Capítulo 12: O trio de ouro

O fim de semana não passou rápido. O motivo? Não sei ao certo, mas talvez o meu corpo goste de se autossabotar me acordando no horário infernal das cinco da manhã.

Para completar, a noite não consigo dormir, pois a linda senhora Olívia (que mora ao nosso lado) todo o dia aparece com algo quebrado em sua casa, ou que quer que seja que a faça ficar batendo incessantemente nas paredes. Três encanadores já entraram na residência dela, mas ninguém consegue resolver o maldito problema.

Ouço o despertador tocar inutilmente. Levanto contra a minha vontade e faço minha higiene matinal. A água que cai do chuveiro é quente pela manhã e gelada a noite, o que eu considero uma benção.

Procuro em meu guarda-roupa algo que me aqueça, a temperatura amanheceu entre 12° a 13°, a noite costuma fazer mais frio ainda, mesmo com o aquecedor os meus dentes colidiram várias vezes ontem a noite.

Olho para minhas roupas e me vejo completamente desanimada para montar uma combinação bonita, assim como fazia em Hudson, no entanto não quero passar o ar de desleixada. Vesti a calça (jeans claro) cargo e após revirar as roupas que já estavam arrumadas, achei uma t-shirt de mangas longas na cor preta, sem gola com um comprimento que não deixa totalmente a barriga de fora, apenas um dedo de diferença.

Coloquei sueter largo como terceira peça e senti o frio diminuindo gradualmente. Termino de arrumar-me e desço com os tênis na mão, pois não quero sujar a casa que limpamos ontem.

Ao descer das escadas, vejo a figura feminina de minha mãe, o seu cabelo castanho está preso em uma rabo de cavalo ela usa uma calça jeans preta colada e um blazer preto que molda perfeitamente a sua cintura.

— Bom dia! Querida! — diz animadamente enquanto termina de colocar as panquecas em meu prato.

— Bom dia. —minha voz saí um pouco rouca

—Dormiu bem?

— Não, Dona Olívia apareceu em meus pesadelos.— Tomo um gole do suco de maçã

— Vou falar com ela assim que chegar do trabalho, —minha mãe senta de frente para mim —Prometo.

— A senhora está prometendo muita coisa ultimamente —Pontuo e sinto o seu desconforto. Falei algo errado?

—Só quero garantir que vai se adaptar aqui, lhe devo isso.

Concordo com a cabeça.

— Qual o horário que tenho que estar lá?

— Sete e vinte, não demore muito já está quase na hora.

...----------------...

Minha mãe estaciona em frente à instituição, muitos alunos do lado de fora jogando conversa fora, procuro por um pontinho ruivo qualquer, já que pretendo me camuflar entre a multidão, mas seu eu for a única ruiva isso será meio impossível.

—Lamento informar, mas não vai achar.—Alertou minha mãe

—O que? — Ela passa a mão em meus cabelos —Como sabia? —Ela sorri.

—Não é difícil saber o que se passa na sua cabecinha, fui eu quem criou você lembra?

—E como sabe que não tem mais uma cabeça pegando fogo por aí?

—Porquê grande parte da população é naturalizada daqui mesmo, ou seja, alguns têm antecedência de tribos indígenas.

—Em Nebraska?

—Sim, mas não são todos. No entanto o que eu quero dizer é que você não precisa se preocupar e por mais que esteja com medo, seja firme. Seja você mesma, filha.

Sorrio para ela lhe dando um abraço de despedida. Ultimamente ela tem estado bastante emotiva. Saiu do carro torcendo para isso ser um pesadelo.

— Ok, Ashy, você consegue.—falo para mim mesma.

Caminho até a entrada da escola e sinto a mesma sensação de quando fugi da minha festa de aniversário. No entanto, me esforço para ignorá-los e tento focar em achar a sala do diretor.

— Ashley Cooper!?—Ouço alguém gritar o meu nome, e alguns dos jovens que estavam no corredor encaram-me. Ótimo

Viro os calcanhares em direção a voz feminina que acabou com o meu plano de camuflagem, não que estivesse dando certo, mas não estava tão ruim.

Avisto uma garota, cabelos curtos num corte long bob, ela usa um vestido longo florido, sua pele parda se destaca com o seu cabelo preto, o rosto redondo que quase não dá para perceber, pois usa um óculos quadrado em contraste. Acho que ela é do tipo naturalista, as botas em tons de marrons e os vários acessórios coloridos indicam isso.

Ela caminha alegremente em minha direção.

— Muito prazer, sou a Annelita, mas pode me chamar de Anne!

A garota estende a mão em minha frente, eu a cumprimento.

— Oi, Anne...—Ela ainda segura a minha mão quando a puxo de volta para mim. Anne ainda sorri. Esse pessoal deve gostar de um sorriso, Senhora Olívia é do mesmo jeito.

— Desculpe, é que não costumamos ter visitantes. —Ela ajusta o óculos em seu rosto.

— Sério... Porque será não é? — Balbucio, mas pela risada Anne deve ter escutado.

—Venha vou lhe mostrar a escola.

...----------------...

Foram vinte minutos andando por toda a escola, vinte minutos inteiros e eu não disse uma palavra sequer, diferente de Anne que não se calou um segundo.

— E aqui, —ela indica o lugar com a mão —é a sua primeira aula, de biologia. — Espio o interior da sala, porém não há uma alma viva.

—Acho que chegamos... —Não termino de falar pois sou interrompida pela linguaruda que não cala a boca.

— Cedo de mais? Sim, a maioria dos alunos chega apenas três a cinco minutos antes da aula começar. Inclusive o nosso horário é o mesmo, tirando a parte dos extracurriculares.

—Você me lembra uma amiga minha —tiro os olhos da sala e volto a encara-la —Que também não consegue ficar sem falar por um segundo —Minto

Não há amiga nenhuma que seja igual a Anne, mas foi a maneira mais sutil que encontrei pra ela ficar quieta. Sorrio para amenizar o rubor de vergonha que causei.

As bochechas rosadas a denunciam.

— Sinto muito Ashley, é que... É a primeira vez que o diretor Worns confia uma tarefa útil a mim, acho que levei a sémas, na verdade—confessa Anne e sinto uma pitada de pena.

—Então esse é o nome dele? Achei que fosse uma mulher.

—Sim, mas, na verdade ele não era diretor meses atrás, a Srª Worns teve que se ausentar, mas ninguém sabe o motivo, não temos notícias dela à quatro meses.

Entramos na sala e nos sentamos uma do lado da outra, as carteiras são formadas por pares, algo bem diferente de Hudson.

—Eles não tem filhos? — investigo

—Não, a Srª Worns é infértil.

Ouço um movimento no corredor, olho para o relógio em meu pulso e são oito horas em ponto. A porta se abre e um amontoado de alunos começa a entrar. Algumas garotas me encaram revirando os olhos, uns com uma certa curiosidade e outros apenas ignoram. Mamãe estava certa, apenas a minha cabeça está "pegando fogo" aqui.

Um pouco depois de um velho homem calvo entrar na sala, o que creio que seja o professor, um grupo de três alunos adentra o local por último e toda a minha atenção vai para eles.

Dois meninos e uma menina. Um dos garotos tem traços asiáticos assim com a garota, creio eu que devem fazer parte da mesma família, olhos puxados, cabelos negros, no entanto o garoto asiático tem tatuagens em seu braço, a garota não.

Enquanto o outro garoto parece uma pintura e sinceramente não acredito que ele seja real, mesmo de longe consigo notar o azul do dos seus olhos, a mandíbula marcada o cabelo preto levemente bagunçado e...

Sinto uma pontada em minha cabeça, outra em seguida. Quando levanto para olhar para frente onde se encontra o professor, sinto um cheiro horrível dilatar minhas narinas. Os pelos do meu corpo se arrepiam, a minha respiração está descompassada e sinto como se fosse morrer ali mesmo. O que diabos está acontecendo comigo?

— Bom pessoal, temos uma aluna nova conosco e gostaria que a Senhorita...

— Ashley! — Diz Anne ao meu lado animada. Tento me manter calma para pelo menos conseguir dizer o meu nome.

— Obrigado Anne, mas é para a novata se apresentar, não você. Por favor, fique de pé e se apresente adequadamente.

Ouço risinhos e Anne fingi não se importar. Todos se viram para mim, com exceção do trio que chegou por último. Fico em pé.

—Me chamo Ashley e sou de Hudson, Massachusetts.

— Certo, obrigado Ashley, pode se sentar novamente. Abram os livros na página 56, vamos continuar o assunto de genética.

Ao sentar percebo o olhar garoto de olhos azuis sob mim, quando o encaro sinto novamente a dor na cabeça, agora ela veio acompanhada de uma náusea infernal.

— Você está bem?—Anne pergunta.

—Não, não sei o que houve, estava bem ainda pouco. —A mão de Anne toca em minha testa.

—Por Deus garota, você está pegando fogo! —sinto vontade de rir, mas não tenho forças. — Professor!— Grita Anne.

—Sim, Anne —O professor não mede esforços para aparentar hostilidade ao falar com Anne.

— Ashley não recebeu os livros, posso pegá-los com ela?— o homem velho bufa em resposta.

— Certo, andem logo e não demorem.

Ao sairmos da sala Anne guiou-me até o banheiro, ao fechar a cabine não consegui me manter em pé e simplesmente me entreguei ao mal-estar. Meu corpo estava dando espasmos e acabei por vomitar todo o café da manhã. Essa é a pior sensação que já senti em todos a minha vida.

— Ashy, —Ela exita por um segundo — Posso te chamar assim? — Ouço Anne do lado de fora.

—Unhum.—Estou sem forças para pronunciar algo

— Certo, eu vou buscar uma pasta e escova de dentes para você e então vamos para a enfermaria, tudo bem?

—Unhum...

A porta do banheiro se fecha e me deleito mais uma vez sob o vaso.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!