VIII

Alguns dias haviam se passado e nem sinal da Adriana. Meu coração doía, pois se ela se afastou de mim, a culpa era minha, totalmente minha. Talvez se eu tivesse ficado calado, poderíamos ter nos conhecido mais e ela teria confiança em mim. O Gabriel me ajudou durante esse período, ficando ao meu lado. Não via a hora de sair e procurá-la, de descobrir o que estava acontecendo. Eu não iria desistir facilmente.

Não mesmo.

Incrivelmente, havia me recuperado antes do tempo determinado e já podia dirigir. Estava tão ansioso para vê-la que não demorei muito para chegar no teatro. Sim, eu havia voltado, para a alegria de todos. Mas, na verdade, foi por causa da Adriana que aceitei voltar, afinal, foi por causa dela que eu estava saindo. Passei pela porta giratória correndo e fui em direção ao palco. Matheus e alguns outros estavam sentados conversando. Quando me viram, vieram logo em minha direção.

-Olá! - Disse meio envergonhado.

-Vejo que está bem agora!

-Estou sim. Aliás, eu quero conversar com você. - Toquei em seus ombros e o levei para um lugar mais reservado. - O que diabos te deu para contar minha vida pessoal para a Adriana? - Não consegui disfarçar que estava bem irritado.

-Então ela já disse a você? - Foi sarcástico. - Rápida!

-Obrigado, gênio da lâmpada. Agora ela nem quer olhar na minha cara!

-Alto lá, príncipe da Pérsia. Eu não tenho culpa em ter alertado a coitada!

-Não podia ter me deixado falar?

-É... mas... foi mal, saiu sem querer!

-Agora assume o erro, agora que já feito não vale!

-Calminha, Eduardo!

-Agora ela não confia em mim! - Disse sentando em uma cadeira próxima.

-Eu estraguei, né? - Repetiu o mesmo movimento. - Mas eu posso te ajudar!

-A não, você vai atrapalhar ainda mais!

-Nossa! - Colocou a mão no peito e fez uma cara de espanto. - Não confia em mim?

-Olhei para ele.

-Quer que eu responda?

-Não!

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

-Olha, eu tenho uma notícia boa. Vamos fazer uma viagem no final de semana, a peça toda vai!

-Legal!

-Você não vai?

-Eu não gosto de viajar!

Antes que ele pudesse responder à minha afirmação, nossos olhares foram atraídos na mesma direção. Adriana estava se aproximando com passos decididos, sua expressão determinada quebrando todas as barreiras invisíveis que nos separavam. Me levantei automaticamente ao perceber sua presença, sentindo meu coração acelerar. Não havia mais espaço para esconder ou negar meus sentimentos, desta vez eu estava disposto a me entregar de vez. Olhei para Matheus, que entrou na minha frente, mas logo saiu para nos dar privacidade. Adriana se aproximou, e sua presença preencheu todo o espaço ao nosso redor. Seus olhos fixaram-se nos meus, e eu senti que não havia mais espaço para esconder nada.

-Olha só ela, toda, toda! - Matheus brincou, antes de se afastar.

-Obrigada, Matheus - ela respondeu e depois se voltou para mim - Você pode me dar uma licença, preciso conversar com esse senhor!

Matheus nos deixou a sós, e eu senti um misto de ansiedade e esperança. Queria que tudo ficasse bem entre nós, que ela não estivesse mais magoada. Olhei nos olhos dela, tentando decifrar suas emoções.

-Vejo que está bem! - ela comentou.

-Você está com raiva de mim? - perguntei, buscando entender seu estado emocional.

-Eu deveria estar? - respondeu, me olhando intensamente.

-Adriana, eu...

Ela me interrompeu antes que eu pudesse continuar.

-Olha, Eduardo, depois conversamos sobre isso!

Senti a frustração se acumulando em mim. Ela estava agindo de maneira estranha, e eu estava tentando entender o que estava acontecendo. Mas parecia que ela não estava disposta a falar naquele momento.

-Você está estranha, eu sei que está! - disse, lutando contra o nó em minha garganta.

-Você não me conhece, como pode me julgar? - respondeu, virando as costas para mim.

Minhas palavras pareciam ter a afastado ainda mais. Eu queria consertar tudo, mas não sabia por onde começar. Eu queria que ela entendesse meus sentimentos, mas parecia que ela estava se fechando.

-Eu sinto... - sussurrei em seu ouvido, quase como um apelo, e então me afastei, deixando-a ali.

Precisávamos de tempo para pensar e processar tudo o que estava acontecendo. Eu me afastei, mas meu coração ainda batia forte, cheio de esperança de que, eventualmente, poderíamos resolver tudo.

Adriana

Depois daquela ligação, meu coração parou. Literalmente, acreditei que estava prestes a entrar em outro mundo. Fazia tanto tempo desde a última vez que ouvi a voz de Enzo. Talvez você esteja se perguntando quem é ele, então vou te contar. Enzo foi meu primeiro namorado, aquele que eu acreditei ser o único. Estávamos noivos alguns anos atrás, planejando uma vida juntos. Nossa casa estava pronta, tudo estava se encaminhando perfeitamente, até que no dia do casamento, ele simplesmente me deixou plantada no altar. Sim, ele fez isso.

Agora vem a parte realmente impactante.

Descobri que Enzo era casado com outra mulher. Isso mesmo que você leu. Ele era casado e até tinha um filho. Foi um choque tremendo. Depois de duas semanas chorando por aquele canalha, a esposa dele veio me procurar e me culpou por estragar o relacionamento deles. Como eu poderia ter imaginado que ele era casado? Ele era tão misterioso, sempre evitando falar sobre seu passado, dizendo que o futuro era o que importava. Fiquei devastada e acabei me afastando por alguns dias, tentando assimilar tudo que havia acontecido, inclusive a recente declaração do Eduardo. Às vezes, me pego questionando se aquelas palavras saíram da boca dele sinceramente.

Será que foi sincero?

Essa pergunta não sai do meu coração. Por mais que tenha sentido uma conexão, ainda existem dúvidas que me atormentam. Ao vê-lo com Matheus, um certo alívio tomou conta de mim. Aproximei-me deles para confirmar que estava tudo bem. A cada passo, meu coração gritava. Queria explicar a ele o motivo do meu sumiço, mas a irritação que ele me causa me fez desistir disso por enquanto.

-Pessoal! - A professora chegou animada ao grupo- Tenho uma ótima notícia para vocês! - Todos se reuniram em volta dela- Vamos fazer uma viagem neste final de semana. É uma parte importante da nossa preparação para a apresentação.

-Dri, você vai, né? - Daniela me perguntou com entusiasmo.

-Claro que vou!

-Ouvi dizer que vamos para uma praia! - Antônio comentou com empolgação.

-Não podemos esquecer os trajes de banho!

Eu apenas sorri.

-Você não parece tão animada, Dri.

-Estou empolgada sim, mal posso esperar.

Apesar de estar dizendo isso, na verdade, não estou muito animada.

-E quando iremos, professora? - Um deles pergunta.

-Partiremos hoje à tarde. Por isso, vocês estão liberados para buscar suas coisas e nos encontramos aqui às 15h, está bem?

Sai às pressas para pegar um táxi, determinada a não me atrasar. Parecia que o relógio estava conspirando contra mim, pois quando finalmente percebi, já estava atrasada para o horário marcado. Peguei minhas coisas e corri o mais rápido que pude. Quando cheguei ao ponto de encontro, todos já estavam no ônibus. Entrei um pouco sem graça, procurando um lugar vago. Notei que havia apenas dois lugares no fundo do ônibus, então comecei a ajeitar minhas coisas ali.

Foi quando percebi a presença de alguém ao meu lado. Olhei para cima e me deparei com o sorriso do Eduardo.

-Quer ajuda? - Ele perguntou.

-Não, obrigada. - Respondi, mas ele não pareceu ouvir o "não". Ele pegou minhas coisas e se sentou ao meu lado. O ônibus começou a se mover, e eu me perdi na paisagem que se desenrolava pela janela. O dia estava maravilhoso, com um céu azul e ensolarado, e poucas nuvens adornando o horizonte.

De repente, senti um calor em cima da minha mão. Olhei e percebi que Eduardo estava segurando minha mão, acariciando-a suavemente com o polegar. Pensei em puxar minha mão, mas ele segurou com mais firmeza, impedindo qualquer movimento da minha parte.

-Dá para parar? - Sussurrei, virando completamente para ele.

-Sua mão é tão macia! - Sorriu.

-Você é irritante, Eduardo. Não consegue me deixar em paz?

-Você quer paz, então tudo bem. - Ele soltou minha mão e se levantou.

-O que você está fazendo, idiota?

-Só esticando as pernas. - Ele sorriu, olhando para mim.

Que cara insuportável!

-Senta logo, Eduardo! - Falei, irritada.

Ele se sentou novamente e logo virou para mim.

-Você fica tão linda quando está brava.

-Você é um idiota! - Revirei os olhos.

-E olha que ele nem queria vir! - Matheus, que estava no banco da frente, comentou.

-Ele deveria ter ficado! - Falei, com irritação na voz.

-E perder a oportunidade de passar um final de semana com você? Não perderia isso por nada.

Matheus e Eduardo riram.

-Onde foi que amarrei meu jegue?

-Vou deixar você quieta agora. - Eduardo sussurrou.

-Obrigada. - Respondi.

Observei-o se ajeitar na poltrona. Ele parecia um pouco desengonçado, tentando encontrar uma posição confortável. Um sorriso involuntário se formou em meus lábios enquanto eu o observava. Parecia que a poltrona era pequena demais para ele, e eu podia perceber que ele estava murmurando algo, provavelmente por ser tão alto. Suas pernas pareciam um pouco compridas demais para o espaço disponível, e ele tentava ajustá-las de maneira desajeitada. A cada vez que ele tentava se acomodar, suas expressões divertidas me faziam rir por dentro. Apesar de toda a irritação que ele causava em mim, não podia negar que também conseguia me trazer pequenos momentos de alegria.

-Do que você tanto ri! - Disse irritado.

-De você, mal consegue se sentar, está todo desengonçado aí.

-Ser alto tem suas desvantagens!

-Concordo!

-Posso encostar minha cabeça em seu ombro?

-O que?? - Perguntei. - Você está louco, Eduardo?

-Por favor! - Ele fez uma expressão de súplica.

Revirei os olhos, mas acabei cedendo. Ele se inclinou delicadamente e encostou a cabeça no meu ombro, um gesto que parecia estranhamente fofo vindo dele. Senti um arrepio percorrer minha espinha quando o contato se estabeleceu, mas tentei ignorar essa reação. Enquanto o ônibus seguia seu caminho, nós dois ficamos ali, lado a lado, em um momento de silêncio confortável e estranhamente reconfortante. A viagem estava apenas começando, e eu tinha a sensação de que muitas coisas ainda estavam por acontecer.

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Comments

Rosa Santos

Rosa Santos

Mas essa menina é muito irritada, td irrita ela AFF

2023-08-15

0

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