III

Eduardo

O dia transcorreu normalmente no teatro, com exercícios, ensaios e conhecendo melhor a peça. Não tinha ideia de quantas pessoas havia conhecido ao longo do dia, mas tudo estava indo muito bem. Fiquei observando-a de longe durante o dia, sentindo a vontade de me aproximar várias vezes, mas minhas tentativas pareciam sempre dar errado. Optei por apenas observá-la e decidi que, na próxima oportunidade, conversaria com ela.

Quando finalmente estava na hora de irmos embora, vi que ela estava procurando um táxi.

É a minha chance.

Me aproximei dela, enquanto ela estava distraída. Quando ela percebeu minha presença, me olhou de cima a baixo e voltou sua atenção ao que estava fazendo.

-Vai roubar outro táxi, é? - Ela disse de forma irônica.

-Não! - Respondi, chamando um táxi que estava se aproximando. - E será que dá para esquecer aquele episódio? - Disse com um pouco de irritação.

-Vou pensar no seu caso.

-Abri a porta do carro.

-Entre!

Ela me olhou surpresa.

-Esse táxi é seu!

-Não tem meu nome escrito nele! - Sorri.

Ela me observou por alguns segundos e, finalmente, entrou. Fechei a porta devagar e vi o táxi partir. Alguns segundos depois, consegui pegar outro táxi para voltar para casa.

Cheguei ao prédio rapidamente e passei pela portaria sem prestar atenção a quem estava por perto. Ao chegar à minha porta, notei que ela estava aberta, o que me surpreendeu, já que eu a tinha trancado ao sair. Ao abrir a porta, me deparei com Gabriel, sua esposa e meu afilhado me esperando.

-Onde você estava, camarada? - Gabriel veio na minha direção.

-Trabalhando! - Respondi, fechando a porta.

-Parece que está tomando um rumo, hein, Eduardo? - Helena se aproximou e me abraçou.

-Finalmente! - Gabriel deu um tapinha no meu ombro.

-Aproveitamos que você estava fora e organizamos seu apartamento. O Gabriel levou seu carro para a oficina e já está pronto. - Helena explicava enquanto pegava o menino no colo.

-E fizemos compras também. Comer só miojo não é legal, você vai ficar enorme! - Ela sorriu.

Helena e Gabriel são como uma família para mim, sempre prontos a ajudar. Encontrei em ambos um apoio que me fez sentir mais acolhido.

-Não sei nem como agradecer! - Disse, um pouco sem jeito.

-Não precisa agradecer, apenas cuide-se e pare de beber tanto! - Helena abriu a porta.

-Passamos por aqui em outro momento para te visitar. Cuide-se, campeão!

Observei-os saírem e me sentei no sofá, olhando ao redor e me sentindo aliviado com a organização do lugar. Fechei os olhos por um instante e, então, ela veio à minha mente novamente.

Adriana

A rotina estava sendo incrível, eu estava amando cada momento. O primeiro dia não poderia ter começado melhor: exercícios, conhecer melhor a peça, tudo estava se encaixando conforme o que sempre sonhei.

Antônio e Dani eram tão legais comigo, sempre dispostos a ajudar e ensinar. E quanto ao Eduardo, percebia quando ele me olhava. Ele é péssimo em esconder seus sentimentos, mesmo que sua expressão não mostre diretamente.

Após um dia agitado, estávamos nos preparando para voltar para casa. Fui até um local para chamar um táxi, quando senti a presença de alguém atrás de mim. Olhei para trás e lá estava ele. Analisei-o com mais atenção. Ele não era feio, mas roubou meu táxi, então não merecia um elogio tão direto.

-Vai roubar outro táxi meu? - Perguntei, deixando claro o tom de raiva em minha voz. Se ele tentasse me roubar novamente, juro que o jogaria na frente de um táxi.

-Não! - O táxi estava se aproximando. - Tem como esquecer esse episódio?

-Esquecer? Ele realmente é patético. Por causa dele, acabei atrasada em meu primeiro dia de trabalho.

-Irei pensar no seu caso! - Respondi, cheia de sarcasmo.

Ele abriu a porta do táxi.

-Entra!

Fiquei surpresa com o gesto de cavalheirismo vindo dele. Ele parecia um ogro, pensei que até o Shrek seria mais cavalheiro.

-Esse táxi é seu! - Disse, mantendo minha educação. Não queria ser mal-educada.

-Não tem meu nome nele! - Ele sorriu, e confesso que era um sorriso belíssimo.

Entre no táxi sem dizer nada, afinal, era a obrigação dele me deixar ir ao táxi. Vi quando ele fechou a porta do carro e partimos.

A viagem de táxi foi rápida. Cheguei em meu apartamento, joguei a bolsa e fui direto para o chuveiro.

Eu precisava relaxar.

Depois de um longo tempo no chuveiro, fui para a cozinha preparar algo para comer. Até que meu celular tocou.

-Como foi o seu primeiro dia? - Cláudia falou empolgada do outro lado da linha.

-Ah, Ca, foi maravilhoso! Fui tão bem recebida.

-Fico tão feliz por você!

-Mal posso esperar para você vir me visitar e eu te mostrar tudo.

-Dri, você precisa me contar detalhes. Você conheceu alguém novo hoje? Algum colega de elenco?

-Hoje foi mais para conhecer a peça e as pessoas. Conheci o Antônio, a Daniela...

Será que devo falar sobre o roubador de táxi?

-Você está escondendo alguma coisa, desembucha.

Ela me conhece tão bem.

-Conheci também o roubador de táxi.

Ela soltou uma gargalhada.

-Quem é esse?

-Um cara chato, ignorante, roubou meu táxi e me fez chegar atrasada no meu primeiro dia. E para piorar, ele também faz parte da peça.

-Só você para ter essas histórias.

-Pois é! - Sorri.

-Mas me conta, ele é bonito?

Ah, aí vem a pergunta difícil. Ele é bonito ou não é?

Eduardo

Mesmo sabendo que a Helena pediu para não beber, a tentação foi mais forte do que a razão. Decidi sair e ir para algum lugar. A rua estava vazia enquanto eu caminhava cabisbaixo, até chegar em um bar próximo ao meu apartamento. Entrei e procurei uma mesa mais afastada, porque estava claro que eu precisava de um momento para chorar.

Sim, sou dramático.

O garçom me atendeu prontamente e pedi uma das bebidas mais fortes do menu. A noite seria longa para mim. Enquanto eu olhava para o vazio, a porta do bar se abriu e meu antigo amor entrou. Meu coração se apertou.

Queria sumir naquele momento.

Ela estava acompanhada por outro homem, que eu conhecia bem: meu ex-melhor amigo. Eles sorriam da mesma forma que ela sorria para mim. Tentei desviar o olhar, mas meus olhos pareciam querer coletar provas para me fazer sofrer. Eles me viram e se aproximaram para cumprimentar.

-Edu! - Ela disse com um sorriso encantador.

Por que essas situações só acontecem comigo?

-Oi, Lorena.

Sim, meu antigo amor se chamava Lorena. Eu costumava chamá-la de "minha morena", devido aos seus cabelos negros e olhos escuros. Ela era perfeita.

-E aí, Eduardo! - Daniel veio estender a mão.

Daniel era meu amigo desde a faculdade de administração. Éramos próximos.

-E aí, Daniel!

-Não sabia que gostava de vir para cá? - Daniela perguntou.

-Eu costumava trazer você aqui.

-Sim, eu gosto.

-Vamos sentar, meu amor! - Daniel a puxou.

-Sim, até mais tarde, Edu! - Lorena disse, acenando.

Observei eles irem embora e logo me levantei. Decidi que era melhor chorar em casa.

Adriana

Após uma conversa animada com a Cláudia, decidi me concentrar e estudar mais sobre a peça. Queria me aprofundar nos detalhes para me sair bem. Depois de um tempo, algo me impulsionou a olhar pela varanda. O vento frio afastava os meus cabelos, a lua brilhava no céu claro e as estrelas criavam um espetáculo de iluminação.

Era uma visão deslumbrante.

No entanto, meu olhar foi atraído para a rua. Lá embaixo, vi um homem chorando. Fiquei surpresa, pois raramente se vê alguém chorando na rua. Fiquei observando por um tempo, até que finalmente percebi quem era.

Era o Eduardo.

Eduardo

Eu estava tão perturbado que continuei a caminhar sem rumo, pensando em voltar e confrontá-la, revelar o quão falsa ela é. No entanto, naquele estado emocional, eu sabia que acabaria chorando como um idiota na frente dela.

E foi o que aconteceu.

Andei tanto que percebi que tinha chegado a um lugar desconhecido. Não havia muita gente por perto, e eu continuei andando com a cabeça baixa. Por algum motivo, senti a vontade de olhar para cima, para um prédio. Mesmo sem meus óculos, consegui perceber que alguém estava me observando.

Quando olhei na direção dessa pessoa, ela desapareceu.

Continuei andando até ouvir passos atrás de mim. Virei-me e vi dois homens encapuzados se aproximando.

-Ei, você aí! - Um deles gritou.

Tentei andar mais rápido, mas eles correram atrás de mim.

-Olha só! - Um deles agarrou meu braço - Um rapazinho rico!

-Pra onde você vai, bebêzinho? - O outro zombou.

-Por favor, me deixem em paz! - Implorei, tentando me soltar.

-Fica quietinho, rapazinho rico! Agora passa a carteira, o celular, tudo.

-Não valia a pena brigar, então tirei minhas coisas dos bolsos e entreguei a eles.

-É só isso que você tem, rapazinho? Achamos que teria mais!

-Não tenho mais nada aqui, mas se me soltarem, eu posso tentar conseguir mais coisas.

Eles riram.

-Acha que vamos cair nessa conversa? - Um deles me empurrou no chão.

Minha vida não podia piorar.

Então, um dos assaltantes tirou um canivete do bolso e apontou para mim. Antes que eles se aproximassem, ouvi alguém gritar.

Eduardo!

Adriana

Eu me perguntava o que ele estava fazendo ali, chorando na rua. Esperava qualquer pessoa chorar, menos ele. Pareceu que ele me notou também, mas provavelmente não sabia quem eu era.

Felizmente, ele não me reconheceu.

No entanto, minha atenção logo se voltou para dois homens que estavam esperando perto dele. Eu já tinha ouvido boatos de que nosso condomínio não era totalmente seguro, então decidi agir.

Desci rapidamente até o primeiro andar e expliquei a situação a um segurança, que chamou reforços. Voltei para a rua e vi Eduardo no chão.

Meu instinto nunca me falhava.

Corri até ele e gritei:

-Eduardo!

Todos ficaram surpresos com minha chegada.

-Adriana, vá embora! - Eduardo disse, desesperado.

-Olha só, uma bela moça! - Um dos homens tentou se aproximar, mas Eduardo o empurrou no chão.

Os seguranças chegaram correndo, mas os assaltantes conseguiram fugir.

-Você está bem, Eduardo?

Não precisava de resposta, sua cabeça estava sangrando. Antes que ele dissesse algo, o puxei para irmos ao meu apartamento. Agradeci aos seguranças e subimos.

Ficamos em silêncio.

Não era a situação mais comum, uma mulher levar um homem para seu apartamento, mas eu não podia deixá-lo naquele estado. Sinalizei para que ele se sentasse no sofá enquanto pegava o kit de primeiros socorros.

-Você é maluco de andar sozinho aqui, ainda mais nesse condomínio perigoso! - Comentei enquanto me sentava ao lado dele.

-Acabei me perdendo, não sabia mais o caminho para casa.

-E por que você estava aqui?

-É uma longa história.

-Entendi.

Limpei seu rosto com um pano para evitar inflamação. Nesse momento, percebi um perfume agradável emanando dele.

Calma, Adriana, o que está acontecendo aqui?

Eduardo

Quando o vi, meu coração deu um salto descompassado. Fiquei observando-o por um instante, até que percebi que ele estava preocupado comigo.

Ele gritou para que eu corresse, mas os homens pareciam determinados a se aproximar. Foi quando vi a agilidade dele, jogando um deles no chão antes que os guardas chegassem correndo e os bandidos fugissem. Fiquei impressionada com sua coragem.

Mas logo depois, percebi que algo estava errado. Ele levou a mão à testa e vi o sangue. Sem pensar duas vezes, o puxei para o meu apartamento. Subimos em silêncio, e eu estava curiosa para entender o que havia acontecido.

No apartamento, indiquei que ele se sentasse no sofá enquanto eu pegava o kit de primeiros socorros. Tentei ser o mais cuidadosa possível enquanto limpava o ferimento em sua testa. Estávamos em silêncio, e parecia que havia uma tensão no ar.

Finalmente, ele quebrou o silêncio.

-Você está com raiva de mim. - Ele sorriu.

-Por quê? - Perguntei, curiosa.

-Porque eu roubei o seu táxi, vou contracenar com você e acabei de colocar você em perigo.

-Bem, estou um pouco furiosa, sim, mas principalmente por causa do táxi. - Sorri - Mas isso já passou.

-Desculpe novamente.

-Lembra do que você me disse para esquecer? - Sorri de volta.

-Verdade. - Ele sorriu também.

Enquanto ela terminava de cuidar do ferimento em minha testa, ela se afastou um pouco. Perguntei a mim mesmo o que estava acontecendo ali, o que sentia enquanto estava perto dela.

-Pronto, está sentindo alguma dor? - Ela perguntou.

-Não. - Respondi.

-Ótimo. Da próxima vez, pega um táxi para não se perder de novo. - Ela sorriu enquanto se afastava.

-Sim, acho que já tive aventuras o suficiente por hoje.

Ela se aproximou novamente, e percebi que havia uma pergunta em seu olhar.

-Eduardo?

-Sim?

-Por que você estava chorando?

Ela me viu chorar. Como explicar a ela o que estava passando pela minha mente naquele momento?

Eduardo

A conversa com Adriana estava fluindo bem, o que me deixou mais à vontade. Ela estava sendo mais amigável do que eu esperava, o que me fez perceber que talvez tenha julgado mal a situação toda do táxi.

Quando ela se afastou um pouco, senti como se algo estivesse faltando, como se o espaço entre nós estivesse preenchido de repente.

Sua pergunta me pegou de surpresa. Por que estava chorando? Era uma pergunta difícil de responder. Eu não queria que ela visse esse lado vulnerável de mim, mas ao mesmo tempo, senti que ela merecia uma resposta sincera.

-Não era nada importante. - Respondi evasivamente.

Ela pareceu não se convencer muito, pois retrucou com um sorriso brincalhão:

-A primeira vez que vejo um homem chorar na rua.

Sorri com sua observação e seu senso de humor. Era realmente raro ver alguém chorar em público, ainda mais um homem. Senti um certo alívio por não estar sendo julgado por ela, como se ela entendesse que todos têm seus momentos de fraqueza.

Ela sugeriu chamar um táxi para mim, e enquanto ela se dirigia ao interfone, eu senti uma mistura de gratidão e apreço por sua atitude.

-Adriana, obrigado. - Disse com um sorriso sincero.

Ela corou levemente, o que achei adorável. Quando o porteiro confirmou que havia um táxi esperando lá embaixo, me levantei do sofá.

-Pelo menos dessa vez não vou roubar o seu táxi. - Brinquei.

Seu sorriso me fez sentir algo que eu não conseguia explicar completamente. Eu me despedi, sabendo que tinha que ir embora.

-Até amanhã, Adriana.

-Até, Eduardo.

Saí do apartamento dela com um sentimento estranho no peito. Não conseguia tirá-la da minha mente. Aquele encontro inesperado havia mudado o rumo do meu dia de uma forma que eu não esperava. E por alguma razão, eu estava ansioso pelo dia seguinte, pela oportunidade de vê-la novamente.

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Comments

Girassol

Girassol

Até os ogros tem um lado fofinho!🤗

2023-08-19

1

E. Sena

E. Sena

Eu tbm

2023-08-16

0

Rosa Santos

Rosa Santos

Achei os dois uns fofos 😍

2023-08-14

0

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