XI

Eduardo

Ela parecia distante, mais distante do que nas outras vezes. Eu me questionava se havia feito algo errado, pois não entendia o motivo de seu silêncio. Durante a manhã, estávamos ocupados com os ensaios, havia tanto texto para estudar, tantas expressões para praticar. No entanto, não conseguia tirar da minha cabeça o porquê de ela ficar tão calada sempre que eu me aproximava, por que adiava as conversas para mais tarde. Eu precisava entender o que estava acontecendo com ela, ou iria enlouquecer.

Estou ficando louco, Eduardo?

Talvez seja apenas paranoia minha. Afinal, ela me pediu para não mostrarmos aos outros o que sentimos, como se fosse algo fácil de fazer. Sentei em uma cadeira e fiquei observando à distância. Nunca senti algo tão forte, um desejo ardente e excitante por uma mulher que conheci há tão pouco tempo. Nem mesmo as minhas outras namoradas conseguiram me afetar assim. Parece que estou em um estado de colapso. Ela tem o poder de me dominar, como eu costumava brincar, e por alguns instantes, desejei que ela fizesse isso. Poderia me jogar aos seus pés, ser feito de tapete, eu aceitaria. Ela poderia me trancar em uma jaula e me usar como quisesse, desde que eu tivesse ela só para mim. Parece que estou completamente louco.

Sim, estou completamente louco.

Deixo-me afundar na cadeira, perdendo-me em pensamentos por horas. Até que alguém, um verdadeiro abençoado, me dá um tapa na cabeça. Tento capturar a imagem do infeliz até perceber que era Matheus.

-Sofrendo de amor? - Matheus brincou ao olhar para o cardápio em cima da mesa.

-Não, claro que não.

-Então por que essa expressão de peixe morto? - Ele me encarou e logo olhou para Adriana, que também estava nos observando. - Mal começaram a namorar e já estão de DR?

-Se eu soubesse por que ela está chateada, eu resolveria! - Respondi de forma um pouco ríspida.

-Vai entender! - Ele revirou os olhos e se levantou rapidamente. - Mas ficar aí sentado não vai ajudar em nada. Que tal darmos uma volta?

Ele estava certo. Não fazia sentido continuar sentado e preocupado. Levantei-me e decidi seguir Matheus, tentando deixar para trás os questionamentos que me assombravam sobre o comportamento de Adriana.

A praia estava repleta de pessoas aproveitando o dia ensolarado. Matheus sugeriu que comprássemos uma água de coco para refrescar, então nos dirigimos a uma das barracas próximas. O ar estava impregnado com o aroma salgado do mar e o som das ondas quebrando na praia criava uma trilha sonora relaxante.

Enquanto Matheus fazia o pedido, observei as pessoas ao redor: famílias brincando na areia, grupos de amigos se divertindo com jogos de praia e casais caminhando de mãos dadas à beira d'água. Era um cenário típico de verão, cheio de energia e vida. Matheus voltou com as águas de coco geladas, e nos sentamos em algumas cadeiras próximas à barraca. A brisa suave misturava-se com o calor do sol, criando uma sensação agradável em minha pele.

-Hoje está bem cheio né? - Matheus disse, entregando-me uma água de coco gelada.

-Não sabia que aqui era assim?

-Na verdade não, muitos preferem a outra praia. Por isso estou achando estranho.

-Talvez tenham sabido que havia atores aqui! - Sorri.

-Até parece Eduardo! - Matheus gargalhou. - Acho que ninguém deve nos reconhecer.

-Concordo contigo! - Respondi, olhando em volta para as pessoas que aproveitavam o dia ensolarado na praia.

Olhei rapidamente e vi a mulher atraente se aproximando. Ela era magra, alta, com cabelos escuros e longos presos para trás, e seus olhos azul marinho tinham um toque exótico que chamava a atenção. Meus pensamentos rapidamente foram para Adriana; se ela visse essa cena, nosso relacionamento que estava apenas começando poderia estar em perigo.

-Olá, meninos! - a mulher saudou com um sorriso sugestivo.

-Oi... - Matheus respondeu de forma envergonhado.

Minha língua pareceu travar, e eu mal consegui dizer uma palavra.

-Posso me sentar com vocês? - ela perguntou, e Matheus fez um gesto convidativo para que ela se juntasse a nós.

-Ah, claro! - Matheus respondeu com entusiasmo.

A mulher continuou a flertar, tornando a situação um tanto desconfortável. Matheus estava empolgado, o que me fazia querer bater nele por ser tão aberto e receptivo. A conversa continuou, com ela fazendo perguntas sobre nós e sobre a peça que estávamos ensaiando.

-Vocês devem ser os atores principais, certo? - ela dirigiu sua atenção a mim.

-Eu não, na verdade, o Eduardo é o protagonista - Matheus respondeu, ignorando minha cara de reprovação.

-Eduardo? - ela olhou para mim, e um sorriso divertido apareceu em seus lábios. - Belíssimo nome!

-Obrigado! - eu finalmente consegui responder, sentindo-me um pouco desconfortável com todo o flerte explícito.

-Vocês vão estar disponíveis hoje à noite? - Ela se inclinou um pouco mais na minha direção, o que me fez sentir seu perfume.

-Bem, eu acho que não! - Respondi com um sorriso tímido.

-Vai ter uma festa aqui hoje à noite, e eu adoraria que vocês viessem! - Ela mordeu novamente os lábios, me olhando de cima a baixo de maneira sugestiva. - Principalmente você, Eduardo!

-Na verdade, estarei ocupado! - Confirmei mais uma vez, tentando manter a conversa amigável.

-E agora, está ocupado?

De repente, ouvi passos atrás de mim e, automaticamente, me virei para ver quem estava se aproximando.

Adriana

Depois da conversa com Daniela, percebi que havia uma inimiga declarada. Ela afirmou com todas as palavras que eu não seria feliz. Por um momento, desejei que essas palavras fossem ditas sem realmente significar, ou talvez tenham sido ditas no calor do momento. Saímos para nos prepararmos para a peça e tentei evitar ao máximo conversar com Eduardo. Percebi o quanto ele estava incomodado com isso, mas acreditei que era para o nosso bem.

Por mais que isso também me machucasse.

Observei-o durante toda a manhã, ele parecia bastante entediado. Então, sugeri ao Matheus que eles dessem uma volta. Não demorou muito para que eles saíssem. Passou algum tempo e resolvi ir atrás dele para esclarecer o motivo pelo qual estava evitando-o. Andei pela praia até avistá-lo conversando com uma mulher. Meu sangue ferveu instantaneamente. Pensei em voltar atrás, mas seria covardia da minha parte. Decidi enfrentar a situação e, talvez, dar uma lição em Eduardo.

-Oi, meu amor!

Eduardo disse com um belo sorriso. A moça que estava quase em seu colo se afastou rapidamente, tirando o sorriso do rosto dele. Puxei uma cadeira e sentei ao seu lado.

-Bom, vou ali e já volto! - A moça, que até então parecia estar prestes a se jogar aos pés de Eduardo, levantou-se sem jeito e saiu cabisbaixa.

Olhei para Eduardo, que me encarava com aquele sorriso encantador. Ele realmente acha que não percebi a situação com aquela mulher quase em seu colo. Virei o rosto rapidamente, mas suas mãos tocaram as minhas, fazendo-me voltar a olhar para ele.

-O que foi? - Sua voz soou calma, por um momento me fez esquecer a raiva que estava sentindo.

-O que foi? - Revirei os olhos. - Você não consegue ficar sozinho por alguns segundos sem se interessar por alguém?

-Do que você está falando? - Suas palavras soaram desafiadoras.

-Não me faça perder a paciência, Eduardo. Você não é um idiota. Sabe muito bem do que estou falando.

Ele riu, e então tentou me levantar para sair, mas segurou minhas mãos, fazendo-me sentar novamente e ficar bem mais próxima dele.

-Desculpa, não queria te irritar...

-Você é um idiota! - Disse puxando minhas mãos das dele.

-Não aconteceu nada entre mim e aquela moça, antes que você comece a criar teorias na sua cabeça. E nunca vai acontecer!

-Quem disse que eu estava preocupada com isso?

Por favor, não conte a ele que estava, está bem?

-Pelo pouco que te conheço, já entendi algumas coisas.

-Entendeu errado!

Virei-me e cruzei os braços. Matheus, que até então estava ouvindo nossa conversa, saiu de fininho indo para outro lugar. Ficamos em silêncio por alguns minutos.

-Por que estava me evitando hoje de manhã? - Eduardo finalmente quebrou o silêncio.

-Não é da sua conta! - Disse irritada, não estava com vontade de falar sobre aquilo.

Senti suas mãos puxarem meu corpo na direção dele. A única coisa que nos separava eram os braços da cadeira. Ele me observou por alguns segundos e, em seguida, seus lábios tocaram os meus. Foi um beijo rápido, mas que me deixou atordoada.

-Isso é um vício... - Sussurrou.

-Eu disse para você tomar cuidado! - Me afastei.

-Você também não ajuda, fica aí toda brava, com essa carinha.

-Eduardo, você está me irritando!

Ele deu um sorriso e logo senti sua mão entrelaçar-se com a minha, o que trouxe uma sensação inexplicável de segurança.

-Que bonitinho vocês! - Matheus voltou.

-Onde você foi, Matheus? - Perguntei.

-Estava flertando com alguém ali. Aliás, vamos na festa hoje à noite?

-Vai ter uma festa hoje? - Perguntei, confusa.

-Sim, a moça até convidou o Eduardo!

-E você vai? - Olhei furiosa para Matheus.

-Bem, ela convidou, mas não sei se vamos.

Ele vai à festa por cima do meu cadáver!

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