Adriana
Enquanto estávamos ali no apartamento, senti um misto de culpa e confusão. Ver Eduardo machucado ativou um sentimento de aflição em mim, a vontade de cuidar dele foi forte, mas as palavras do Matheus trouxeram incerteza e bloqueio aos meus sentimentos. Eu não conseguia entender o que realmente estava acontecendo dentro de mim.
Minha insegurança sempre foi um obstáculo quando se trata de sentimentos.
Nós dois ficamos naquele apartamento, trocando olhares que pareciam carregar inúmeras perguntas não ditas. A tensão no ar era palpável, e eu estava sentindo uma urgência para esclarecer minhas dúvidas em relação a ele. No entanto, antes que pudesse reunir coragem para falar, ouvimos alguém batendo na porta.
-Boa tarde! - Cumprimentou o médico ao entrar.
-Boa tarde! - Respondi, dando espaço para ele passar.
-Então, senhor Eduardo, o que aconteceu? - Perguntou o médico enquanto se sentava ao lado dele.
-Eu caí, doutor! - Eduardo fez uma careta de dor quando o médico tocou em seu braço machucado.
-E como foi a queda?
A culpa foi minha.
-Foi...
-Eu acabei tropeçando em um tapete e caí. Sorte que a Adriana estava aqui para me ajudar!
Eu deveria ter dito que eu tropecei e acabei derrubando ele no chão.
-Pelo visto, a queda foi bem feia. Eu diria que alguém te empurrou!
Na verdade, foi mais ou menos isso que aconteceu.
-Acidentes acontecem! - Ele me encarou.
-Bem, pelo que eu examinei, você torceu o braço. Deve usar essa tala com faixa por quinze dias... - Disse enquanto fazia o procedimento - Também deve tomar esses remédios para dor. Ficar em repouso é essencial!
-Obrigado, doutor!
-Não tem de quê, senhor Eduardo. Se precisar, pode me ligar! - Ele arrumou sua maleta.
O médico se levantou e dirigiu-se à porta. Eu o acompanhei.
-Qualquer coisa, ligue para mim. Ele é teimoso e pode não seguir as instruções.
-Pode deixar, doutor. Vou cuidar dele!
Observei o médico pegar o elevador e voltei a me sentar no sofá. Eduardo estava olhando para o teto, com um olhar distante. Nossos olhares se encontraram, e a luminosidade da sala parecia destacar seus olhos.
-Vai cuidar de mim, é? - Ele sorriu no canto dos lábios.
-Se você me irritar, vou jogá-lo pela janela! - Disse com irritação.
-Nossa, tenha pena desse doente aqui!
Não respondi, apenas peguei a receita que estava ao seu lado e comecei a lê-la. Senti seu corpo se aproximando e sua respiração perto do meu ouvido.
-São tantos remédios assim? - Disse ele.
-Parece que sim. Cada um em um horário. Tente não esquecer!
-E como vou comer e tomar banho?
-Bem, você vai precisar contratar uma babá! - Fui irônica.
-Sua ironia é bem delicada!
-E você é bem idiota!
-Você gosta disso!
Minhas bochechas coraram.
-Ok, vou fazer algo para você comer! - Disse, levantando-me e indo em direção à cozinha.
-Obrigado, Adriana. De novo! - Ele sorriu.
Eu sabia que havia um sorriso naquele agradecimento, e por algum motivo, isso fez meu coração bater um pouco mais rápido.
Eduardo
Eu sabia que ela se sentia culpada, mas, na verdade, não foi culpa dela. Acidentes acontecem, e talvez tenha ocorrido com nós dois para nos aproximar mais. Eu sentia isso, como se o destino estivesse trabalhando para nos unir de uma maneira especial.
E eu amava cada momento desse encontro do destino!
Observei enquanto ela se dirigia à cozinha. Mesmo nesse gesto, ela era delicada. Começou a procurar as coisas na cozinha, mas algumas coisas acabaram caindo. Um sorriso se formou em meu rosto com a ideia que passava em minha mente. Levantei-me da cadeira e fui até a cozinha. Ela já estava em ação, preparando algo para mim. Sentei-me em uma cadeira próxima e fiquei a observando por alguns segundos, admirando sua dedicação e o jeito atencioso com que cuidava de mim. Era como se estivéssemos criando uma conexão silenciosa através dos nossos olhares e gestos.
-O cheiro está delicioso.
-Obrigada! - Ela se virou para mim, com um sorriso adorável- Espero que você goste!
-Depois de meses comendo apenas besteiras, mal posso esperar para provar uma comida decente!
-Percebi que você tem uma grande coleção de miojo aqui - ela riu.
-Não é bem assim!
Os momentos com ela eram simplesmente incríveis.
-Você já namorou, Adriana?
Seus olhos me observaram por alguns instantes, como se ela estivesse ponderando a resposta.
-Você é bem direto com as perguntas, Eduardo!
-Quero te conhecer melhor, se você não se importar.
-Importar eu até me importo, mas parece que o destino quer nos unir de alguma forma...
Ouvir essas palavras da boca dela me encheu de felicidade, como se houvesse uma chance real entre nós.
-Eu também acho! - Suspirei aliviado- Então, você já namorou... ou está namorando?
-Já namorei, mas faz um tempo!
-Entendi!
-E você?
-Também já namorei, mas foi há alguns meses!
-Por que terminaram? - Ela perguntou com curiosidade.
-Ela me traiu.
-Sinto muito por isso!
-Adriana? - Meus pés pareceram ganhar vida própria e me aproximaram dela. Segurei seu queixo para que nossos olhares se encontrassem, e falei diretamente com ela, deixando a verdade sair.
-Eu te amo!
Adriana
Não esperava ouvir essas palavras, especialmente vindas dele. Poderia ter respondido com a mesma intensidade, mas algo dentro de mim me bloqueava, como se me dissesse que ainda não era o momento certo. Eu podia sentir seu coração batendo forte, sua respiração estava ofegante, e ele me olhava com um olhar intenso. Seus lábios pareciam buscar os meus, mas havia algo que o impedia de avançar, algo que também me impedia de corresponder da mesma maneira.
A proximidade entre nós era intensa demais!
Busquei algo para dizer, para evitar que ele ficasse bravo ou magoado por minha falta de resposta igual à dele. Então, levantei a mão e coloquei-a suavemente em sua testa, sentindo o calor que irradiava dela.
-Está com febre! - Falei com preocupação ao sentir o calor em sua testa.
-Não estou não! - Ele respondeu com um tom um pouco irritado.
-Está sim, acredite em mim, você não entende muito disso.
Percebi que ele ficou em silêncio, talvez tenha percebido que minha afirmação era apenas uma desculpa para interromper o momento.
-Irei tomar banho! - Ele disse se afastando abruptamente
Meu olhar acompanhou Eduardo até ele entrar no quarto e fechar a porta. Respirei fundo, tentando acalmar a agitação que estava sentindo. Notei que ele havia deixado a porta entreaberta, e parte de mim suspeitou que tenha sido de propósito. Enquanto ele estava no chuveiro, me concentrei nas panelas, mexendo o conteúdo ocasionalmente e dando olhadas furtivas em direção à porta do quarto. Ouvi a água do chuveiro cair e, eventualmente, escutei quando ele saiu do banheiro. Parecia que ele tinha demorado mais tempo lá do que o necessário, mas isso poderia ser apenas minha mente imaginando coisas.
Finalmente, ele apareceu na cozinha usando chinelos e uma bermuda. Parecia bem mais relaxado, apesar da situação. Ele havia colocado algo para cobrir a tala em seu braço, o que era uma ideia esperta. Eu evitei olhar diretamente para ele, mas não pude deixar de perceber que ele estava com o cabelo molhado e gotas de água escorriam por seu corpo, tornando-o irresistivelmente atraente. Mantive o foco na comida, tentando afastar os pensamentos que tentavam invadir minha mente.
-Pode me ajudar a colocar a camiseta? - Ele me olhou envergonhado.
-Se tentar algo, eu quebro seu outro braço! - Disse me aproximando dele. - Ele sorriu.
Seria melhor você sentar, eu não vou conseguir colocar a camiseta em você em pé!
-É baixinha mesmo!
Me aproximei para ajudá-lo a colocar a camiseta. Não pude deixar de admirar seu corpo, mesmo que eu estivesse sentado, era impossível não olhar. Seus músculos estavam tensos, e suas expressões eram fáceis de decifrar. Ele inclinou a cabeça para que eu pudesse passar a camiseta pela abertura, e enquanto a vestíamos, nossos olhos se encontraram. O mundo parecia ter parado naquele momento; literalmente, tudo ao redor pareceu congelar.
-Você deve parar de fazer isso! - Sussurrei.
-Isso o quê?
-Ficar flertando comigo o tempo todo, eu sei que você é mulherengo!
-Quem te disse isso? - Perguntou confuso.
-O Matheus!
Ele virou irritado para o lado e cochichou algo que não consegui escutar.
-Ele disse mais alguma coisa?
-Sobre o quê?
-Sobre você!
Cheguei na conversa que eu queria.
-Não sei, ele deveria dizer algo? - Me afastei.
Tentei agir como se não entendesse.
-Eu sei que você sabe, ele é muito boca aberta!
-Não sabia que quando eu passava você ficava babando! - Não consegui resistir a provocá-lo.
-Também não é assim! - Sorriu revirando os olhos.
-Ele me contou tudo, tudo o que eu não precisava saber! - Disse sentando na mesa.
-Eu vou matar o Matheus.
-Olha, ele é muito fofoqueiro. - Sorri.
-Ele disse que não é fofoqueiro, é observador.
Eduardo
Eu não sei como aquelas palavras escaparam da minha boca, mas acredite, eu estava ansioso para a resposta dela. Assim como eu, ela parecia confusa e deu uma desculpa bem esfarrapada. Eu não estava planejando questioná-la ou pressioná-la. Queria conquistar o coração dela aos poucos, mesmo que a fama de mulherengo já tivesse chegado aos ouvidos dela.
Eu estava me apaixonando de verdade.
É difícil para um homem admitir isso, e eu não sou exceção. No entanto, com ela é diferente. Sinto-me em paz e tranquilo, e essa sensação é real. Não consigo explicar, mas quero estar com ela pelo resto da minha vida. Não apenas como namorado, mas como marido, amante, amigo... Espero que vocês estejam entendendo o que quero dizer.
-Pelo cheiro, deve estar muito bom! - Sentei-me à mesa.
-Espero que goste! - Ela fez o mesmo movimento.
-E... e como vou comer? - Disse, fazendo um gesto com uma das mãos.
-Você está falando sério? - Revirou os olhos - Olha, talvez seja melhor você arrumar uma babá.
-Vou te contratar!
-Quem disse que quero?
-É um pedido, eu não sei quem mais contratar! - Abri a boca, permitindo que ela colocasse a colher de comida.
-Por que eu tenho que ser a escolhida? - Perguntou indignada.
-Bem, você é a única mulher cuidando de mim agora!
-Eu não vou cair nesse seu papo!
-Olha, Adriana, eu quero algo sério contigo!
Ela me olhou assustada.
-Estou me segurando para não te beijar, para não te abraçar. Estou lutando para não fazer besteira, mas a verdade é que não vou conseguir segurar isso por muito tempo. Você me domina, mexe comigo, é difícil explicar! - Respirei fundo, estava cansado de guardar isso para mim.
Ela se levantou da mesa e pegou sua bolsa que estava no sofá.
-Eu ligo para saber se está bem! - Disse, indo em direção à porta.
-Espera! - Fui atrás dela - Desculpa, eu não queria te assustar. Só que não estou mais conseguindo me conter. Eu entendo se você não quiser mais nada comigo, mas por favor, não me deixe aqui sozinho.
-Eduardo... - Gabriel chegou.
-Você não está mais sozinho. Até mais!
Ela me observou por um momento e foi em direção ao elevador. Eu queria correr e não deixá-la ir, mas ela precisava de tempo para pensar. Acredito que foi muita informação para ela assimilar.
-Eduardo! - Gabriel me balançou - O que aconteceu com o seu braço?
-Entra, vou te contar! - Disse, dando espaço para ele passar pela porta.
-Quem é a moça?
-Uma amiga!
-Amiga? - Ele sorriu - Sei, Eduardo. Conta outra!
Não respondi.
-Então, o que aconteceu? - Ele sentou no sofá.
-Eu caí e machuquei o braço. Ela estava me ajudando, é simples!
-Coitada dela! - Ele gargalhou - Mais uma que caiu no seu papo.
-Incrivelmente, não. Sempre tive várias mulheres aos meus pés, mas ela não cede.
-Então ela é brava?
-Brava é pouco.
-E você vai desistir?
-Não, eu a amo!
Adriana
Cheguei rapidamente ao meu apartamento e me joguei no sofá, perdida em pensamentos sobre tudo o que Eduardo havia dito. Ele parecia sincero, mas depois do que Matheus me falou, duvidar de suas palavras era quase inevitável. Será que eu estava sendo ingênua ou ele realmente estava sendo honesto?
Minha mente está uma bagunça!
Não vou negar, gosto dele, muito, desde aquele dia em que ele entrou no meu táxi roubando minha atenção com aquele sorriso encantador. Mas, ao mesmo tempo, sou tão insegura com meus sentimentos que o medo acaba me paralisando e me impede de agir. Meu celular toca, e vejo que é um número desconhecido. No primeiro momento, rejeito a ligação, mas a pessoa insiste e liga novamente. Será que é o Eduardo?
-Alô?
-Oi... Dri?
-Sim, ela mesma. Quem está falando?
-Sou eu, Enzo!
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Girassol
Xiiiiiii... Sinto cheiro de ex no ar!!! Corre Adriana!
2023-08-19
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