Não tenho certeza que horas eram, mas acredito que já era tarde. Não se ouvia mais o som da TV ligada e o apartamento estava mergulhado na escuridão. Estava faminta, mas depois da discussão com Eduardo, não queria vê-lo de jeito nenhum. Me levantei devagar e fui em direção à porta, a abri com cuidado e percebi que ele estava no quarto dele. Caminhei em direção à cozinha, minha barriga roncava e sentia uma fome voraz, acho que dizer que não queria a pizza foi uma péssima ideia.
Uma péssima ideia mesmo.
Tentei ser silenciosa, andando nas pontas dos pés até chegar à geladeira. Observando as prateleiras, só encontrei latas de cerveja e um pedaço de queijo que parecia ter sido esquecido ali há anos. Fechei a geladeira e fiquei encostada nela por alguns segundos, pensando em me arrumar e sair para comer em algum lugar. Foi quando meu olhar rapidamente passou pela mesa, onde uma caixa octogonal estava pousada. Me aproximei e liguei a luz, percebendo que era uma caixa de pizza de calabresa.
Mas ele disse que não ia pedir pizza nenhuma, pensei.
Minhas mãos já estavam abrindo a caixa, tirando um pedaço de pizza e devorando-o rapidamente. A fome era tanta que o sabor da pizza quente e deliciosa era uma verdadeira benção naquele momento. Enquanto mastigava, meus pensamentos voltaram à briga com Eduardo. Ficamos irritados, jogando farpas um no outro, e não conseguíamos chegar a um acordo. Era frustrante.
Terminei o pedaço de pizza e limpei as mãos em um guardanapo.
-Adriana? - Ouvi uma voz rouca vindo de trás de mim.
-Eduardo! - Me virei assustada, ele parecia estar acordado. - Me desculpe, é que...
-Tudo bem, essa pizza era para você mesmo. - Ele foi até a geladeira.
-Vai beber a essa hora? - Perguntei, confusa.
-Não estou com sono. - Ele veio na minha direção. - E isso me ajuda a relaxar.
-Ou a ficar bêbado, né?
-Também. - Ele sorriu.
-Bem, acho que eu deveria voltar para o quarto... - Comecei a me afastar dele.
-Não, fica aqui e me faz companhia. - Ele pediu.
Ele pegou minha mão e me ajudou a sentar à mesa, ficando bem próximo de mim. Nossos olhares se encontraram, e senti meu coração acelerar.
-Por que perdeu o sono? - Perguntei.
-Ter brigado com você, isso me tirou o sono.
-Engoli em seco, surpresa com sua resposta.
-Então para o sono voltar é só pedir desculpas...
-Mas se eu pedir desculpas, como recompensa ganho um beijo? - Ele disse com um sorriso sugestivo.
Sinceramente, eu também queria beijá-lo.
-Acho que a bebida já está fazendo efeito, você não está fazendo sentido.
-É difícil ganhar um beijo seu... - Ele sorriu. - Mas eu não vou desistir, senhorita! - Ele tocou a ponta do meu nariz com o dedo indicador.
Sorri envergonhada.
-Estou te deixando envergonhada, não é? - Ele percebeu meu embaraço. - Eu não sei mais o que fazer. Antes, as mulheres caíam aos meus pés, mas agora...
-Saiba que sou bem diferente das suas ex, caso você ainda não tenha notado! - Disse, me levantando.
-Espera! - Ele veio atrás de mim. - Eu sei que você é diferente, Adriana. Não fique brava com os termos que usei. Só é difícil...
-Eduardo, eu quero lhe pedir um favor: não me toque mais! - Minha raiva transpareceu em minha voz.
-Não me peça isso, seria muita covardia... - Ele sussurrou.
-Então pare de se comportar como um idiota! - Disse, empurrando-o.
-Adriana, eu te amo! - Ele gritou. Meu coração pareceu parar por um momento. Eu não sabia o que dizer. Ouvir aquelas palavras dele causou uma sensação intensa. - Eu sei que sou um idiota, chato, ignorante, grosseiro, mas por você eu vou mudar...
Uma vez mais, Eduardo me deixou sem palavras. Ele estava se esforçando muito para entrar na minha vida, mas os traumas do meu passado ainda não me permitiam deixá-lo entrar no meu coração. Decidi ir para o quarto. Minha mente estava uma bagunça, as palavras "Por você eu vou mudar" me fizeram ter a certeza de que ele não estava brincando com meus sentimentos e estava disposto a me conquistar.
Mas por que isso me deixa triste?
Sim, eu estava triste. Não porque ele estava tentando tudo para ficarmos juntos, mas porque eu estava resistindo a isso. Estava sempre evitando, sempre recuando. Não tinha certeza dos meus próprios sentimentos em relação a ele, ao que ele estava oferecendo. Peguei meu telefone na beira da cama e disquei o número da Claudia.
-Amiga? - Sussurrei.
-Oi! - Sua voz sonolenta do outro lado me fez sorrir. - Aconteceu alguma coisa? - Perguntou, preocupada. - Se for sério, chame a polícia!
-Não é nada disso que você está pensando... - Ri das paranoias dela. - Preciso do seu conselho...
-Então fale, o que seria de você sem mim!
-Eu deveria dar uma chance ao Eduardo?
Eduardo
Depois que a pizza chegou, pensei em chamá-la para comer, mas quando me aproximei do quarto, vi que a luz estava apagada. Voltei para a sala, irritado por não conseguir dormir depois da briga. Não sabia que horas eram, mas então percebi um vulto passando pela porta. Achei que fosse minha mente pregando peças em mim, até ouvir alguns ruídos vindos da cozinha. Lá estava ela, comendo um pedaço de pizza. Aproveitei o momento para me aproximar, mas as coisas não saíram como planejei e acabamos brigando novamente.
Isso já está ficando cansativo.
Fui para o quarto, irritado comigo mesmo. Um silêncio pesado encheu o ambiente, e uma lembrança me atingiu de repente: o dia da praia, quando nossos corpos se uniram, nossos lábios se tocaram, nossos mundos se encontraram. Foi uma experiência tão intensa, mas agora tudo parecia tão distante. Sentia a falta do calor dela, do toque, e uma dor no peito que só crescia. A lembrança do nosso encontro naquela praia e a sensação da colisão entre nossos mundos me atingiram novamente, como se fossem momentos gravados em minha mente. Mas o impacto de voltar à realidade foi doloroso, e eu ainda podia sentir a dor em meu peito.
Decidi que precisava mudar, me tornar alguém diferente para ela. Pesquisei um supermercado, me arrumei e peguei todas as cervejas da geladeira. Antes de chegar ao supermercado, encontrei alguns homens sentados em uma praça. Entreguei as cervejas a eles, prometendo para mim mesmo que não beberia mais, que faria uma mudança real para conquistá-la.
Depois de passar horas no supermercado, voltei para casa e a encontrei na sala, claramente assustada. Ela veio rapidamente em minha direção.
-Aonde você estava? - Perguntou assustada. - Cadê as bebidas que estavam na geladeira? Não acredito que você bebeu aquilo tudo.
-Primeiramente, bom dia!
-Bom dia uma ova, Eduardo. O que aconteceu? - Disse irritada.
-Calma, eu fui até o supermercado, e sobre as bebidas, dei para alguns mendigos que estavam na rua.
-É assim que você quer mudar o mundo, dando bebida para os mendigos?
-Se eu jogasse fora, seria um pecado. - Depositei as sacolas em cima do balcão.
-Hum! - Ela se aproximou do balcão e conferiu as sacolas. - Pelo menos, você acertou em cheio desta vez, não comprou só miojo.
-Olha, eu não sou tão ruim assim.
-Só porque estou indo embora, nossa...
-Sobre isso, fica só este final de semana. É para salvar o casamento do Gabriel...
-Irei pensar no seu caso.
-Como é? - Ela me perguntou assustada. - Está me convidando para sair?
-Sim, vamos?
Ela apenas sorriu e saímos em direção à porta. O café não era muito longe, então poderíamos ir a pé, o que nos daria mais tempo para conversar e aproveitar a companhia um do outro.
-Hoje você está belíssima! - Comentei enquanto caminhávamos.
-Você entregou mesmo as bebidas para os mendigos? - Ela me encarou confusa. - Por que está difícil de acreditar nesta história? - Sorriu.
-Você é uma piada, Dri.
-Dri?
-Posso chamar você assim, ou não posso?
-P- Pode! - Gaguejou. - Quando voltarmos do café, você iria dormir. Isso pode ser falta de sono.
-Na verdade, eu irei ao cabeleireiro. Preciso fazer a barba e cortar o cabelo. Você não se importa em ficar sozinha no apartamento, né?
Ela por alguns segundos me olhou, parecia não entender, e então soltou uma gargalhada.
-Do que está rindo?
-De você.
-Mas o que eu fiz? - Perguntei confuso.
-Amo sua mudança de humor... - Sorriu, me deixando vermelho e com o coração batendo mais rápido. - O dia está bonito, né? - Disse olhando para cima.
-Sim, está muito bonito...
Continuamos andando em silêncio até que passamos perto de uma loja cheia de ursos de pelúcia. Ela parou e ficou admirada olhando pela vitrine.
-Olha que lindos! - Disse animada.
\=Você gosta de ursos?
-Gosto. - Disse um pouco envergonhada.
-Então vamos comprar um?
Ela me olhou assustada.
-Não precisa, Eduardo. Nem são tão bonitos assim...
-Vamos lá, podemos dar o nome dele de Bilu?
-Bilu? - Gargalhou. - Eduardo, você não tem jeito.
Puxei sua mão e entramos na loja. Se você estiver se perguntando se eu gosto de ursos, a resposta é não. Mas se ela gosta, então vou gostar também.
-Escolhe um! - Disse, sorrindo.
Ela olhou para os ursos, parecendo encantada com a variedade de opções. Eu me aproximei também e observei os ursos com ela.
-Olha esse aqui, ele é tão fofo. - Apontou para um urso de pelúcia grande, com um laço vermelho no pescoço.
-É, ele é bonito mesmo. - Concordei.
-Você acha?
-Sim, acho que você deve escolher o que gostar mais.
Ela pegou o urso nos braços, abraçando-o e olhando para mim com um sorriso envergonhado.
-Você está certo, vou levar esse.
-Ótima escolha, ele é sortudo por ter você.
Ela corou um pouco, e nós fomos até o caixa para fazer a compra. Enquanto ela fazia o pagamento, olhei para ela e percebi o quanto estava feliz segurando o urso. Era um momento simples, mas parecia significativo.
-Pronto, agora tenho um Bilu! - Ela disse, olhando para o urso em seus braços.
-E eu tenho uma Dri que gosta de ursos. - Sorri.
Ela revirou os olhos e riu.
-Eduardo, você é impossível.
-Só tento fazer o seu dia mais divertido.
Terminamos o café e eu a levei de volta ao apartamento. Passei algum tempo me arrumando e saí para o cabeleireiro. Quando voltei, senti que algo estava diferente. Ela estava sentada no sofá, olhando para o urso Bilu e sorrindo. Era um sorriso genuíno, e aquilo me fez perceber que, de alguma forma, eu estava conseguindo me aproximar dela.
-Gostou do urso? - Perguntei, me aproximando.
-Sim, ele é fofo demais. Obrigada, Eduardo.
Eu sorri e me sentei ao lado dela.
-Não precisa agradecer. É só o começo, Dri.
Ela olhou para mim, seus olhos brilhando, e dessa vez não havia mais uma barreira entre nós. Por um momento, eu soube que estava fazendo a coisa certa. Afinal, a jornada para conquistar alguém é cheia de altos e baixos, mas vale a pena quando encontramos alguém que realmente importa.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Acacia de Lourdes
até ela virar a chave e se irritar kkkkk
2024-09-29
0
Imaculada Abreu
Eles formam um lindo casal mas estão mais ela não ata nem desata
2024-01-20
0
Silvaneide de lima barbosa Silvinha
lindos
2023-09-17
0