabeça olhando para os lados, sigo o seu olhar e só então percebo que a maioria dos alunos olham várias vezes para a nossa mesa.

—Ontem não estavam assim, o que aconteceu?—Sussuro

Antes que a garota responda o trio entra pela porta e logo em seguida o professor. Yhumi a garota de olhos cor de avelã, pela primeira vez desde que cheguei me encara de forma não muito agradável, até que seu irmão chama sua atenção com alguma conversa entre ele e Kaydan.

A professor começou a falar sobre o assunto que estava sendo trabalhado, para só depois chamar ao quadro os alunos, sugeriu que fizéssemos uma competição entre dois, quem terminasse primeiro os cálculos vencia a rodada e permaneceria no quadro para competir com o próximo, o vencedor garantiria cinco pontos extras no exame da próxima semana.

Nas primeiras dez rodadas, Isaque venceu, tirando Kaydan, Yuri e outros oito estudantes da brincadeira. No entanto na décima primeira perdeu para Yhumi que tomou frente do ranking dezoito vezes consecutivas. Agora quem está ao quadro é Anne, a sua mão treme ao segurar o giz enquanto a sua adversária ri da situação, puxando um coro de risos junto consigo.

— Já acabou, quatro olhos. — Yhumi diz com desdém e as risadas aumentam. Anne volta ao seu lugar cabisbaixa e dou-lhe um sorriso singelo ao sentar-se ao meu lado.

Minha nova companheira me disse o tipo de situação que tem de passar com as lideres de torcida e outros alunos, por razões fúteis, como o seu club se fotografia, sua aparência ou até mesmo status social, entre outros momentos constrangedores que enfrenta apenas por ser ela mesma, sem ao menos fazer mal algum aos outros.

—Senhorita Cooper — O professor chama — Venha a frente por favor.

A última que sobrou. Antes de me levantar Anne gesticula um "Boa sorte" com os lábios. Yhumi me encara de cima a baixo e nem ao menos tenta disfarçar o seu sorriso sinico ao me ver.

—Bom meninas, virem-se de frente para a turma enquanto escrevo os problemas que iram resolver.

Nos viramos juntas e pela primeira vez revivo o momento de minha festa de aniversário quando todos os olhares estavam em mim.

Tenho um visão de toda a turma, até que paro quando em um par de olhos azuis. Implacáveis, que me fisgam com tanta atitude que me sento uma presa. Ouço uma voz fraca em meu subconsciente, algo como chiados e gemidos, vários ao mesmo tempo, tento desviar mas me sinto incapaz até mesmo para isso. Sinto alguém chutando o meu pé. Isaque

—Ashley! —O professor grita e só então percebo que estava encarando Kaydan por muito tempo. Olho para o professor — Sei que nessa idade é bem como se sentir atraída por... —Ele olha na direção de Kaydan com escárnio— Esse tipo, mas acredito que entrar em uma boa faculdade pode lhe garantir um futuro bem melhor. — De relance percebo o moreno sorrindo da situação.

O professor da o sinal e nós duas viramos ao mesmo tempo. Me deparo com um problema de quatro linhas para resolver, não há uma palavra sequer, apenas números e símbolos presentes na nomenclatura da matemática.

—Podem começar! — O professor da a ordem e Yhumi é mais rápida em pegar o giz. Ela não está tão segura assim.

Faço o mesmo e começo a resolução do problema. Em Hudson estávamos a dois passos a frente deles, esse assunto é antigo e eu particularmente considero muito fácil resolver problema em cima de problema, principalmente quando a minha antiga professora me ensinou a poupar tempo. Ao invés de resolver pelas regras, faço os cálculos de forma direta, o que me poupa tempo para pensar na resposta mesmo tendo feito quatro linhas de resolução.

Enquanto a garota ao meu lado está na sétima linha, usando delta. Eu obtenho o resultado. 0,03.

—Acabei! —Digo ao colocar o giz em seu devido lugar. Ouço algo sendo partido ao meio, o giz de Yhumi cai no chão em vários pedaços.

......................

—Você está na mira dela Aschy! —Anne fala com tanto entusiasmo que chego a ter dúvidas de que torce por mim.

—Só por causa de um exercício? Duvido, perder uma vez não faz mal a ninguém.—Abro o armário e coloco meus pertences, Anne faz o mesmo.

—Faz. Na verdade, a deixa doente. Você massacrou o ego dela diante de toda a sala!

—Continuo achando que não passa de uma simples conta de matemática, se foi uma ofensa o problema é dela.

—Nunca fiquei tão feliz assim em anos. Ver a cara dela quando o professor te intitulou com vencedora, foi a melhor sensação que já senti nessa droga de escola.

—Você não gosta muito daqui, não é? — Pergunto enquanto caminhamos para o refeitório.

—Gostar ou não, há pouca diferença. Não é como se eu pudesse escolher.

—Então você não gosta, mas não diz em voz alta?

—Exatamente... —Ela sorri —Aliás, o laboratório está fechado hoje, só abre na quinta ou na sexta.

—O que? E não tem outro jeito?

—Tem, mas não acho que será uma análise com cem por de certeza. Tenho um mini laboratório em casa, posso trazer algumas coisas e fazemos a pesquisa.

—Não é mais fácil ir na sua casa? — Ela se encolhe

—Acho que é melhor aqui, sabe...

—Olha se não quiser que eu vá, tudo bem. — Digo de forma sincera, pois eu também não iria querer alguém qualquer em minha casa.

—Não! não é isso Ashy... Me desculpe, mas a minha casa não é tão receptiva. Ela não é... —Uma pausa — Como a sua, não acho que alguém iria se interessar em ir lá.

Sorrio do seu nervosismo atoa.

—O que foi?

—Você acha que sou esse tipo de pessoa? Qual é Anne. —Chego mais perto dela — Eu vim de um lar que me ensinou do que um lar realmente é feito, e posso afirmar que não é de um amontoado de madeiras.

Vejo um sorriso brotando do seu rosto, no entanto se desfaz quando chegamos ao refeitório.

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