XIII

Eduardo

Antes que Adriana pudesse virar e ir embora, eu a segurei. Não estava disposto a deixá-la partir, não desta vez. Meus olhos tentaram transmitir o que minhas palavras não conseguiam expressar. Eu, que costumava ter as palavras certas para convencer as mulheres a ficarem, me vi sem nenhuma, absolutamente nenhuma, naquele momento.

Percebi que ela havia chegado há pouco tempo ao ver suas malas no chão. Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios. A ideia de que ela veio diretamente para a minha casa atravessou minha mente, algo inesperado.

Será que sentiu minha falta?

Percebi a presença de Lorena passando por trás de mim, mas não me importei com o que ela estava pensando. Minha atenção estava inteiramente focada em Adriana. A convidei para entrar, e ela entrou lentamente. Peguei sua mala e fechei a porta atrás de nós. Por alguns segundos, o silêncio pairou no ar entre nós.

-Adriana?

-Olha, eu não queria estragar as coisas, na verdade, eu deveria estar aqui. Eu vim porque você é a única pessoa que pode me ajudar.

-Não aconteceu nada, eu juro!

-Não é o que parece! - Ela observou o estado em que eu estava.

-Adriana...

Droga, Eduardo, fala alguma coisa!

-Eu não quero discutir com você. Eu só preciso arrumar um lugar para ficar! - Ela se dirigiu para pegar sua mala.

-Você pode ficar comigo!

-Contigo? - Ela pareceu surpresa.

-É. - Me aproximei dela. - Se você veio aqui, é porque pensou nessa possibilidade. - Dei um sorriso.

-Não... - Disse, um pouco envergonhada. - Eu vim aqui para perguntar se você sabia de algum lugar.

-Então, fica aqui comigo!

-Tem pelo menos um quarto?

-Tem!

-Eu não tenho outra alternativa mesmo. - Ela deu de ombros.

Sentei no sofá e observei enquanto ela resmungava sozinha. Peguei o controle remoto, sentindo as curvas de plástico preto. Era básico, simples e rústico, mas eu gostava daquilo. Joguei-me no sofá e comecei a apertar o botão, passando pelos canais, procurando algo interessante para assistir. Ela sentou no sofá mais distante e ficou observando.

-Você vai continuar mudando de canal para sempre? - Resmungou baixinho.

-Na verdade, não tem nada de bom para assistir... - Olhei rapidamente para ela.

-Sua vida deve ser tão entediante... - Ironizou.

-Um pouco.

Como se nos conhecêssemos agora.

-Você quer comer alguma coisa?

Ela apenas balançou a cabeça. Levantei e fui até a cozinha, pegando um pacote de salgadinhos. Voltei e sentei mais perto dela.

-Você sabe que isso não faz bem, né? - Comentei enquanto abria o pacote.

-É o que tem.

-Esse filme parece bom!

-Eu nunca assisti.

-Claro, você é uma pessoa antissocial!

Ela estava bastante irônica.

O filme continuava passando na tela, mas estava difícil prestar atenção. Quando a pessoa que você gosta está ao seu lado, tudo se torna uma distração. Ela parecia estar confortável, aos poucos se aproximou e encostou o corpo em mim. Aquele momento tranquilo e emocionante me fez sentir como se estivesse tocando as nuvens, mesmo sem sair do lugar.

-Posso te fazer uma pergunta? - Ela se virou para mim. Nossos rostos estavam a milímetros de distância, e eu podia sentir sua respiração fresca. Esse teria sido o momento perfeito para beijá-la, mas eu não consegui.

-Claro, pode perguntar.

-Por que você estava chorando naquela noite? - Ela perguntou. Seu olhar era curioso e atento. Eu sabia que ela tinha certeza da resposta.

-Eu estava passando por alguns problemas.

-Que tipo de problemas?

-Estava sofrendo por causa de alguém...

-E essa pessoa que estava aqui agora? - Apesar de ser uma pergunta, eu sabia que ela estava convencida da resposta.

-Sim. - Suspirei, inclinando minha cabeça para trás.

-Você ainda gosta dela?

-Não. - Admiti com convicção - A pessoa que eu amo está bem na minha frente, mas nós mais brigamos do que conversamos.

-Talvez a gente não goste tanto um do outro. - Ela murmurou.

-Por que você sempre nega? - Minha confusão era evidente - Por que você insiste em dizer que não sente nada por mim? - Meu corpo se aproximou do dela, ficando praticamente sobre ela.

-Eu...

Adriana

O único lugar para onde eu poderia ir era a casa do Eduardo. Meu relacionamento com a Daniela estava abalado, e o porteiro me deixou entrar. Subi o corredor em silêncio, meu coração batendo cada vez mais rápido a cada passo. Seria saudade o que eu estava sentindo?

Avistei a porta entreaberta e meu coração quase pulou do peito. Andei apressadamente, como se meu corpo estivesse me levando por conta própria. Quando percebi, já estava dentro da casa. Nossos olhares se encontraram, confusos e intensos. Eu disse apenas algumas palavras antes de sentir o corpo de Eduardo próximo ao meu. Uma corrente elétrica parecia fluir entre nós, preenchendo o vazio que existia. Eu mal percebi quando a outra mulher foi embora. Naquele momento, era como se o mundo parasse.

Eduardo é diferente de todos os homens que já conheci. Ele tem uma delicadeza e um mistério em seu jeito, algo difícil de desvendar. Ele segura seus impulsos tão bem, mas sinto que ele não consegue esconder o que realmente sente. Ele não é perfeito, é claro, mas deve ser difícil para ele estar com a pessoa que ama em sua própria casa e não poder tocá-la, beijá-la. Minhas inseguranças sobre amores passados estão afetando minhas atitudes nos relacionamentos atuais. Eu gostaria de me entregar completamente a ele, de deixar que ele cuidasse de mim, mas algo me diz que não posso me entregar tão completamente assim.

-Eu não sei, Eduardo! - As palavras saíram num misto de frustração e confusão, e empurrei seu corpo para trás, como se quisesse afastar a tensão que estava crescendo entre nós.

Ele me encarou por alguns instantes, parecendo pesar minhas palavras. Então, se levantou abruptamente e caminhou em direção à cozinha. Seus passos eram pesados, sua expressão tensa e seu olhar perdido. Abriu uma garrafa de uísque e virou um copo rapidamente, tentando talvez afogar a turbulência que estava sentindo. Eu sabia que minhas palavras tinham o atingido em cheio, magoado.

Eu me ergui do sofá e fui em sua direção, sentindo a necessidade de consertar o que quer que tivesse dado errado entre nós.

-É difícil para mim também... - murmurei, minha voz soando suave.

-Não parece! - Ele respondeu com um revirar de olhos, sua voz carregada de frustração.

-Você não entenderia! - Eu estava agora bem na frente dele, buscando seu olhar.

-Por que não me explica? Talvez eu possa entender!

-Eu não quero revirar meu passado agora...

-Então tente deixá-lo para trás.

Nossos olhos se mantiveram fixos, trocando uma comunicação intensa e silenciosa. Mas esquecer o passado não era tão simples quanto parecia. Por mais que tentemos, ele sempre encontra uma forma de nos alcançar.

-Não é tão fácil assim... - sussurrei, minhas palavras mais um desabafo para mim mesma do que para ele.

-Eu sei que não é fácil! - Ele tocou meu rosto com suavidade - Mas não permita que o passado machuque o seu presente agora.

Desta vez, fui eu quem não resistiu. Meu corpo se pressionou contra o dele, minhas mãos apertaram seus cabelos, trazendo seu rosto mais perto do meu. Nossas respirações se misturaram, ofegantes, enquanto nos tocávamos com urgência. Lentamente, nossos lábios se encontraram, dando início a um beijo apaixonado e intenso. Sua língua encontrou a minha, dançando em harmonia, suas mãos explorando meu corpo de maneira provocante. A sensação de seus lábios nos meus era arrebatadora, uma mistura de desejo e ansiedade. Logo, ele me ergueu, e eu me senti sendo carregada até o balcão, nossos corpos ainda colados. Cada beijo dele era como uma onda de eletricidade, percorrendo minha pele e incendiando cada parte de mim. Mas então, senti suas mãos deslizarem em direção à minha camiseta, um gesto que indicava sua intenção de ir além. Um frio percorreu minha espinha, um misto de excitação e nervosismo. Percebi que ele estava entrando em um modo mais intenso, movendo-se em direção a algo mais físico.

No entanto, algo em mim se contraiu, um pequeno sinal de desconforto. Eu me afastei dele delicadamente, tentando comunicar sem palavras que estava me sentindo um pouco sobrecarregada pelo ritmo rápido das coisas. Ele ainda segurava minha camiseta, seu rosto estava vermelho e seus olhos tinham um brilho intenso. Sua boca estava entreaberta, como se ele estivesse lutando contra a tentação. Eu me afastei um pouco mais, olhando em seus olhos com sinceridade. Era difícil explicar, mas precisava que ele entendesse que havia um limite que eu precisava respeitar.Eduardo também pareceu perceber a mudança na atmosfera. Seu olhar estava intenso, um misto de paixão e confusão, mas ele parecia disposto a respeitar meu espaço.

-Desculpa... - Ele sussurrou tão baixo que quase não deu para ouvir.

-Está tudo bem! - respondi no mesmo tom.

-O pano da sua camiseta é macio! - Sorriu, retirando suas mãos dela.

-E olha que nem é de butique!

Eduardo

Segurar os impulsos, segurar os impulsos, eu repetia isso em minha mente, tentava não deixar meu instinto falar mais alto, mas era impossível.

Quando ela iniciou o beijo, meus pensamentos de segurar estavam dizendo mais alto, mas me entreguei ao seu corpo, e quis tê-la completamente inteira para mim. Estávamos em sintonia, eu respondia e ela me correspondia, então meu instinto caçador falou mais alto e partiu para o segundo round, minhas mãos alcançaram sua camiseta, eu queria sentir o que tinha debaixo, mas ela colocou um pare bem na minha frente, desfez nossa sintonia.

-O filme é bem interessante! - Disse olhando para ela.

Ela estava dormindo, não sabia bem o que fazer, então fiquei ali olhando para ela por alguns segundos. Pensei em carregá-la, mas por causa do episódio anterior, melhor descartar essa hipótese. Fui até o quarto e peguei um edredom, a cobri, dei um beijo na sua testa e fui para o quarto.

Acho que era por volta das três da manhã quando vislumbrei a silhueta de Adriana na escuridão do meu quarto, eu mal a distinguia. Estava entre o sono e a vigília, meu corpo ainda estava preguiçoso e sonolento, mas algo dentro de mim despertou completamente quando escutei os passos suaves dela se aproximando. Tentei sussurrar seu nome, mas as palavras pareciam ter desaparecido, meu coração batia tão forte que eu conseguia escutá-lo ressoando no travesseiro ao lado. Com movimentos suaves, ela deitou na minha cama e puxou meu edredom para se aconchegar, seu corpo se ajustando ao formato do colchão. A escuridão não permitia ver detalhes, mas sua presença era inconfundível. Aos poucos, sua figura se misturou com a penumbra do quarto, e eu me vi observando, com todos os sentidos em alerta.

O aroma dos seus cabelos, uma fragrância familiar que eu lembrava mesmo nos momentos mais desconectados, se infiltrou instantaneamente em minhas narinas. Era como um gatilho, acendendo uma série de memórias e emoções que pareciam ter sido guardadas em um canto escondido do meu coração. Era excitante, enervante e ao mesmo tempo reconfortante. Eu queria chamar seu nome, expressar minha surpresa e alegria por vê-la ali, mas algo dentro de mim também sussurrava que eu não deveria quebrar aquele momento. Prendi a respiração, temendo que o menor ruído pudesse afastá-la. Meus pensamentos estavam em tumulto, uma mistura de desejo, preocupação e uma inexplicável sensação de completude.

E então, como se estivesse reagindo a um comando invisível, ela se acomodou mais perto de mim, seu corpo colando-se ao meu lado. A sensação de proximidade era eletrizante, mas também aconchegante, como se um quebra-cabeça finalmente estivesse encaixando suas peças. Meus instintos estavam em conflito, uma parte de mim queria segurar aquele momento e nunca mais soltar, enquanto outra parte me lembrava da complexidade das nossas emoções compartilhadas. Enquanto ela descansava ao meu lado, senti uma miríade de sentimentos se entrelaçando dentro de mim. Era um misto de surpresa, saudade, preocupação e uma estranha sensação de alívio. Olhei para o teto escuro do quarto, tentando processar tudo o que estava acontecendo. A realidade era quase surreal, e eu me peguei desejando que aquele momento pudesse durar para sempre.

Eu a amava tanto... E agora, com seu corpo tão próximo ao meu, essa verdade era mais intensa e inegável do que nunca.

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Comments

Acacia de Lourdes

Acacia de Lourdes

o que aconteceu com o pai dela? eu perdi alguma coisa, pulei alguma página?

2024-09-29

0

Imaculada Abreu

Imaculada Abreu

Atacam logo

2024-01-20

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