XIV

Adriana

Não consigo me recordar exatamente de onde parei no filme, meus olhos foram se fechando lentamente. A última cena que vi foi a do Eduardo, que estava focado na TV. Os sonhos que tive após adormecer foram confusos, tão emaranhados que é complicado descrevê-los. Eu estava tanto com o Enzo quanto com o Eduardo, alternando entre diferentes cenários que mudavam constantemente. Não havia um local específico; eu simplesmente vagava em um ambiente escuro e indistinto.

É realmente difícil de explicar.

Eu me vi em um lugar suave, extremamente macio e quente. Tentei abrir os olhos, mas a intensidade da luz dificultou um pouco. Ao olhar ao meu redor, percebi que estava em um quarto, com paredes em tom bege, detalhes em branco e várias pinturas adornando as superfícies. Virei-me de lado e deparei-me com a nuca do Eduardo. Fiquei imobilizada, sem reação, e me questionei sobre o que estava fazendo ali, como havia chegado até ali. De repente, Eduardo virou o corpo na minha direção, sua respiração parecia pesada. Mesmo enquanto dormia, ele tinha uma beleza notável.

Tentei sair da cama, mas acabei esbarrando em algo na mesinha ao lado. Lancei um olhar em sua direção e percebi que ele estava acordando, o que me fez deitar novamente rapidamente, fingindo estar dormindo. Senti seus olhos sobre mim enquanto me observava, e logo ele se levantou, parecendo estar incomodado com alguma coisa.

-Adriana? - Ele me sacode suavemente.

Fingi estar acordando, vendo-o sentado e passando a mão pelo rosto várias vezes, claramente atordoado.

-Como eu vim parar aqui? - Pergunto com receio, olhando para ele com um olhar assustado.

-Quase me deu um susto de morte! - Ele parecia irritado.

-Do que está falando?

-Ontem à noite, você estava no sofá, mas lá pelas três da manhã, você veio para a minha cama.

-Acha mesmo que vou engolir essa história? Você me trouxe para cá!

-Você está maluca? Você acha mesmo que eu conseguiria te trazer?

Está me chamando de gorda? - Perguntei com raiva.

-Não... você entendeu errado... Você tem um pouco de peso, mas não tanto...

Joguei o travesseiro nele.

-Você é um idiota e mal-educado! - Disse com irritação.

Ele soltou uma risada estranha, seu corpo se contorceu e ele acabou caindo no chão. Não importa do que ele está rindo, não tem a menor graça.

-Do que está rindo?

-Você é sonâmbula! - Ele disse, se endireitando no chão.

-Eduardo, diz a verdade pelo menos uma vez!

-Eu estou falando sério. Você abriu a porta, deitou-se ao meu lado e ficou aí. - Ele disse, parecendo sério.

-Olha, eu não vou acreditar em você!

-Posso te fazer uma pergunta?

-Se for uma das suas sacanagens, guarde para você, por favor.

-Não, não é isso! - Ele balançou a cabeça. - Por que você veio até minha casa? - Ele me encarou. - Do que você está fugindo?

-Por que quer saber?

-É simples, você está aqui, então eu preciso entender.

-Bem...

Eu não queria compartilhar isso com ele. Acredito que isso poderia potencialmente prejudicar nosso relacionamento. Levantei da cama e permaneci parada por alguns segundos, mas percebi que tinha me levantado rápido demais. Minha pressão caiu, e eu me ajoelhei na beirada da cama. Eduardo veio até mim, me segurando em seus braços. Por um momento, pensei que ele fosse me beijar, mas ele se afastou. Essa reação foi totalmente inesperada. Ele olhou para o relógio no pulso e disse que estávamos atrasados. Durante o trajeto, trocamos poucas palavras. Ele só respondia às minhas perguntas, e seu silêncio começou a me deixar desconfortável. Parecia que ele estava evitando o contato ao máximo.

-Oi, Adriana! - Adriely se aproximou de mim.

-Oi, Adriely!

-Finalmente você voltou, estava começando a pensar que não voltaria mais. Vim mais cedo!

-Tive que resolver algumas coisas! - Falei, sentando-me em uma cadeira.

-Pelo jeito, alguém parece mais distante. - Ela observou Eduardo.

-Parece que sim. Depois do que aconteceu ontem à noite, ele está se comportando de maneira bem distante, muito distante.

-O que aconteceu?

-É uma história longa!

-Eu adoro histórias longas!

Eduardo

Foi a pior noite da minha vida, mas ao mesmo tempo foi a melhor. Sentia a respiração dela na minha nuca, seus corpos estavam tão próximos que era quase impossível separá-los. Eu queria me virar, olhar para ela, mas ao mesmo tempo tinha medo do que isso poderia desencadear. Fugir da situação parecia mais fácil do que enfrentá-la. Meus sentimentos estavam tão intensificados pela adrenalina que parecia que estava a milhões de quilômetros de distância de conseguir adormecer.

Ficar irritado com isso era inevitável.

Por volta das sete da manhã, senti que ela estava acordando, mas não movi um músculo. Ela tentou sair da cama, mas acabou esbarrando em algo na mesinha, e voltou rapidamente para a cama. Isso arrancou um sorriso bobo do meu rosto. Finalmente, levantei-me e reclamei de dor nas costas.

Estava um tanto chateado por ela não ter me contado o que estava acontecendo de fato. Sua insegurança afetava não apenas ela, mas também a mim. Ela ainda não confiava completamente em mim, e eu não podia culpá-la por isso. Eu não sabia como transmitir esse sentimento para ela. Enquanto esperávamos pela professora, uma mulher se aproximou de mim. Seus cabelos loiros tinham pequenas tranças dispersas e pareciam um pouco desarrumados. Seu rosto era peculiar e estava adornado com um grande sorriso enquanto ela se aproximava lentamente.

-Eduardo?

-Sim, sou eu! - respondi com um sorriso amigável, apertando sua mão. Sua mão era macia e delicada.

-Prazer, meu nome é Vitória, sou irmã do Rodrigo!

-Ah... - Respondi um pouco sem jeito.

-Ele fala muito bem de você! - Ela mordeu o canto dos lábios.

-Fico feliz em ouvir isso!

-Tenho certeza de que a peça será incrível, especialmente com um galã como você!

-Seu irmão é realmente talentoso, tenho certeza de que será um sucesso.

Dou uma olhada ao meu redor e percebo que Adriana estava me observando. Pelo seu semblante, não parecia estar gostando do que via. Acho que vou provocá-la um pouco mais.

-E o que você costuma fazer? - Pergunto, me aproximando dela.

-Eu gerencio uma agência de talentos! - Ela responde.

-Isso é interessante! - Comento.

-Sim, é um pouco. - Ela sorriu, tocando meu ombro.

-Passa na minha sala mais tarde. Gostaria de conhecer mais sobre o seu trabalho! - Sua voz ficou um pouco sugestiva no final.

-Claro, passo sim!

Observei enquanto ela saía e, quando olhei para Adriana, percebi que ela não estava mais me observando. Não sei por que, mas tenho a sensação de que acabei me complicando...

Adriana

Adriely é um ser incrível, cheia de vitalidade. Contar a ela a história foi como aliviar um grande peso dos meus ombros. Ela parecia compreender o que estava acontecendo dentro de mim. Às vezes, é difícil encontrar pessoas com quem nos conectamos tão profundamente.

-Basicamente, eu acabei dormindo no quarto dele...

-E ele não tentou nada? - Ela murmurou, com um sorriso travesso no rosto.

-Bem, acredito que ele estivesse realmente exausto naquela hora.

-Uau! - Ela expressou surpresa. - Se fosse eu, já teria tomado uma atitude há tempos!

-Na verdade, ele tentou, mas eu não deixei...

-O quê? - Ela perguntou, chocada. - Por quê?

-Eu ainda não me sinto completamente segura.

-Como assim, amiga? Dá para perceber que ele gosta de você!

Nesse momento, nós olhamos para ele e vemos que ele está conversando com outra mulher. Parece extremamente animado, talvez até demais. Então, ele olha na minha direção e sorri. Acho que está me provocando. Vou fingir que não me importo.

-Ele parece ser um tanto babaca! - Adriely ri da situação.

-É por isso que não me sinto segura com ele!

-Às vezes, você poderia dar uma chance e confiar nele.

-Ele me irrita!

Adriely olha para o lado, e percebo que Eduardo está se aproximando. Ela me olha e sai de perto.

-Tudo bem? - Eduardo pergunta.

-Agora quer falar comigo?

-Parece que você está chateada! - Um sorriso começa a aparecer em seus lábios.

-Olha, eu realmente não ligo para você! - Digo com irritação.

-Não precisava ficar brava, meu amor! - Ele sussurra no meu ouvido.

-Não me chame de "meu amor"! - Falo com irritação.

-Está bem, então vou chamar de "minha vida"!

-Você é um idiota!

Meus olhos se desviam para outro lugar, um rapaz alto se aproxima, com um largo sorriso nos lábios. Ele observa as pessoas ao redor de cima a baixo, como se estivesse procurando por algo. Quando finalmente percebo, percebo que é ele.

Enzo...

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***