Eduardo
Adriana olha para outra direção, claramente assustada com algo que viu. Sigo seu olhar e percebo um rapaz alto de cabelos meio cacheados se aproximando. Seus olhos estão fixos em Adriana de maneira intensa, como se a conhecesse. Sinto a mão dela procurando a minha e a seguro, tentando entender o que ela está tentando me comunicar. Sua tensão é palpável, suas mãos tremem, e eu estou próximo o suficiente para sentir as batidas aceleradas de seu coração. Pelos sinais que estou recebendo, esse rapaz não parece ser uma boa influência.
Devo protegê-la? Essa é a pergunta que passa pela minha mente. Pelo que percebi de Adriana até agora, ela não é alguém que precisa ser salva ou protegida, como uma princesa em perigo. Na verdade, ela parece mais do tipo que poderia salvar o príncipe. Ela é determinada, forte e independente, capaz de resolver as coisas por si mesma. No entanto, ao mesmo tempo, ela é como uma rosa, delicada e sensível. Sua essência mexe comigo profundamente.
-Oi, Adriana! - A voz do rapaz saiu rouca, seus olhos pareciam fundos, e sua roupa estava bastante amarrotada, como se tivesse passado por uma noite agitada. - Podemos conversar?
Adriana apertou minha mão com mais força, deixando claro que não queria sair dali. Fiquei tentando entender quem era aquele rapaz e o que poderia ter acontecido entre eles para deixá-la tão perturbada.
-Ela está falando comigo agora! - Afirmei, olhando diretamente para ele.
-Olha só! - Ele apontou o dedo na minha direção, um cheiro de uísque se espalhou, ele falava com dificuldade, parecendo estar fora de si. Seja quem for, não deixarei ele encostar um dedo nela. - Acho que estou conversando com a dona dos cavalos, não com o cavalo. - Ele disse de maneira rude.
-Nessa história, os cavalos também falam, e ela está conversando comigo! - Respondi no mesmo tom.
-Olha, eu preciso falar com ela! - Ele apertou os punhos, olhando-me com raiva nos olhos.
-Eu repito, ela não quer falar com você! - Falei, puxando Adriana para trás de mim.
-Como você sabe? - Ele gritou. - Você é algum tipo de adivinho?
-Tem algum problema aqui? - Um rapaz de uniforme se aproximou.
-Eu já estou de saída! - Ele disse abruptamente.
Depois que ele se afastou, eu puxei Adriana para outro lado. Caminhamos em silêncio até uma praça e nos sentamos em um banco, observando o movimento ao nosso redor. Ela não dizia nada, soltava suspiros profundos de vez em quando. Eu queria perguntar o que tinha acontecido, mas não queria ser indiscreto.
-Desculpa... - Ela sussurrou.
-Quem era aquele cara?
-Ele é... meu ex-namorado. - Sua voz soou fraca. - Ele costumava namorar comigo, mas era casado com outra pessoa...
Que desgraçado.
-Parece ser uma longa história... - Eu suspirei.
-Não precisa ouvir tudo agora...
-Tudo bem, quando você estiver pronta.
Ela se levantou de repente.
-Onde você vai? - Perguntei.
-Quero dar uma volta. - Ela hesitou. - Mas estamos no horário da peça...
-Um dia sem assistir não vai prejudicar, vamos?
-Não sei...
-Vamos! - Eu disse, segurando sua mão.
Adriana
Quando vi Enzo se aproximando, meu coração deu um salto e pareceu parar por um momento. Fiquei lá, observando seus passos, sem conseguir me mover. Nesse instante, apenas segurei firmemente a mão de Eduardo, que estava próxima da minha. Havia algo em segurar a mão dele que me fazia sentir segura e protegida. Ele parecia ser a força que eu precisava encontrar. Talvez todas as coisas que deram errado no passado estivessem preparando o terreno para algo certo com ele. A maneira como Eduardo encarou Enzo, mesmo sem saber quem ele era, foi surpreendente e lindo de se ver. Eu precisava que alguém fizesse isso por mim.
Talvez seja ele.
Eduardo me deixa ser eu mesma, ele me deixa à vontade. Ele não pressiona, não me empurra para um abismo. Ele tem um jeito que me faz sentir livre para ser quem sou. Eu sei que em algum momento vou precisar contar a ele sobre Enzo, sobre quem ele foi na minha história. No entanto, não quero fazer isso agora. Ainda não estou preparada para isso.
Caminhamos em silêncio, de mãos dadas. Ainda estou me acostumando com essa sensação, mas Eduardo parece entender. Às vezes, ele me olha e solta um belo sorriso, como se soubesse exatamente o que eu estou sentindo.
-Espero que você não esteja me sequestrando novamente! - Sorri para Eduardo.
-Não, você sabe que não faria isso!
-Sei!
Ele me puxou, ficando frente a frente comigo, e colocou uma mecha do meu cabelo para trás.
-Adriana? - Sua voz soou suave. - Seja lá o que esse idiota fez com você, não vai se repetir. Não vai se repetir comigo.
-Eu sei que não, Eduardo.
Nossos corpos se aproximaram, e ele apertou minhas mãos, proporcionando uma sensação de proteção. Por um momento, achei que ele fosse me beijar, mas ele se aproximou e me abraçou apertado. Pude sentir o cheiro do seu perfume, suas mãos percorrendo minhas costas. No entanto, o abraço não dissipou o desejo que estava presente, o desejo de beijá-lo.
-Você parece um pouco diferente hoje... - Comentei, me afastando dele.
-Não é nada, Adriana. - Ele respondeu.
Adriana.
O que está acontecendo aqui?
-Vamos voltar para o teatro, preciso pegar o carro para nos levar de volta ao apartamento.
-Por falar nisso, tenho que encontrar um lugar para ficar.
-Já disse que pode ficar comigo.
-Não! - Eu disse, caminhando à sua frente. - Não acho muito apropriado uma jovem ficar na casa de um rapaz.
-Desde quando os casais do século XXI seguem regras tradicionais? - Respondeu.
-Não sei se você percebeu, mas eu sou uma moça de família.
-Não foi bem isso que pareceu quando você invadiu meu quarto no meio da noite! - Dei de ombros.
-Pare de ser irritante, Eduardo! - Dei alguns tapinhas nas costas dele. - Você mesmo disse que eu estava dormindo.
-Eu sei! - Ele sorriu, afastando-se por alguns segundos. - Então, vamos.
Sim, algo definitivamente estava diferente com ele.
Eduardo
Depois de uma longa conversa sobre o motivo pelo qual eu não podia ficar em seu apartamento, chegamos a um acordo de que eu encontraria outro lugar para ficar. A viagem de volta foi marcada por um silêncio desconfortável entre nós dois. Ele parecia se distanciar em momentos e depois sorria, o que me incomodava um pouco. No entanto, eu sabia que não podia julgá-lo, já que também não estava sendo completamente honesta.
Ao chegarmos em seu apartamento, um silêncio ainda mais palpável pairava entre nós. Ele estava de costas, observando um quadro, embora seu olhar parecesse estar em outro lugar. Ele se virou lentamente, aproximando-se de mim e segurando minha mão. Seus dedos se entrelaçaram aos meus, elevando nossas mãos no ar. Foi como se uma conexão instantânea tivesse percorrido meu corpo, provocando arrepios e borboletas no estômago, fazendo o mundo ao redor desaparecer. Era como se estivesse vivendo um conto de fadas real. Ficamos ali, olhando para nossas mãos entrelaçadas, percebendo a diferença de tamanho entre elas, o que fazia com que a mão dele envolvesse a minha. De repente, senti um leve puxão e antes que percebesse, eu estava junto ao seu corpo. Suas mãos me seguraram com firmeza por um momento, antes de nos afastarmos.
-Está acontecendo alguma coisa?
-Deveria estar acontecendo? - Ele sorriu.
-Não sei! - Me afastei um pouco. - Você está agindo de forma estranha.
-Já expliquei que está tudo bem, não precisa se preocupar! - Ele se deixou cair no sofá.
-Você poderia me contar o que está acontecendo? - Insisti, sentando ao seu lado.
-Já disse que não é nada! - Ele parecia impaciente.
-Está bem! - Cruzei os braços, fazendo uma pequena manha.
-Não adianta fazer chantagem emocional.
Antes de responder, escuto alguém abrir a porta. Eduardo se levanta sem hesitar e a abre como se soubesse quem era. Escuto uma voz grave do outro lado da porta, acompanhada por uma voz feminina. Meus olhos seguem o movimento e percebo Eduardo com uma criança no colo, acariciando seus cabelos lisos. Eles entram, trazendo várias sacolas, e o rapaz me lança um sorriso caloroso.
-Parece que o Eduardo não está sozinho! - Ele se aproxima de mim. - Prazer, Gabriel! - Estende a mão de forma gentil.
-Prazer! - Respondo um pouco sem jeito.
-Prazer, Helena! - A mulher senta ao meu lado, acompanhada do filho. - Como você consegue aguentá-lo? - Ela olha para Eduardo e começa a rir.
-Não aguento muito, na verdade! - Digo.
-Vocês duas estão bem engraçadinhas. - Ele revira os olhos.
-Vou conversar com o Eduardo na cozinha, tenho algo importante para falar.
Fico observando eles saírem, e um breve silêncio se instala entre nós.
-Você é a namorada do tio Du? - Uma voz infantil me faz virar a cabeça. Seu rosto avermelhado se destaca, seus cabelos lisos caem sobre seus olhos. Ele parece ter uns três anos, brincando com carrinhos no ar, fazendo-os colidir.
-É claro que não! - Helena diz, um pouco envergonhada.
-Não sou não! - Respondo, tocando seus cabelos macios.
-O tio precisa de uma namorada, ele chora muito...
-Ai, Júnior! - Helena beija seus cabelos. - Desculpe, Adriana.
-Sem problemas!
-É bom saber que o Eduardo está em boa companhia, ele é um ser humano incrível!
Bem, ele é incrível e também um pouco irritante, concordam?
-Mas tome muito cuidado, ele pode ser irritante às vezes! - Helena conclui, dando um sorriso caloroso.
-Tenho que concordar!
-Ele é sensível, tem um grande coração, e parece que ele encontrou alguém que reconhece isso... - Helena pega sua bolsa, um isqueiro e um cigarro, o que me surpreende, já que ela não parece ter cara de fumante. Ela afasta o filho de seu colo e se dirige para a varanda. - Você se importa?
-Não.
-Às vezes é necessário para acalmar a mente...
-Sim.
Na verdade, não sei o que dizer.
-Preciso desabafar com alguém, posso desabafar com você? - Ela me olha por alguns segundos e segue em direção à varanda.
-Claro! - Vou até ela.
Não suporto fumantes perto de mim, meu nariz fica irritado, mas parece que ela precisa conversar, parece distante, talvez só precise de alguém para ouvi-la.
-Eu e o Gabriel estamos pensando em terminar... - Ela suspira, lançando um olhar rápido para o filho.
-Sério?! - Pergunto um pouco surpresa, eles não parecem ser um casal que briga muito. - Mas por quê?
-Não sei, parece que nosso amor está esfriando, nossa vida a dois não está tão animada...
-Então, tente ter um tempo a sós com ele.
-Como?
-Planejem uma viagem, passem um final de semana juntos...
-A vida dele é complicada, sempre trabalhando...
Eduardo
Depois de uma discussão sobre o motivo dela não querer morar comigo, finalmente chegamos em casa. Olhei para o meu apartamento e comecei a imaginar como seria tê-la vivendo comigo. Chegar em casa depois de um dia cansativo e tê-la nos meus braços seria um sonho, mas claro, sei que isso está longe de ser uma possibilidade. Então, olho para ela, que me encara com um olhar doce e ao mesmo tempo sensual, mexendo profundamente comigo. Me aproximo, querendo sentir seu corpo e seu cheiro. Nossas mãos quase se tocam no ar, um arrepio percorre minha espinha, e tenho a certeza de que encontrei minha outra metade.
Estou me mantendo um pouco distante, percebo que ela sente isso. Ainda não sei explicar exatamente o que está acontecendo, estou tentando conter meus sentimentos. Não quero magoá-la nem machucá-la.
Ela não merece isso.
Helena e Gabriel chegaram em minha casa, mas não pareciam tão contentes como das outras vezes. Meu amigo me chamou para a cozinha, ele que geralmente é um mestre das palavras agora parecia preferir o silêncio. Algo estava acontecendo. Ele andava de um lado para o outro, claramente buscando uma resposta para algo.
-Está acontecendo algo? - Perguntei, tocando levemente em seu ombro.
-Bem... Na verdade sim... Eu não consigo colocar em palavras...
-Tente se acalmar, isso pode ajudar a organizar seus pensamentos.
-Que pensamentos, Eduardo? Está tudo tão confuso...
-Então, me conte o que está acontecendo.
-A Helena quer terminar...
-A Helena? - Perguntei, surpreso. - Você está brincando, certo? - Dei uma risada.
-Não é piada, Eduardo. - Ele parecia sério.
-Então é sério mesmo?
-Ela me disse que está cansada, que eu não a dou atenção e que acha que estou envolvido com outra pessoa.
-Você não está, certo?
-Você está louco, Eduardo! - Ele me deu um soco leve no ombro. - Eu amo a Helena, amo muito. - Seus olhos brilharam por um instante, seu olhar distante. Por um momento, pensei em brincar com ele, mas percebi que eu também tinha meus momentos de reflexão.
-Bom, se é sério, então você precisa agir antes que seja tarde.
-Olha só, agora virou conselheiro amoroso? Além de namorada, a Adriana agora virou terapeuta também. - Ele fez piada.
-Ah, pare de reclamar ou eu acabo com você.
-Vai tentar? - Riu. - Eduardo, você é um engraçadinho.
-Quem fala é você, o cara que apanhava todos os dias depois da escola.
-Tá, tá, vamos parar com isso. Você está certo, preciso mudar minha atitude ou vou perder a Helena.
-Como sempre, eu dou os melhores conselhos. - Sorri.
-Mas eu preciso da sua ajuda.
-Fale então!
Era sempre eu quem resolvia as coisas.
-Preciso que você e a Adriana cuidem do Gabriel por um final de semana, para que eu e a Helena possamos aproveitar nossa lua de mel. - Ele piscou. - Ia te pedir apenas para cuidar, mas você não é muito responsável, e eu não queria que meu filho se tornasse um mendigo igual a você. E como a Adriana está com você, sei que ela vai cuidar bem do meu filho.
Ele basicamente me chamou de incompetente, isso me magoou um pouco, mas a ideia de passar mais tempo com a Adriana era ótima.
O que vocês acham?
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Imaculada Abreu
Eduardo precisa mudar radicalmente
2024-01-20
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